Tudo por um sonho

Existem filmes que são inesquecíveis. Não porque são clássicos ou mundialmente conhecidos, simplesmente porque, em algum momento, fizeram parte da sua vida. Não me canso de dizer que quando eu era pequena eu frequentava algumas locadoras aqui da cidade (e na maioria das vezes) locava as mesmas fitas. Eu amava a Angélica Huston e assistia a seus filmes diversas vezes, sem cessar. O fato é que nem sempre eu os compreendia, mas não me importava em ver e rever a mesma história, as mesmas cenas e os mesmos diálogos.

Imagem“Tudo por um sonho” (The Perez Family/1995) é um deles. Vi inúmeras vezes quando era criança e, ainda que a atmosfera fosse dramática e sensual, havia um aspecto emotivo e cômico que me fazia gostar imensamente do filme. A trama contava a história de Juan Perez (Aldred Molina, totalmente misterioso e sedutor), um cubano que havia sido liberado da prisão e que estava decidido a viajar para os Estados Unidos e encontrar sua mulher Carmela e sua filha Teresa (interpretadas por Anjélica Huston e Trini Alvarado).

Sem um puto no bolso, Juan percebe que a sua única oportunidade de entrar nos EUA é ilegalmente. Enquanto bola um plano, conhece a “caliente” e sonhadora Dottie Perez (Marisa Tomei), uma mulher que deseja ir para a América e se tornar estrela de cinema. A personalidade de Juan e de Dottie são contrastantes: enquanto ele é um homem tímido, ela é uma mulher que não tem papas na língua – e, por esse motivo, os dois não se dão muito bem. 

the perezDottie é uma mulher esperta e propõe um acordo para Juan: já que os dois possuem o mesmo sobrenome, eles podem fingir que são marido e mulher e entrar mais facilmente nos EUA. Juan aceita. Ao longo da trama o “casal” conhece mais dois imigrantes (que também possuem o sobrenome “Perez”) e fazem a mesma proposta, que eles se unam e finjam que são uma família. Enquanto isso, Carmela acredita que Juan está preso e alimenta a esperança de reencontrá-lo. Teresa, por outro lado, insiste na a ideia de que Juan morreu (ou, se está vivo, nunca irá procurá-las).

Ao longo da trama, Dottie e Juan se apaixonam, mas ele não consegue se livrar do passado: precisa reencontrar a ex-mulher e ter certeza de que está bem. Ironicamente, um segundo amor também aparece na vida de Carmela, um policial (interpretado por Chazz Palminteri) insiste em cortejá-la.

tudo por um sonhoMarisa Tomei domina o filme do início ao fim, ela se sobressai tanto nas cenas dramáticas quanto cômicas. Tomei dá o tom ao personagem e está jovem, com um astral que chama a atenção. Anjélica Huston também está linda, com um ar de estrela de cinema, daquelas atrizes clássicas, sabe? Ao rever o filme outro dia, reparei que a Huston parece um pouco exagerada, fora do lugar, meio perdida, mas ainda com um brilho particular. Também gosto da atuação de Molina, que acerta na dose da seriedade exigida pelo personagem.

No entanto Mira Nair (a diretora, que aliás, é indiana) escorrega em alguns momentos, exagera em um humor estranhamente sem graça e cria certo desconforto. O filme se sustenta até o fim, mas tem um encerramento tão desnecessário que até dói de lembrar.