sobre Divertida Mente – (e o direito de estar triste)

DIVERTIDAMENTEQue delícia de filme…

Divertidamente é uma animação da Pixar, lançado em 2015 e que foi um sucesso de crítica – especialmente porque conseguiu construir uma narrativa que dialoga com crianças e adultos. Basicamente, o filme conta sobre o conflito de emoções que se passa na cabeça de uma criança que acaba de se mudar de cidade. Longe da escola e dos amigos antigos, a pequena Riley teve um acesso de raiva e começa a se distanciar de seus pais. Mas, o que ela não sabe é que dentro da sua mente há uma enorme engenhoca que coordena todos os seus sentimentos e lembranças…

O cérebro de Riley é comandado pela alegria, que tenta fazer de tudo para que a menina não fique triste em momento algum. O problema é que lá está a Tristeza, contaminando as lembranças da garota e a deixando cada vez mais deprimida. A Alegria resolve mandar a Tristeza embora… e não imagina o grande problema que isso pode causar. 

Pixar - Divertidamente


De alguma forma me parece que vivemos em um tempo em que estar triste é vergonhoso. Não é difícil ver nas redes sociais a infinidade de pessoas felizes, lindas e perfeitas que estão no nosso grupo de amigos. Ninguém quer ser triste, ninguém quer parecer triste. Tristeza remete ao fracasso e ninguém quer ser perdedor. Então, reprimimos a tristeza, condenamos um sentimento que nos ajuda a dar equilíbrio na vida  e no dia-a-dia.

Isso me lembra um pouco da música “O vencedor”, dos Los Hermanos. Uma música que fala exatamente sobre o direito à tristeza, ao fracasso. Já ouviram? Enfim, se sentir triste… não se culpe.

“Olha lá, quem acha que perder é ser menor na vida. Olha lá, quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar. Eu que já não quero mais ser um vencedor levo a vida devagar, pra não faltar amor!”

Tristeza - Divertidamente

Crimes do autor

Crimes do Autor“Crimes do Autor” é um filme que dividiu opiniões. Enquanto alguns o acharam arrastado demais, outros o acharam genial. Li muitas críticas antes de escrever a respeito. Particularmente adorei o tema e não senti nenhum comprometimento do desenvolvimento dos mistérios construídos  – e juro que gostei muito da história, independente da presença da Fanny Ardant. Não é um filme magnífico, mas não deixa a desejar por causa das pequenas derrapadas. Me agradou, especialmente, por causa da metalinguagem e por levantar o questionamento sobre a relação de confiança que se estabelece do leitor em relação ao autor.

judithralitzer10A trama confronta o espectador com três histórias paralelas e relacionadas entre sí e levanta uma série de segredos a serem solucionados. Um serial killer fugiu da cadeia, uma jovem acaba de brigar com seu noivo e uma escritora famosa lança um novo livro… Há um homem em comum em todas essas histórias e ele não está nem um pouco feliz com a situação em que se encontra…

O filme, dirigido por Claude Lelouch, aborda um tema muito familiar para quem trabalha com jornalismo…os ghostwriters (isso mesmo, escritores fantasmas). São aquelas pessoas que escrevem livros ou textos assinados por outra pessoa. Ardant encarna uma famosa escritora, Judith Ralitzer. Aqui ela é uma viúva negra, traiçoeira e sedutora… ela está detestável! (É muito bom vê-la encarnando três momentos distintos do mesmo personagem, cada momento a seu estilo particular).

Do outro lado está Pierre Laclos, interpretado por Dominique Pinon, um homem misterioso, que aparenta ser o que não é. E tem também a linda da Audrey Dana como Huguette, uma pseudo cabeleireira que trabalha em um salão luxuoso em Paris. O negócio é tentar descobrir quem matou quem e porque…

No site “50 anos de Filmes”, há uma curiosidade bem bacana sobre o título: “Como título de filme também pode ser cultura inútil, lá vai. Roman de gare, do título original, literalmente romance de ferroviária, é o termo que designa obras de distração, superficiais. O nome vem do fato de que se costuma comprar romances baratos para se ler durante as viagens de trem.”

Roman de Gare

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