Como disse em outra publicação, estou um pouco afastada do La Amora. Ando muito ocupada com um projeto que está tomando todo o meu tempo, mas não resisti… precisava publicar sobre o assunto.
Nesse mundo de informações, de vídeos e de imagens que é a internet, a gente se vê bombardeado com coisas inúteis. Parece uma tendência, mas diariamente nossas páginas nas redes sociais ou nossos emails recebem matérias e fotos que dão medo, que dão nojo, que divertem… Poucos, como o caso desse vídeo, emocionam.
* A britânica Joanne Milne (40 anos) nasceu surda, em consequência de uma doença chamada Usher, ficou cega aos vinte anos por causa da mesma enfermidade.
Milne, com sua simplicidade e com sua emoção sincera, nos faz lembrar da importância dos detalhes, da beleza da vida, das cores, do som… Difícil não se emocionar. Difícil não se colocar no lugar dela, difícil não se perguntar: ‘E se fosse comigo?
É incrível como certas tramas nos conquistam pelos pequenos detalhes, por diálogos bem construídos, pela delicadeza dos personagens. “Chá e Simpatia”, produzido em 1956, é uma delas, me conquistou pela simplicidade. O filme conta a história de Tom Lee (John Kerr), um estudante universitário que não consegue se enturmar com os outros alunos e prefere passar os intervalos conversando com Laura, a orientadora. Um dia, Tom é visto costurando. A história se espalha e começam a dizer que ele é gay, passam a chamá-lo de “sister boy”
O cotidiano de Tom na faculdade vai ficando cada vez mais difícil, ele sofre com o preconceito e com as zombarias dos colegas, ao mesmo tempo em que encara as pressões do pai que insiste para que ele se porte como homem. Porém, Tom é um jovem sensível, que gosta de escutar músicas, de teatro, literatura e não tem pré-disposição para esportes.
Laura (Deborah Kerr) entende o garoto e aos poucos se aproxima dele, contrariando as vontades do seu marido, Bill (Leif Erick-Son) – que é um dos professores da faculdade. A proximidade faz com que surja uma paixão entre os dois. Laura, no entanto, é uma mulher comprometida enquanto Tom é um jovem confuso e extremamente tímido.
As felicidades do amor duram momentos, as dores duram para sempre.
O filme foi baseado na peça homônima de Robert Anderson: “Tea and Sympathy”, encenada pela primeira vez em 1953. Nos palcos, o próprio Jonh Kerr ( que além de ator, era um advogado atuante) foi dirigido por ninguém mais, ninguém menos do que Elia Kazan. Anderson é considerado um dramaturgo da altura de Tennessee Williams e de Arthur Miller, só que não é tão famoso. A história, na verdade, é quase uma autobiografia, quando Robert Anderson se juntou ao exército, ele acabou se apaixonando por uma mulher mais velha e comprometida.
Uma das coisas que mais me agrada nesse filme são os diálogos, Minelli nos presenteia com pequenas pérolas, falas inesquecíveis. Como por exemplo no momento em que Laura diz para Tom: “Nossas ações são como pedras jogadas na água, elas produzem círculos. Os círculos são as consequências”. Parece até que é uma tendência, filmes baseados em peças teatrais (talvez pela estrutura) possuem um cuidado extra em relação aos diálogos.
Difícil falar sobre Deborah Kerr, minha admiração por ela aumenta a cada dia… aliás, não me canso de dizer que a acho maravilhosa! Aqui, Kerr está doce e contida, com um postura sóbria, madura. Um dos meus filmes favoritos com a atriz.
Quando você falar sobre isso… e você vai falar. Seja bondoso.
A homossexualidade é um tema recorrente no cinema, um tema delicado e polêmico. Se hoje, filmes sobre o assunto ainda despertam estranheza, na década de 1950 o assunto era um completo tabu. O interessante nessa trama é que ela funciona quase como um registro histórico, com um documento que ilustra como as pessoas se comportavam naquela época. É evidente que a homofobia é o tema principal do filme, mas outros assuntos também complexos são retratados na trama, entre eles: o machismo.
É notório o papel secundário que as mulheres recebem na faculdade, Laura assume uma função importante, mas seu marido determina que atue apenas como “espectadora”. Ela ainda divide suas atividades com as obrigações domésticas e depende da permissão do marido para participar do baile – incrível como tudo isso é retratado com naturalidade.
Exatamente pelo fato da personagem principal ter um marido machista, a proximidade entre Laura e Tom é redentora para as duas partes. Enquanto ela o ensina a não se importar com o que dizem e a confiar em sí mesmo, Tom faz Laura perceber que o seu casamento a faz infeliz. O amor surge da dor, da fraqueza dos dois, por isso tão belo.
Ando afastada do La Amora, estou correndo contra o tempo porque embarquei em um projeto ambicioso (conto depois, se der certo). Acontece que na última quarta feira, assisti um filme que conhecia só pelo título, trata-se de ‘As Mulheres (dirigido por George Cukor e lançado em 1939). Estou encantada, que filme delicioso! – ainda que datado, faz jus a fama que tem.
A trama centra-se no cotidiano de Marie Haines (Norma Shearer), uma mulher da alta sociedade que descobre, através das amigas, que está sendo traída pelo marido. A amante, Crystal (Joan Crawford) é uma sanguessuga interesseira que não se importa com os sentimentos de ninguém, seu único e principal objetivo é ascender na vida financeira e social. Mary vive cercada de amigas, entre elas Sylvia (Rosalind Russel) uma típica fofoqueira, Peggy (Joan Fontaine) uma garota doce e inocente, Miriam (Paulette Goddard) uma mulher inteligente e decidida, Senhora Moorehead (Lucile Watson) sua mãe conversadora e a Condessa de Lave (Mary Boland) uma mulher riquíssima em busca de um novo amor.
Ao descobrir a traição do marido, Marie se vê envolvida em uma teia de mexericos e fofocas criados pelas mulheres que a cercam (que vão desde as suas amigas até a manicure). Sua principal preocupação é a pequena Mary, sua filha, que fica muito sensibilizada quando descobre a separação dos pais. Marie se vê diante de um turbilhão, precisa aprender a ser uma mulher independente e ao mesmo tempo, não dar ouvidos à especulações.
Cukor (que quase foi escalado para dirigir “E o vento Levou”) tem um humor ácido e não perde o pique em momento algum, o filme é muito dinâmico e repleto de personagens (cerca de 152 mulheres participam da produção – Sim! O cast é composto apenas por mulheres!). Aliás, que mulheres lindas! Difícil escolher a mais bela, Joan Crawford, Joan Fontaine, Norma Shearer, Rosalind Russel – todas no auge, jovens e elengantérrimas!
É verdade quando dizem que o filme não é feminista e sim feminino. Aqui, as mulheres são retratas como fofoqueiras, que vivem em função dos homens (o próprio cartaz já diz: “Its all about men”). Não há nada do filme mais decepcionante do que a personagem da Norma Shearer, é como se ela nadasse, nadasse e morresse na beira da praia. Tirando isso, há um argumento bem desenvolvido, que não guarda surpresas, mas que nos faz querer acompanhá-lo até o final.
O grande problema do filme é que retratam as mulheres como incapacitadas, não são nada sem o casamento, não são nada sem os seus homens. Por isso mesmo é um filme datado, não há como ficar indiferente ao fato de que foi produzido em 1939, nele as mulheres nasceram para serrem donas de casa. A única personagem que parece não se importar com isso é uma escritora intelectual… e lésbica.
Apesar da Norma Shearer bancar o papel principal, não há como negar que o destaque vai para Russel – que entre caras e bocas, fica engrassadíssima ao encarnar uma mulher invejosa e muuuuito fofoqueira). Eu, que nunca assisti nenhum outro filme com ela e só a conhecia por nome, fiquei encantada. Em um dos momentos do filme, Russel chega a morder a perna da Paulette Goddard… ela está genial. Joan Crawford está detestável, também cumpre bem seu papel, consegue fazer com que torçamos para que tenha um final bem cruel.
O filme é uma adaptação de uma peça teatral escrita por Claire Boothe Luce. Primeiramente pensaram em escalar Claudette Colbert para o papel principal, até venderem os direitos para a MGM, Carole Lombart e Norma Shearer entraram na disputa.
Dois aspectos marcantes são o uso e o abuso de cenários, há um momento em que algumas das personagens se deslocam para uma fazenda e fica claro que aquele ambiente é completamente fictício. Outro detalhe interessante são as roupas usadas pelas atrizes, umas mais lindas que as outas. Em certo momento da trama, as mulheres se reúnem para ver um desfile de moda: o desfile dura cerca de dez minutos e a imagem é colorida.
Quando partiu, levava as mãos no bolso, a cabeça erguida.
Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado em meio para trás.
Não olhava, pois, e, pois não ficava.
Completo, partiu.
(Caio F.)
Li esse livro no mês passado e desde então, venho me programando para escrever sobre ele aqui no La Amora. Que narrativa deliciosa!
‘Os 13 porquês’, escrito por Jay Asher, conta a história de Clay Jensen, um estudante adolescente que um dia, após o colégio, chega em casa e encontra na porta um pacote com seu nome, cheio de fitas cassetes. Nas fitas, a voz de Hannah Baker, uma menina que estudou com Clay e que cometeu suicídio. Em cada uma das gravações, Hannah enumera os motivos que a levaram a se matar e nomeia todos os envolvidos, entre eles: Clay. Mas o quê Clay pode ter feito, já que gostava de Hannah?
Asher cria uma narrativa dupla, intercalada entre as confissões de Hannah e os pensamentos de Clay. ‘Os 13 porquês’, que é seu primeiro livro, surgiu depois que Asher visitou um museu e lhe entregaram fones de ouvido. Enquanto o autor observava as obras, ouvia vozes dos artistas – alguns deles, já falecidos. O livro, que será transformado em filme e protagonizado por Selena Gomes, foi traduzido para mais de trinta países.
Não há dúvidas de que o gênero é juvenil, com temáticas próprias de adolescentes: escola, namoro, família, bullying. Mas há algo mais interessante, que o faz ser indicado a leitores de todas as idades: trata-se, acima de tudo, de questionamentos existenciais. Difícil não gostar do Clay, difícil não se sensibilizar por Hannah. Talvez esse seja o grande mérito do Asher, provocar a catarse.
Há muito tempo eu li que durante a vida nós somos e nos transformamos em pessoas diferentes. Essa ideia, de ter uma identidade, mas de ser ‘várias’ pessoas ao longo da vida me parece encantadora. Quando alguém se vê uma foto antiga e diz: “Essa sou eu”, ela não está correta. A pessoa que ela vê na figura possui uma carga sentimental diferente, um corpo diferente, uma visão de mundo diferente. Bonito isso, de ser várias pessoas em uma só.
No texto que eu li, ainda que não nessas palavras, dizia-se que é comum o fato das pessoas inventarem histórias sobre o passado, é comum reproduzir discursos também. “Tá vendo essa foto? Sou eu. Eu amava esse vestido de bolinhas” É como se tivéssemos arrumado uma maneira para que o passado não contrarie o presente.
Quantas pessoas eu fui ao longo da vida? O que de mim permaneceu? No colégio, eu era aquela menina acanhada, que não enturmava muito, que não era a mais bonita nem tirava as melhores notas. Incrível, mas tenho memórias muito boas desse tempo. Memórias tristes também, é claro. Mas eu lembro de falar alto, de arrumar briga, de dançar nas festas comemorativas, de escrever para o jornal do colégio. Que eu era mesmo?
Lembrei: era a chorona. Chorava por tudo, de raiva, de medo, emoção, dor. Ai, como aquele tombo de bicicleta doeu! Eu chorava tanto que me lembro da minha mãe dizendo: ‘A gente só chora quando machuca ou quando alguém morre” Duro ouvir isso.
Eu era a menina sem pai, a gordinha, a menina que gostava de ler e escrever. Pensando bem, não sou tão diferente do que eu era. Talvez o mundo tenha mudado. É! Talvez seja isso, somos pessoas diferentes em mundos diferentes.
Joe Bauers é um homem burro. Tão burro que foi obrigado por seus superiores a trabalhar em um departamento onde nada lhe é exigido, nada lhe é perguntado. Um dia, ele é escolhido para participar de uma inusitada experiência militar, junto a ele, Rita – uma prostituta. Foram selecionados exatamente porque ninguém daria a mínima se os dois desaparecessem, Seus corpos foram hibernados e programados para despertar após quinhentos anos.
Quando Rita e Joe acordam, já no futuro, o mundo está completamente desordenado. As ruas estão imundas e as pessoas são tão idiotas que mal conseguem pronunciar as palavras direito, a humanidade regrediu. Nesse novo mundo, Joe e Rita são as pessoas mais inteligentes e chamam atenção pela esperteza. Diante de um problema sério, o presidente dos Estados Unidos contrata Joe como ministro e ordena que ele dê um jeito em diversos problemas em seu governo, entre eles o desemprego e a falta de comida.
Produzido em 2006 e dirigido por Mike Judge, Idiocracia é um filme independente e de baixo orçamento, que brinca com a sociedade e constrói uma crítica primorosa. Ainda que o desempenho técnico não seja tão grandioso, o humor negro se mantém intacto.
O mais interessante é que, conforme a visão crítica de Judge, daqui há quinhentos anos a humanidade mal conseguirá escrever, não irá valorizar a própria história, será estúpida, politicamente incorreta e viverá praticamente no meio do lixo. Isso tudo por casa da chamada “disgenia”, que funciona como uma acumulação e perpetuação de genes defeituosos. É claro que é um visão pessimista, mas nos faz repensar na postura que tomamos diante de questões sociais que parecem banais, mas não são. Será que não estamos assistindo televisão demais? Será que lemos o suficiente?
Ficha Técnica
Título Original: Idiocracy
Ano: 2006
Gênero: Comédia
Diretor: Mike Judge
Duração: 84 minutos
Comentei aqui no La Amora sobre “O Clube do filme”, livro escrito por David Gilmour. A história foi baseada na vida do próprio autor e conta como ele deixou seu filho de quinze anos (que não gostava de estudar) abandonar o colégio. Em troca, Gilmour exigia que seu filho assistisse semanalmente clássicos do cinema. Em um certo momento da narrativa, o autor afirma que existem filmes tão especiais que não importa o quanto são revistos, eles sempre serão marcantes em qualquer período da vida.
Se existe um filme que marcou a minha vida, seu nome é ‘A Professora de Piano, do Michael Haneke. Pode parecer estranho, porque a historia é pesada e envolve uma dolorosa trama de compulsão sexual. O assisti aos 15 anos, ainda no período do colégio. Fiquei em choque. Nunca tinha assistido nada daquilo, nada tão perturbador. Outro dia me encontrei com duas amigas da escola e elas diziam que na época eu não parava de falar no filme. Foi com ele que conheci Isabelle Huppert e foi com ele que conheci Haneke, uma longa história de amor – que dura até hoje.
Produzido em 2000, o filme conta a história de Erika Kohut, uma mulher de quarenta anos, que mora com a mãe, não bebe, não fuma, não usa roupas chamativas, é conservadora e muito séria. Em grande parte de seu tempo, Erika ministra aulas de piano no Conservatório de Viena. O que há de errado com ela? Quando não está em casa ou dando aula, Erika passa seu tempo frequentando cines pornôs, peep-shows e gosta de se autoflagelar.
Um dia Erika começa a dar aulas a Walter Klemmer (Benoît Magimel), um jovem bonito e bem humorado que chama sua atenção e logo se apaixona por ela. Os dois começam a se relacionar, mas Erika perde as estribeiras e propõe jogos sexuais perversos que deixam Walter indeciso e confuso.
Quando o prazer se transforma em sofrimento
Antes de ser um filme sobre masoquismo ou repressão sexual, “A Professora de Piano” é um retrato dramático sobre uma relação sufocante entre mãe e filha e ilustra perfeitamente a importância da figura materna (e também paterna, é claro) no desenvolvimento psíquico e social humano. Erika possui amor e ódio pela mãe e isso fica claro logo nas primeiras cenas. Em certo momento do filme, a mãe da pianista controla seu salário e determina com o quê ela pode gastá-lo. Erika começa a puxar os cabelos da mãe e só depois se dá conta do que fez, arrepende-se e em lágrimas, pede desculpa. Não é difícil relacionar o filme de Haneke a Sonata de Outono, dirigido por Bergman em 1978. No filme, Ingrid Bergman interpreta Charlote, uma pianista famosa com sérios problemas de relacionamento com as filhas: Eva (Liv Ullmann) e Helena (Lena Nyman). Especialmente com Eva, com quem alimenta um doentio jogo de disputa, de arrogância – de amor e ódio.
Uma das cenas mais chocantes em ‘A professora de piano se passa no momento em que Erika, no auge da sua loucura e sofrimento, deita-se com a mãe e tenta transar com ela. Poucos espectadores reparam nesse detalhe, mas a cena se passa logo depois que Erika descobre o falecimento do pai. Há muitas interpretações para a cena, mas a que me pareceu mais interessante é a ideia de que Erika, naquele momento, queria assumir o papel da figura paterna, transar com a mãe e voltar para o único lugar onde se sentiu segura: o útero materno.
Quando Erika conhece Walter ela se depara com algo absolutamente novo: a oportunidade de ser livre, a possibilidade de revelar seus segredos mais profundos. Desde o início da trama é possível perceber que seus desejos sexuais a corroem, a tornam presidiária. Essa situação é muito semelhante ao que é ilustrado em ‘A Ninfomaníaca de Lars Von Trier, que conta a história de Joe, uma mulher viciada em sexo. Assim como Joe, Erika é insaciável, mas ao invés de ter prazer, ela sofre. – Leia o texto escrito por Mario e Diana Corso, uma análise do filme Ninfomaníaca que discute a diferença entre erotismo e pornografia, vale a pena!
Outro momento fundamental da trama é quando Walter vai até a casa de Erika e lê, em voz alta, a carta que ela o enviou onde descreve em minúcias o que quer que Walter faça: “Bata no meu rosto, bata forte. E mesmo se eu gritar por ajuda, não pare”. Erika, de joelhos, mostra seus brinquedos sexuais escondidos debaixo da cama: ela se revela, não há mais nada para esconder. É uma ruptura, Erika agora esta sozinha. Ao mesmo tempo, ela passa a bomba para Walter: a partir daí ele sabe o seu segredo, é hora de decidir se irá aceitá-lo ou não. Aliás, será que Erika realmente deseja por aquilo?
A alma de Erika está em Elfriede Jelinek e em Isabelle Huppert
O filme foi baseado no romance da escritora austríaca Elfriede Jelinek, publicado em 1983 e vencedor do premio Nobel de literatura. O livro chegou no Brasil um pouco tarde, apenas em 2011. Polêmico. Foi recebido com estranheza pelo público e pela crítica, Jelinek ficou anos sem falar sobre a sua obra. De acordo com o texto escrito por Silvia Velloso Rocha e publicado no Globo, há várias interpretações políticas sobre ‘A Pianista que perpassam o feminismo, a xenofobia e o preconceito de classes.
Elfriede Jelinek
Em relação ao filme existem diversos aspectos técnicos que chamam atenção, não é atoa que ele tenha se tornado o grande vencedor no Festival de Cannes em 2001, repleto de detalhes, com uma trilha sonora sensacional e atuações brilhantes. Li, em várias críticas, que o filme é ‘lento demais. Vamos lembrar que essa não é uma produção americana, não há pressa nem uma explosão de clímax.
Um momento genial no filme se passa quando Haneke filma o rosto de Huppert, em close, nessa cena Erika vê Walter ensinando outra garota a tocar piano: ela está possessa, morta de ciúmes, mas não deixa o sentimento se esvair, continua lá, fixa, imóvel, fria. É exatamente nesses detalhes que o filme de Haneke se torna incrível, aliás, essa é uma de suas marcas. Haneke respeita os pequenos momentos, ele não tem pressa. Huppert corresponde muito bem a expectativa, sua interpretação não é exagerada e ainda assim conseguimos sentir todo o drama do personagem, incrível o que ela faz, incrível como ela se constrói.
Em ‘A professora de Piano, Annie Girardot também rouba a cena quando aparece. Difícil definir a sensação que ela passa em tela, aquela figura pequena, já idosa, dócil e ao mesmo tempo, odiável. Girardot e Huppert, as duas possuem uma química invejável, atuam com naturalidade, ali são realmente mãe e filha.