Gal Costa esteve ontem em Belo Horizonte a convite da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e maravilhosamente, cantou diversos sucessos de sua carreira (como Folhetim/Camisa Amarela). Por sorte fiquei sabendo da sua presença na capital mineira através de uma página argentina em sua homenagem. Os ingressos começaram a ser vendidos há um mês (e por falta de atenção ao boletim mensal do Palácio das Artes, soube em cima da hora). Minha mãe foi ao PDA comprar um ingresso e eles estavam esgotados. Fiquei desesperada: há tanto tempo espero por ela e agora que ela está aqui, tão pertinho eu não consigo ingresso. Chorei, esperneei, fiz uma promessa de que se conseguisse entrar, ficaria dois dias sem falar nada. Cheguei lá mais cedo e fiquei rondando por um cambista. Consegui um ingresso (um pouquinho mais caro) e tive a felicidade de vê-la de pertinho, foi lindo.
Hoje eu poderia escrever um texto impessoal e informativo, apresentando as músicas e observando os aspectos estéticos e técnicos do show. Mas uma publicação sobre ela, cantora que eu tanto admiro, não poderia ser simplista assim. Peço desculpas pela repetição, pelo pieguismo… mas quando o assunto é Gal Costa, eu me derreto.
Como já disse aqui no La Amora, nutro uma sincera admiração por vários artistas. Sou fã da Susan Sarandon e da Jessica Lange, por exemplo. Mas quando o assunto é Gal Costa o sentimento que eu tenho é completamente diferente. Gal foi a voz de uma geração, aliás: foi a voz de uma nação: do meu país. Ontem antes de dormir, fiquei me lembrando dos diversos contextos em que sua voz esteve presente na minha vida e no quanto sou encantada por ela. Parece que Gal tem um “feitiço”, uma energia ou um poder que te sensualiza e te encanta.
Quando eu era pequena minha mãe dizia que os meus cabelos soltos pareciam com os de Gal. “Tá lindo, tá Gal”. Por uma inocência eu achava que cabelo bonito era cabelo liso: então quando ela dizia que parecia Gal eu ficava com tanta raiva! Um dia, cheguei na escola com os cabelos soltos e um colega disse: tomou choque? Tá parecendo a Gal! (foi terrível!). Fiquei com vergonha, morrendo de raiva e não podia prender o cabelo porque não tinha levado a presilha. Passei o dia sentada na carteira, querendo sumir e desde então, não fui a escola de cabelo solto (até que aprendi a fazer escova). Ironicamente, meus cabelos não possuem os mesmos cachos e eu sempre tento fazê-los parecer mais volumosos. Acho o cabelo da Gal Costa tão lindo, tão lindo que admito que gostaria de ter um igual.
Outra lembrança que eu tenho é de assistir um programa na TV Cultura onde Gal cantava acompanhada por uma guitarra. O cara tocava um nota e Gal repetia com a voz. Achei aquilo belíssimo. Passei a imitá-la dentro de casa interminavelmente. Tínhamos um cd e que eu não me cansava de ouvir. Um dia apareceu um cd igualzinho, não sei como aquilo foi parar lá e então eu o levava comigo, dentro da mochila da escola. Um ficava comigo e o outro em casa. Meses depois descobri que era da vizinha (mas eu não devolvi). Um deles se perdeu mas o outro está aqui, um pouco rabiscado de caneta, mas a salvo.
Só fui entender a importância da Gal no ensino médio, quando me ensinaram direito o que foi a ditadura no Brasil (sobre os movimentos culturais, sobre o tropicalismo). Desde então as músicas dos Doces Bárbaros (e as músicas da Elis Regina, inevitável) era o que tocava no meu celular. Eu escutava o dia inteiro, sabia de cor e salteado.
Foi nessa época que comecei a alimentar uma vontade louca de ir a um show dela, de vê-la de pertinho (como o fiz ontem). Porque Gal é inspiração, é sinônimo de beleza e de força: de coragem. Conheci um rapaz chamado Lucas no Palácio, ele estava sozinho (assim como eu), tem 17 anos e é apaixonado por Gal (a quem chama de diva). Conheci Marina e Camila, duas meninas de 21 e 19 anos que a amam. Conversei com uma senhora antes de entrar para o show, ela era bem velhinha e disse: “A Gal tem uma energia que nenhuma outra cantora tem”. Quando entrei no ônibus para vir para casa, dois rapazes estavam conversando no banco de trás, falando sobre a Gal e sua voz. Eu me senti tão bem, tão feliz! Quer dizer: olha só quanta gente!
O show foi lindo, já no final o público saiu das cadeiras e se aglomerou ao palco. Lá estava eu, bem pertinho dela. Gal foi chamada de volta várias vezes, não queríamos deixá-la ir.