(por Thais dos Reis)
– Hoje, quando vinha pra cá, passei por três mulheres. Elas estavam encostadas na parede, se insinuando para os rapazes que andavam na calçada.
– E qual é o problema irmã?
– Elas diziam algumas palavras…
– Que palavras?
– Elas estavam gritando: “quer trepar?, quer trepar?”, acho que eram prostitutas.
– E o que te assusta nisso?
– Na verdade não me assusta, mas aquelas mulheres me chamaram atenção. Fiquei me imaginando no lugar delas.
– No lugar delas?
– Isso… se eu fosse uma prostituta.
-Então, o que você pensou?
-Não entendo porque elas se negam a beijar a boca dos clientes quando topam outras coisas… você sabe.
-Não, não sei irmã. Vamos! Diga! (disse a freira mais velha, quase implorando) Nos estamos sozinhas nesse quarto, as outras já se recolheram em seus aposentos.
– O que eu quero dizer é que elas não topam beijar na boca, mas topam coisas piores.
-Piores como?
-Como o sexo oral (disse a jovem, quase sussurrando)
– Acho que elas possuem uma ética profissional (respondeu a velha, com segurança)
– Ética profissional? (perguntou em gargalhadas)
-Bom, eu não sei… não faço ideia.
-Nos meus pensamentos… sabe, acho que ser uma freira é muito mais fácil do que ser prostituta.
-Como você chegou a essa conclusão irmã, se nunca foi prostituta?
-Me desculpe, me desculpe! (disse a jovem, segurando as mãos da companheira de quarto) Tento impedir pensamentos impuros que colocam as minhas virtudes em contestação, mas quando estou em contato com Deus, quando começo a orar sinto-me submersa em um prazer tão grandioso quanto um…
-Quanto um o quê irmã? Cuidado com o que vai falar!
– … quanto um orgasmo.
– Eu não consigo acreditar nessa comparação, são duas coisas completamente diferentes. E porque dizer que ser uma freira é mais fácil? Estamos sempre em castidade, abrimos mão da luxúria e da vaidade, estamos sempre em oração, trabalhamos para os pobres e menos favorecidos…
-Penso no cheiro.
-Cheiro? Que cheiro irmã?
– No cheiro dos homens.
(A freira mais velha, aproximou-se da jovem e colocou-a contra a parede. Aproximou-se tanto que poderia beijá-la,)
– O que você está fazendo?
– Quero ter certeza que você é a minha companheira de quarto. Aquela que há alguns anos chegou no convento submergida em uma inocência e uma pureza, que não consigo enxergar mais.
– Não duvide de mim irmã. Na verdade, o que eu sinto por elas é compaixão. Tenho pena da vida que elas levam.
– Então não tenha, elas escolheram essa vida (disse, se afastando)
– Como pode dizer que escolheram essa vida? Elas foram levadas a fazê-lo. Provavelmente tiveram uma vida repleta de pobreza, sem oportunidades, não tiveram estudo!
– Nego-me a discutir com você sobre esse assunto. E tenho certeza que você também pensa assim. Está na hora de você rever seus pensamentos, antes que tenha a devida punição.
Depois veio o silêncio. Cada uma, deitada para seu lado, ficou pensando nas possíveis consequências daquela conversa única e inoportuna. Restavam dúvidas, restavam curiosidades. As duas poderiam ficar ali, conversando sobre aquele assunto durante dias . Mas por medo, por respeito (ou por qualquer outra coisa menos relevante), decidiram nunca mais falar sobre aquilo. Ironicamente, do outro lado da cidade, uma prostituta falava com a outra:
– Hoje vi uma freira na rua. Ela passou rapidamente, tentando esconder o interesse. Sabe, andei pensando… ser prostituta é muito mais fácil do que ser freira.
– Como? perguntou a outra, se você nunca foi freira?