Foi a primeira vez que reparei na beleza de Maggie Smith e no quanto àqueles olhos grandes e azuis são bonitos. Nem mesmo os filmes que ela fez com Judi Dench despertaram tal admiração. Smith entrou para o meu imaginário (e tenho certeza que não só para o meu) como a velha professora de Hogwarts, Minerva McGonagall. Lembro-me dela também no papel da ríspida madre superiora em Mudança de Hábito, portanto, sua solidez me pareceu característica e foi assim que a marquei em minha memória.
Em ‘O Quarteto’ (filme de 2012, dirigido por Dustin Hoffman), Maggie Smith dá a vida a Jean, uma ex-cantora lírica que decide se mudar para uma casa de repouso de cantores aposentados. Sua chegada não é bem vista por alguns moradores do local e a trama leva-nos a desvendar o por quê. Logo na apresentação do filme, sentimos o clima leve do filme e acompanhamos um dos ensaios dos cantores que todos os anos, no dia 10 de outubro, comemoram o aniversário de Giuseppe Verdi com um concerto.
Vi a mesma pergunta repetidas vezes em diversos sites: ‘Por que Dustin Hoffman demorou tanto para trabalhar como diretor’? Não sei a reposta ao exato, mas afirmo com toda certeza que seu debut na direção foi sublime. Em uma entrevista que vi com a Maggie Smith sobre a produção, ela conta o quanto se sente desconfortável se vendo em tela. O entrevistador lhe dizia que ela tem fama de ser perfeccionista e pergunta como foi trabalhar com Hoffman. Em resposta ela disse que ele é um dos melhores diretores com quem trabalhou porque já esteve na pele de um ator e sabe exatamente como eles se sentem em cena. A beleza da direção e sem dúvidas na fotografia se dá porque logo percebe-se um respeito pelo desempenho de cada ator em tela. Cada um deles, em sua devida proporção, merece uma menção na trama.

Quando Jean chega ao asilo ela é tratada com rispidez por alguns moradores, mas sua presença incomoda principalmente Reg (Tom Courtenay) que afirma que deixará o local se ela realmente se mudar. Ironicamente, Jean fica a sua procura em grande parte da trama e só então descobrimos que os dois foram casados anteriormente e que Jean traiu Reg com outro homem. O clima de briga entre os dois personagens é totalmente equilibrado pela presença do sedutor Wilf (Billi Connoly) e da esquecida Cissy (Pauline Collins). Os quatro, anteriormente, formaram um prestigiado grupo de cantores, mas depois de um tempo, tomaram os próprios rumos (a primeira a abandonar o grupo foi Jean).
Todo o mistério que ronda Jean faz da personagem mais encantadora. O filme, de fato é centrado em Maggie Smith, mas Pauline Collins, com toda aquela doçura não fica para trás. Cissy se esquece de tudo e sua fragilidade é compensada pela proteção e carinho dos outros moradores que não deixam que algo lhe aconteça. O próprio Wilf, em um momento descontraído, confessa que foi apaixonado por ela e por seus belíssimos ‘pares de peitos’.
Após uma reunião, os três amigos se juntam para tentar convencer Jean a se apresentar novamente. Particularmente, admiro a abordagem que se deu às inseguranças da velhice. Jean se nega a cantar novamente porque tem medo de desafinar e não quer decepcionar os fãs. (Wilf ironicamente responde: ‘seus fãs provavelmente já estão mortos’).
No filme, Jean reclama dos ‘malditos quadris’ que doem muito. Acho engraçado porque no filme ‘O Exótico Hotel Marigold’, o personagem de Smith tinha o mesmo problema. Fiz uma pesquisa e descobri que Maggie Smith foi acometida por um câncer severo e ficou por algum tempo afastada das telas e nunca mais se aventurou a trabalhar no teatro. Maggie e Jean dividem algo em comum: as consequências da velhice e enfrentaram a possibilidade de abandonar a carreira.
Gosto da visão positiva sobre o avanço da idade, daquela velha ideia de que: ‘nunca é tarde para recomeçar’. Ao final, admiro muito a decisão de Hoffman de não mostrar o quarteto se apresentado. Seria arriscado colocar atores, que não cantam, dublando cantores de ópera. Achei justo e mais seguro.