Sinedoque NYPessoas velhas me deprimem. Eu sei que é horrível falar uma coisa dessas, mas pessoas velhas realmente me deprimem. Não sei exatamente se são as pessoas, acho que a ideia de velhice em sí me deprime. Outro dia eu fazia compras com a minha mãe e uma senhora idosa apareceu na área das verduras e andava com tanta dificuldade que ficamos com medo dela cair. Ela parou um atendente e fez uma pergunta. Não só andava como também falava com dificuldade. Ela pediu que o atendente a ajudasse a achar a seção de frios do supermercado porque estava meio perdida. Ela andava, falava e enxergava com dificuldade.

– Mãe, você viu? Que dó né?
-Eu vi Thais, dá dó sim. Mas ela já é velhinha, é assim mesmo
-Mas é tão triste.
 
 

Não quero, com este texto, fazer uma correlação entre velhice e doença, ainda que seja inevitável. Susan Sontag já bateu nessa tecla, não é preciso ser velho para estar doente, segundo ela: A doença é a zona noturna da vida, uma cidadania mais onerosa. Todo que nascem têm dupla cidadania, no reino dos sãos e no reino dos doentes. Apesar de todos preferirmos só usar o passaporte bom, mais cedo ou mais tarde nos vemos obrigados, pelo menos por um período, a nos identificamos como cidadãos desse outro lugar.

Atualmente, agora mais do que nunca, tenho um olhar diferente tumblr_n7uld7L57U1ttjyl3o1_500sobre o fim da vida. Já falei sobre isso diversas vezes aqui no La Amora, mas é que o assunto me intriga. Não sei se vou seguir esse pensamento por muito tempo, mas quanto mais eu “vivo, mais tenho a sensação de que as coisas são passageiras demais para darmos tanto valor. Aliás, não só as coisas, as pessoas também.

Quanto mais os dias passam, mais me sinto como um grão de areia no deserto, com um pequeno ser em meio a multidão. Minha mãe sempre dizia que eu era uma pessoa especial, diferente das outras. Durante muito tempo eu até acreditava nisso, não só achava que era especial como acreditava que poderia mudar o mundo. Seria mais fácil se tivessem me dito que na prática tudo é muito diferente. Hoje percebo que sou igual a todo mundo: que eu não sou ninguém, que as minhas dores não estão estampadas no jornal, que o tempo não para, não volta, que as pessoas se vão e a vida segue.

Já não quebro a minha cabeça tentando fazer com que os outros me entendam. Só quero que me respeitem – não precisa nem gostar. Também perdi aquela pose, aquela arrogância de achar que poderia mudar alguém. Cada um sabe de sí e dentro de cada um existem muitos. Deixei de confiar nas pessoas, de achar que todos são amigos e que me querem bem.tumblr_mp3p3wfrfW1r4tvono1_500

Há pessoas más no mundo, pessoas más que me rondam, que não apresentam ameaças a minha integridade física, mas que não só se importam com o meu emocional como também querem vê-lo destruído. Fui machucada por algumas pessoas, me senti traídas por elas, e de algumas…guardo muito rancor.  É possível que boa parte delas pensem exatamente o mesmo sobre mim, por isso não me cabe julgar. O melhor a fazer é me distanciar e seguir da maneira mais digna e honesta possível.

As vezes, fechar os olhos alivia o coração, não faz mal querer esquecer, querer ‘não ver’. O importante é seguir e aproveitar, porque não existe presente maior do que o dom da vida. E mesmo que pareça pedante, ultimamente tenho visto a morte não como um castigo, nem como algo a se ter medo (ainda que eu tenha – e muito). Olhando pelo lado positivo, a morte nos mostra que para tudo tem um fim e que é preciso aproveitar enquanto dá tempo..tumblr_msw9a6Dym51rt3w9xo1_500

Feliz nas pequenas coisas, nas simples demonstrações de carinho ou em fazer o que dá prazer. Escrever, mesmo que ninguém leia. Cantar, mesmo que alguém escute. Comprar, mesmo que seja caro. Amar, mesmo que seja proibido. Rir, mesmo que seja inadequado. Sair, mesmo que tenha preguiça. Ter preguiça e que seja sem culpa.