Eu sei que você está chateado, que saiu rápido sem dizer as palavras doces que eu tanto gosto de ouvir. O problema não é com você nem comigo, o problema somos nós dois, não dá certo. Eu disse que essa proximidade toda só traria mais dor, mas você insistiu na ideia de que faríamos bem um ao outro se deixássemos todo o desejo vir à tona. Deu no que deu. Não gosto de amores dramáticos, de encontros escondidos, de jogos de sedução. Quero um amor sincero, um amor de verdade, mais carne e mais alma. Quanto mais alma melhor. E coragem, C-O-R-A-G-E-M, pra perseguir o que é certo, pra viver sem pensar nos dias ou nas noites, ou nas músicas, ou nos filmes, ou nos outros, ah! os outros. Nossos encontros foram perdendo a graça, o suor, o beijo o sexo a cama o vinho e foi se tornando essa coisa estranha, sem cor nem vontade. Aí o certo (existe certo em uma situação dessas?) O certo é cada um seguir seu caminho, arrumar outra pessoa, casar-ter-filhos. –Oi, tudo bem? –Nossa, é você? – Pois é, lembra-se daquela época em que saíamos juntos? – Claro! Como era bom… O quê tem feito da vida? –Comprei um carro novo, os gêmeos estão chegando… – Gêmeos? Parabéns! – E você, como está? – Arrumei um emprego, me mudo para o Rio de Janeiro na próxima segunda. –Que coincidência. – O quê? – Te encontrar, assim, logo agora… que você está partindo. – Pois é, estranho isso. – Ainda escuta os discos de Elis? – Todos os dias. – Lembro de você às vezes. – Eu nunca te esqueci. (o telefone toca). – Minha mulher, me desculpe. – Tudo bem, tenho que ir. – Tchau. – Tchau, boa sorte! – Obrigada.
– despediram-se em um aperto de mãos. a mão dele estava suada ela se virou, sorriu com os olhos nunca mais se viram.Dia: 13 de Janeiro, 2014
Tarde demais para esquecer
Já disse diversas vezes aqui no La Amora que não gosto de escrever sobre clássicos, primeiro porque não tenho cacife para falar sobre eles e segundo porque (provavelmente) há um grande acervo de releituras/críticas/resenhas sobre essas produções que dispensam qualquer comentário – é só pesquisar no Google e voilá. Acontece que ontem assisti “Tarde demais para esquecer” pela primeira vez e fiquei de queixo caído com a graciosidade do longa.
Terminei de ver o filme com um sentimento de culpa enorme; me perguntando o “porque’ de ter demorado tanto para vê-lo. Depois dessa doce surpresa, me proponho a assistir clássicos e comentar sobre eles aqui (não sou nenhuma crítica, vocês sabem, mas como cinéfila às vezes me bate uma sensação louca, quase que como um “compromisso” de melhorar meu repertório). Afinal, qual o cinéfilo que nunca assistiu “O Poderoso Chefão”, por exemplo? Pois é, eu… E o pior é que não só esse, como diversos outros filmes foram deixados de lado por essa “cinéfila relapsa”. Prometo: nunca mais!
Tarde demais para esquecer (An Affair to remember, 1957) conta a história de Nickie Ferrante (Grant) um jogador famoso e mulherengo que é um dos homens mais cobiçados do momento. A farra de Ferrante está prestes a acabar pois ele está noivo de Lois Clark (Neva Patterson), uma socialite. Em uma viagem de volta a Nova York, Ferrante conhece Terry McKay (Deborah Kerr), uma ex-cantora que também está de casamento marcado. Terry e Nickie acabam se envolvendo e se apaixonando durante a viagem, mas como possuem outros relacionamentos decidem se encontrar depois de seis meses no alto do Empire State. Neste período eles poderão acertar suas vidas e, caso se reencontrem, se casar.
Kerr e Grant possuem uma química perfeita e os dois correspondem a elegância da direção de Leo McCarey (também diretor em A Delícia de Um Dilema) – que optou usar o CinemaScope. O filme é um remake de “Duas Vidas” (produzido em 1939, que traz Irene Dunne e Charles Boyer nos papéis principais) e ao que tudo indica (porque eu ainda não vi o “original”), a versão de 39 é muito mais densa e dramática.
Um dos motivos que me fizeram não assistir “Tarde demais para esquecer” foi o fato de achar que o filme era um daqueles romances água com açúcar, que te faz chorar e te deixa deprimida quando acaba. Que engano! O filme é, na verdade, uma história linda, emocionante e divertida, que te deixa com um humor lá em cima. Meu Deus, que figurino! Sei que muita gente pensa do mesmo jeito que eu e por isso confesso que adoraria voltar no tempo e pousar (HAHA!) na década de 1950 só para usar roupas iguais aquelas, vestidos maravilhosos, cabelos perfeitos…
O bacana é que o filme consegue equilibrar o humor com a carga dramática. No momento em que a trama já está bem desenvolvida (e que já fomos conquistados pela história e pelos personagens), o espectador é pego de surpresa. [Spoiler] Terry, ansiosa para se encontrar com Nickie, acaba não prestando atenção ao atravessar a rua e é atropelada. O acidente não só a deixa sem andar, como também a impede de encontrar o “amado”, o que faz com que Nickie acredite que Terry desistiu do relacionamento dos dois. [Uma história que seria difícil adaptar aos dias de hoje já que o celular, a internet e diversos outros meios de comunicação vieram para facilitar a vida dos casais apaixonados].
Sempre ouvi falar muito sobre Déborah Kerr e sobre o Cary Grant, mas esse é o primeiro filme que assisto com eles (ou melhor, o primeiro filme em que eu realmente presto atenção neles). Aliás, como eles são lindos! Já reparou na perfeição do nariz da Déborah Kerr ou no charme do Cary Grant? É muito interessante o fato desses atores conseguirem ser incrivelmente sexys (“sem serem vulgar”). E é igualmente incrível (uso esse adjetivo porque realmente é difícil crer) na força da moralidade do cinema americano dessa época. Não só isso, mas também na “inocência perdida”, entende?. Esse filme me trouxe uma certa nostalgia, fiquei me lembrando das histórias que a minha mãe e a minha avó me contavam; dos namoros escondidos, dos beijos roubados. “Não podia pegar na mão!” ou “Conversar, só na sala”. Sei lá, acho que o romantismo morreu.