Eu compro essa mulher

Apaixonada com dramaturgia me deparei, na semana passada, com um livro incrível: “Eu compro essa mulher” da Cristiane Costa. A autora, através de uma análise sobre as novelas brasileiras e Eu compro essa mulhermexicanas, realiza uma reflexão sobre o romance e o consumo na dramaturgia. O culebrón mexicano e as produções brasileiras possuem mais aspectos em comum do que muitos imaginam. É através de uma pesquisa profunda e de um texto agradável que Costa consegue fazer com que o leitor compreenda que os dois tipos de produções nasceram basicamente do mesmo “pai”: o folhetim.

Decidi fazer uma série de publicações relacionadas ao livro, cada uma dedicada a um capítulo diferente. Nas publicações, você vai perceber que os temas abordados por Costa também perpassam por questões históricas e literárias.

Mas, por quê Costa resolveu evidenciar esses dois países?

Logo na introdução ela esclarece a dúvida:

“Embora a Argentina, Venezuela e Colômbia também possuam uma indústria vigorosa, com características fortemente locais, optou-se por focalizar a pesquisa no México e no Brasil, os maiores centros produtores de telenovela do continente. A tão propalada natureza melodramática latino-americana é hoje o principal produto de exportação cultura da região. Exibidas em mais de cem países, em lugares tão distantes quanto a Romênia e a China, as telenovelas continuam parando cidades e provocando verdadeiras ondas de comoção nacional. Num mundo globalizado e voltado para o consumo, não é de se estranhar que certos gêneros narrativos se tornem transnacionais. Afinal, os sonhos românticos são praticamente os mesmos.”

Também há uma justificativa para o título. Em 1966 a Rede Globo exibiu uma novela chamada “Eu compro essa mulher”, baseada no melodrama de Glória Magadan. A história foi adaptada pela televisão mexicana (Yo compro esa mujer) três décadas depois e repetiu o sucesso estrondoso. Como e porque esse modelo reverbera na televisão latino-americana? As respostas são muito interessantes e nos permite conhecer mais sobre a nossa história e sobre nós mesmos.

México – Parte 2

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Dando continuidade à publicação sobre o livro escrito por Erico Veríssimo, México, vamos às citações:

 “Quem quer que haja vivido um pouco, deve ter concluído que, assim como existem corpos predispostos à tuberculose, há  almas predispostas ao amor. No primeiro caso basta um golpe de vento. No segundo, uma simples troca de olhares.”

‘Esse país americano, conquistado e colonizado por espanhóis, com uma tremenda percentagem de sangue índio, já teve um imperador austríaco e uma corte francesa.”

“Uma cena me ficou na memória com uma nitidez inapagável. Parados no meio-fio duma calçada, no Paseo de la Reforma, vejo passar o enterro de um bombeiro que se suicidou. Os tambores, cobertos de crepe, estão abafados e soam surdos. Não se ouve seques um  toque de clarim. Atrás dos tambores marcham alguns pelotões. Os solados, de uniforme negro, gola carmesim, crepe no braço, marcham em cadenciado silêncio. E sobre um carro também coberto de preto está o esquife cinzento envolto na bandeira mexicana.  Pla-ra-ta-plan! Pla-ra-ta-plan! Lá se vai o cortejo rumo do cemitério. Haverá outro país no mundo em que um velório seja mais velório, um enterro mais enterro, e a morte mais a morte?”

“Agora o cantor grisalho, ventrudo e cinquentão diz que não vale nada, pois chorando a vida começa e em choro a vida se acaba.”

(Sobre o Barroco Mexicano): “Se os índios fossem capazes de expressão literária, seu protesto escrito teria encontrado pela frente a barreira formidável da Inquisição. Povo plástico por excelência, o mexicano achou sua forma de expressão na arquitetura e na escultura. Mas não teriam os frades percebido a silenciosa, sutil reação? Acho que perceberam e que não só toleraram como também sabiamente encorajaram essas inocentes heresias, como parte de sua técnica de catolização do gentio. Essa “tolerância” continuou através do tempo e culminou na aceitação por parte da Igreja da Nossa Senhora de Guadalupe, a Virgem índia. É aqui em Puebla que se encontram os melhores espécimes do barroco mexicano, do churrigueresco e do plateresco.”

“Minha companheira declara-se fascinada pela sonoridade de alguns nomes mexicanos.Guadalajara…Jalisco…Cuernavaca…Acapulco…Querétaro…Churubusco, Chapingo…Hermosill…Manzanillo…Polanco…Xoxhimilco.”

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“Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo, de modo que inventou a semana. Para passar o weekend não sabemos como se arranjou. Agora, segundo dizem, passa o fim de semana em Cuernavaca, que possui um clima privilegiado. Alguns habitantes do México e alguns visitantes do país vizinho são da mesma opinião de Deus.”

(O Povo): “O México é uma nação em que predomina o sangue índio. Cerca de 30% de seus habitantes são racial e culturalmente índios. A menor parte da população, uns 10%, é formada de brancos (sempre escrevo essa palavra com dúvidas e reservas), de criollos, isto é, de filhos de pais e mães espanhóis  mas nascidos no México, e de um bom número de pessoas oriundas de vários países europeus e dos Estados Unidos. Os 60% restantes são mestiços. O índio é o elemento passivo da população, constitui uma espécie de silencioso, imóvel coro da tragédia nacional. Sua capacidade de apagar-se não é apenas psicológica ou sociológica, mas também física, pois por um curioso mimetismo defensivo, como o de certos animais, o índio mexicano como que consegue diluir-se na paisagem.

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Os 10% que são ou se consideram brancos vivem e pensam mais ou menos como os brancos de qualquer outro país da América e, seus dramas e neuroses não vêm, acredito, do fato de serem mexicanos, mas sim de pertencerem a uma determinada classe social e viverem neste século e nesta hora. Assim, o que na minha opinião melhor representa o México, isto é, o de sangue espanhol de índio, não só porque ele constitui a maioria da população, mas também e principalmente porque dá a nota tônica na vida do país. Compreendê-lo, portanto, será compreender o México.

(A língua): Se o espanhol da zona das Caraíbas tem a doçura e a consistência do melado, o que se fala no México é igualmente fluído e doce, embora muito mais claro. É um castelhano com mel e uma  pitadinha de Chile. Quem quer que tenha ouvido Cantiflas terá uma ideia da fala do mexicano, do povo, com sua entonação musical, sua abundancia de diminutivos, a sua qualidade pirotécnica, e a ênfase em certas vogais.

O que mais me encanta na língua mexicana são os diminutivos, a coisa que o forasteiro menos espera encontrar em boca duma gente com tanta capacidade para a violência e tão pouca inclinação para a ternura. Muitas vezes parei na rua para escutar furtivamente diálogos de gente do povo. Vamos agora imaginar uma rápida conversa entre dois pelados numa pulquería:

 

-Quieres um poço de tequila, amiguito?

-Sí.

-Cuanto?

– Un naditita.

-Un tantito así?

-Eso, gracias hermanito!

– Cuando vuelves a tu casa?

-Lueguito, y tu?

– Nochecita, no más.

 

Para Veríssimo o Mexicano é um ser angustiado:

-Se você tivesse de fazer a psicanálise do povo mexicano, como explicaria essa sensação angustiosa de insegurança e inquietante em que ele parece viver? (…)

– Por causa de um trauma de nascimento que marcou fundamente o inconsciente coletivo deste país, deve ser o responsável por essa neurose de angustia que domina o povo mexicano.

– E como se caracteriza essa angústia?

-Por uma sensação aflitiva de que algo  de mau, algo de terrível está sempre por acontecer. O nascimento da nação mexicana foi difícil, dilacerante, sangrento, doloroso.

– E como se portou o recém-nascido?

– O índio que  sobreviveu  à Conquista não se adaptou ao ambiente frio  e hostil  criado pelo invasor: desejou voltar ao ventre  materno, isto é , à terra.

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(Morte): No México a morte é uma espécie de concumbina, uma companheira que cada homem carrega consigo por toda a parte e todas as horas. O mexicano exibe sua morte como efeito, uma joia. Diante vem essa atitude diante a morte? Do espanhol não é, porque este, embora tenha seus namoros com a Parca, não a vê sem temor e não deixa nunca de encará-la como um símbolo de aniquilamento, a despeito de seu catolicismo. Acho que o mexicano deve essa tendência ao componente de índio de seu caráter. Para o índio pré-cortesiano, o além-túmulo não prometia torturas ou castigos. Os astecas aceitavam a ideia da imortalidade,. Para eles a força vital continuava depois da morte. O próprio comportamento da natureza não seria indício disso? Não se sucediam as estações? O sol (símbolo da força e da vida), o Sol que desaparece engolido pela noite não tornava a aparecer na manhã seguinte? (…) A morte pois, não significava destruição, mas transformação, era uma fase dum ciclo infinito. A morte, portanto, não é eterna, mas efêmera. É um perene rejuvenescimento da vida. Isso explica a alegria com que caminhavam para a morte aqueles belos jovens sacrificados a Texcatlipoca, o deus da eterna juventude. Os maias chamavam os recém-nascidos “prisioneiros da vida”.

 

Se a morte é a maior fonte de angústia do homem, e se o mexicano não a encara com horror, de onde vem o drama de que está saturada a vida desse povo? Eu diria que vem da própria angústia de viver, da fatalidade da vida. Há uma espécie de morte que o mestiço teme: a morte social, o horror de não triunfar, de não subir, de ficar por baixo, ignorado e sem nome. Se um cristão o ordinário teme os demônios do Inferno além-túmulo, o que o mexicano teme são as forças demoníacas deste mundo cheio de influências  mágicas, em sua maioria maléficas. A morte – parece ele dizer- é certo; o  incerto é a vida.

México – Parte 1

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Você descobre o que é boa literatura, quando lê um livro parecido com México, do Érico Veríssimo.  Desde o surgimento do La Amora, demonstro uma admiração e carinho por esse país, mesmo sem nunca tê-lo visitado (e ainda um pouco longe de fazê-lo). Com a narrativa de Veríssimo e com sua delicadeza e atenção aos pequenos detalhes, fiz uma viagem sem ter, de fato, saído de casa.

Foram dois deliciosos meses de leitura, agregados com a vontade de não terminá-lo. Com um texto claro, dinâmico (dividido em diversos subtítulos) e sensível, Veríssimo construiu um retrato do México dos anos 50 difícil de não se apaixonar (o livro foi escrito em 56/57). O retrato, no entanto, contém um misto de realidade e fantasia que acentuam a percepção de que “Sim, o México é um país mágico”.

A cada descrição (das ruas, do povo, das igrejas, dos museus, da cultura, da religião, dos mitos, da língua…) me senti como se estivesse andando de mãos dadas a Veríssimo, observando junto com ele, todos aqueles monumentos. A viagem se inicia por Juarez e logo é marcada por um acidente. Veríssimo e a esposa decidiram viajar para o México de trem (na época, os dois viviam nos EUA), mas o trem descarrila, ferindo diversos passageiros e deixando os viajantes parados no meio do deserto. Depois de muito esperar, conseguem continuar a viagem e passam por Chihuahua, que segundo Veríssimo, com sua seca e miséria, lembra o nordeste brasileiro.

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E aqui nos vamos por entre as relíquias, já com essa pressa cretina do turista profissional que não visita os lugares porque deseja realmente vê-los, mas sim porque quer ter o direito de mais tarde dizer aos outros e a si mesmo que os viu”.

Mas Veríssimo não é esse turista profissional, de maneira alguma. Tanto não é que escolhe viajar e conhecer os estados mais distantes da capital, as cidades do interior (Puebla, Cholula, Oxaca, Taxco) porque acredita que é ali que está a verdadeira essência de um povo. E ele não tem pressa, demora, observa os detalhes e os estuda, sem a ânsia de acabar.

Em um grande e encantador capítulo, Veríssimo conta a história do México, defendendo a ideia de que foi nessa época (sangrenta e obscura) em que nasceram duas grandes características propícias do mexicano: o drama e a desconfiança. Em sua concepção, a Conquista foi tão violenta que é possível construir uma metáfora, a atitude dos espanhóis para os mexicanos, através da principal figura: Hernán Cortes é parecida com a de uma pessoa estuprada diante do estuprador, “aquele abusa de maneira violenta e traumatiza da terra virgem”.   

  “Pobre México! Tão lonDiego-Rivera-The-Flower-Carrierge de Deus e tão perto dos Estados Unidos!”

Através de sete colóquios, em que reconstrói  conversas que teve com José Vasconcelos, Veríssimo dá uma pincelada sobre a história mexicana, perpassando pelos momentos mais importantes, como por exemplo, a revolução de 1910. Mas o texto não é só descritivo, é também analítico, crítico. Veríssimo delimita e mapeia o perfil de grandes personalidades (políticos, artistas) e se posiciona sobre cada um. Madero, Zapata, Pancho Villa, Victoriano Huerta, Carranza e artistas como  Orozco, Diego Rivera, David Alfaro Siquieros – Todos tem seu lugar na obra.

Mas é o povo que encanta Veríssimo, é o índio, o mestiço, as mulheres, os meninos, as cores, as igrejas, a fé. O autor analisa e descreve aspectos que para ele são os de identificação do mexicano, seja o patriotismo, a relação com a morte, língua, as gírias, a Virgem de Guadalupe. Ele sente e percebe o mexicano pulsante, aquele que está longe do idealismo.

Na segunda parte, reproduzirei algumas citações interessantes. E aqui, no vídeo abaixo, coloco uma das músicas que Veríssimo escutou logo que chegou no México, uma música que, por sinal o deixou inquieto. Conta a história de um homem (o preso número 9) que descobriu a traição da mulher com o melhor amigo e acabou os matando. O preso número  9 está prestes a ser executado. Ele, no entanto, não demonstra raiva ou medo, pelo contrário: está satisfeito. Porque conseguirá perseguir os amantes por toda a eternidade.

A Diane Keaton belo-horizontina

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Caminhando pelas ruas de Belo Horizonte me deparei com uma mulher idêntica a Diane Keaton. Idêntica não, porque seria um exagero. A pele clara, os óculos, o cabelo grisalho e escorridos, os olhos meio puxados e um semblante sério, mas doce. Era a Diane Keaton belo-horizontina, a Diane Keaton brasileira.

Percorremos o mesmo caminho e paramos no mesmo ponto de ônibus. Eu a observava e me perguntava, será que tiro uma foto? Ela olhava para a esquerda, na direção em que o ônibus e eu, ainda pensando com os meus botões, me perguntava: “Como será que ela se chama? Maria? Martha? Por ironia pegamos o mesmo ônibus e eu, ainda submersa naquela reflexão me perguntava: “O quê as Dianes Keaton tinham de diferente, se fisicamente (pelo menos) eram tão parecidas?”

Uma saboreou a glória hollywoodiana, se relacionou e foi a musa de um dos diretores mais famosos e influentes do mundo. É uma referência, amadureceu bem, provavelmente é rica…. A outra, no entanto… o quê dizer da outra? Permito-me imaginar. Tem dois filhos, trabalha como secretária, é casada, gosta de assistir TV nos fins de semana.

Sempre relacionei a Diane Keaton a imagem de uma mulher neurótica, solitária e estressada. Talvez por causa de um de seus filmes que mais me marcou, O Clube das Desquitadas. A belo-horizontina, por outro lado, não parecia nem um pouco estressada e nem um pouco triste. Era uma versão serena da Diane Keaton, uma versão mais humana.

Ela desceu do ônibus e eu segui o meu caminho.

Com certeza não se deu conta do turbilhão de coisas que pensei a seu respeito.

Malkovich, Malkovich, Malkovich!

O fotógrafo Sandro Miller se uniu a John Malkivich para recriar imagens famosas e lendárias. O resultado é sensacional e no mínimo, curioso. O projeto, que recebeu o nome de: “Malkovich, Malkovich, Malkovich: Homage to photographic masters.” mostra não só um cuidado de composição, mas também de estética, afinal, foram feitas sem Photoshop. Confira!

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Dorothea Lange / Migrant Mother, Nipomo, California (1936), 2014

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Philippe Halsman / Salvador Dalí (1954), 2014

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Albert Watson / Alfred Hitchcock with Goose (1973), 2014

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Victor Skrebneski / Bette Davis (1971), Los Angeles Studio, 2014

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Andy Warhol / Self Portrait (Fright Wig) (1986), 2014

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Diane Arbus / Identical Twins, Roselle, New Jersey (1967), 2014

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Gordon Parks / American Gothic, Washington, D.C. (1942), 2014

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Sandro Miller, Yousuf Karsh / Ernest Hemingway (1957), 2014

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Bert Stern / Marilyn in Pink Roses (from The Last Session, 1962), 2014

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David Bailey / Mick Jagger “Fur Hood” (1964), 2014

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Herb Ritts / Jack Nicholson, London (1988) (A), 2014

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Edward Sheriff Curtis / Three Horses (1905), 2014

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Annie Leibovitz / John Lennon and Yoko Ono (1980), 2014

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Alberto Korda / Che Guevara (1960), 2014

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Arthur Sasse / Albert Einstein Sticking Out His Tongue (1951),

2014

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Irving Penn / Pablo Picasso, Cannes, France (1957), 2014

Ontem me deparei com um texto lindo e delicioso, escrito por  André J. Gomes da Revista Bula. Tomo a liberdade de compartilhá-lo aqui no La Amora

Amor de verdade acaba

Amor de verdade também acaba

Se preocupe não, moça. Não é você. Sou eu. Não tenho jeito pra esse negócio de amor. Acho lindo, acho lindo nas canções que você e eu amamos juntos. Mas na verdade, assim, no tempo duro de um dia depois do outro, o amor toca desafinado para mim, obrigatório, repetido, música com refrão meloso. Não é você, moça. Sou eu. É que eu não tenho muito que dar. Não rendo, não sei telefonar à noite, não sustento conversas sem assunto, diálogos sem tema. Não é você, linda, doce, cheia de graça. Sou eu. Vazio, triste, estranho.

Você já viu tanta gente tão certa de que o amor mesmo, amor no duro, não acaba? E se acaba é porque não era amor? Dá até inveja, né? Eu invejo mesmo essas pessoas. Queria ter certeza e amor que durassem para sempre. Mas não. Comigo ainda não é assim. Meu amor vem e vai. Começa agora, acaba amanhã, volta mais tarde.

Ser de ninguém é meu único jeito de ser alguém, minha querida.  Tomo remédio pros nervos e você não sabia. Sou dessa gente que precisa ser só, mesmo em comunidade, como unidade. Só. E você não queria. O sol que bate agora recende aqui dentro uma saudade dolorida do que já foi e do que sequer aconteceu. Minha cidade perdida, minha casa na infância, uma lambreta alaranjada que me leva a passear no quarteirão, o carro velho e batido do pai, a mãe que custa a voltar do trabalho, a alegria das avós.

Essa saudade, para mim, é o que mais se parece com o que tanta gente chama de amor. É só o que eu tenho, moça. E é tão pouquinho que mal dá pra mim sozinho. É um foguinho de palha que eu tento — ah, como eu tento! — alimentar e espalhar e incendiar o quarteirão. Mas não dá, minha amiga. Não deu. Meu amor anda pequeno. É uma saudadinha que dói mansa, um fio de água, um cheiro distante, um raio morno de luz patética quase apagando. É muito pouco. Não dá pra dois.

Você merece mais. Muito mais do que isso. Merece amor inteiro, forte, amor de casa grande, segura, quintal na frente, jardins e flores, pés de jabuticaba, caqui, laranja lima, limão galego. Eu tenho nada além dessa barraca de um só, montada na grama aqui e ali, esperando a hora de mudar e partir.

Foi bom, moça. Foi lindo. Você fica além de toda expectativa. Mas eu não dou conta. Preciso ir adiante, abrir o portão e liberar os cachorros que vivem cá dentro de mim. Se os deixo por aqui, trancados em casa, uma hora eles terão destruído tudo. Preciso conduzi-los à rua, deixá-los mijar nos postes, tombar as latas, rasgar os sacos, revirar o lixo alheio. E para isso eu tenho de ser só. Não por nada. Não é você, lembra? Sou eu. Para dar amor a alguém aí fora, eu antes preciso encontrá-lo aqui dentro. E aqui dentro ele se esconde tão bem, tão pequeno, que eu custo a achar. Vez ou outra eu encontro, mas ele logo se perde de novo, como bolinha de gude debaixo do sofá da sala. Como agora.

Se preocupe não, menina linda. Não é você. Sou eu. E isso é tudo. Agora vai, minha querida. Vai em frente. Vai ser feliz. Vai porque o mundo é seu. Eu, não. Eu ainda preciso ser de mim mesmo.

O que falta?

Ontem assisti um vídeo no Facebook em que um garoto “saía do armário” para a família e era agredido fisicamente pelos pais, que ainda gritavam palavras de ódio. O garoto, com seus poucos vinte anos, disse que resolveu usar uma câmera escondida para se proteger e mostrar para o mundo que esse tipo de violência é mais comum do que se imagina.

Bem na hora me veio em mente o filme “Orações para Bobby”, que ficou famoso ao propagar uma mensagem de amor, respeito e aceitação. No filme, Sigourney Weaver interpreta Mary Griffith, a mãe religiosa que condena o filho (Bobby) por sua homossexualidade.

Tragicamente, Bobby se suicida e Mary percebe que seu fanatismo religioso foi uma das causas. Em um processo doloroso de arrependimento e descobertas, Mary se torna militante da causa gay e luta contra o preconceito daqueles que, antigamente, foram seus amigos. Seria apenas um lindo roteiro fictício se não fosse baseado em uma história real.

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É triste, mas muitos dos casos, diferente do que interpretado por Weaver, os pais não se arrependem. Preferem ter um filho morto a ter um filho “gay”. Pelo termo “pais”, é possível substituir por qualquer figura que deveria/poderia surgir como apoio (avós, tios, filhos, amigos) –  mas não o fazem.

Tantas mensagens de ódio aos homossexuais que reverberam pelas redes, que saltam das bocas de figuras públicas, políticos, celebridade, pastores, mães, pais, irmãos e amigos – me fazem pensar. É realmente difícil saber se estamos (não só como sociedade, mas como seres humanos)  um passo a frente ou um passo atrás.

Intolerância não é uma palavra que me satisfaz quando o termo é homofobia, racismo, machismo ou outra concepção que faça alguém achar que é melhor do que o outro. Talvez, ‘falta de amor’ ou de ‘compaixão’. É isso, acho que é isso que falta… falta amor.

The Real Housewives of New Jersey

Em uma publicação antiga, enumerei alguns programas de televisão que tenho assistido no fim de semana. Um deles se chama “The Real Housewives of New Jersey”, uma espécie de “Mulheres Ricas” americanas, que mostra a rotina de cinco mulheres milionárias e “espirituosas”. Todas são da mesma família e possuem raízes italianas. Normalmente, os episódios resultam em brigas, lágrimas e ofensas. Hilário, desastroso, artificial e viciante.

tumblr_inline_mflmh2faUZ1rojc7fNa última quinta feira, um colega me marcou em uma publicação no Facebook com um vídeo da “Reunion” do terceiro ano. A Reunion nada mais é do que um momento em que todas se juntam para comentar a temporada e assistir as cenas mais marcantes. As participantes aproveitam para se justificar, responder perguntas dos espectadores ou esclarecer alguma dúvida. E, claro, brigar entre si.

Passei o sábado inteiro assistindo aos episódios de RHWONJ na internet e, até me sentindo um pouco voyeur (afinal, qual espectador nunca?) e impressionada com certas situações. Algumas assustadoras (em relação à ganância humana, à artificialidade) e algumas bem doces (como os momentos carinhosos de família e de reconciliação).

caroline manzo A segunda, a terceira e a quarta temporada são as minhas preferidas, são nelas que “tudo” acontece e são com elas que conhecemos melhor as participantes. Começando por Caroline Manzo (a minha preferida, a “red-head boss”).  Carol divide as opiniões, é conhecida como a “voz da razão” da série porque tenta não se envolver nas brigas e quando o faz, tem sempre uma postura forte e quer dar a última palavra. Psiquiatra, Manzo possui um programa de rádio onde responde e dá conselhos comportamentais aos ouvintes de New Jersey.

Quando ela fala, poucos retrucam, é mandona. Ao mesmo tempo é uma mãe super carinhosa tumblr_inline_mrcpfzZZwY1qz4rgpe divide com os três filhos e o marido, momentos muito fofos. Manzo deixou de participar de RHWONJ na quinta temporada, depois de uma série de desentendimentos com Teresa e depois que foi apontada por algumas pessoas como “bully”, isso porque volta e meia chamava a filha de gorda e dizia que ela precisava de uma cirurgia bariátrica (tenso!).  Apesar de tudo, ela tem boas colocações e sempre se opõe às bobeiras das outras participantes. É a mais racional do grupo, a menos artificial.

tumblr_lt76g5x83h1qefwl8o1_400Teresa Giudice é sensacional, provavelmente a mais polêmica de todas. Giudice está envolvida nas cenas de briga mais pesadas da série e conseguiu se desentender com todas as outras participantes. Cheguei a comentar isso na primeira publicação que fiz, ela é mil vezes pior do que “Val Marchiori”. Não regula os gastos, mima as filhas, tem comentários maldosos e um astral ótimo.

 É querida e odiada pelo público, mas, sem dúvidas, polêmica. Em uma temporada, não me lembro qual, lançou um livro onde falavtumblr_me62yrc7hN1qhj7tyo1_500a mal de TODAS as participantes. O livro criou tanta briga, que o descontentamento  durou por meses. Teresa também foi acusada pelas outras participantes de contratar revistas e revelar segredos, brigou com a prima (Kathy, também participante) e com Melissa (esposa do seu irmão), ao acusá-la de interesseira e chamá-la de striper.

Na última temporada estava envolvida com outra polêmica: enfrentava a possibilidade de ir para a cadeia, junto ao marido. Rumores chegaram a dizer que os dois tumblr_mnty0jRMm01ql5yr7o1_400eram mafiosos. Outras participantes (como a Dina Manzo, irmã da Caroline) também tiveram seus nomes ligados a polêmicas do tipo, mas o caso da Teresa foi muito exposto na mídia. Seu marido, Joe, tem deixado um gosto amargo na boca dos outros participantes (é, os maridos são “coadjuvantes” na série), é debochado e mal visto pelos outros. Tão mal visto que foi apelidado de “o babaca”. Na quarta temporada a tensão aumentou quando ele disse que era mais bem sucedido do programa e pioneiro no negócio de construção ( dois dos outros ‘esposos’ também trabalham no ramo).

As outras participantes são Jaqueline Laurita – casada com o irmão de Caroline, tumblr_inline_mjca4o40TG1qz4rgpenfrenta problemas com o filho autista e com a filha rebelde. Melissa Gorga – casada com o irmão de Teresa, e que quer virar uma cantora famosa e Kathy Wakie, prima de Teresa. As três são mais comportadas e, digamos que… brigam menos.  Jaqueline é extremamente sentimental e não tem um episódio em que não derrama lágrimas. Ela e Teresa eram muito amigas até que brigaram, depois de uma série de ofensas mútuas.

Eu acho que poderia escrever um testamento sobre a série, mas o mais interessante é assistir, então vou deixar o link para quem quer ver online:

tumblr_mb83q3gftq1ql5yr7o1_4001ª Temporada

2ª Temporada

3ª Temporada

4ª Temporada

5ª Temporada

La Romo!

“Quero me envolver nos teus braços, que não fique um espaço entre eu e você. Ser o sabor da sua boca e me preencher com todo seu aroma. Ser confidente e saber por dentro quem é você. Como uma tatuagem viva, impregnarme em seu ser, não cansar de você, na na na! Eu não te peço a lua, só te peço o momento!”

Soou brega? Pois é um dos maiores sucessos da Daniela Romo e a música que mais tenho escutado nos últimos cinco meses. Aliás, escutado no último volume do meu carro, quando vou e volto dirigindo pelas estradas de Nova Lima. Todos os caroneiros são obrigados a ouvi-la e, sem querer, acabei ensinando as músicas para os meus familiares e amigos. Romanticíssima, Romo escrevreu diversos sucessos nos ano 80, entre eles “Celos” (Ciúmes), “La Ocasión para amarmos” e “Mentiras”. Uma delas (Quiero amanecer com alguién) foi regravada pela cantora Simone e juntas, também escreveram uma outra música: Mi amor.

Daniela Romo
Eu não faço ideia de que programa é esse, mas eu ri demais com esse GIF!

Engraçado (e até gratificante) ouvir minhas amigas ou minha mãe, cantando as músicas dela pela casa. O quê isso significa? Que provavelmente tenho exagerado (um pouco). Ah sim, exagerei muito. Há cinco meses eu não corto o cabelo, com a ideia idiota de que ele fique tão lindo como o dela. Bom, se eu parar para pensar, uso o meu cabelo curto há mais de dez anos. E, aliás, tenho bolado planos mirabolantes para ir para o México e assistir um Show dela (nenhum dos planos vai para frente e, eu nunca consigo juntar dinheiro!!).

Tenho três queridas amigas, que são muito próximas. Acho sensacional o carinho delas comigo e o quanto elas estão atentas às coisas que eu goDaniela Romosto. Foi assim na época da Bette Davis, da Susan Sarandon e da Jessica Lange. Não poderia ser diferente com “La Romo”. Fiz com que todas curtissem a página da internet e volta e meia, conversamos sobre esse assunto no celular. No mês passado, inclusive, tínhamos combinado de fazer um vídeo para mandar para Daniela Romo e, rimos muito depois da publicação de que uma “playera” seria sorteada.

“Você! A impressão que me dá, é que logo vai se afastar do meu amor. Não, não adianta mentir, você tem medo de não encontrar liberdade. E não posso evitar, de sentir essa solidão, esperar suas carícias e uma voz que por dentro quer escapar. A ocasião para amarmos não é só uma noite que se pode esquecer, a ocasião para amarmos pode ser uma tumblr_llh480NNgV1qa8d6svida que nos faça sonhar

Engraçado, em espanhol fica mais bonito…

Depois de tantos meses, me deparei com a “tal” lista que tinha comentando na primeira publicação que fiz sobre ela. A lista apareceu hoje no meu Facebook e foi feita pela “Mirales” onde falam da possível homossexualidade da Daniela. Foi exatamente com ela que “me lembrei” da época em que saía correndo da escola para ver “Manancial”. (Falando nisso, parece que o SBT vai transmitir “Sortilégio” em outubro,  onde Daniela interpreta Vitória. A novela é sensacional, tirando a peruca que ela usa. Pouquíssimo tempo depois, ela descobriu o câncer.)

tumblr_llh4ui2wKX1qa8d6sNa lista, falam que Daniela possui uma relação antiga com sua produtora e que são muito conhecidas e queridas no meio artístico. Inclusive, fazendo uma pesquisa na internet, vi alguns comentários que dão conta de que a música “Yo no te pido la luna” foram feitas para a amada. No refrão, Romo canta: “No borrarme de ti, na na na”. Ah, sim, ela se chama Tina.

Awiwi! Este texto é um dos mais desconexos que eu já escrevi.

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