Dia: 13 de Julho, 2014
Bette Davis Eyes
Gosto de cinema desde que me entendo por gente. Me apaixono e já me apaixonei diversas vezes por atores e atrizes, por filmes e trilhas sonoras que, em cada época da minha vida, me acalentavam e tornavam meu pequeno mundo um pouco mais interessante. Me apeguei a Bette Davis e a Joan Crawford como qualquer outra garota jovem se apega a um ídolo, tinha recortes, fotografias e filmes das duas. Escrevia suas falas em meus diários, queria usar roupas como as delas – ainda que oitenta anos de distância nos separassem.
As conheci quando vi um filme em preto e branco pela primeira vez: “O que terá acontecido a Baby Jane?”. Não poderia ter feito escolha melhor. Joan me encantava por sua beleza, Bette por sua inteligência ácida. Passei meses assistindo a maratonas de filmes estrelados por elas.
Mas com Bette Davis a paixão foi diferente. Não era só uma grande admiração por seu talento. Me identificava com ela, com seus personagens, com sua história de vida, com sua personalidade. Na minha adolescência, Davis falava por mim. Ela era como eu queria ser, mas não era. Ainda hoje quando penso em “Bette Davis” direciono-me a ideia de uma mulher destemida, respeitada. Bette não tinha papas na língua, se preciso, brigava com os outros atores, com o diretor, com o presidente da produtora. Bette se impunha, era geniosa e respondia na lata.
Eu, enquanto era aquela menina que falava baixo e não respondia nunca, queria ter os “Olhos da Bette Davis”…E seus personagens contribuíram diretamente para que tivesse aquela sensação. Em “Vaidosa”, por exemplo, Bette Davis – que nunca foi considerada uma beldade, encarna uma mulher belíssima e rica, que destrata, trai o marido e vive um casamento por interesse. Ela está incontrolável. Pois é, pouco me importava se a personagem era uma vilã… eu só queria ser, incontrolável.
Mas o ‘espírito da Olivia de Havilland nunca saiu de mim e até hoje, acho que fala muito mais alto…São como amarras, que me prendem ao bom comportamento, que me deixa no caminho entre o querer fazer e o ter que fazer. Que me segura na hora das respostas ingratas, que forma um gosto de choro na garganta, no grito abafado, nas palavras não ditas, no rancor acumulado.
É que ser Havilland não é ruim, mas ser Davis deve ser muito melhor…