Gabrielle

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Gabrielle é um puta filme, daqueles que consegue te tirar o fôlego.  Foi através dele que conheci Pascal Gregory: paixão a primeira vista. Na época eu estava com uma paranoia em relação à Isabelle Huppert e assistia aos seus filmes sem parar. Li muitas críticas negativas sobre o longa, diziam que a  inversão da câmera para BW nos momentos subjetivos do personagem principal tornavam a narrativa muito lenta.  A meu ver, o dispositivo usado por Patrice Chéreau foi um dos diferencias da trama.

Gregory interpreta Jean Harvey, um homem da alta sociedade francesa casado com Gabrielle. Para ele, a esposa é a síntese da perfeição, da pureza. Através de suas descrições iniciais temos a impressão de um casamento sem problemas. Gabrielle não é só o grande amor de Jean, mas também sua propriedade (logo no início do filme ele se refere a ela como o seu objeto mais valioso). Os dois sempre comparecem a jantares elegantes e aparentam se divertir muito. A casa também é habitada por diversos empregados, que acompanham a falsa felicidade do casal quase como voyeurs. São observadores silenciosos, que ficam a espreita.

Em comemoração aos dez anos de casamento, Jean planeja um belíssimo jantar para a mulher e os amigos. Quando chega em casa, encontra uma carta deixada por Gabrielle onde ela diz que decidiu abandoná-lo.  Na carta, Gabrielle usa palavras ríspidas e inimagináveis para um homem orgulhoso como Jean. Ele, por outro lado vai à loucura, é tomado por uma fúria grandiosa (grita, quebra os copos e as taças) mas perde-se em uma confusão de dúvida e sentimentos: O que fazer? Ela vai voltar? Devo perdoá-la? (O espectador acompanha todo o desespero acentuado pela narração em off.)

Gabrielle

Depois de ataque de raiva, Jean senta-se no sofá, abandonado a própria sorte. Inesperadamente, Gabrielle retorna a casa. Com os olhos cheios de lágrimas e quase silenciosa, deixa claro que a tentativa de fugir com outro homem não deu certo. A linha precursora do filme não é sobre o abandono de Gabrielle, nem o porque ela deixou Jean e sim: o seu retorno. É o seu retorno que provoca todo o diálogo sufocante entre os protagonistas. É a sua volta que provoca todo o embate sobre um casamento sufocante.

Isabelle Huppert se transforma. Após o retorno da personagem, a atriz dá vida a uma Gabrielle rancorosa, fragilizada e martirizada por um casamento infeliz. Nesse filme ela realiza um trabalho corporal belíssimo. Prostra-se sobre a cadeira, totalmente curvada. Os olhos vermelhos condizem com a voz quase inaudível. Infelizmente, não consigo encontrar o meu DVD para reproduzir um dos diálogos. Vi esse filme em 2007, mas até hoje me lembro perfeitamente de uma fala da personagem. Jean a pergunta se um dia houve amor naquele relacionamento, Gabrielle responde que sempre teve nojo do marido e que a ideia de ter o esperma dele dentro do seu corpo a fazia vomitar.

Depois das discussões, onde Jean perde a cabeça várias vezes, não há mais nada. Acabou-se o desejo, acabou-se o respeito. Tudo se foi, inclusive o casamento.  Mas seu orgulho é tão forte, que ele faz de Gabrielle sua prisioneira. Passa a torturá-la e humilhá-la publicamente. Ainda resta no seu eu o desejo de impor-se, seja como homem, como dono da casa ou como um marido traído. Como subordinada, Gabrielle se rende, deita-se sobre a cama expondo sua dor e sua fraqueza.

Filme belísisimo!! Confira o trailer:

PRÊMIOS

– César de Melhor Figurino e Design de Produção em 2006. – Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza 2005.

FICHA TÉCNICA

Diretor: Patrice Chéreau
Elenco: Isabelle Huppert, Pascal Greggory, Claudia Coli, Thierry Hancisse, Chantal Neuwirth, Thierry Fortineau.
Produção: Patrice Chéreau
Roteiro: Patrice Chéreau, Anne-Louise Trividic
Fotografia: Eric Gautier
Trilha Sonora: Fabio Vacchi
Duração: 90 min.
Ano: 2005
País: Alemanha/ França/ Itália
Gênero: Drama
Cor: Colorido