O título da publicação é sugestivo mas refere-se ao filme que vi na semana passada com a Dianne Wiest e Whoopi Goldberg. “O sócio” (1996, dirigido por Donald Petrie ) é uma adaptação da produção francesa de 1979, “L’Associé” que conta a história de Laurel Ayres, uma mulher negra especialista em mercado financeiro que apesar do talento, não consegue ascender na carreira. Depois de perder um cargo importante para um colega golpista e menos competente que ela, Laurel pede demissão e decide abrir uma empresa e para isso, recebe ajuda de Sally (Wiest), uma super secretária. Mesmo com tanto talento e dedicação, Laurel não consegue encontrar um sócio para sua empresa (primeiro porque ela é mulher e segundo porque é negra). A empresária então, decide inventar um sócio (um homem, mais velho e branco) que lhe garante visibilidade aos negócios, mas que lhe traz sérios problemas.
Há dois aspectos que me chamaram atenção logo no início do filme. A música ‘It’s a man’s world, criada e mundialmente conhecida na voz do James Brown é cantada por uma mulher. Outro ponto interessante é que o trabalho gráfico da abertura é uma referência aos monitores de computador de fósforo verde. É engraçado ver todo aquele aparelhamento, que provavelmente na época eram de última geração e que hoje estão totalmente ultrapassados. Os computadores ainda tinham aquelas letrinhas verdes subindo pela tela e os celulares eram enormes.
O filme é leve e carrega alguns clichês, mas nada que comprometa o efeito surpresa da trama. Logo no início, acompanhamos o desgaste que Laurel enfrenta para conseguir um acordo com sócios importantes da empresa para a qual trabalha. Ironicamente, seu colega de trabalho, burla as regras e leva o mérito de ter conseguido novos parceiros. Há uma conversa interessante que acontece quando Laurel vai atrás dele e pergunta qual foi o motivo de tê-la passado para trás. Ele então responde: “Você nunca seria vice-presidente e sabe muito bem porque”. É nesse momento que Laurel se demite da empresa e resolve abrir seu próprio negócio. Outro aspecto interessante é que, desde a primeira cena, Sally está presente na tela. No entanto, sua figura é tão secundária que ela aparece de relance, com poucas falas, arrumando as mesas ou a gravata do chefe. Ninguém lhe dá o devido valor ali, nem mesmo Laurel.
Laurel abre a empresa e encontra conflitos usuais. Ninguém quer ser seu sócio, independente da sua capacidade. Tudo porque ela não possui nome, ou seja, não é conhecida na área. Inesperadamente, Laurel recebe uma visita de Sally. Ela tenta fingir que está tudo sobre controle, mas Sally logo percebe o problema da colega. Ainda descrente que Sally poderia ajudá-la, Laurel pede que Sally vá embora. A secretária então diz: “O feminismo ainda não chegou em Wall Street”. Sally liga para uma amiga, a secretária de um importante empresário e consegue marcar um horário para Laurel com ele. Só então Laurel percebe o valor da doce secretária e então a convida para trabalhar com ela.
Outra passagem que eu gosto muito no filme acontece quando Laurel chega em casa devastada pelo insucesso da primeira tentativa da empresa. Sua vizinha bate em sua porta e pergunta: “Você tem sua carreira, mas quando chega em casa o que tem?” e Laurel responde: eu tenho Independência. Mas para isso ela teve que mentir: teve que dizer que sua empresa também é administrada por um homem (que não existe) chamado “Cuty”. Sua credibilidade agora depende dele e ela passa a burlar os encontros, fingindo que o Senhor Cuty está viajando ou que ele tem pavor de ser visto publicamente. Enquanto acompanhamos o crescimento da sua empresa, o colega de Laurel (aquele que a passou para trás) começa a enfrentar problemas no serviço. Na teoria ele é um ótimo especialista, mas na prática, não dá conta.
Como todo bom filme de comédia dos anos 90, O Sócio tem lá seus clichês. O primeiro e inevitável é a secretária gostosa que dorme com os homens por interesse. “Querem levar a gente pra cama e essa é a nossa força”. O outro é a jornalista interesseira e irresponsável que não mede esforços para conseguir uma entrevista com o senhor Cuty. “Para escrever sobre a Laurel, a imprensa precisa conhecer o Cuty”
Laurel faz de tudo para esconder a inexistência do Cuty, mas a situação fica da vez mais insustentável. Ela descobre que Sally já sabia que Cuty era uma invenção e então conta com a sua ajuda para forjar a morte do sócio. As duas (em uma cena divertida e surreal) colocam uma caveira de mentira em um carro com um explosivo. O feitiço acaba virando contra o feiticeiro e elas são acusadas de matá-lo.
Brilhantemente, para fugir das acusações, Laurel resolve dar vida a Cuty e se traveste de um homem branco. Sem duvidas, seu surgimento é um dos momentos mais agradáveis da trama. Há uma premiação que acontece em um clube onde só é permitida a entrada de homens. Laurel entra no clube, mas ninguém a reconhece. O grande vencedor do premio é o Senhor Cuty e ela, sem pensar duas vezes, vai recebê-lo. Já no inicio do discurso ela diz uma frase que me agrada muito: “O termo exclusivo significa excluir”. Outra coisa que eu gosto muito é que no bar, todos os garçons são negros e são eles que começam a aplaudi-la.
Ficha técnica:
O Sócio / The Associate
Direção: Donald Petrie
Elenco: Whoopi Goldberg, Dianne Wiest e Eli Wallach
Gênero: Comédia
Duração: 108 min.
