Adeus, Violeta.

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Sempre gostei de tragédias de carnaval, para mim são as mais bonitas, como a de Orfeu e Eurídice. Violeta se foi em dia de eleição, dia em que toda a população brasileira parou para votar. As ruas cheias de papel, muito barulho, foguetes, música, família reunida e até um clima de festa… algo metaforicamente parecido com o carnaval. Violeta chegou aqui no dia oito de outubro, aniversário de Maria Luiza. Ela chegou em dia de festa e se foi em dia de festa… hoje minha alma está em  clima de quarta-feira de cinzas.

Um amor assim, como o qual eu senti (e sinto) por ela, não pode ter sido em vão. Desde que Violeta chegou, eu passei a reparar nos cachorros de rua, em pensar se tinham comida ou uma caminha para dormir. Se pudesse, pegava todos e levava para casa. Foi ela a responsável por essa mudança, Violeta fez de mim uma pessoa mais humana.

Observando Violeta, com aquele corpinho, com aquele olhinhos tão pequenos e aqueles ossinhos tão quebráveis… pela primeira vez me senti responsável por alguém. Eu era mais forte, era a minha obrigação protege-la.

Obrigação não, prazer.

Ela era a minha companheira, trocávamos olhares, sinais.Ela não reclamava quando eu colocava Daniela Romo para dançar, ela amava chinelos. Com Violeta o barulho das chaves ganharam outro sentido, as chuchinhas e as madrugadas também. Todas as noites ela vinha para o meu quarto, eu precisava iluminar o caminho para que ela conseguisse chegar até a minha cama. E logo ela se enrolava nas cobertas, encostava o pescoço nos meus pés, dormia (e me esquentava).

Com Violeta o silêncio acabou, a solidão também. Falar nela, no passado, é algo difícil, tortuoso, doloroso. Assim como foi a sua despedida. Vivi amava a rua, era fascinada. Se deixássemos ficava horas observando da janela. Os passeios, é claro, todos com a coleirinha (deixa-la solta era um perigo. Ela acabaria sendo machucada por outro cachorro. Porque além de tudo, era valente e não tinha noção do seu tamanho).

Meus olhos estão inchados, as lágrimas correm involuntariamente, (são 21:30h) da noite e eu ainda me pergunto: “Por que assim?”, “Por que agora?”, “Por que tão cedo?” “Por que nós?”.

Violeta foi atropelada, morreu no lugar no lugar que sempre quis estar, na rua… Pouco antes ela parou na porta do meu quarto e ficou me observando, sem latir. E eu disse: “O que foi? Vem cá!” E ela se virou e foi embora… Talvez estivesse se despedindo e eu não percebi.

Gosto de pensar assim: de que ela está em um campo verde, lindo, ensolarado, brincando com seu tão amado Mickey de borracha, sem portas, sem coleiras, sem chaves. Gosto de pensar que ela está feliz, correndo (de um lado para o outro, como sempre fazia). Gosto de pensar que ela se sente amada, que está despreocupada (coisa que sempre foi). Gosto de pensar que ela está em paz e que está me esperando…

*Parte desse texto já estava pronto, eu ia publicá-lo no próximo dia doze, dia do seu aniversário…