Filmes da Infância, parte 1

Como disse em um post anterior, resolvi criar uma lista de filmes gostosos da minha ( e de muitas outras pessoas) infância, comecei falando do meu favorito “A Família Addams”: alguns desses filmes  se tornaram clássicos, outros cairam no esquecimento… vale a pena conferir:

1) Edward Mãos de Tesoura (1990):

O filme dirigido por Tim Burton me trazia um sentimento estranho. Aquele clima de romance e fantasia me fizeram acreditar por muito tempo que a neve realmente vinha das mãos (ou tesouras?) daquele personagem apaixonante. A delicadeza das músicas de Danny Elfman e a simpatia da personagem de Dianne Wiest (Peg), me fizeram chorar muito. Vocês se lembram daquela cena em que a Kim (Winona Ryder) dança na neve e ele sem querer, corta a mão dela? Claro que lembram… Cara, que sentimento aflitivo! Mas se tem uma coisa da qual não consigo esquecer são os cortes de cabelo e os bonecos que ele fazia nos jardins. Aquela cena em que o velho inventor morre, e o deixa sozinho naquela mansão escura me sensibilizou tanto, que ficava me perguntando o que o Edward faria “incompleto”. Sempre que passava na Sessão da Tarde eu não perdia e tempos depois comprei o DVD para guardar com uma das minhas melhores recordações. O filme recebeu o Oscar de melhor maquiagem em 1991 e foi o primeiro em que Johnny Depp e Tim Burton trabalharam juntos.

 

·O cantor Michael Jackson comprou as famosas mãos de tesoura quando foram leiloados

·Os primeiros esboços do filme foram escritos como um musical.

·A maquiagem de Johnny Depp levava cerca de 1h45 minutos para ficar pronta.

·O filme é um fábula moderna inspirada em: A bela e a Fera, e O fantasma da Ópera e Frankenstein.

2) Os Batutinhas (1994): Continue reading “Filmes da Infância, parte 1”

A RAINHA CARECA

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Hilda Hilst


De cabeleira farta
de rígidas ombreiras
de elegante beca
Ula era casta
Porque de passarinha
Era careca.
À noite alisava
O monte lisinho
Co’a lupa procurava
Um tênue fiozinho
Que há tempos avistara.
Ó céus! Exclamava.
Por que me fizeram
Tão farta de cabelos
Tão careca nos meios?
E chorava.
Um dia…
Passou pelo reino
Um biscate peludo
Vendendo venenos.
(Uma gota aguda
Pode ser remédio
Pra uma passarinha
De rainha.)
Convocado ao palácio
Ula fez com que entrasse
No seu quarto.
Não tema, cavalheiro,
Disse-lhe a rainha
Quero apenas pentelhos
Pra minha passarinha.
Ó Senhora! O biscate exclamou.
É pra agora!
E arrancou do próprio peito
Os pêlos
E com saliva de ósculos
Colou-os
Concomitantemente penetrando-lhe os meios.
UI! UI! UI! gemeu Ula
De felicidade
Cabeluda ou não
Rainha ou prostituta
Hei de ficar contigo
A vida toda!
Evidente que aos poucos
Despregou-se o tufo todo.
Mas isso o que importa?
Feliz, mui contentinha
A Rainha Ula já não chora.

Moral da estória:
Se o problema é relevante,
apela pro primeiro passante.


Os versos acima foram extraídos do livro “Bufólicas”, Editora Globo – São Paulo, 2002, pág. 15, que conta com ilustrações magníficas de Jaguar.

 

Entre Pancho Villa y una Mujer Desnuda

Conheço muito pouco (pouquíssimo mesmo) do cinema mexicano, mas há alguns anos me esbarrei com um filme de Isabelle Tardán e fiquei simplesmente apaixonada. ‘Entre Pancho Villa y una Mujer Desnuda’ é um daqueles longas divertidos, com um toque teatral que te prendem pela delicadeza e pelo desempenho dos atores em cena.

Gina é uma mulher de cinquenta anos que tem uma carreira de sucesso e que de maneira profunda, foi se entregando e nutrindo o relacionamento com Adrián, que no início se baseava apenas em sexo. Os dois possuem uma admiração pela figura de Pancho Villa e decidem escrever um livro sobre sua história. Enquanto realizam um estudo sobre Pancho e suas mulheres, tentam sustentar seu namoro que está cada vez mais desgastado. Gina quer um filho e Adrián apenas sexo. Um dia se encontram e Gina consegue convencer Adrián de lhe fazer um filho: transam loucamente, no quarto, cozinha e na sala.

Depois de dias de espera, Gina vai até o apartamento de Adrián e descobre que ele está com outra mulher. A raiva dela é tamanha que lhe dá um tapa e, naquela chuva forte, acaba quebrando o salto. Adrián se vai, fica por tempos sem procurar Gina, aceita viajar para o jornal em que trabalha.

 Ela também já cansada daquela situação, arruma um outro namorado, que tem a metade da sua idade e que a ama intensamente. Depois de meses, Adrian trata de recuperar Gina, liga todos os dias e ela nem se dá ao trabalho de atendê-lo. A figura de Pancho Villa (como uma atuação divida de Jesus Ochoa) então aparece. É a masculinidade de Adrián representanda em um homem que não aceita um “não” de uma mulher.

Onde Adrián está, Pancho vai para lhe dar dicas de como reconquistar Gina. Bom, foi aí que o filme me conquistou… A cada “ponto perdido”, a cada surpresa negativa que Gina faz para Adrián, Pancho leva um tiro. Ela conta que está namorando, que não o ama mais, que não quer vê-lo mais. Vai correndo para um praça e ele a segue, oferece o livro, já publicado que os dois começaram a escrever juntos (e que ele terminou sozinho), ele diz que fez uma dedicatória para ela. “Mas a mão, Adrián? A mão?”. Pancho incita Adrián a matá-la, todo o tempo. “Não a deixe fugir”. Adrián aponta uma arma para Gina, atira… e quando percebe, o que tem nas mãos é apenas um livro. Gina o deixa sozinho na praça. Adrián se ajoelha e ela já não está mais, ele chora e Pancho leva um ultimo tiro, e cai sobre a fonte, desfalecido.

O filme ganha uma dinamicidade muito grande desde aí. A situação muda completamente de contexto e a procura constate agora, parte do homem. Sabe, não tem mais o que falar a não ser ASSISTAM, NÃO PERCAM!

Diana Bracho está lindíssima, exalando feminilidade no auge dos seus cinquenta e poucos anos…  O filme está disponível no Youtube, os links seguem abaixo:

(Parte 1) http://www.youtube.com/watch?v=pi-CqrajoQg

(Parte 2) http://www.youtube.com/watch?v=E7zvDAt8UpY&feature=relmfu

(Parte 3) http://www.youtube.com/watch?v=eS6XVgxK7nM&feature=relmfu

(Parte 4) http://www.youtube.com/watch?v=agwQyeWtNZE&feature=relmfu

(Parte 5) http://www.youtube.com/watch?v=FxJOzKZrsOM&feature=relmfu

(Parte 6) http://www.youtube.com/watch?v=9cfZHM9Tujs&feature=relmfu

(Parte 7) http://www.youtube.com/watch?v=vmEh0wWTfUw&feature=relmfu

(Parte 8) http://www.youtube.com/watch?v=XQ0PkGr-K_g&feature=relmfu

Parte 9 ) http://www.youtube.com/watch?v=KiOpHv0sLu8&feature=relmfu

Os Desenhos realistas de Dirk Dzimirsky

Quando você vê os desenhos hiperrealistas de Dirk Dzimirsky, dificilmente acredita que não são fotografias em preto e branco. O artista alemão, nascido em 1965, começou a se dedicar profissionalmente em 2005, quando começou a trabalhar como ilustrador gráfico de livros.  Com um cuidado de luz e sombra sobre os desenhos, o artista representa em seu trabalho uma reação direta a mania de beleza e perfeição da mídia.

Memórias de minhas putas tristes

Este é o primeiro e único livro (por enquanto) que li de Gabriel Garcia Marquez, o título sugestivo, talvez esconda  a delicadeza da história de um senhor de noventa anos que decide passar uma noite de amor com Delgadina, uma prostituta adolescente e  virgem.

O ‘Sábio”, como é chamado, acaba se apaixonando. E é justamente aí que se percebe a sensibilidade do autor, que realiza uma reflexão profunda sobre a velhice e sobre a espera da morte.  O personagem principal é de uma complexidade tamanha, que nos faz pensar o quão triste pode ser a solidão: “Nunca me deitei com mulher alguma sem pagar, e as poucas que não eram do ofício convenci pela razão ou pela força que recebessem o dinheiro nem que fosse papra jogar no lixo”.

Quando se pega apaixonado, considera aquela sensação como a de um “amor de adolescente”. Se pega horas grudado ao telefone esperando a ligação de Rosa Cabarcas (a dona do bordel): “até que descobri que aquele telefone não tinha coração”.   Pois o coração daquele senhor, era tão virgem quanto a prostituta: nunca tinha amado ninguém.

Bom, o livro  ganhou uma adaptação para o cinema:

O filme de 2011, dirigido por Henning Carlsen está disponível para download no site Cine Conhecimento, segue o link:

http://www.cineconhecimento.com/2012/08/memorias-de-minhas-putas-tristes/

Sinopse:

O velho El Sabio é jornalista num pequeno povoado do México. Solteiro convicto, nunca conseguiu se relacionar a fundo com uma mulher desde a morte de sua mãe. As mulheres de sua vida foram sempre prostitutas. Agora, às vésperas do seu aniversário de 90 anos, ele resolve se dar um presente: uma noite de amor com uma adolescente virgem. Ele faz o pedido à dona do bordel que frequenta desde a juventude, que lhe apresenta uma jovem de 14 anos. Já no fim de sua vida, El Sabio vai finalmente descobrir o que é estar apaixonado.

OS CORPOS NUS DE SPENCER TUNICK

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Para quem não conhece o trabalho deste fotógrafo: chegou a hora.  Desde 1992, Spencer Tunick reune pessoas (às vezes uma, às vezes cem, às vezes milhões), para fotografá-las nuas enquanto realizam performances coletivas. A sua obra de arte sobre a massa humana são em sua maioria feitas em espaços públicos e transformam-se em documentários de eventos (que podem também ser conferidos em vídeos no youtube). A união de corpos imperfeitos aos cenários urbanos simbolizam a libertação e resistência (e porque não transgressão) as normas sociais modernas, além de um particularidade cultural que abrange a essência do coletivismo. O fotógrafo inova, dessa vez, com imagens de corpos nus pintados de vermelho e dourado.

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Recordações de um Olho Torto

Se por acaso você estiver precisando fazer uma leitura descompromissada, leve e divertida, vai a dica: Recordações de um Olho Torto, de Plínio Cabral. Acontece o seguinte: comprei o livro sem nenhuma expectativa, pensando apenas nas minhas histórias pessoais (tenho miopia e estrabismo desde que me entendo por gente, convivo com uma avó cega de um olho e com uma mãe que tem 14 graus de miopia). Mas fui pega de surpresa com essa história irônica, divida em (rápidos) 35 capítulos sobre a história de Almerindo.

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Almerindo possui uma deficiência visual, seus olhos são traiçoeiros, são independentes. Desde que nasceu vive com infelicidade de conviver com o preconceito (que vem inclusive da própria mãe e do pai, que logo percebem o problema na visão do garoto e não se alegram com a sua chegada).  Bom, o anti-herói enfrenta diversas dificuldades e humilhações desde pequeno, como na escola: tinha tanta dificuldade para ler escrever, que a professora foi desistindo de ensina-lo. Almerindo cresce revoltado e decide matar o pai, até que é dissuadido por um primo: “ao invés de mata-lo, vamos lhe pregar sustos”

O livro pode ser facilmente encontrado na Internet, o preço varia entre 6,50 e 30,00, tem que dar uma pesquisada. O final do livro é ótimo, inesquecível para que quer se divertir!

 Copiei uma parte do prólogo que eu ADORO:

(…) Compreendi, muito cedo, a verdade que existe no dito popular: “Não deixes que tua mão esquerda saiba o que faz a direita”. Para mim é algo muito embaraçoso, criando, inclusive, situações anômalas que determinam estranhas paralisações em plena rua: a perna esquerda tende para a direita, a direita tende para a esquerda, tomando rumo perigoso e de conseqüências imprevisíveis. É claro que isso não acontece a miúde, o que me salva, inclusive Ed conotações políticas inexplicáveis.

Os dedos exercem, sobre mim, um estranho fascínio. Por que são diferentes? Essa diferença é tecnicamente, desnecessária, a não ser por motivos sociais, se assim o desejam os ordeiros do mundo. Não há outra explicação. O polegar é grosso, baixote, tem ares de truculento ditador sul-americano. O indicador parece-me alcagüete: não indica nada, mas tem um estilo, um jeito de ser todo seu: mostra-se grande, mas é pequeno. Mostra-se impotente, mas não tem importância. Não compreendo esse machismo, os dedos são masculinos. Na verdade, o mindinho me parece bastante feminino, não pela sua fragilidade, mas pelo isolamento bem comportado. Do anular, tenho minhas duvidas. Não vou com ele. Tem andadura em falsete, com ares de malandro bem sucedido.

É claro, vendo as coisas assim, o corpo se decompõe e sua unidade é um milagre que não consigo explicar. E nem é necessário: há vida própria em tudo (…)”