(Marisa Monte)
Um dia eu vou estar a toa
E voce vai estar na mira
Eu sei que voce sabe
Que eu sei que voce sabe
Que e dificil de dizer
O meu coracao
E um musculo involuntario
E ele pulsa por voce
Um dia eu vou estar contigo
E voce vai estar na minha
Enquanto eu vou andando o mundo gira
E nos espera numa boa
Eu sei, eu sei,
Eu sei
Tive uma conversa bastante produtiva com uma colega da faculdade que dizia que tem um medo enorme de envelhecer. Acho engraçado essa predisposição que nos temos de viver ansiosamente imaginando o futuro. Minha colega tem apenas 21 anos e já está pensando na velhice. Obviamente, todos nós paramos um dia da vida para pensar em como estaremos daqui há quarenta anos. O assunto surgiu porque o nosso professor explicava o conceito de âncora que dentre inúmeras coisas, traz uma reflexão sobre como o sujeito contemporâneo experimenta o tempo. Estamos vivendo em um mundo aceleradíssimo e essa nova noção, nos faz ter uma relação distinta com o passado.
Então depois da aula, minha amiga me mostrou um artigo da Elaine Brum chamado “Esses filhos perplexos diante da velhice dos pais” onde a jornalista realiza um belíssimo argumento sobre o surgimento de uma nova relação entre pais e filhos. Para Brum, a frase dos pais na década de 1970 é: “não quero incomodar meus filhos”. Mas a frase dos pais dessa geração é: “Incomodar os meus filhos? Nem me importaria. O que não quero é que os meus filhos me incomodem!”. O artigo é realmente muito bom e ela utiliza quatro filmes recentes sobre a velhice para ilustrar o texto. Um deles, o qual ela classifica como o ‘mais fraco’ é O Exótico Hotel Marigold, dirigido por John Madden. *(Os outros são: E se vivêssemos todos juntos, O quarteto e Amour).
O Exótico Hotel Marigold conta a história de um grupo de aposentados britânicos que resolvem viajar para a Índia, atraídos pela publicidade de um hotel exótico e barato. Quando chegam no lugar, descobrem que as acomodações luxuosas em que imaginavam ficar estão, na verdade, quase caindo em pedaços. O filme traz a belíssima Judi Dench no papel Evelyn, uma mulher que ficou viúva e descobriu que o marido deixou inúmeras dividas a serem pagas. Ela então vende o apartamento e vai a Índia, para tentar reconstruir a vida. A produção também traz Maggie Smith, no papel de uma mulher rabugenta e preconceituosa que precisa ir a Índia para fazer uma cirurgia no quadril.
Apesar desses dois monstros do cinema inglês, o destaque vai para Tom Wilkinson e para Penelope Wilton. Tom Wilkinson interpreta Graham, um juiz aposentado que vai a Índia para fazer as pazes com o passado e reencontrar o grande amor da sua vida: um indiano com quem se relacionou quando jovem. Os dois foram pegos enquanto transavam. Graham voltou para faculdade sem saber o paradeiro do amante. Passou a conviver diariamente com a culpa, imaginando os terríveis castigos que o companheiro poderia ter sofrido. Penélope, por sua vez, interpreta Jean, uma mulher mal humorada e amargurada com a vida. Jean e o marido (interpretado por Bill Nighy) resolvem viajar para Índia para comemorar o casamento. Ela, no entanto, não se contenta com o local, nem com as pessoas e tenta, de todas as formas, voltar para casa.
Para todos os personagens, mas principalmente para esses dois, há uma mudança brusca na vida: uma ruptura. Enquanto Graham encontra a possibilidade de viver em paz com o passado e com a própria consciência, Penélope se vê diante de uma nova perspectiva de futuro. Há também outros plots interessantes como a história de Sonny (Dev Patel), que tenta manter o hotel, apesar de não ter nenhum talento para administração, ou da história de Sunaina (Tena Desae), que não é aceita pela família do namorado (Sonny).
O filme é de uma delicadeza tamanha e apresenta um aspecto interessante: o choque de culturas. Essa dificuldade que nos temos de encarar outro país, com cores diferentes, cheiros, lugares, crenças e comidas distintas. Quanto a velhice, o filme nos impulsiona a refletir positivamente sobre o nosso futuro. Há uma passagem final da personagem da Judi Dench que eu acho sensacional e tomei a liberdade de reproduzir:
“É nossa culpa achar que somos muito velhos para mudar? Com medo da decepção, para começar novamente? Nos levantamos de manhã e fazemos o que podemos. Nada mais importa. Mas também é certo que a pessoa que não arrisca nada… não faz nada, não tem nada. Só o que sabemos do futuro é que será diferente. Mas, talvez, o que tememos é que ele seja o mesmo. Por isso devemos comemorar as mudanças. Porque, como já disse alguém, no final tudo dá certo. E se não der certo, então, acredite…é porque ainda não chegou no final.”