Amanhã para sempre – parte 1

Encontrei esse livro de bobeira na Fnac e não resisti em comprar. Diferente de tudo o que eu já havia lido sobre o México, “Amanhã para sempre”, apresenta um estudo clínico sobre o país e sua população (calcado em pesquisas científicas, dados e censos – todos bem atuais. O livro foi publicado em 2013). O autor, Jorge G. Castañeda, é um professor de uma das maiores universidade do México (a UNAM) e atuou como chefe das Relações Internacionais no governo do então presidente Vicente Fox. O mais interessante é que neste livro ele confronta diversos clássicos e questiona os estereótipos pelos quais os mexicanos ficaram conhecidos.

Amanhã para sempre

A visão de Jorge G. Castañeda pode não ser muito agradável aos mexicanos já que ele indica grandes falhas na sociedade e, de maneira corajosa, se atreve a sugerir soluções. Apesar de uma linguagem complexa (especialmente por causa do uso de termos científicos), o livro perpassa por assuntos certeiros e fundamentais ao país, como por exemplo, o narcotráfico, a democracia, a violência e a história.

Castañeda começa sua reflexão reafirmando que os mexicanos são individualistas e o são de uma maneira diferenciada. No primeiro capitulo “Por que os mexicanos são ruins em bola e não gostam de arranha-céus”, ele explica que os mexicanos enxerlivro2gam a casa própria não só como status, mas como garantia de individualidade – por isso, a pequena popularidade dos arranha-céus (ou prédios). Eles são individualistas até no esporte, por isso são os melhores no Golfe ( “Há esporte mais solitário no mundo?”) e não no futebol.  Evitam pegar ônibus e são individualistas até quando o assunto é democracia, sentem desconfiança em relação às ações coletivas.

O traço que ele faz do mexicano, bem distante do lado romântico que Érico Veríssimo descreve em seu livro ‘México‘, afirma que os mexicanos são aversos à qualquer tipo de confronto ou competição porque são fatalistas. Se vêem como perdedores e… já que vão perder, vale a pena lutar? O autor apresenta diversas análises e aponta algumas justificativas, uma delas está na própria história do país, que foi extremamente cruel e violenta com os índios.

Castañeda me ajudou a ter uma visão bem mais clara sobre os mexicanos e seus costumes. Ele explica, por exemplo, que a população já não é tão católica como anteriormente. Hoje, a maioria das pessoas não vão à igreja nem praticam a religião, mesmo que se autodenominem de católicos praticantes. O escritor ainda explica que o país é marcado pelo racismo e pelo preconceito, ainda que tenham uma “mente mais aberta”. Outro detalhe importante é a discussão sobre gênero: as mulheres estudam mais e continuam ganhando menos.

Outro assunto muito discutido é a complexa e problemática relação do México com os Estados Unidos. Que culmina em algo que mistura raiva, admiração e uma ligação de dependência – de ambas as partes, naturalmente, uma mais forte que a outra. livro3

O que mais me encantou no livro foi a problemática que ele constrói sobre a existência (ou não) da identidade da América Latina. Pois é, Castañeda afirma que não existe fatores fortes o suficiente para a existência de uma identidade, para ele alguns quesitos fundamentais para a construção deste conceito simplesmente não são articulados entre os países (como a história, a língua, a composição étnica e o pertencimento).

Enfim...Amanhã para Sempre me fez perceber que os brasileiros e mexicanos possuem mais coisas em comum do que imaginam. Nas palavras do próprio autor, compartilhamos uma cultura comum ainda que não idêntica (não só pela origem, mas também pelo sincretismo e pela mestiçagem). Mesmo assim, ele indica semelhanças como a indústria cultural (novelas, filmes, música), a influência cultural religiosa e a vitimização.

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