“Loucas noites de batom” (Gabriel Aghion, 1996), conta a história Adrian – um executivo homossexual que é convidado para um jantar de negócios pelo chefe, Alexander. Com o intuito de passar uma boa imagem ele pede que sua amiga, Eva (Fanny Ardant), finja ser sua esposa. A situação foge do seu controle quando Alexander se apaixona por Eva, sem saber que ela, além de solteira, é proprietária de uma boate gay. Detalhe: Alexander é casado, e extremamente machista e preconceituoso.
Não é uma história com um plot diferente daquele que já vimos milhões de vezes no cinema. Acho justa a comparação com “Gaiolas das Loucas”, já que retrata (também de uma forma bem humorada), a necessidade momentânea de um gay assumido, esconder sua sexualidade. O que me fez gostar tanto de Pédale Douce e de ter o colocado na lista dos meus favoritos, foi a dinamicidade ao abordar assuntos complexos com tanta clareza e sinceridade, sem cair no ridículo ou explorar esteriótipos. Você consegue rir e se emocionar, ao mesmo tempo em que reflete sobre tabus que assombram a sociedade.
Existe uma grande discussão sobre gênero e sexualidade levantada nesse filme, que cutuca a ferida da família tradicional e debocha da heteronormatividade. Gosto, especialmente, da forma em que o filme retrata e brinca com o preconceito e mostra que quando se trata de sexualidade, não se deve taxar nada nem ninguém. Também gosto muito da sutileza e da transparência ao abordar a AIDS, um tema que pode ser ainda mais doloroso, se não encarado com o devido respeito.
Pra falar a verdade eu tinha me preparado para escrever um texto enorme. Revi recentemente uma entrevista que nos ajuda a lembrar sobre o quanto o machismo também é prejudicial aos gays. Agora eu acho que não cabe muito entrar em detalhes, mas devo lembrar que vivemos em um sistema que condena os “homens afeminados”, porque esperam deles uma postura que corresponda à noção que construímos sobre virilidade.
A INCRÍVEL – EVA –
No meio do jantar, confrontada por uma senhora com visões conservadoras sobre vários aspectos sociais, e principalmente, sobre sexualidade… Eva fala: “Detesto caçar, sou a favor da cirurgia plástica, sou militante a favor do aborto, adoro Picasso, odeio fanáticos e prefiro travestis a velhas chatas”. E foi assim, em apenas dez minutos de filme, que caí de joelhos… completamente apaixonada por Eva, que “ama a liberdade e o prazer”.
Um personagem engraçado, com posições tão honestas e bem definidas… Gosto muito da imagem da Fanny nesse filme, que além de divertida, encosta novamente na questão de gênero. As vezes, em algumas cenas, ela está de peruca e não é difícil confundi-la com um travesti. Você percebe que ela se porta assim de propósito, exatamente para ser confundida. Ou então, sai por aí usando terno e gravata. Ela ama e defende os gays com unhas e dentes e está deliciosamente inteligente, sarcástica, ácida…