Vamos ser tiras

Vamos ser tiras

“Vamos ser tiras” salvou o meu domingo… se você está afim de ver um filme de comédia (realmente engraçado e descomprometido), fica a dica! O filme conta a história de dois amigos, Ryan e Justin: ambos na faixa dos trinta anos, que são frustrados profissionalmente. Um dia os dois são convidados à uma festa à fantasia e vão de policiais. Na festa ficam ainda mais frutados porque percebem que os outros colegas de turma tiveram sucesso profissional e eles não…

Quando saem da festa, percebem que as outras pessoas acham que eles realmente são tiras, entusiasmados, levam a farsa a frente… O que era para ser uma brincadeira de um dia, torna-se de semanas… Até que Ryan tem a brilhante ideia de seguir com o disfarce e mais, começa a resolver casos polícias de verdade (inclusive, compra uma viatura “falsificada”).

“Vamos ser tiras” ou “Lets be cops” é um filme ótimo, dá pra rir bastante e outra… é fácil achar online ou para download.

Ao som do mar e à luz do céu profundo

Ao som do Mar - nelson MottaDeixei este livro abandonado na prateleira por alguns anos, só porque uma colega havia comentado que não gostava da narrativa do Nelson Motta, “que era pesada e enrolada demais”. Fui na onda dela… simplesmente o abandonei. Até que um dia, uma outra colega que coordenava um projeto social pediu a doação de livros. Pensei: “Ok, vou doá-lo… mas antes, preciso ver se a narrativa é tão ruim quanto ela falou”. Li e amei, fiquei encantada – tanto pela narrativa, quanto pela história. Gosto é gosto.

“Ao som do mar e à luz do céu profundo” (aliás, este título s2!) é um convite à um mundo decadente e ao mesmo tempo glamouroso cujo cenário não poderia ser mais lindo: o Rio de Janeiro, anos dourados.

Repleto de erotismo e suspense, a trama centra-se em um grupo de amigos que moram no bairro Peixoto e são surpreendidos com a chegada do Coronel Francis W. Simon e de sua linda e envolvente filha Carol. Marina e Bombril logo ficam amigos da garota e são seduzidos por sua personalidade carismática e questionadora.

Bombril é um garoto negro, que ama jogar futebol. Marina, filha de Dona Eva (e bonita como a mãe), é uma moça bem comportada que não sabe se deve ou não se render à vida de libertação e festas que Carol vive. Marina vê a sua vida mudar completamente quando sua mãe resolve se desquitar do pai para viver com outro homem, o coronel Kleber. O problema, é o pai de Marina: um militar linha grossa, que não aceita perder.

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Minha mãe e eu

Minha mãe e eu

A aparência é uma ponto difícil para toda mulher, a gente se olha no espelho e pensa que há sempre algo a melhorar. Comigo também é assim, mas eu nunca estive tão bem, tão segura e satisfeita como estou agora. Hoje de manhã, a caminho do serviço, me vi refletida em um vitrine… meus olhos se toparam com o meu rosto no espelho e por um momento eu vi a minha mãe. Engraçado porque toda a vida, desde a infância, sempre me disseram que eu e meu pai somos fisicamente muito parecidos. Talvez os olhos, a sobrancelha grossa… Não sei, só sei que era algo que me deixava imensamente chateada e frustrada. Ao mesmo tempo era a única coisa que espontaneamente me ligava a ele.

Me parecer fisicamente com a minha mãe é um presente. E hoje fui para o serviço pensando nisso, pensando no fato de eu nunca ter falado a ela o quanto eu a acho bonita, o quanto eu a acho linda. Minha mãe tem os olhos mais lindos do mundo, não são claros nem escuros, são grandes e vivos. Minha mãe tem um sorriso lindo e tem as mãos lindas. E um cabelo… ah, eu amo o cabelo dela. Eu acho que nunca deixei o meu cabelo crescer por influência dela, sabe aquele tipo de hábito dos pais que a gente vê e repete inconscientemente? Pois é, mais ou menos isso. Mas também porque cabelos curtos me passa a ideia de liberdade e de praticidade.

Minha mãe é uma pessoa linda, por dentro e por fora e me ensinou as melhores coisas do mundo. Me ajudou a ser quem sou e aceitou de forma incondicional, todos os meus defeitos e fraquezas. Ultimamente tenho pensando muito em espiritualidade e quando me vem uma dúvida (se espiritualidade é algo que existe mesmo) penso em nós duas: temos uma comunicação que supera as convenções. Conhecemos uma a outra de uma maneira inexplicável, se não fôssemos mãe e filha, seríamos irmãs gêmeas (daquelas que sente o que a outra sente).

Acho que é por isso que eu tenho tanto medo de perdê-la, é porque ela é melhor metade de mim. É porque ela está presente nas minhas melhores lembranças e me ensinou as coisas mais bonitas da vida. Minhas recordações de infância são em sua maioria muito boas, lembro de quando minha mãe me levava para o terraço para ver as estrelas, lembro de quando eu e ela íamos brincar sozinhas na pracinha ou quando ela, mesmo cansada do serviço, inventava histórias para dormir…

Minha mãe foi e é uma mãe completa, daquelas que se doam. Porque hoje, adulta, penso que o que a minha mãe fez por mim foi exatamente isso: ela deixou de sair para ficar comigo, deixou de comprar coisas para ela para comprar para mim, dormiu na pior cama para que eu dormisse na melhor – ela doou a sua vida por mim. E eu não tenho como agradecê-la senão amando-a como a amo.

Da anatomia ao visceral – Fernando Vicente

Fernando Vicente_Area_Visual_06Há algum tempo esbarrei (na internet) em uma obra de Fernando Vicente Sánchez, sem saber de quem e do que se tratava. Era a figura de uma mulher expondo a sua carne viva: lindo, cruel e visceral. Fiquei encantada e logo salvei a foto no computador, fazendo dela a minha imagem de fundo.

fernando_vicente_craneo_y_cuelloHoje me esbarrei novamente em uma de suas fotos, mas fiz diferente: parei para conhecer um pouco da história de Fernando Vicente, como é mais conhecido. E, olha só o que descobri: ele é um pintor e ilustrador espanhol, nasceu em Madrid em 1963 e é autodidata. Seus primeiros trabalhos como ilustrador apareceram na primeira metade dos anos 1980, na revista Madriz (em plena Movida Madrilena).

Após o período das primeiras publicações, deixou a ilustração de lado para trabalhar com diretor de arte em agências publicitárias. Já no fim dos anos 1990 passou a contribuir com o jornal El País, veículo que possibilitou que suas imagens rodassem o mundo. Desde então passou a expor o seu trabalho em grandes revistas como a Europa Viva, Ronda Iberia, Vogue e Cosmopolitan.

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As fotos que coloquei acima referem-se à exposição chamada “Vanitas”. Você pode ir ao blog dele para ver as imagens com mais detalhes e conhecer um pouco mais do seu trabalho. E, garanto: há muita coisa linda por lá! Além das ilustração e das pinturas, ele ainda faz caricaturas…

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800 Balas

800 Balas é um filme que faz chorar. É um filme que te faz torcer pelo anti-herói e desperta aquele velho sentimento de que ‘ser diferente é mais interessante’. É um brinde aos que não se encaixam e, mais que isso, defende a busca pelos sonhos e por uma vida mais prazerosa. Pode parecer piegas, mas não é… Alex de la Iglesia (com o seu humor inteligente e perspicaz) já havia me conquistado desde que assisti La Comunidad e Las Brujas de Zugarramurdi, mas com 800 balas, ele assumiu outro patamar… entrou para a minha lista de diretores favoritos.

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O filme se passa em um pequeno povoado da Espanha, em que um grupo de figurantes de cinema (especialmente, os de bangue-bangue) sobrevivem através de shows que fazem aos turistas. A rotina dos atores é ameaçada por agentes imobiliários que querem fazer uma grande construção no local. O líder do grupo é Julián (Sancho Garcia), um homem bruto e teimoso, que pode influenciar diretamente nos rumos da “possível construção”, isso porque o seu neto é filho de Laura (Carmen Maura), uma das donas da agência. – Complexo, não?

Difícil não gostar do filme, que mistura pitadas deliciosas de sátira e saudosismo. 800 Balas é uma clara homenagem aos faroestes. A menção à Clint Eastwood no filme não poderia ser mais bela, terna (e muito bem bolada) O que mais me impressiona é como o Iglesia consegue fazer “bom humor”, aquele que consegue te fazer rir e te emocionar ao mesmo tempo, sem cair em armadilhas, sem parecer forçado…

800-1Sancho Garcia é a grande estrela do filme e, de certa forma, também é homenageado na trama. Garcia, que faleceu em agosto de 2012, foi um ator muito popular na Espanha, com uma extensa carreira que perpassa tanto pela televisão, quanto pelo teatro e cinemas. Um dos seus personagens mais famosos foi Carlos Zárate, em La Máscara Negra – em que vivia um homem corajoso, justiceiro e viril – tudo o que o Julián, seu personagem em 800 Balas, queria ser.

Julián, no entanto, é um homem que abdicou da vida e da família para viver em um mundo de sonhos. Largou a casa e a esposa e foi fazer o que sempre gostou – e “Ai de quem” o contrariasse. Talvez por isso tenha dado tanto certo com o seu neto, que fugiu de casa especialmente para conhecê-lo e que, assim como ele, vive uma vida fantasiosa. Acontece que fatores externos o forçam a tomar uma atitude, o forçam a viver a realidade. Julián, então, cai em sí… no mundo real, sua figura é patética e ridícula… à criança é permitido viver de sonhos, aos adultos não.

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O casamento das minhas melhores amigas…

8407115602_197f9ec3f1_zSe conheceram no colégio, estudaram e cresceram juntas. Dividiram ideias, dores, sensações e sonhos… A vida as fez mais que amigas – as fez irmãs. Três meninas, tímidas e desconcertadas, tão diferentes e ao mesmo tempo, tão iguais. Eu era uma delas…

Recebi a notícia de que as duas estão de casamento marcado para o ano que vem e, de repente, me peguei fazendo perguntas sobre o meu passado – e sobre o meu futuro. Minhas amigas estão casando! E agora, será que muda tudo?

Tudo não, mas muda. A começar pela rotina de encontros semanais, as farras, as conversas de madrugadas. Não que mulher casada não possa fazer isso, claro que pode. Mas a vida e a rotina delas não será a mesma, foi a escolha delas. Escolha, aliás, que eu apoio e que me faz imensamente feliz: vê-las realizadas.

Acho que a minha crise existencial não é aquela, muito comum entre as mulheres (e homens) que se perguntam: ‘Só eu fiquei para trás?’. Não, a minha crise não vem daí, vem de uma outra questão: Nós, que antes condenávamos tanto os nossos pais, estamos tomamos rumos semelhantes.

O peso do mundo adulto caiu sobre as nossas cabeças… Os casamentos, os filhos, os empregos… são os primeiros passos. E o sistema é tão forte, tão forte – que não há como fugir, é preciso primeiro sobreviver. E para nós, quando adolescentes, sobreviver não era suficiente. Queríamos viver, com todas as letras, a todo custo, na maior velocidade possível. Queríamos ser felizes.

Felicidade não existe, o que existe são momentos de alegria…

Ontem estava vendo uma entrevista linda com a chilena Marcia Scantlebury, no Sangue Latino (do Canal Brasil), e ela falava sobre utopia, falava sobre o legado da sua geração, das dores, das perdas e dos sonhos. Era uma geração que não importava morrer da maneira cruel que muitos morreram, era uma causa que merecia o sacrifício. Ela criticava a categorização da minha geração, terrivelmente dividida entre winners e losers, muito relacionada à batalha tecnológica e de consumo.

O que eu quero dizer, me referindo à entrevista, é que não somos tão diferentes dos nossos pais. Ah, não somos (ainda que achássemos que fôssemos). Será um defeito de todo jovem?

Esperança

tumblr_lra9l5pgdi1qh6ugx_large“Hoje não há razões para otimismo. Hoje só é possível ter esperança. Esperança é o oposto do otimismo. “Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração.” Camus sabia o que era esperança. Suas palavras: “E no meio do inverno eu descobri que dentro de mim havia um verão invencível…” Otimismo é alegria “por causa de”: coisa humana, natural. Esperança é alegria “a despeito de”: coisa divina. O otimismo tem suas raízes no tempo. A esperança tem suas raízes na eternidade. O otimismo se alimenta de grandes coisas. Sem elas, ele morre. A esperança se alimenta de pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce…”

(Rubem Alves)

Daniela Romo (mais uma vez)

O Choro é livreNunca, na história do La Amora foi publicado um texto tão grande assim. Também nunca demorei tanto para escrever, fui juntando as informações e deu nisso, nesse pequeno monstro. Para quem gosta da Daniela Romo (alô, Cássia!) espero que tenham paciência para lê-lo… Para o restante, o choro é livre… O texto, aliás, era pra ficar maior… mas resolvi publicar agora e depois… que sabem, publico uma segunda parte…

Há algumas semanas uma das publicações mais visitadas do blog é o artigo sobre a Daniela Romo, provavelmente porque esta é uma das únicas páginas em português sobre ela. Agora, mais do que nunca, um número alto de pessoas tem procurado por seu nome… felizmente Sílvio Santo resolveu transmitir Sortilégio (novela que foi comprada pelo SBT pouco tempo depois de ter sido lançada no México, mas que foi engavetada quando chegou aqui).

Daniela Romo Como disse na primeira publicação, Romo é uma paixão antiga, revigorada nos últimos tempos desde que encontrei um site que a mencionava. Isso foi em abril e agora, depois de tanto escutar suas músicas, assistir suas novelas, entrevistas, ler artigos, noticias e acompanhá-la pelas redes sociais, sinto-me com mais propriedade para escrever. Separei alguns tópicos, temas, para falar sobre as impressões e percepções que tenho sobre ela. Também, é claro, para compartilhar algumas informações.

As músicas e o romantismo

Daniela Romo atua no mundo da música desde os onze anos de idade, época em que cantava em um coral e participava de pequenas peças teatrais. Seu sucesso veio na década de 80 (especificamente em 1983) quando lançou seu terceiro disco com quatro grandes singles que perpetuam por sua carreira: Mentiras, Celos, Pobre Secretária e La Ocasión para amarmos.

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Foi uma estrela pré-moldada para agradar o público jovem. A enviaram aos EUA para estudar música, preparar o “look” e criar um cd direcionado. Sozinha, ainda na América, compôs as faixas do álbum definindo a sua predileção pelo romantismo. Suas letras são da típica garota oitentista e apaixonada. Com o sucesso estrondoso do terceiro cd, realizou um trabalho frenético de produção, alavancando outros hits referenciais em sua carreira, entre eles: Yo no te pido la luna, Enamorada de Ti, Duena de mi Corazon, Quiero Amanecer com Alguién, De mi enamorate.

trayectoria-daniela-romo-300x350Em entrevistas, Daniela mencionou as viagens marcantes que realizou por conta da turnê, uma delas ao Japão, onde foi surpreendida com um grande público que sabia cantar suas músicas. Naturalmente, o sucesso lhe trouxe poder… e dinheiro, uma reportagem na revista Hola revela que Romo comprou sua “primeira mansão” ainda na década de 80.

Curiosamente existiu uma rivalidade entre ela e Yuri, outra cantora mexicana que tinha exatamente o seu estilo: jovem e romântica. Não se sabe se a rivalidade surgiu de uma estratégia midiática, do público ou das cantoras. Recentemente, Yuri (que agora vive e segue sua carreira no Chile) se manifestou sobre o assunto: “Não tenho nada contra Daniela Romo, ela é uma belíssima e excelente pessoa, uma grande atriz e que também tem uma carreira preciosa como cantora. O Chile a ama, mas as gravadoras a apoiaram mais que a mim”. Segundo Yuri, ela foi boicotada pelas gravadoras, que preferiam Daniela por ela ter uma “imagem mais mexicana”.

Já com uma carreira estabelecida, Daniela optou por manter a linha romântica, criando letras apaixonadas. São poucas as faixas que fogem do tema, como “Que vegan los bomberos” (outro de seus hits), “Coco Loco” e “Todo, Todo, Todo”. Ao longos dos anos ela mostrou sapiência em relação a carreira, mantendo-se no topo e fazendo grandes parcerias, uma delas com Juan Gabriel (outro cantor que eu adoro e que inclusive, já mencionei sobre no La Amora).

Outra questão perceptível, que se nota claramente quando se faz uma comparação da sua carreira na década de 1980 x 1990 x 2000 é que ela desenvolveu um lado mais “sedutor” em suas músicas e videoclipes, prova de um amadurecimento e de uma autoconfiança conquistadas com o tempo. Romo transgrediu de “menininha” para “mulherão” sem cair na breguice, no apelativo.

Suas produções possuem um valor cultural inestimável, não é atoa que tenha recebido (em 2012) um prêmio por parte do Grammy Latino, em homenagem à sua carreira. (Aliás, recebeu o prêmio ao lado de grandes cantores, entre eles, Milton Nascimento). Uma de suas preocupações é a de ter em cada um dos shows um toque ‘mexicano’, são diversas as apresentações que fez repleta de penas (em referência aos índios) ou com mariachis, ou mesmo relembrando grandes cantores como Pedro Infante…

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A predileção por perucas

Cinquenta anos usando o mesmo estilo de cabelo, longos e lisos. É a sua marca. Existe um artigo antigo aqui no La Amora onde me refiro à uma entrevista cedida por Daniela em que ela afirma que “jamais cortaria o cabelo” porque para ela o cabelo se tornou um templo e para os fãs, um fetiche.  Encontrei, há algumas semanas, outra entrevista em que ela falava sobre a sua predileção por perucas, dizendo que sua visão sobre a possibilidade de mudar o estilo surgiu em 2001, quando foi convidada à participar da novela Manancial.perucas

De certa forma Manancial foi um marco em sua carreira, foi a primeira vez em que interpretou uma vilã – e, pela primeira vez, uma mulher mais “velha”. Na época, com 42 anos, Daniela se perguntou se deveria ou não aceitar o convite porque, preocupada com a imagem, passaria a ser ligada à figura da mulher madura… ela revelou que chegou a se perguntar: “Estou tão velha para interpretar uma mãe?”.  Quem conhece (ou, pelo menos acompanha) o mundo midiático entende essa preocupação: uma vez “mãe”, o caminho de volta é mais difícil. São inúmeros e extensos o caso de atrizes que envelheceram (ou que foram envelhecidas pela TV) e que nunca mais reviveram grandes personagens.

No caso dela, deu certo: Margarida foi um papel fundamental para destacá-la nas tramas televisivas e permitir que conseguisse outros grandes personagens, tornando-se finalmente uma “Primera Actriz”. Sua parceria com Carla Estrada rendeu também outro bom fruto: a vilã Dona Joana, da novela Alborada (também comprada pelo SBT, mas nunca exibida).

Bom… estou mencionando essas novelas por um motivo simples: Daniela interferiu pessoalmente no look de cada um dos personagens subsequentes à Manancial, e muitos deles traziam um acréscimo: as perucas (ou penteados marcantes, como o caso de Alborada e Triunfo del Amor).  Para se ter uma ideia, nos primeiros capítulos de Sortilégio ela utilizou três perucas diferentes e em La Tempestad, quatro! Eu, que não gosto das perucas que ela usa (especialmente a de Sortilégio) fui entender, tardiamente (e só depois de ler um artigo) que as novelas mexicanas, diferente das brasileiras, atendem ao gosto do kitsch por parte da audiência.

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Os mexicanos amam essa estética, amam o exagero – não estão nem aí com os estereótipos, pelo contrário: é isso que querem ver na tela. Como diria a própria Daniela Romo: “As novelas foram feitas para sonhar”… o público sabe que está vendo uma história fantasosa, portanto, não se incomoda com as perucas (com os looks, com as falas pedantes das mocinhas, com as cenas de amor…) – e mais: sentem falta delas.

 Margarida e os espelhos…

elmanantial1Como disse anteriormente, foi a Daniela que definiu o estilo da personagem Margarida, de Manancial. Desde o cabelo aos sapatos = tudo passou pelo seu crivo pessoal.  Daniela optou por utilizar referências do cinema clássico mexicano, inspirando-se em musas da sétima arte como María Felix e Dolores del Rio. As tranças, extremamente tradicionais, foram uma das características mais marcantes do personagem – que aliás, será trazida novamente às telas através de um remake chamado: “Las sombras del pasado”.

Em entrevista, cedida pouco tempo depois da estreia da novela (ainda em 2002), Daniela explicou suas escolhas: ‘Nas novelas que se passam no campo percebo que os personagem se vestem com looks muito contemporâneos, mas eu queria usar um look inspirado em María Félix ou em Dolores del Río – grandes personalidades… Assim comentei com a Carla Estrada (a produtora) e ela gostou da ideia. Analisei várias mulheres que vivem em fazendas e me dei conta de que são muito finas, elegantes e sempre conservam um look muito tradicional’

María Felix
María Felix

Margarida (ou “La Márgara, como foi apelidada) era extremamente vaidosa, um dos seus acessórios mais famosos era um colar, feito à mando de Daniela  (a joia foi guardada anos a fio por ela, até que este ano, foi presenteada a Alejandra Barros que vai assumir seu papel no remake)… Nesse colar existia um espelho, Margarida sempre se observava nele, principalmente quando ia praticar suas maldades, existe metáfora mais sutil e inteligente à vaidade?

Sobre os espelhos, Daniela explicou: “Criei Margarida com a ajuda de Mónica Miguel, que é uma grande diretora. Ela me ajudou a fazer a busca por Margarida e nessa busca encontrei uma mulher vaidosa, que gosta de espelhos porque lhe dão segurança já que se sente abandonada e sozinha… Assim mandei fazer dois espelhos, um se chama Margara 1 e o outro Márgara 2 – um é de ouro e outro é de prata, são os que a Margarida leva no pescoço.”

 Ainda sobre a personagem, ela esclareceu: “Margarida é uma mulher que está cheia de ressentimentos, ódio e egoísmo. É uma mulher que não tem relações sexuais nem amorosas com seu marido, ela vive e revive sua vida através de recordações e está motivada a continuar com algo que é uma farsa, continuar com um casamento que existe só por conveniência. Além disso, não tem como canalizar a falta de amor e sexo porque se dedica ao cuidado do filho, é uma mãe super protetora. O pior é que ela crê que está correta e não pensa duas vezes em socorrer o filho, o problema é que ela não o escuta.”

Interessante Daniela tocar nesse assunto, porque Margarita (sem dúvidas, o meu personagem favorito) exigia uma coragem substancial por parte da atriz, que diversas vezes fazia cenas com menções à masturbação. Margarida, ainda que amargurada e vingativa, era uma mulher forte que não se curvava diante de homem nenhum, nem mesmo diante do marido – que era um. monstro e, o mais poderoso da cidade.

daniela romoO câncer – divisor de águas

Daniela é uma artista extremamente midiática e como disse, demonstra uma sabedoria imensa em suas escolhas. Outro dia brinquei com minha mãe dizendo que se Daniela Romo tivesse um filho, o parto seria transmitido. Ok, não é para tanto… mas o câncer mostrou como Daniela é querida pelo público e pela crítica e como ela tem um jogo de cintura, se equilibrando perfeitamente entre esses dois mundos.

“A vida não é uma questão de sorte, é uma questão de morte”.

Ela descobriu que estava com câncer no seio em meados de 2011, época em que se preparava para lançar seu último cd, “Para Soñar”. Depois de identificado, o tumor foi retirado rapidamente e duas semanas depois da operação, Daniela começou a fazer quimioterapia. Todos os trabalhos de finalização do álbum foram interrompidos, assim como outros de televisão que ela planejava realizar.

Mesmo com rumores sobre a sua doença, Daniela só foi confirmar a informação no dia 04 de novembro do mesmo ano – em uma coletiva. A atriz contou que manteve a doença em segredo para não preocupar a sua mãe: “Sempre relacionamos a palavra câncer com dor, sofrimento e morte. Não queria que minha mãe (na época com 87 anos) me relacionasse a essas palavras. Nosso papel se inverteu, agora sou eu que tenho que cuidar e protegê-la, coisa  que ela sempre fez comigo, quando amamos queremos proteger… queremos evitar qualquer sofrimento”.

Desde então tem participado de campanhas de conscientização e encabeçado grandes trabalhos publicitários – de âmbito nacional e internacional. O câncer, segundo Daniela, mudou radicalmente a sua maneira de ver a vida, para eladanii foi um segundo nascimento. Aliás, foi fundamental para que se questionasse sobre a sua imagem e se transformasse em um ser humano melhor.

Foram diversas e extensas as entrevistas e coletivas em que Daniela se manifestou sobre a doença, em uma delas, bastante emocionada, conta que durante o tratamento fez muitos amigos que também padeciam do câncer- e que viu muito deles morrerem.

“A vida é uma até onde sabemos. Logo pensamos, sonhamos e queremos crer que existem outras. Provavelmente sim, é eu acredito nisso e desejo isso. Mas no instante em que você está em uma só vida… isso é o único que você tem, por isso é preciso abraçá-la, honrá-la, amá-la, agradecê-la e vive-la de mil maneiras. O amor é tantas coisas, o amor é a vida. É a prova de que você alcançou a verdade. Nós sofremos, choramos… mas a vida é uma, e está cheia de todas essas coisas: de sofrimentos, de presenças e ausências, de vazios… Mas é maravilhosa, é o único que existe. E é um mistério insondável, mas vamos cada dia nadando e submergindo nela…”

“Os meses para mim eram uma eternidade e hoje são apenas um instante. E em um instante, de repente, você se dá conta de que tem que agradecer todos e cada um que tocam a sua vida.”

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Gata Velha ainda Mia

Glória Polk (Regina Duarte) é uma escritora decadente, que depois de 17 anos decide voltar a escrever. Assim convida uma jovem jornalista, a Carol (Bárbara Paz) à sua casa, no intuito de ceder uma entrevista sobre sua obra. Nesse jogo de interesses, que beneficia tanto à escritora quanto a jornalista, o encontro vai tomando proporções perigosas (e bizarras) já que Glória, extremamente temperamental, decide se vingar de Carol por causa de um ‘segredo’ que as une há anos.

O filme, que é uma joia, é o primeiro trabalho no cinema do jovem diretor Rafael Primot e está repleto de diálogos marcantes, de uma profunda reflexão sobre loucura e sanidade, de cenas lindíssimas e referências ao melhor do cinema clássico. (Também, acho que vale comentar o fato de que feito com um orçamento curtíssimo, de apenas R$ 150mil…).

Regina Duarte Ver Regina Duarte interpretando com brilhantismo uma personagem inspirada em Norma Desmond e Baby Jane me fez pensar no quanto a mídia e o público podem ser cruéis com figuras públicas, expostas a dura e implacável crítica em relação a velhice. Envelhecer não é para mocinhas, Bette Davis já dizia isso… pressentindo um futuro não muito agradável em que foi considerada veneno de bilheteria.

Ver Regina Duarte dando vida a uma feminista lésbica, que cita Susan Sontag, Simone de Beauvoir, Mark Twain… que prega o amor livre e com sarcasmo e agressividade ironiza a juventude (a qual apelida de ‘bundinha rosada’), faz com que eu me sinta parte desse público cruel e ingrato, que não reconhece uma carreira incrível e que também não valoriza seus artistas. Eu ri daquele vídeo em que Regina aparece sambando. Eu ri das fotos do aeroporto. Agora, depois de “Gata Velha ainda mia”  me arrependo amargamente.

Regina não deixa a peteca cair, encara o melhor e o pior de si, sem medo de se expor. Sem medo de aparecer sem maquiagem na tela grande, sem medo de não ‘estar bonita’. É o espírito pulsante do verdadeiro artista, aquele que doa não só a sua imagem, mas o seu corpo (e até a sua alma) quando está interpretando. Menções também honrosas à Barbara Paz, que mesmo ofuscada por Regina, responde à altura e se entrega, também se expõe.

ScreenShot006Enfim…

Felizes são aqueles que conseguem envelhecer bem… Não me refiro apenas ao aspecto físico, refiro-me à dignidade (que hoje, acredito ser um dos bens mais preciosos do ser humano). Tenho pensado muito sobre a velhice, principalmente depois que assisti esse filme… reli uma passagem do livro da Rosa Montero que resume muito bem o que eu penso: “Há pessoas que com o transcorrer da vida simplesmente envelhecem, outras, mais sábias ou afortunadas, vão amadurecendo. Outras, ao contrário apodrecem e outras ainda, enfim, se desbaratam, e todos esses processos têm frequentemente um claro reflexo no aspecto físico”….

Gata Velha ainda Mia é um grande filme, daqueles que nos faz acreditar e gostar do cinema nacional. Vale a pena ser visto e revisto.