10 músicas

Vejo muitas dicas de músicas para Playlist e resolvi fazer uma listinha das minhas favoritas. Elas estão, em sua maioria, classificadas como alternativas, algumas desconhecidas do grande público, outras esquecidas. Tenho gosto por músicas mais calmas, daquelas que dá pra ouvir voltando do trabalho, dentro do carro ou do ônibus.

1) Cansei: Conheci a música de Silva (ou Lúcio da Silva Souza) no passado e desde então, não me canso de ouvir. Silva é do Espírito Santo, tem 25 anos e formação em violino e piano clássico. Ele realiza uma mistura maravilhosa de eletrônica e música erudita, suas letras são belíssimas e o ritmo é delicioso.

2) Din Din Wo: Habib Koité é um cantor e compositor Mali, formou-se em 1982 no Instituto Nacional de Artes em Bamako.  Seu trabalho ficou ainda mais famoso depois que duas de suas músicas (I Ka Barra e Din Din Wo – [a minha preferida]) vieram inclusas no Microsoft Windows Vista.

3) Tonificando: Holger é um grupo que conheci há pouco tempo, o quinteto ( composto por Arhtur Britto, Bernardo Rolla, Pedro Pepe e Marcelo Tché, todos multiinstrumentistas) tem no currículo dois ótimos álbuns: Sunga e Ilhabela. As músicas possuem forte influência de ritmos brasileiros e apresentam uma ousadia deliciosa de se ouvir.

4) Aonde Deus possa me ouvir: Vander Lee é um cantor  de Belo Horizonte, de voz doce e suave que  ficou conhecido pelo Brasil há pouco tempo, mas que realiza diversos trabalhos desde os anos 80, Vander Lee gravou com Zeca Baleiro, Elza Soares, Leila Pinheiro, Gal Costa e se tornou um forte nome da musica mineira, ‘Aonde Deus possa me Ouvir’ é belíssima, não dá pra parar de ouvir!

5) Na varanda de Liz: Tiê lançou seu primeiro disco ‘Sweet Jardim’ em 2009 e o segundo ‘A coruja e o Coração’ em 2011. Fez ainda mais sucesso depois que sua música “Piscar o Olho” fez parte da trilha sonora da novela global “Cheias de Charme”

6) Lemonade: CocoRosie foi formado em 2003 pelas irmãs Bianca Leilani Casady e Sierra Rose Casady, as duas nasceram e foram criadas nos Estados Unidos mas se reencontraram anos depois em Paris e resolveram criar a banda que atende pelo estilo ‘freak folk’

7) Un beso y una flor: Encontrei essa música por engano, queria baixar uma música dos Los Hemanos e de repente, me deparei ouvindo Nino Bravo. A música ficou grudada na minha cabeça por dias e hoje é essencial na playlist do meu celular. Nino Bravo foi um cantor espanhol que teve uma curta carreira, morreu em 1973 em um acidente de carro.

8) La noyee: Quem viu ‘O fabuloso destino de Amelie Poulain’ deve se lembrar das músicas do filme, pois bem: o responsável por toda sonoridade maravilhosa do longa é Yann Tiersen, compositor francês, nascido em 1970. Tiersen estudou violino, piano e regência orquestral e possui formação clássica.

9) Zoe Goes to the Restaurant: Caí de joelhos por Philip Glass quando soube que foi ele foi o responsável pela trilha sonora do filme ‘Notas sobre um Escândalo’, Glass nasceu em Baltimore (1937) e produziu inúmeros trabalhos entre óperas, concertos e trilhas sonoras.

10) El Arbi: Lembro que na época da novela: ‘O Clone’ eu dançava essa música incansavelmente, na expectativa de me parecer com a Jade. O tempo passou e a música de Khaled (cantor árabe) continua no meu celular e sempre, sempre a escuto.

A garota do parque

Certos filmes me chamam a atenção por causa do elenco, neste caso “A garota do parque” filme de 2007, dirigido por David Auburn (o mesmo diretor de ‘A casa do lago’) me atraiu por ser encabeçado por Sigourney Weaver. Não fui com muitas esperanças em relação ao filme porque já tinha lido vários comentários negativos sobre o desenvolvimento da trama. De fato, a história é interessante, mas perde o ritmo no meio do caminho. Apesar  dos problemas, fica muito claro que todos os elementos fílmicos são muito bem respeitados, sem aventuras quanto aos movimentos de câmera ou de continuidade. [O filme foi lançado diretamente em DVD no Brasil e é uma produção independente].

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A narrativa conta a história de Júlia Sandburg, uma mulher que ficou profundamente traumatiza após o desaparecimento da filha em um parque. O início da trama nos apresenta a família da personagem: o marido e os dois filhos (Chris e Meg) e percebe-se um claro clima de harmonia. Júlia leva Meg ao parque, como o faz constantemente mas acaba se distraindo e não consegue encontrar a garota. Passam-se quinze anos e Júlia continua sofrendo pela ausência da filha. Sua relação com o Chris deteriorou-se, ela o encontra para o jantar de noivado, mas não consegue estabelecer diálogo. O ex-marido, agora casado com outra mulher, também parece não conseguir se relacionar com Júlia e prefere se manter distante.

Completamente absorvida na esperança de reencontrar a filha, Júlia afunda-se no trabalho e em uma solidão profunda. Em um dia inusitado, Júlia encontra Louise (uma jovem com a idade que sua filha teria hoje) e decide ajudá-la. Louise mente dizendo que está grávida e que precisa de dinheiro para voltar para casa, (Júlia lhe empresta setecentos dólares, mas pouco tempo depois, reencontra Louise bebendo e se divertindo em um bar). Júlia decide perdoar Louise e levá-la para casa, a relação das duas se torna um perigoso jogo de interesse e mentiras. Enquanto Júlia vê a possibilidade de Louise ser sua filha perdida, Chris tem certeza que Meg está morta.

Dor, Solidão e Abandono

Apesar de apresentar uma história interessante, há dois aspectos que me desagradaram muito. Meg é um personagem intenso e complexo, mas a interpretação de Daisy Tahan foi pouco cativante. Outro detalhe é o final que deixa a desejar e não oferece respostas. Aliás, a relação entre Júlia e Chris definitivamente poderia ser mais explorada, afinal, Chris cresceu à sombra da irmã e não teve a oportunidade de conhecer o lado mais amoroso da mãe.

Seu ressentimento quanto a mãe fica evidente quando Júlia tenta se aproximar e ele não a permite. Em uma conversa durante a festa de noivado, Chris deixa que seus sentimentos venham à tona e demonstra, diante de todos os convidados, toda a sua dor, toda a raiva que sente quanto a rejeição que sofreu durante a infância.

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Sem títuloMOMMOChris é um personagem riquíssimo, assim como sua noiva. Enquanto Chris questiona a credibilidade de Meg e os sentimentos que sua mãe nutre por ela, sua noiva tenta fazê-lo perdoá-la e focar no que interessa: no nascimento do seu primeiro filho. Portanto, apesar de parecer que a trama baseia-se apenas no relacionamento entre mãe e filha desaparecida, há outras bifurcações e situações paralelas importantes (que passam despercebidas).

O violinista que veio do mar

Aproveitando a onda de filmes que tenho assistido com Judi Dench e Maggie Smith, resolvi escrever sobre ‘O violinista que veio do mar’, produção de 2004 dirigida por Charles Dance. [este é o primeiro filme de Dance como diretor que, aliás, é um ator conhecido e atuou em vários filmes como Alien 3 e Game of Thrones]. A história se passa na década de 1930 e conta a história de duas irmãs: Úrsula e Janet que vivem sozinhas em uma pequena residência na vila de Cornwell, norte da Inglaterra (a única visita constante que recebem é a ranzinza e cômica Dorcas, empregada que as acompanha há anos). A morosidade do cotidiano é interrompida quando elas encontram no mar um jovem desacordado e decidem levá-lo pra casa.

ImagemDepois de cuidarem de seus ferimentos, descobrem que Adreas (Daniel Bruhl) não fala inglês e provavelmente sobreviveu a um naufrágio. Janet e Úrsula passam meses cuidando do rapaz, compram roupas, o alimentam e criam uma relação de proximidade. Elas se surpreendem com sua facilidade de tocar violino e arrumam um instrumento emprestado para que ele treine todos os dias. A música de Andreas chama a atenção de Olga Daniloff (Natascha McElhone), irmã de um violinista e compositor famoso.  Olga, que só estava de passagem pela cidade, convida Andreas para se juntar a ela em uma viagem. A grande oportunidade de Andreas se torna um pesadelo para Úrsula, que se apaixonou perdidamente pelo jovem.

Não há o que questionar sobre elenco: Dench e Smith são as grandes protagonistas e guiam toda a ação do filme.  Independente disso, o espaço dos outros atores é respeitado: Natascha McElhone está belíssima, faz jus ao personagem que interpreta e esbanja sensualidade, assim como Daniel Bruhl (nem um pouco prejudicado pela ausência de falas e fundamental para o desenrolar da trama). Sobre a direção de Dance, percebe-se muita calma quanto ao ritmo dos acontecimentos: tudo em seu devido tempo, acentuando a realidade das velhas senhoras. Além disso, o cenário é belíssimo (bucólico, frio e silencioso) e sustenta a sensação de solidão das irmãs.

tumblr_miajastdN41qb2flgo1_500Admiro a forma respeitosa em que a velhice é representada e mais do que isso, admiro a forma realística que trataram sobre um tema bastante subjetivo: o amor. Úrsula se apaixona por Andreas e não consegue esconder o sentimento da irmã que a todo tempo, tenta protegê-la e impedi-la de se aproximar do garoto. Em uma entrevista que vi com as atrizes, Dench falava que da pureza do amor de Úrsula e sugeriu que talvez, ela tivesse algum problema mental (ocasionado pela idade). Quando vi o filme, não me pareceu que Úrsula tinha alguma doença, no meu ponto de vista ela realmente tinha se apaixonado e como todo romântico, acreditava que um dia iria se juntar ao amado.

Não fica muito claro se Úrsula teve algum marido ou namorado, quanto a Janet (que é muito mais ‘pé no chão do que a irmã’) sabe-se que ela foi casada e que o marido morreu em guerra. É possível perceber um contraponto belíssimo: a viuvez de Janet não a fez descrente no amor, mas adormeceu nela o desejo de encontrar outro homem. Úrsula, por outro lado, tem dentro de si uma paixão arrebatadora (apimentada pelo ciúme que ela sente de Olga). Muito do que li, de comentários de quem já viu o filme, tratava-se do fato de Úrsula ser velha e mesmo assim se apaixonar. (Falavam com admiração não do fato dela ter se apaixonado por um garoto: mas do fato de ter se apaixonado, simplesmente).

Só há um motivo que me deixou um pouco antipatizada com o personagem Andreas: o fato de ele ter ido embora sem avisar as irmãs. Ele comeu da comida delas, vestiu as roupas que elas lhe compraram, teve abrigo e carinho e depois, as abandonou. Sua relação com as duas me pareceu seca e no mínimo ingrata afinal, será que Andreas não percebeu que Úrsula estava apaixonada por ele? Porque ele não se deu ao trabalho de avisá-las que iria embora? Por quê não deu atenção a elas depois do show? Foi doído ver o estado em que Úrsula ficou após perceber que Andreas tinha as abandonado e ficou claro o quanto era essencial que Janet, naquele momento, se mantivesse forte e segurasse as pontas.

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Divina Confusão

4461“O que acontece quando os deuses se equivocam?”

Tenho uma admiração muito grande pela dramaturgia mexicana. Em uma publicação anterior, eu comentava sobre o quanto gosto da Diana Bracho e do Jesús Ochoa. Há algum tempo encontrei no Youtube um filme de 2008 dirigido por Salvador Garcini em que os dois fazem parte do elenco (aliás, um elenco repleto de rostos conhecidos como Pedro Armendariz Jr., Alejandro Camacho, Luis Roberto Guzmán, Alan Estrada, Ana Brenda Contreras) e que de alguma forma, passou desapercebido por muita gente.

O longa se chama “Divina Confusão” e apesar dos pDiana BRacho Divinaequenos erros, é um filme divertido que fala sobre homossexualidade de uma maneira bem sutil. A história se passa em dois cenários: o dos humanos e o dos deuses. Bibi e Pablo realizam um jantar de noivado e reúnem seus pais para anunciar o casamento. Todos se encontram na data marcada pelos noivos, mas percebem que há um clima estranho. Ao mesmo tempo, para se assegurar que tudo ocorra bem, Zeus pede que Eros acompanhe o jantar e se certifique de que o casal esteja realmente apaixonado. Ironicamente, Eros comete um erro de pontaria e sua flecha atinge Júlia (mãe do noivo) que fica perdidamente apaixonada por Bibi (a noiva).

Ao longo da trama, percebemos que Bibi também se interessa por Júlia e a situação começa a ficar insustentável, já que são elas as responsáveis pela organização do casamento. Depois de reconhecerem que se amam, as duas passam a viver grandes impasses: enquanto Júlia não quer decepcionar o filho e teme enfrentar a fúria do marido, Bibi por sua vez não sabe como terminar o noivado e assumir seu amor por sua sogra.

Como disse, o filme é muito delicado, mas apresenta certo contraponto:  possui cenários teatrais e ao mesmo tempo, carrega a plasticidade das telenovelas. A presença dos deuses faz com que a trama pareça mais boba do que realmente é, outro problema é que os personagens não são explorados em sua dimensão psicológica e certas cenas são completamente desnecessárias. O fato é que Diana Bracho e Ana Brenda Contrera não deixam a peteca cair, como protagonistas da trama, encenam diálogos fundamentais (um exemplo é quando Bibi resolve se declarar a sogra). Mesmo que a direção tenha perdido a mão, fazendo com que o filme fique parado no meio do caminho entre drama e comédia, ‘Divina Confusão’ é um filme interessante e convidativo.

4462Como disse, apesar dos pesares, o filme apresenta grande delicadeza quanto a abordagem sobre a homossexualidade feminina. Em uma cena linda, Júlia e Bibi estão na aula de Yoga, as duas se aproximam e tocam uma a outra (as mãos, os braços) e quase não percebem que estão em um local repleto de pessoas. Para corrigir o erro de Eros, os deuses são transformados em humanos e descem a terra para resolver a situação.

Depois de se aproximar da sogra,  Bibi vai até o escritório de Júlia e decide se declarar, dizendo que nJulia e BIbi Divina Confusionão consegue mais fingir que não a ama. Júlia passa dias sem dormir e toma uma decisão drástica.  {Se você se interessou pelo filme, pare de ler agora: SPOILER!} Júlia vai até a casa de Bibi para dizer que as duas não podem ficar juntas, elas se beijam e inesperadamente são flagradas por  Pablo (o noivo) que decide contar tudo ao pai. Todo o idílio amoroso entre as duas começa a se despedaçar: Júlia apanha do marido e Bibi tem um grande enfrentamento com o pai. Depois de toda confusão, Júlia decide não se unir a Bibi, que vai embora para outro país. Passam-se anos, Júlia escreve um livro sobre as duas e descobrimos em OFF que o marido de Júlia e o pai de Bibi também se apaixonaram.

Trailer:

O fotógrafo dos elásticos

O fotógrafo dos elásticos

A idéia pode parecer um pouco estranha, mas foi com essa sessão de fotos (chamada ‘Rubber Band’) que Wes Naman ficou conhecido pela internet. Ele pediu que os amigos enrolassem o rosto em elásticos, provocando efeitos estranhos na face de seus modelos. O fotógrafo de 38 anos, já tinha um projeto semelhante a esse, no ano passado ele realizou uma sessão de fotos chamada ‘Scotch Tape Series’, onde seus modelos foram fotografados com o rosto marcados por fita adesiva. Confira!

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Colegas

Fui com sede ao pote, ‘Colegas’ (filme de 2012, dirigido por Marcelo Galvão) não é lá isso tudo. A fotografia é maravilhosa, encanta pelas paisagens e é adocicada pela trilha sonora, mas a narrativa surreal força uma situação pouco convidativa (que é agravada pelo diálogo desconexo e sem ritmo). Não há como negar uma simpatia espontânea pelos personagens principais, nem a boa intenção de quem produziu todo o longa, mais apesar da delicadeza, o filme deixou um ‘quê’ de quero mais.

Colegas

O filme conta a história de três amigos que inspirados pelo filme ‘Thelma e Louise’ roubam o carro do vigilante (Lima Duarte) do instituto onde vivem para fazer uma viagem. Cada um saí em busca de realizar um desejo: o de Stalone (Ariel Goldenberg) é conhecer o mar.  O sonho de Aninha (Rita Pokk) é de se casar e o sonho de Márcio (Breno Viola) é de voar. No entanto, os três se envolvem em uma sequência de crimes e passam a ser tratados como perigosos fugitivos pela polícia local.

Todo o filme exige uma capacidade de transgressão muito grande e a valorização que se dá ao mundo lúdico que acompanha as situações vividas pelos personagens fica muito clara. Aliás, é interessante como o filme ironiza (com muito bom humor) a dificuldade que os portadores de síndrome de down enfrentam cotidianamente. Quanto a isso, não dá pra negar que a função do filme foi cumprida.  A mensagem de superação é muito bonita, os três personagens estão sozinhos e mesmo assim, conseguem o que desejam.

Cena-do-filme-Colegas-de-Marcelo-Galvao-que-e-protagonizado-por-portadores-de-Sindrome-de-Down-size-598O problema é que há um excesso de fofura. Somos levados não só a olhar o mundo dos três personagens como também: fazer parte dele. O que poderia ser um humor leve se torna um pastelão (repletos de clichês): policiais atrapalhados, uma imprensa plastificada, um gay estereotipado e uma série de diálogos bonitos (mas óbvios). Gosto, especialmente do perfil literário do filme. Lima Duarte como narrador faz com que a trama fique mais gostosa e mais rica, é ele que explica de onde surgiu o desejo dos personagens e qual é o rumo de cada um deles.

Esses pequenos defeitos fazem com que o filme fique um pouco cansativo, mas você pode gostar se for acostumado com esse tipo de perspectiva. No mais, o longa é um filme que guarda uma bela mensagem, que fica escancarada já nas primeiras cenas: ‘As pessoas são como tapete. “De vez em quando, precisam de um chacoalhão”.

Confira o trailer:

Enquanto Petrônio morre

Encontrei o livro ”Enquantenquanto-petronio-morreo Petrônio morre” na Fnac outro dia por R$4,90 e fiquei presa nele até a última página. O livro é um bom passatempo, tem uma narrativa simples, direta e uma temática deliciosa. Escrito por Flávio Braga (romancista paulistano), é o terceiro volume da coleção placere da editora Best Seller e conta a historia (em primeira pessoa) do aventureiro Percênio.

Na narrativa, Percênio (mais conhecido como Heliodoro) foi um soldado que, ao lado do amigo Júlio, se prostituía em troca de dinheiro. Os dois foram presos, mas conseguiram se livrar da morte e fugir para Roma. Após vários dias de fuga, foram recebidos por um velho senhor e passam a morar em sua casa por alguns dias.  Ironicamente, os dois se apaixonaram pela escrava Apícula (que era uma negra linda, mas que não falava sua língua).

Depois de transarem com o velho senhor e enganá-lo, os dois roubaram Apícula e passaram a frequentar casas de banho (onde ofereciam seus ‘serviços sexuais’). Heliodoro percebe um romance entre Júlio e Apícula e com ciúmes, deixa bem claro que é ele quem manda (e que só ele pode dormir com a escrava quando bem desejar).

Os três são convidados a participar de uma festa de um rico comerciante, quando chegam ao local, presenciam um grupo de aristocratas reunidos em orgia e muito desperdício de comida. Enquanto Júlio e Apícula se prostituem, Heliodoro se encarrega de roubar os convidados da festa (leva dinheiro e tecidos caros).

Na mesma festa, encontra Mirtes (a escrava sexual de um homem poderoso), deita-se com ela e a convida a se unir ao grupo. Mirtes aceita e os quatro fogem para outra cidade. Julio cai em uma emboscada e acaba sendo assassinado.

Sem o companheiro e responsável pelas duas mulheres, Heliodoro decide abrir uma casa de prostituição e tem ajuda de Mirtes. Para lucrar ainda mais, organiza uma arena onde coloca escravos e gladiadores lutando (quem vence, ganha a liberdade).  Um dia viaja a negócios e quando chega, encontra seu bordel quebrado. O dono de Mirtes voltou para buscá-la.

Sem temê-lo, Heliodoro o mata e retoma os negócios. Pouco tempo depois, Ada (a esposa do homem assassinado por Heliodoro) o procura, diz  que depois da morte do marido, não tem como se sustentar. Heliodoro a aceita e a faz de esposa, ele agora tem três mulheres.

Heliodoro se apaixona pela quarta vez, por uma jovem cristã chamada Genoveva. Ele a leva (junto a sua mãe) para casa, correndo o risco de ser preso. Apesar de várias investidas, Heliodoro enfrenta resistências por parte de Genoveva. Por fim, Heliodoro é convidado a participar de uma festa na casa de um conhecido escritor chamado Petrônio. Lá, ele presencia o suicídio do autor de Satiricon, que lê seus textos em voz alta e corta os próprios punhos: ‘Enquanto Petrônio morre, Roma se divertpetronioe’.

A narrativa é repleta de erotismo, que acentua o ritmo da trama e chama atenção para os personagens e seus respectivos confrontos.

Particularmente, só conheci Petrônio através do livro e a minha curiosidade sobre Satiricon (de que já havia ouvido falar, inúmeras vezes) aumentou. Na breve pesquisa que fiz pela internet, descobri que Petrônio foi conselheiro de Nero e após uma conspiração, saiu do poder e caiu em uma vida de libertinagem. Suicidou-se lentamente, abrindo e fechando as veias.

O prólogo do livro de Flávio Braga contextualiza sua vida e sua obra de maneira sublime: “Petrônio, assim como Cervantes e muitos outros gênios literários, foi um crítico demolidor dos livros românticos e melosos de seu tempo. Sua única obra, o romance Satiricon, que não chegou íntegro aos nossos dias, é sobre a trajetória de dois vagabundos romanos no primeiro século de nossa era. Nos dias de hoje seria micheteiros que rondam pelas boates gays das grandes cidades, além de ladrões, falsários e tudo o mais de sórdido que acompanha esse gênero de vida. Então, porque Satiricon é um dos mais importantes livros da antiguidade clássica? Ora, porque narra com realismo acontecimentos do dia-a-dia da plebe, mas não só. Petrônio escreveu em prosa moderna. O livro poderia ser escrito hoje, tal clareza e objetividade do texto. Não podemos esquecer que tudo era versificado naqueles dias e muito depois, pelo menos até o século XVIII.

Ainda sem um deus castrador, que só assumiria o poder na Idade Média, Roma gozava de uma liberdade que embora não fosse justa, era real. Mulheres e escravos muitas vezes era forçados a se submeter a desejos dos patriarcas, mas havia mais liberdade para os homossexuais, embora menos do que na Grécia, e na intimidade tudo era permitido. As casas de banho era espaços bastante democrático e as mulheres mais livres eram as heteras, uma espécie de prostituta de luxo. Um das causas principais desse comportamento era, justamente, a religião politeísta. Sendo os deuses meio humanos, com ações baseadas no amor e no ódio, por exemplo, serviam de modelo aos humanos que não viviam sob o tacão de um moralismo imposto.

Petrônio era da elite romana, diplomara e governado da Bitínia, atual Turquia. Viveu entre 14 a.C. e 66 d.C. Mas essas datas são muito discutíveis e contestadas por historiadores de diferentes correntes. O texto permite notar a ampla visão que o autor tinha de seu tempo, descrevendo aspectos do dia-a-dia que outros escritores preferem esquecer, como se a vida fosse criada e vivida somente por pessoas superiores.”

Notas sobre um Escândalo

Notas sobre um EscandaloSou apaixonada com esse filme desde que o vi em 2006. Assisti novamente inúmeras vezes e sempre fiquei com a sensação de que “Notas Sobre um Escândalo” é uma produção muito bem feita. É evidente que Cate Blanchet e Judi Dench levam grande parte do mérito porque são as que aparecem na telona e dão a cara a tapa. Mas não há como ficar indiferente com a direção de Richard Eyre e com o roteiro bem elaborado de Zoe Heller e Patrick Marber. O filme, a história e os próprios personagens  poderiam não ser tão interessantes se não fossem realizados com tanta destreza e detalhamento técnico.

Desde a narração em primeira pessoa ao deslocamento subjetivo da câmera: Eyre conseguiu fazer com que tudo ficasse em seu devido lugar. Outro aspecto que me chama atenção é a iluminação que parece andar de mãos dadas com o desenvolvimento dramático. Nos momentos de clímax, por exemplo, onde as personagens estão em confronto, os ambientes ficam mais escuros. Quando Sheba (personagem interpretada por Cate Blanchett) faz sexo com o aluno, a iluminação recebe um tom avermelhado e as cenas na escola são em sua maioria brancas e muito claras. É importante lembrar aqui que Judi Dench e Richard Eyre já trabalharam juntos anteriormente no aclamado “Iris”, onde Judi (ao lado de Kate Winslet, Jim Broadbent e Hugh Bonneville) contou o drama da novelista Iris Murdoch.

notas sobre um escandaloA trama conta a história de Bárbara (Dench) uma professora de história dominadora que vive sozinha com seu gato, Portia. Bárbara executa suas tarefas com mão de ferro dentro da escola, amedronta os alunos e os colegas (talvez, por isso, seja tão solitária). Seu cotidiano muda com a chegada da professora de artes Sheba Hart (Cate Blanchett). As duas criam uma forte relação de amizade, mas a situação fica cada vez mais perigosa quando Bárbara descobre que Sheba tem um caso amoroso com um de seus alunos.

Logo no início somos familiarizados com a narrativa de Bárbara que conta como o seu dia-a-dia na escola se tornou enfadonho e sem graça até a chegada da nova professora. Sheba roubou a atenção dos alunos e dos outros professores que também foram seduzidos por sua graciosidade. Bárbara só se aproxima dela após uma briga na sala de aula (Sheba não consegue acalmar os alunos até que a Bárbara chega e impõe a ordem). Desde então as duas passaram a almoçar juntas e a dividir os segredos. Sheba convida Bárbara para um almoço em sua casa e é assim que Bárbara conhece toda a família da colega. Aos poucos a relação das duas toma um rumo doentio já que Bárbara não gosta que outros professores se aproximem da amiga. Quando ela descobre que Sheba teve um caso com um de seus alunos ela não só provoca a amiga como faz com que ela fique em uma situação de completa dependência

Eu e um colega brincávamos outro dia e dizíamos que esse filme poderia muito bem se chamar ‘Notas de uma solitária’ pois é o que define melhor a personagem de Dench, Bárbara. Gosto especialmente da maneira em que ela aparece em tela: com um aspecto que acentua sua velhice e sua rispidez. Desde as primeiras cenas percebemos o quanto aquela odiosa senhora está submersa na necessidade de encontrar alguém para lhe fazer companhia. O fato mais interessante, sem dúvidas é que toda a sua carência, converte-se em um desejo lésbico escondido. Suas carícias, seus olhares e seu desejo não são só evidenciados pela narrativa literária, mas também pelos aspetos corporais que Dench e Blanchett o fazem muito bem. Não há uma resposta concreta em cena, mas me perguntei inúmeras vezes o que teria provocado tanta dureza na vida dessa mulher.notas-escandalo

Se há dois momentos que me agradam diante essa perspectiva (da sexualidade reprimida de uma professora idosa) e que ficam ainda mais interessantes pela forma sarcástica em que ela dirige seus diálogos (como uma maneira de se defender e de esconder toda fraqueza emocional), são: quando o gato de Bárbara morre ela aproveita-se da bondade de Sheba, pede que a amiga feche os olhos e diz: ‘Quando estávamos tristes, eu e minha amiga tínhamos o costume de fechar os olhos e acariciar uma a outra’. Sheba o faz, mas a sensação que se tem é de completo desconforto. No segundo momento, Bárbara está sozinha em casa na banheira e começa a descrever como é terrível sentir-se só e pensa: Gente como ela acha que sabe o que é solidão. Mas solidão, daquelas onde uma ida à lavanderia é o máximo que pode se esperar do seu fim de semana… Onde encostar o braço no cobrador do ônibus pode descarregar um choque elétrico por seu corpo… Desse tipo de solidão, ela não sabe nada.”

Todo o mistério que ronda Bárbara (que, a meu ver, é o personagem mais interessante da trama) também envolve a personalidade paradoxal de Sheba, afinal a sua jovialidade e beleza escondem o que o espectador descobre só mais tarde: o deslize de relacionar-se com um jovem de quinze anos e a família completamente desproporcional a sua aparência. Bárbara, em uma de suas cruéis anotações, ironiza a casa de Sheba evidenciando o quanto ela todo aquele cenário não combina com sua personalidade: o marido mais velho, da filha adolescente problemática e do filho com Síndrome de Down. Inesperadamente, Sheba se apaixona pelo aluno quando ele, por sua vez, não quer mais se relacionar com ela. As situações se invertem e toda a infantilidade que se espera do garoto, passa a ser vista na professora.scandal

Toda a trama nos traz questionamentos interessantes sobre quem realmente somos e com quem estamos nos relacionando diariamente. No âmago de cada um de nos, guardamos não só os mais profundos segredos como também desejos e temores absurdos. Moldamos uma personalidade para nos adequarmos socialmente e é em consequência a essa escolha que deixamos parte do que somos escondida. Notas sobre um escândalo é um filme imperdível, daqueles que conseguem equilibrar muito bem a narrativa fílmica. Só para ressaltar, o trabalho de Philip Glass na trilha sonora é deslumbrante.

O quarteto

Maggie Smith Foi a primeira vez que reparei na beleza de Maggie Smith e no quanto àqueles olhos grandes e azuis são bonitos. Nem mesmo os filmes que ela fez com Judi Dench despertaram tal admiração.  Smith entrou para o meu imaginário (e tenho certeza que não só para o meu) como a velha professora de Hogwarts, Minerva McGonagall. Lembro-me dela também no papel da ríspida madre superiora em Mudança de Hábito, portanto, sua solidez me pareceu característica e foi assim que a marquei em minha memória.

Em ‘O Quarteto’ (filme de 2012, dirigido por Dustin Hoffman), Maggie Smith dá a vida a Jean, uma ex-cantora lírica que decide se mudar para uma casa de repouso de cantores aposentados. Sua chegada não é bem vista por alguns moradores do local e a trama leva-nos a desvendar o por quê. Logo na apresentação do filme, sentimos o clima leve do filme e acompanhamos um dos ensaios dos cantores que todos os anos, no dia 10 de outubro, comemoram o aniversário de Giuseppe Verdi com um concerto.

Vi a mesma pergunta repetidas vezes em diversos sites: ‘Por que Dustin Hoffman demorou tanto para trabalhar como diretor’?  Não sei a reposta ao exato, mas afirmo com toda certeza que seu debut na direção foi sublime. Em uma entrevista que vi com a Maggie Smith sobre a produção, ela conta o quanto se sente desconfortável se vendo em tela. O entrevistador lhe dizia que ela tem fama de ser perfeccionista e pergunta como foi trabalhar com Hoffman. Em resposta ela disse que ele é um dos melhores diretores com quem trabalhou porque já esteve na pele de um ator e sabe exatamente como eles se sentem em cena. A beleza da direção e sem dúvidas na fotografia se dá porque logo percebe-se um respeito pelo desempenho de cada ator em tela. Cada um deles, em sua devida proporção, merece uma menção na trama.

Maggie+Smith+Quartet

Dustin Hoffman dirigindo as cenas em 'O quarteto'
Dustin Hoffman dirigindo as cenas em ‘O quarteto’

O quarteto - Dustin Quando Jean chega ao asilo ela é tratada com rispidez por alguns moradores, mas sua presença incomoda principalmente Reg (Tom Courtenay) que afirma que deixará o local se ela realmente se mudar. Ironicamente, Jean fica a sua procura em grande parte da trama e só então descobrimos que os dois foram casados anteriormente e que Jean traiu Reg com outro homem.  O clima de briga entre os dois personagens é totalmente equilibrado pela presença do sedutor Wilf (Billi Connoly) e da esquecida Cissy (Pauline Collins). Os quatro, anteriormente, formaram um prestigiado grupo de cantores, mas depois de um tempo, tomaram os próprios rumos (a primeira a abandonar o grupo foi Jean).

Todo o mistério que ronda Jean faz da personagem mais encantadora. O filme, de fato é centrado em Maggie Smith, mas Pauline Collins, com toda aquela doçura não fica para trás. Cissy se esquece de tudo e sua fragilidade é compensada pela proteção e carinho dos outros moradores que não deixam que algo lhe aconteça. O próprio Wilf, em um momento descontraído, confessa que foi apaixonado por ela e por seus belíssimos ‘pares de peitos’.Quartet-1

Após uma reunião, os três amigos se juntam para tentar convencer Jean a se apresentar novamente.  Particularmente, admiro a abordagem que se deu às inseguranças da velhice. Jean se nega a cantar novamente porque tem medo de desafinar e não quer decepcionar os fãs. (Wilf ironicamente responde: ‘seus fãs provavelmente já estão mortos’).

No filme, Jean reclama dos ‘malditos quadris’ que doem muito. Acho engraçado porque no filme ‘O Exótico Hotel Marigold’, o personagem de Smith tinha o mesmo problema. Fiz uma pesquisa e descobri que Maggie Smith foi acometida por um câncer severo e ficou por algum tempo afastada das telas e nunca mais se aventurou a trabalhar no teatro. Maggie e Jean dividem algo em comum: as consequências da velhice e enfrentaram a possibilidade de abandonar a carreira.

Gosto da visão positiva sobre o avanço da idade, daquela velha ideia de que: ‘nunca é tarde para recomeçar’. Ao final, admiro muito a decisão de Hoffman de não mostrar o quarteto se apresentado. Seria arriscado colocar atores, que não cantam, dublando cantores de ópera. Achei justo e mais seguro.

O QUARTETO