A despedida de Violeta mudou a minha relação com Deus e com a morte. Antes eu tinha certeza da existência D’Ele, hoje não sei. Antes tinha um medo enorme da morte, hoje não a enxergo com tanto terror. A vida de Violeta se foi como um sopro, de repente seu corpo imóvel e totalmente sem vida, parecia apenas uma casca, uma pousada inabitada. Seus olhos vidrados deixavam claro que ela não estava mais ali e por sorte, não estava mais sofrendo. Em suma, foi o que me consolou. Ainda que eu sinta uma raiva enorme, uma revolta – a situação me faz perceber o quão miseráveis somos diante da morte.
Sua ausência tem sido tão difícil como aqueles testes que a gente precisa fazer sem antes estudar. Você simplesmente não sabe qual é a resposta, você tenta – e falha. Às vezes, mentalmente, chamo por seu nome ou em uma inútil esperança, imagino a possibilidade de tê-la de volta. Deus não negocia Em conversas com amigos, alguns chegaram a me perguntar o porquê de ficarmos tão tristes e mobilizados, afinal: era ‘só’ um cachorro. Violeta tinha personalidade, não era só um cachorro, era um membro da família, era amada e respeitada. E assim como qualquer outra morte, ficamos de luto. A casa ficou vazia, silenciosa, escura, fria – foi difícil.
No dia seguinte em que perdemos Violeta comecei a ler um livro chamado ‘A Roda da Vida’, indicado pelo meu chefe. A escritora, Elizabeth Kubler Ross é uma psiquiatra mundialmente famosa, especialista em assuntos que envolvem a morte. O livro é uma autobiografia, nele Ross conta sua incrível história de vida e relata os anos em que trabalhou com pacientes moribundos (influenciando diretamente o fim da vida deles). De fato, o livro pode ser interessante para quem acaba de passar pela difícil prova de perder alguém querido. Os relatos de Kubler me fizeram perceber que não se está sozinho diante da morte de alguém amado – muitos passaram por uma perda tão triste (ou até mais trágica que a sua).
Enquanto escrevia o livro, Kubler já estava idosa e havia sofrido uma série de derrames – enfrentava a ideia da própria morte. Antes, no entanto, ela fez uma recapitulação dos momentos mais marcantes de sua vida e de sua carreira: como por exemplo, quando decidiu contar aos pais que ia estudar medicina. Ou quando começou a trabalhar no acompanhamento psiquiátrico de portadores da AIDS (isso, nos anos 80). Sua cartilha de casos e histórias é impressionante, ela é o exemplo do que se pode chamar de: uma vida bem vivida.
Mesmo sendo especialista no assunto, a escritora confessa que passou por momentos difíceis de questionamento. Um deles, muito forte: Sua mãe sofreu um derrame que a deixou quatro anos em uma cama, se comunicando apenas através dos olhos. Ela então se perguntava, porque a sua mãe, que tinha sido tão bondosa durante toda a vida e que ajudara tantas pessoas, passava agora por uma situação tão cruel. Sua conclusão foi a seguinte: Que a sua mãe tinha ajudado inúmeras pessoas, mas nunca tinha deixado ninguém ajudá-la.
Ao longo da minha leitura me posicionei um pouco cética em relação às suas experiências espirituais. Mas, acho que é um livro que pode agradar qualquer tipo de leitor, independente de sua preferências religiosas… Gosto especialmente de seus pensamentos finais, dos quais compartilho aqui:
“Preparando-me para passar deste mundo para o próximo, sei que o céu ou o inferno são determinados pela maneira como as pessoas vivem suas vidas no presente. A única finalidade da vida é crescer. A suprema lição é aprender como amar e ser amado incondicionalmente. Há milhões de pessoas no mundo que estão passando fome. Há milhões sem um teto. Há milhões que sofrem de AIDS. Há milhões de pessoas que sofreram violências. Há milhões de pessoas que padecem de invalidez. Todos os dias, mais alguém clama por compreensão e compaixão. Escutem o som de suas vozes. Escutem como se o chamado fosse música, uma linda música. Posso garantir que as maiores recompensas da vida inteira virão do fato de vocês abrirem seus corações para os que estão precisando. As maiores bênçãos vêm sempre do ajudar aos outros.”