Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.
Dia: 21 de Agosto, 2015
Divã
Li esse livro pela primeira vez quando estava no fim do ensino fundamental. Foi na época em que eu descobri que a biblioteca pública da minha cidade (que por sinal, ficava ao lado da minha escola), servia para mais coisas do que apenas fazer pesquisa escolares. É que eu comecei a ter autonomia de sair da escola e ir sozinha para casa, o que me permitiu dar pequenas escapadas. Depois, já na faculdade, o reli duas vezes… e ainda guardo boas recordações desse livro.
Na época eu me sentia como uma confidente da Mercedes, a personagem-narradora. Era como uma voyer, escutando as histórias que ela secretamente contava para o psicanalista. Eu, uma garota de quatorze anos, me sentia quase que como uma adulta que conversava com sua amiga de quarenta anos…
Bom, do muito que lembro do livro, acho que três aspectos foram marcantes:
Primeiro: O livro é beeeem melhor do que o filme (E, sim, eu também amo a Lília Cabral. Mas o filme é meio zuado, não é muito fiel ao livro e tem umas partes bem desnecessárias). Segundo: O estilo da narrativa é uma das coisas que mais me prenderam, já que a personagem principal dialoga com o psicanalista e é através das sessões em que vamos descobrindo o que se passa em sua vida. Terceiro: É um livro bem feminino, sensível, que levanta problemáticas do universo das mulheres e que nos faz pensar muito sobre nossas escolhas, sobre nosso cotidiano. E é claro que nem por isso deixa de ser indicado aos homens.
“Perigoso é a gente se aprisionar no que nos ensinaram como certo e nunca mais se libertar, correndo o risco de não saber mais viver sem um manual de instrução.”
Sinopse: Divã conta a história de Mercedes, uma mulher de 40 anos, moderna, inteligente, pragmática, divertida, super-feminina, casada, com dois filhos, com a vida estabilizada – que procura um psicanalista. Para Mercedes, a consulta começa como uma curiosidade e acaba por tornar-se numa experiência envolvente que vai pôr a descoberto as facetas que ela mais reprime. No consultório descobre-se uma mulher ciumenta, insegura, que dramatiza por tudo e por nada. Descobrem-se, também, as memórias que guarda religiosamente: o primeiro namorado, a amiga, as mulheres dos amigos do marido ou a namorada do filho. Nesta aventura, Mercedes conta com o apoio da amiga Mônica e do marido desta, Gustavo.