Dia: 12 de Outubro, 2014
Cansada, dentro do ônibus e disputando espaço com outras pessoas que assim como eu, estão louca para ir para casa, depois de um longo e difícil dia de trabalho, observo pela janela as intermináveis filas de carros que se estendem pela avenida. Luzes vermelhas dos faróis, fortes e em contraste com os meus olhos, gritam através da cor a urgência que cada um parece ter dentro de si: a de chegar.
Ao meu lado, uma senhora reclama do desconforto e diz que se os outros esperassem pelo menos dez minutos, conseguiriam pegar um ônibus mais vazio. Dez minutos, para quem está cansado e quer chegar em casa logo é muito. Uma pessoa que acorda cedo, que passa horas no trânsito para chegar no trabalho, que se mata de trabalhar e depois perde mais horas para voltar, exausto… essa pessoa não tem tempo a perder, nem dez minutos. Não nós, pobres mortais.
Enquanto me equilibro e tento segurar durante um curva, observo outro passageiro que coloca um livro de química sobre a mochila e está tão concentrado que parece não se importar com o barulho do bebê, que chora logo a frente. E fecho os olhos, naquele mormaço infernal, refletindo sobre quão rápida e cruel é a vida daqueles que como eu, não tem tempo a perder. O tempo é valioso demais ( o que deixa as coisas mais difíceis, duras, líquidas).
E uma senhora, tão pequena, frágil e provavelmente mais cansada do que eu, também se equilibra, cheia de sacolas, observando atentamente o caminho – provavelmente com medo de descer no lugar errado. Nem na velhice se descansa. E assim, nesse mar de gente, nessa vontade de ir e de chegar, eu também desço. Subo o morro correndo, deixo a bolsa pesada na sala, tomo banho, como alguma coisa e finalmente – descanso? Não, me preparo para o dia seguinte.