Essa minha curiosidade em relação à Jessica Lange deve ter ficado muito clara na seqüência de posts que fiz sobre o seu trabalho (e tenham certeza que ainda há muito o que escrever). Ontem mesmo, depois de assistir o filme “Rob Roy – A Saga de uma Paixão” fui ver no Youtube suas indicações ao Oscar e descobri que em 1995 ela acabou ganhando na categoria de Melhor Atriz por Blue Sky, concorrendo com Susan Sarandon (que foi indicada por sua atuação em “O Cliente”).
Há anos fiquei me questionando quem poderia ter “roubado” o Oscar da Susan Sarandon em 1995 e procurei algumas vezes no Google, sem me tocar quem era a Jessica Lange. Longe de tirar o mérito do trabalho dela em “Blue Sky” (que pretendo assistir assim que tiver um tempo), mas se há um trabalho da Susan Sarandon que eu gosto é o da Reggie Love.
Enfim, esse post de hoje não é sobre a Jessica Lange e sim sobre a atuação da Susan Sarandon em “O Cliente”… Vocês entenderam. A primeira impressão que tive do livro de John Grisham foi de que a imagem de Reggie descrita no livro passava longe das feições de Susan Sarandon. O autor descreve a seguinte passagem:
“A primeira coisa que ele notou foi o cabelo de Reggie. Era grisalho e mais curto do que o seu, muito curto acima das orelhas e na nuca, um pouco mais cheio na parte de cima com uma franja que descia desde o meio da cabeça. Mark nunca tinha visto uma mulher de cabelos grisalhos cortados tão curtos. Ela não era velha e não era jovem”.
Mas depois percebi que essa precisão vai muito além de cabelos grisalhos como descritos no livro ou ruivos, como o da atriz. Se existe algo muito exato naquela construção de imagem é de que “ela não era jovem, nem velha”. Bom, a Susan Sarandon tinha 49 anos quando fez aquele filme e quem diria?
Acho muito válido o provável pensamento: “quem faz comparações tão exatas entre filme e livro?” Aí vai à resposta: Eu (apesar de não ter costume nenhum em fazer isso). O que me encanta é que a produção de Joel Schumacher é tão próxima ao livro, que eu não fui pega de surpresa em nenhum momento e não poderia dizer que o detalhamento (esperado em qualquer obra escrita) é muito melhor do que o que se encontra no filme. Ou seja: o filme é fiel ao livro. – Obs: eu vi o filme primeiro.
O que Grisham e Joel Schumacher conseguem fazer lindamente é colocar em contraponto duas figuras femininas com histórias distintas, sem desvalorizar suas lutas pessoais. Reggie Love é uma mulher forte, que se vê cercada de homens que questionam a todo tempo o seu poder e sua inteligência. Dianne Sway (interpretada por Mary-Louise Parker) é uma mulher pobre e que parece desorientada quanto a criação dos dois filhos pequenos.
Em determinada altura da história há uma sutil mudança de papéis. Fragilizada pelas discussões diárias com os advogados e com o próprio Mark, descobrimos que Reggie Love possui uma história muito triste. Seu passado com o alcoolismo a fez perder a guarda dos dois filhos. Agora ela não parece tão forte assim. Em contraponto, Dianne percebe que precisa tomar uma posição para defender os filhos e se impõe mais. É como se fosse um Yin-Yang, ninguém é tão forte ou tão fraco, ninguém é tão bom ou ruim. Somos todos imperfeitos.
E como eu já li e vi o filme várias vezes, posso garantir que nenhum dos dois perde o ritmo, o que é garantido sempre quando tem um nome envolvido: Mark. O garotinho que presenciou todo o assassinato e que foi o responsável por desenrolar toda a trama da história.
Em especial, gosto de uma fala do filme:
“- Ele estava suando
– Você o encontrou vivo?
– Eu já disse que não
– Mortos não suam Mark.”
E de uma passagem do livro:
– “Num canto da saleta em cima da garagem, Reggie folheava um livro grosso, perto da lâmpada da mesa. Era meia noite, mas ela não podia dormir. Enrodilhada sob um acolchoado, tomava chá e lia o livro encomendada para ela por Clint: Testemunhas relutantes”.
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