Lena, dirigido por Christophe Van Rompaey, conta a história de uma menina gorda e extremamente solitária, que inusitadamente começa a ter um relacionamento com Daan. Um rapaz bonito, popular e pouco confiável. Cansada dos tratamentos hostis da mãe (que, dentre outros “carinhos” a chama de hipopótamo e monstro), decide abandonar a casa e viver com o namorado. A mudança traz fortes questionamentos a Lena, que presencia diariamente a apatia do pai de Daan ( um homem com cerca de cinquenta anos, que depois da morte da mulher, deixou de se importar com o comportamento do filho que o apelidou de “fantasma”).
O filme me incomodou muito. Não pela história (que é interessante). O que me chamou a atenção foi o diálogo crú e o roteiro seco diante de assuntos tão complexos. Apesar de uma proposta diferente, o longa perde-se no marasmo e deixa o espectador um pouco entediado. Há também um outro detalhe importante: a protagonista causa uma incrível sensação de desconforto e pouca empatia. Ironicamente, apesar desses “contras”, a produção Holandesa/Belga (aliás, muito premiada) é um filme importante porque apresenta uma proposta diferente e trabalha através do suspense psicológico com uma perspectiva sobre as amarguras da vida.
Já no principio da trama, Lena (Emma Levie) aparece transando com um desconhecido que se envergonha de mostrá-la aos outros colegas. Essa é uma constante na vida da personagem que deixa muito claro o preço que se paga por “não ser como as outras” (ou seja, por ser gorda). Para enfatizar que esse é o seu grande ”karma”, vemos a garota se remoer ao observar o cotidiano da melhor amiga que sempre é buscada pelo namorado no trabalho. Pra piorar, quando chega em casa, depois do estágio, precisa ficar do lado de fora até que a mãe se despeça do namorado.
O papel masculino na vida da garota é um ponto relevante. O pai não mostra interesse, então Lena se vê nas mãos de uma mãe irresponsável e ardilosa. Os namorados da mãe são tão imprestáveis quanto ela. Os homens com que se relaciona só se interessam por sexo e se sentem envergonhados de exibi-la aos outros. Daan, o primeiro namorado e até então, o único homem que a valoriza é lindo e simpático, mas está envolvido com furtos e drogas. O pai de Daan é um lunático mal resolvido que a assedia.
Completamente absorvida por um mundo estereotipado, Lena tenta desafogar-se das pressões cotidianas nas aulas de dança que frequenta semanalmente. Há momentos belíssimos criado pelo diretor que usa muito bem a câmera panorâmica. Enquanto está tomada de tamanha tristeza ou de felicidade, a câmera possibilita que o espectador se torne um confidente (evidenciando o voyeurismo de quem está diante das telas).
Ficha Técnica:
Original: Lena (2011)
País: Bélgica, Holanda
Diretor: Christophe Van Rompaey
Roteirista: Mieke de Jong