Bom dia para os defuntos

O coronel Migdonio se dignou a sair à varanda. “Então, vocês querem criar um sindicato?” “Se o patrão permitir”, respondeu Félix. “Quantos estão de acordo?” “Treze, senhor.” “Vá buscá-los. Quero falar com todos. “Na vastidão da memória, ninguém se lembrava de que peão algum tivesse penetrado na casa grande. Cobertos por seus ponchos, os camponeses sentiam que se excediam, mas não tiveram remédio senão entrar. “Que desejam, meus filhos?” Perguntou Don Migdonio afavelmente. Silêncio. “Não se constranjam. Não me oponho ao sindicato.

Não, não me oponho. Pelo contrário, eu os felicito. Vivemos uma época de mudanças. Todos queremos o progresso. Brindemos ao sindicato! “A um sinal do fazendeiro, um criado entrou na sala com uma garrafa e copos para todos. “Vou brindar com o copo vazio. É que ontem me excedi. Saúde, rapazes!”, bradou jovialmente Dom Migdonio. Jaramillo foi o primeiro a desabar.

Tombaram outros três fulminados e os demais revolveram-se na agonia de um retorcimento de tripas. “Filho da puta”, conseguiu dizer Félix antes de borrar-se com as tripas queimadas pelo veneno. O juiz, doutor Francisco Montenegro e o sargento Cabrera chegaram às seis horas da tarde escoltados por um piquete de guardas civis. Fecharam-se no escritório com Don Migdonio. O que o juiz, o fazendeiro e o sargento discutiram permanece até hoje em mistério. Para desmentir testemunhas que naquele distante ano de 1903 juraram ter visto os três sairem abraçados, rindo, os historiadores oficiais exibem uma prova irrefutável: um comunicado oficial das autoridades, informando que os catorze camponeses tinham sido fulminados por um “enfarte coletivo”.

Manuel Scorza,1903

10 motivos para assistir “A Madrasta”

A Madrasta - Victoria RuffoQue eu sou uma noveleira de plantão, todo mundo já sabe… Pois é! Mas, apesar de ter assistido inúmeras novelas, eu possuo as minhas preferidas… e uma delas, é A Madrasta. Se você já viu, deve saber os motivos. Se gosta de novelas e ainda não assistiu, acho que vale a pena dar uma olhadinha neste post:

1) Muitos mistérios: Maria é uma mulher que foi acusada injustamente de um assassinato, pelo crime ficou presa muitos anos e foi afastada do seu esposo e filhos. Livre, ela decide voltar para a mansão onde morava, e assim investigar a verdadeira identidade do assassino. No decorrer da história outros crimes vão acontecendo e descobrimos uma enorme teia de motivações secretas, algumas bem bizarras!

2) Personagens complexos: Você não sabe muito bem quem é o vilão ou o mocinho da trama. Tem hora que você ama o personagem e tem hora que quer matá-lo. A maioria do elenco principal possui um segredo e é difícil não ir submergindo na tentativa de desvendá-los.

3) Núcleos bem definidos e atores luxuosos: Todos os ganchos levantados pela trama foram bem amarrados e finalizados com destreza. É basicamente o que falta em muitas séries por aí, que apresentam uma pergunta ao espectador, mas não lhes oferece a resposta. Esse aspecto se torna ainda mais problemático quando existem muitos personagens e núcleos envolvidos… resumindo: às vezes os autores e diretores se enrolam. Bom, é Salvador Mejía né pessoal… E acho que em grande parte, é dele o mérito de ter tão bons atores em cena: ele conseguiu reunir os grandes, como Sabine Moussier, René Casados e Cecília Gabriela… é como juntar Meryl Streep e Fernanda Montenegro num filme só…
Amadrasta

4) O casal de protagonistas, César Évora e Victoria Ruffo: Eu já mencionei quão incrível é o elenco, mas acredito que eles merecem um destaque. São encantadores. O César Évora sempre foi o ideal de homem pelo qual me casaria sem pestanejar. Aliás, como ele é charmoso! Sobre a Victória, que eu sei que arrasta milhões de fãs por aí (e não é por menos),  foi a primeira e única vez que a acompanhei em uma novela. Nunca vi outros de seus trabalhos. Ela tem olhos lindos e em cena, chora como ninguém.

5) Ciclo de vinganças! Falem a verdade… nós adoramos uma trama cheia de vinganças, com muita gritaria e tapas no rosto. Aqui é o que não falta, reviravolta atrás de reviravolta. Me lembro até hoje da cena em que a Maria sai da prisão e volta para a casa dos Sán Roman e todo mundo, a encara…boquiabertos!

6) “Víveme” era o tema da abertura. É uma música linda, daquelas de ouvirAmadrasta inúmeras vezes sem cessar, daquelas que dá vontade de sair cantando em voz alta (bem alta!) por toda a casa. A música era entoada por Laura Pausini, que a lançou em seu álbum “Resta in ascolto” em novembro de 2004.

Dois anos depois, o single venceu o Billboard Latin Music Awards na categoria “Canção Pop Latina Feminina do Ano”. Fora isso, também recebeu duas nomeações ao Prêmio Lo Nuestro. Não bastasse ser linda, tinha uma relação direta com a história narrada pela trama já que, entre outras menções, se referia a um objeto cheio de significados na história, um quadro: “Y te transformas en un cuadro dentro de mí. Que cubre mis paredes blancas y cansadas”

7) Rivalidade entre irmãs: A relação entre a Albinha e a Carmen era uma coisa bizarra, principalmente porque as duas tinham uma personalidade muito diferente e guardavam um segredo cabeludo. Jacqueline Andere e Margarita Isabel são um detalhe à parte, uma delícia vê-las contracenando, duas grandes atrizes. Bom… a Alba era absurdamente má, enquanto a Carmen era um amor… e a Alba, estava sempre censurando a Carmen em suas atitudes, uma relação que pode ser muito bem resumida nessa imagem:

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8) Cenas inesquecíveis: Essa novela é cheia de cenas de tirar o fôlego, tipo… o acidente da Alba,os segredos das irmãs sendo desvendado, o desaparecimento da Ana Rosa, a loucura do Demétrio, o julgamento da Maria! (…) 

9) Uma novela de sucesso: A novela foi um estouro, no México, aqui no Brasil  e internacionalmente. A Televisa chegou a criar um especial, contanto o que aconteceu com os personagens “dez anos depois”. E em 2007, quando foi reprisada, a novela ganhou um novo final!! Também, posteriormente à exibição foi lançado um dvd com um resumo de 11 horas da trama. 

la-madrastra-16_590x39510) Final surpreendente: Nós estamos acostumados em assistir tramas que giram em torno de um assassinato e, geralmente, o criminoso é o vilão. Pois, em A Madrasta, a identidade do assassino ficou muito bem guardada, até o final e como existia uma gama de possibilidades, já que praticamente todo mundo era um pouco o vilão, era realmente difícil saber o responsável. Eu sou absurdamente apaixonada pelo final, porque me remete à Psicose (de Hitchcock)…