No meu último ano de faculdade, eu resolvi fazer um passeio pela biblioteca da PUC e criar uma lista com diversos livros que existiam no acervo. Era a minha última oportunidade de explorar aquela biblioteca maravilhosa, cheia de possibilidades. Lembro que comecei por um autor que sempre me despertou curiosidade e que pouco conhecia. Foi na época do estouro de livros soft porn como “Cinquenta tons de cinza”. Me perguntava porque a maioria das pessoas, que demonstravam gostar da temática, liam tão pouco os libertinos. Mesmo não conhecendo muito sobre Sade, sempre o tive como a minha referência para livros eróticos, afinal não foi qualquer um que em pleno século XVIII escrevia sobre violência, parafilia e depravação.
Vejo o Sade como um louco, daqueles que tem coragem de gritar no meio da praça os assuntos que ninguém quer ouvir ou ousa falar. Infelizmente eu nunca li o livro “120 dias de Sodoma”, o mais próximo que consegui chegar foi do filme – que assisti apenas até a metade (porque, confesso, me deu nojo demais!). Aliás, o filme foi responsável por aguçar a minha curiosidade sobre a vida de Pasolini, me parece absurdo imaginar a maneira em que foi assassinado. (Pasolini era homossexual assumido, e foi brutalmente assassinado em 1975. Foi encontrado com o rosto completamente desfigurado e com muitas lesões no corpo. Muitos acreditam que foi um crime político, mesmo que a história oficial conte que ele foi assassinado por um garoto de programa que tentou assaltá-lo).
Eugénie de Franval ou o Incesto
Perto de “120 dias de Sodoma”, Eugene de Franval é quase uma história feita para criança dormir. Aliás, perto dos filmes e novelas que assistimos hoje em dia, essa história não é nada. Por isso acho tão importante entender o contexto e as intenções do autor. “O Incesto” é um pequeno conto que faz parte da coleção “Crimes de Amor”. Sade começou a escrever a história em março de 1788 e a completou em seis dias. A trama conta a história de Mounsier de Franval “um homem rico, bonito, intelgente e imoral”. Ele se casa com uma mulher com segundos interesses… e não são financeiros. Monsier de Franval faz com que ela engravide para que possa criar uma “criatura livre”. Nasce então Eugenie, uma garota linda – e ele se apaixona por ela.
Enquanto ela é criança tudo parece normal, até porque Mounsier tem o perfeito controle sobre ela. Mas ao crescer, Eugenie desperta o interesse dos outros rapazes, fazendo com que Mounsier – tomado por uma enorme crise de ciúmes – a prenda em um calabouço onde só ele tem acesso. No fundo, Eugenie foi uma espécie de “boneca”, criada para satisfazer os interesses sexuais do pai. O que Mounsier não tem consciência é que está criando uma grande tragédia, afinal… os homens que se interessaram pela beleza de Eugenie não o deixarão em paz, muito menos a mãe da menina…