Aproveitando a onda de filmes que tenho assistido com Judi Dench e Maggie Smith, resolvi escrever sobre ‘O violinista que veio do mar’, produção de 2004 dirigida por Charles Dance. [este é o primeiro filme de Dance como diretor que, aliás, é um ator conhecido e atuou em vários filmes como Alien 3 e Game of Thrones]. A história se passa na década de 1930 e conta a história de duas irmãs: Úrsula e Janet que vivem sozinhas em uma pequena residência na vila de Cornwell, norte da Inglaterra (a única visita constante que recebem é a ranzinza e cômica Dorcas, empregada que as acompanha há anos). A morosidade do cotidiano é interrompida quando elas encontram no mar um jovem desacordado e decidem levá-lo pra casa.
Depois de cuidarem de seus ferimentos, descobrem que Adreas (Daniel Bruhl) não fala inglês e provavelmente sobreviveu a um naufrágio. Janet e Úrsula passam meses cuidando do rapaz, compram roupas, o alimentam e criam uma relação de proximidade. Elas se surpreendem com sua facilidade de tocar violino e arrumam um instrumento emprestado para que ele treine todos os dias. A música de Andreas chama a atenção de Olga Daniloff (Natascha McElhone), irmã de um violinista e compositor famoso. Olga, que só estava de passagem pela cidade, convida Andreas para se juntar a ela em uma viagem. A grande oportunidade de Andreas se torna um pesadelo para Úrsula, que se apaixonou perdidamente pelo jovem.
Não há o que questionar sobre elenco: Dench e Smith são as grandes protagonistas e guiam toda a ação do filme. Independente disso, o espaço dos outros atores é respeitado: Natascha McElhone está belíssima, faz jus ao personagem que interpreta e esbanja sensualidade, assim como Daniel Bruhl (nem um pouco prejudicado pela ausência de falas e fundamental para o desenrolar da trama). Sobre a direção de Dance, percebe-se muita calma quanto ao ritmo dos acontecimentos: tudo em seu devido tempo, acentuando a realidade das velhas senhoras. Além disso, o cenário é belíssimo (bucólico, frio e silencioso) e sustenta a sensação de solidão das irmãs.
Admiro a forma respeitosa em que a velhice é representada e mais do que isso, admiro a forma realística que trataram sobre um tema bastante subjetivo: o amor. Úrsula se apaixona por Andreas e não consegue esconder o sentimento da irmã que a todo tempo, tenta protegê-la e impedi-la de se aproximar do garoto. Em uma entrevista que vi com as atrizes, Dench falava que da pureza do amor de Úrsula e sugeriu que talvez, ela tivesse algum problema mental (ocasionado pela idade). Quando vi o filme, não me pareceu que Úrsula tinha alguma doença, no meu ponto de vista ela realmente tinha se apaixonado e como todo romântico, acreditava que um dia iria se juntar ao amado.
Não fica muito claro se Úrsula teve algum marido ou namorado, quanto a Janet (que é muito mais ‘pé no chão do que a irmã’) sabe-se que ela foi casada e que o marido morreu em guerra. É possível perceber um contraponto belíssimo: a viuvez de Janet não a fez descrente no amor, mas adormeceu nela o desejo de encontrar outro homem. Úrsula, por outro lado, tem dentro de si uma paixão arrebatadora (apimentada pelo ciúme que ela sente de Olga). Muito do que li, de comentários de quem já viu o filme, tratava-se do fato de Úrsula ser velha e mesmo assim se apaixonar. (Falavam com admiração não do fato dela ter se apaixonado por um garoto: mas do fato de ter se apaixonado, simplesmente).
Só há um motivo que me deixou um pouco antipatizada com o personagem Andreas: o fato de ele ter ido embora sem avisar as irmãs. Ele comeu da comida delas, vestiu as roupas que elas lhe compraram, teve abrigo e carinho e depois, as abandonou. Sua relação com as duas me pareceu seca e no mínimo ingrata afinal, será que Andreas não percebeu que Úrsula estava apaixonada por ele? Porque ele não se deu ao trabalho de avisá-las que iria embora? Por quê não deu atenção a elas depois do show? Foi doído ver o estado em que Úrsula ficou após perceber que Andreas tinha as abandonado e ficou claro o quanto era essencial que Janet, naquele momento, se mantivesse forte e segurasse as pontas.