Humoresque

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Fiquei pensando no post anterior sobre os filmes que mais gosto com a Joan Crawford (sem levar em consideração Baby Jane, que é o meu preferido) e me lembrei de “Acordes do Coração” (ou “Humoresque”, de 1946). Nunca fui fã de romances, mas esse mexe profundamente comigo. Ganhei o dvd de presente quando fiz 15 anos, e fiquei tão apaixonada que revi inúmeras vezes. Acho que foi com esse filme que consegui entender porque muitos fãs admiram a beleza de Crawford e falam sobre a sua fama de “mulher fatal”.

Em “Acordes do Coração”,  Crawford está em uma boa fase:  acabava de receber o Oscar de melhor atriz pelo filme “Almas em Suplício” (produzido pela Warner, onde Bette Davis também trabalhava). Dentes perfeitos, cabelo e roupas impecáveis. Enquanto “Os desgraçados não choram” segue a linha do clima noir, “Acordes do Coração” não consegue (e nem poderia, com uma história dessas) fugir de um melodrama.

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O interessante é que Joan Crawford só aparece mesmo depois de uns 30 minutos do filme. Antes disso, nos é apresentada a história de Paul Boray (interpretado por John Garfield – também em uma das melhores fases de sua carreira). Desde pequeno Paul nutre uma paixão por música. Ainda garoto, ganha um violino da mãe que mesmo sem condições financeiras, faz de tudo para presenteá-lo. Já crescido, decide abandonar a orquestra onde toca porque acredita que para ter sucesso, precisa ser solista. A história vai tomando outros rumos até que Paul é convidado a tocar na festa de uma milionária: Helen Wright (Crawford).

E é claro, eles se apaixonam… mas o problema é que Helen é casada. No site “50 anos de filmes” (que eu sempre tenho como referência, porque gosto muito) é citado inclusive a cena em que Helen acende um cigarro. Vários isqueiros são estendidos a ela simbolizando que aquela milionária neurótica, alcoólatra e insatisfeita com o marido, é também: poderosa.

Os dois passam a manter um relacionamento conturbado: enquanto Paul dedica-se à carreira, Helen quase implora pela atenção do amante (mesmo aceitando apoiá-lo financeiramente). Aí está o impasse: Paul é frio e coloca a música em primeiro lugar, mas Helen não aceita ser coadjuvante do violino.

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Recheado de música e de lirismo, “Acordes do Coração” conta com a direção de Jean Negulesco e com as atuações de Oscar Levant, Paul Cavanagh e J. Carrol Naish. Nas informações especias do DVD, há um fato curioso: criaram uma roupa especial para John Garfield e Isaac Stern (responsável pela trilha sonora) usarem. Isaac enfiava as mãos pelo paletó e tocava, enquanto Garfield fazia as caras e bocas de um músico em plena atuação


Your heart is not open so I must go
The spell has been broken, I loved you so
Freedom comes when you learn to let go
Creation comes when you learn to say no

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Lembrei também de outra coisa: O clipe de “Power of Goodbye” (que eu provavelmente assisti um milhão de vezes) é totalmente inspirado na cena final de Acordes do Coração. Não dá pra explicar muito, porque tem um spoiler enorme… mas é maravilhoso,  a letra é linda e toca exatamente no tema do filme: rompimento. Você pode conferir o clipe aqui. 

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* Revi o filme agora e acho que é preciso colocar isso: O personagem do Paul é também muito arrogante, essa obsessão pelo violino (que parece mais uma fuga da solidão e da incompreensão em que ele se encontra) não o permite ver o quanto a Helen o ama. Apesar das suas fragilidades, o personagem se redime no final do filme, quando mostra que o amor que sente pelo violinista é verdadeiro. E mais uma vez: como a Joan está bonita….putz.

Os desgraçados não choram

Hoje o dia acordou com aquele clima frio e se eu estivesse em casa, com certeza iria rever “The Damned dont cry”, ou “Os desgraçados não choram” – filme de 1950, com a Joan Crawford.

Dirigido por Vincent Sherman, o longa conta a história de Ethel Whitehead. Uma mulher trabalhadora que mora no lado mais pobre da cidade. Ethel vive em constante desacordos com o marido. O estopim do casamento acontece depois que perdem o filho em um acidente (muito trágico por sinal: o menino pede uma bicicleta e o pai diz que não tem como dar. Ethel trabalha por meses para comprá-la contra a vontade do marido. Um dia, o garoto usa a bicicleta e acaba sendo atropelado). Depois disso, Ethel decide sair de casa. Cansada daquela vida, de pobreza e humilhação coloca na cabeça a seguinte frase: “O mundo é dos homens, e só há uma maneira para que uma mulher sobreviva nele: ser tentadora como um bolinho e ao mesmo tempo, dura como um bife ruim”.

 

Assim ela vai trabalhar em uma casa de costura como modelo (e prostituta). Depois de um tempo, se envolve com o mafioso mais poderoso da cidade: Geroge, que lhe dá todo conforto que sempre sonhou. Passa a morar em uma mansão, frequentar jantares e clubes importantes. Muda inclusive o nome. Mas a história dá uma reviravolta. George mata o seu inimigo (interpretado por Steve Cochra) e a culpa recai sobre Ethel. Os jornais passam a explorar a história da alpinista social de passado humilde e ela fica sem saber para onde fugir

Pelo que li no site “50 anos de filmes”, há uma informação no IMDB de que a história é vagamente baseada na vida de Virgínia Hill: “ que foi amante do gângster Bugsy Siegel – o sujeito que criou Las Vagas, e teve sua vida retratada no filme Bugsy, de Barry Levinson, em 1991, com Warren Beatty no papel principal e Annette Benning no da amante.”

Gosto demais desse filme. Aliás, foi o primeiro que vi quando ganhei o Box da Joan Crawford há seis anos atrás. Foi um filme polêmico, com passagens fortes.  Há uma cena em que ela apanha do mafioso (não era comum tanta violência nas telas, muito menos ver uma mulher apanhando). Ele bate tanto nela, que o rosto fica repleto de marcas e então desmaia de dor. Todo o filme possui uma longa representação sobre o mundo luxuoso e degradante da máfia mas é também um crítica irônica ao ‘sonho Hollywoodiano que é alimentado pelo desejo de ter fama e poder.