O amante de Lady Chatterley

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D. H. Lawrence morreu em 1930, dois anos depois de publicar “O Amante de Lady Chatterley“, lançado clandestinamente da França por ser considerado obsceno. O livro, eleito como um dos cem melhores romances do século XX, aborda abertamente o amor e o sexo entre classes diferentes (o que afrontava a aristocracia britânica). Ficou censurado por mais de trinta anos na Inglaterra e em vários países de língua inglesa. O autor chegou a editar o romance duas vezes para conseguir que fosse liberado, “as versões são tão diferentes, que podem ser consideradas novos livros”. O interessante é que embora seja conhecido como um autor pornográfico e pervertido, Lawrence (que faleceu com apenas 44 anos), levou uma vida romântica e marcada pela poesia.

O livro conta a história de uma mulher de espírito livre, pouco apaixonada pelo marido e entediada com o casamento. Constance Reid foi criada pelos pais de uma forma diferente das outras garotas, foi estimulada a estudar e a se envolver amorosamente com quem quisesse, sem culpas. Quando casou, já não era mais virgem. O seu marido, o aristocrata Clifford Chatterley, foi para a guerra pouco tempo depois do casamento e quando voltou, por causa de um grave ferimento, ficou inválido, necessitando de uma cadeira de rodas. Entediada com a vida numa cidade polo industrial e irritada com o marido, que não correspondia às suas necessidades sexuais, Constance encontrou em Oliver Mellors  (um dos empregados do marido), o acalanto que precisava.

A história de Constance Reid me lembrou muito a de Madame Bovary, mas Constance é uma versão mais firme e decidida de Emma. Antes de se envolver com o empregado do marido, ele já tinha tido outros relacionamentos extra-conjugais e parecia não se arrepender nem um pouco disso. Clifford era um homem medíocre, que não estimulava a atenção e a admiração de Constance, agia como uma criança perto da mãe, era um escritor meia boca, não tinha muitas aspirações. Aliás, ele parecia saber das “puladas de cerca” da esposa, tanto que dizia que assumiria um filho dela, caso engravidasse de outro homem (naturalmente, que não fosse pobre).

Constance nunca “desceu do salto”, era considerada quase como uma celebridade na cidade, tratava todos muito bem, comportava-se perfeitamente como uma dama e no início do casamento, até que tentou ser a esposa perfeita.  Mas aquela vida, que não era a que ela queria, estava a corroendo por dentro, como se fosse um grito preso na garganta ou como um veneno que se toma e que vai te correndo aos poucos. É aí que Mellors aparece, como a possibilidade de uma nova vida…

Monólogos da vagina

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Eu não sei o que tinha na cabeça lá pelos meus 14 anos, só sei que tinha uma coisa em mente: queria saber sobre o feminismo. Li, em algum lugar na internet (lembram do site de buscas “cadê”? Pois é, eu usava muito), que se você era feminista devia pelo menos ter ouvido falar em Monólogos da Vagina e em Eve Ensler. Lá fui eu, loquei o DVD e levei para a escola. SIM, EU LEVEI PARA A ESCOLA! Fui e mostrei pra professora de sociologia, sugeri que passasse pra turma. Nunca fiquei tão envergonhada quando meus colegas falaram que eu estava assistindo putaria e a professora sem entender (e sem ter ideia do que se tratava), não fez muito caso, levou na brincadeira. Fiquei com tanta raiva! Cheguei em casa e fui assistir o filme e nunca me senti tanta mal, aquela mulher na tela falava coisas tão pesadas e tão íntimas, que eu fiquei envergonhadíssima. 

Os anos se passaram e eu, lendo um artigo feminista, me deparei com uma menção ao Monólogos. Corri para o Youtube e assisti o vídeo. Foi uma sensação estranha, como se eu pudesse me ver sentada na cama do meu quarto com quatorze anos, assistindo o filme e tentando entender o que Ensler falava. Dessa vez foi diferente, fiquei realmente admirada com a destreza e a sapiência dela ao abordar temas tão femininos e tão complexos. Hoje, depois de dez anos, entendi que eu não tinha a mínima maturidade para compreender a dimensão de tudo aquilo.

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Eve construiu a peça entrevistando mais de 200 mulheres

Eve é uma atriz americana, ela lançou “Monólogos da Vagina” em 1996, trata-se de uma série de histórias de mulheres e a relação delas com a própria vagina. A atriz contextualiza questões de gênero, de sexualidade, relacionamentos e de abuso. Tudo diante da perspectiva da relação da mulher e do seu órgão sexual. A peça foi um estouro, é considerada uma das mais importantes peças políticas e experimentais de sua década, foi encenada por grandes atrizes como Jane Fonda, Meryl Streep, Glenn Close e Susan Sarandon. Traduzida para mais de 50 idiomas e encenada em mais de 150 países.

A ideia surgiu através de conversas casuais, Eve começou a criar pequenas anedotas sobre os casos que as amigas contavam e de repente tinha uma material tão bom que resolveu fazer mais entrevistas, assistir e anotar casos que via em jornais. Ela chegou a afirmar que era obcecada com histórias de estupros, que esse tipo de violência social só crescia e que estava diretamente relacionada com vaginas. Mais tarde confessou ter sofrido abusos sexuais e disse que o feminismo de antigamente era diferente do de agora, que é “muito mais informado e indignado” (de um jeito positivo).

Em uma entrevista que deu ao The Guardian, em fevereiro do ano passado, ela constatou algo interessante (e que de certa forma, justifica o sucesso da peça): “Me dei conta que a violação contra a mulher é universal, essa negação ao desejo e ao prazer, o fato de culparem a mulher por sua sexualidade, os abusos que sofrem. Quando você luta contra a mutilação genital que acontece em Gambia, quando você luta contra os ataques de estupros no Congo, quando você luta contra as queimaduras de ácido que as mulheres sofrem no Paquistão, acredita que isso não acontece no seu mundo ou na sua cultura, porque parece muito específico. Mas quando você finalmente percebe que a violência contra a mulher é o que sustenta o patriarcado, você entende que estamos nessa juntas. As mulheres em todo o mundo estão nessa luta juntas”

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As histórias

Há histórias que te fazem rir, outras que te fazem chorar. Eve trata com naturalidade assuntos bem delicados que podem te fazer corar, alguns constrangedores….dentre as histórias que mais me chamaram atenção está a de uma mulher que desde pequena sofria repreensões da mãe quando colocava a mão na vagina (mesmo que estivesse coçando, ela não podia colocar a mão lá), nem deixar que colocassem. Ela conviveu com esse medo à própria vagina durante toda a infância, o que piorou quando ela foi estuprada. Em suas memórias, lembra que o abusador era um amigo do pai, recorda do pai brigando com a mãe e a mãe o mandando para fora de casa. Ela só foi se libertar dessa repulsa quando conheceu uma mulher, que a seduziu e que mostrou para ela o que era o sexo feito com carinho. Outra história interessante é de uma jovem que foi transar com um rapaz e se surpreendeu quando ele disse que ela estava fedendo. Ela dizia que não tinha culpa por causa dos seus fluídos vaginais, mas ele a humilhou e a chamou de porca e ela ficou tão traumatizada “que fechou a fábrica”, nunca mais fez sexo desde então…

Nem tudo foi um mar de rosas,  a peça recebeu muitas críticas

O texto da peça desagradou algumas feministas. Na percepção delas, Eve deu a entender que o movimento prega a superioridade das mulheres em relação aos homens. Alguns acharam que ela retratou os relacionamentos sexuais de uma maneira negativa demais, e que se “esqueceu” da importância do feminismo das mulheres negras, debatendo apenas sobre situações de “mulheres brancas em situação de privilégio na sociedade”. A peça também foi criticada por conservadores, foi proibida de ser encenada em seis colégios católicos. Em 2007 a Universidade de Saint Louis também proibiu a sua encenação, dizendo que se tratava de um tema redundante. Camille Paglia atacou Eve dizendo que ela era uma charlatã se pagando de culta.

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Em 1998, Eve criou o V- Day

Ela reuniu um grupo de pessoas para se manifestarem contra a violência sofrida por mulheres e meninas, a ideia é repetir esse evento até a violência acabar. Desde então, o V-Day ocorre em Fevereiro, Março e Abril todos os anos e oferece vários projetos (campanhas, peças, filmes educativos) cujo os lucros são doados à programas específicos a favor das mulheres. Uma das campanhas de mais sucesso foi a “One Billion Rising for Justice” (Um bilhão se levanta por justiça), lançada em 2013 – conseguiram juntar um bilhão de pessoas, em 207 países. Outra,que também reuniu um bilhão de pessoas, convidava os voluntários a dançar e a fazer um apelo global por justiça, a ideia era motivar as vítimas a quebrar o silêncio.

Em entrevista, Eve foi questionada se realmente achou que um dia conseguiria acabar com a violência contra as mulheres: “É uma boa pergunta. Vou te dizer o que penso. A escravidão, por exemplo, é barbárie. Como uma prática dessa ainda existe? Estuprar mulheres, mesma coisa. Como isso pode existir ainda? Eu acredito que tem que acabar e imediatamente! Nós temos que ter em mente que sim, é possível acabar com essa violência. Continuar justificando o ato como se fosse parte da condição humana, ou parte da própria vida, é normalizar esse tipo de violência permanentemente. Então, sim, eu acredito que essa ideia é possível. Absolutamente. Eu não continuaria trabalhando com isso se não acreditasse, seria uma pessoa insana. Ao mesmo tempo eu acredito que o mundo já mudou, hoje nos vemos notícias de violência contra mulheres estampando jornais, há 16 anos isso não acontecia. Então, isso me faz pensar,porque não pode acabar? Eu vou continuar acreditando nisso até os fins dos dias, é o que me faz levantar da cama pela manhã”

 

Anna Magnani em Três Mulheres

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Anna Magnani é o meu crush mais recente, tenho assistido tudo dela e sempre que posso escrevo algo aqui no blog. Acabei de assistir três longas correlacionados, feitos para a televisão e dirigidos por Alfredo Giannetti e lançados em 26 de setembro de 1971, todos estrelados por elaÉ incrível pensar que Anna estava tão bem (linda e sensualíssima), e que faleceria dois anos depois (em 26 de setembro de 1973). Os três filmes trazem personagens fortes e dramáticas onde todas caminham para um fim trágico – à sua proporção. Assisti poucos filmes coloridos da Anna, mas nesses eu pude reparar na cor de seus olhos e fiquei intrigada com o quanto eram lindos, eram acinzentados… nem claros, nem escuros.

“O automóvel” conta a história de uma ex-prostituta que sonha em dirigir. Anna Mastronardi é a típica mulher que precisa de desafios para ter algum interesse numa vida tão solitária . Ela não mede esforços para comprar um carro e sacrifica-se para realizar seu sonho, logo depois se dedica a aprender a dirigir. O surpreendente é que quando ela realiza seu grande sonho, não percebe a efemeridade do acontecimento. “A cantora”  se passa durante a 2ª Guerra Mundial. Anna vive Flora, uma cantora que sofre pela velhice, pelo esquecimento do público e por sua decadência. Ela é convidada para cantar para um grupo de soldados e precisa se adaptar à um destrambelhado grupo de músicos (também soldados). Em “A reunião” Anna é Jolanda, uma enfermeira que se apaixona pelo tenente Stelvio Parmegiani, desertor da guerra. Juntos vão para um campo de refugiados em busca de alimentos e tentam fugir da perseguição dos alemães.

Só para sentir a sagacidade dessa atriz, vejam a cena do longa “A Cantora”,em que Flora se depara com os soldados mutilados e é tomada por uma imensa compaixão e tristeza:

Infâmia

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Esses dias eu resolvi escrever sobre filmes clássicos e agora que comecei não dá vontade de parar. Há muito tempo (muito mesmo!) eu queria publicar sobre Infâmia, só que eu sempre colocava uma publicação na frente, mas finalmente chegou o dia! HAHA. Infâmia é um grande filme, com grandes interpretações e com uma trama (e uma abordagem) tão genial que dá calafrios só de pensar. Imagine, duas jovens mulheres decidem abrir uma escola para meninas e fazem um sucesso danado na cidade, até que uma das alunas, mentirosa e manipuladora, insinua que as duas são lésbicas.

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Pois é, uma história pesadíssima se tratando de um filme que foi gravado em 1961. Eu simplesmente amo filmes que driblam a censura (como Uma rua chamada pecado) e dizem o que precisam dizer, só que nas entrelinhas. Essa produção foi dirigida por William Wyler e baseada na peça de Lillian Hellman (escrita em 1934!!). Em 1936 a história ganhou uma adaptação para o cinema, mas ao invés de serem lésbicas, uma das professoras foi acusada de dormir com o marido da outra, as atrizes principais eram a Mirian Hopkins e a Merle Oberon.

A Audrey Hepburn sempre linda e serena, e a Shirley Maclaine (ai, que boneca!), sempre muito viva e sorridente. Eu fiquei boquiaberta quando vi “The Celluloid Closet” (um documentário sobre a abordagem da homossexulidade no cinema) e a Maclaine afirmou que não se tocava no assunto nos sets, ela dizia que nunca conversou sobre o fato das personagens serem lésbicas com a Audrey, era um tabu. Então, ela meio que não sabia do contexto que envolvia sua personagem, a Martha. E, caralho… como o filme vai tomando dimensões dramáticas durante o seu desenvolvimento, é realmente um absurdo o que o preconceito, a homofobia e a maldade humana são capazes de fazer.

– A Mirian Hopkins reaparece nesse filme como a avó da Mary, a menininha mentirosa.

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O filme também me remeteu ao Caso da Escola Base, aquele crime cometido pela mídia brasileira em 1994, contra o casal Shiamada. É mais vergonhoso ainda pensar que o caso ainda rola na justiça e as emissoras responsáveis por levantar tamanha mentira, não foram responsabilizados. Para quem não sabe do que se trata, um casal foi acusado de abusar sexualmente de um de seus alunos e a imprensa caiu matando, só que depois foi comprovado que esse abuso nunca aconteceu.

Vidas em Fuga

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Eu preparei uma publicação especial, para falar apenas sobre os filmes feitos pela Anna Magnani. Estava indo tudo muito bem, quando eu percebi que o post foi ficando grande demais, cansativo de ler e difícil até para editar. O último filme que vi com ela, “The Fugitive Kind”, de 1960, foi uma belíssima surpresa e diante das complicações de postagem, decidi separá-lo dos outros. É que há muitos anos não me sentia tão entusiasmada com um filme como me senti com esse e quando terminei de assisti-lo, depois de todos aquelas reviravoltas e de me ver com os olhos marejados (e com um grito preso na garganta), me lembrei de quando tinha quatorze para quinze anos, época em que ficava horas escrevendo nos diários sobre os filmes, sobre os personagens, sonhava com eles, criava histórias secundárias. A verdade é que pouco mudou, mas agora tenho um blog onde posso divulgar meus bobos pensamentos….

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(Sinopse) Marlon Brando interpreta Xavier, um jovem boa pinta que foi preso em Nova Orleans depois de causar confusão em uma festa. Em julgamento ele promete nunca mais cometer um crime que coloque a sua liberdade em risco. Então, ao ser liberado, pega o seu casaco de pele (que é uma de suas marcas e faz alusão à sua índole duvidosa) e viaja em direção à Two Rivers para tentar uma vida nova. Depois de conseguir uma indicação, ele começa a trabalhar na loja de roupas de propriedade do casal Torrance. Lá ele cria uma relação com Lady Torrence (Magnani), uma mulher mais velha, cheia de mistérios e extremamente deprimida por ter que conviver com o seu asqueroso marido, Jabe. E quando digo asqueroso, acreditem! Outro personagem importante é a Carol, uma jovem problemática e mal vista pela vizinhança, que se sente atraída por Xavier. 

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Adoro filmes de romance entre mulheres mais velhas e homens mais jovens. Uma vez ia fazer uma lista dessa aqui no La Amora, mas ela ficou tão grande (e eu vi que não daria conta de escrever sobre todos eles), que desisti. “Vidas em fuga” é exatamente sobre isso, é o retrato de um amor proibido entre um casal com uma grande diferença de idade e de perspectiva. É uma crônica de uma tragédia anunciada, um filme triste pra caramba, que deixa a gente descrente na humanidade, com raiva por tamanha injustiça. Tennessee Williams arrasou, como sempre, mas jogou (e muito) com o espectador. A gente tem conhecimento dos fatos, mas na posição de observadores, não podemos fazer nada para mudá-los. Quem um dia assistir esse filme, se prepare, é um dramalhão!

Fiquei muito admirada pelos movimentos de câmera no clímax, nos diálogos profundos (que me fizeram pensar na vida e no que estou fazendo dela). O personagem do Brando se define como aquele cara que não consegue parar em lugar nenhum. Através da metáfora do pássaro sem pernas, que nunca pode parar de voar ele explica: “se um dia ele parar, ele morre”. Mais profundo ainda é a distinção que ele faz… o mundo é divido entre três tipo de pessoas: as que se vendem, as que nunca se vendem e as que compram.

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Marlon Brando está muito bem nesse filme, sério, concentrado… eu confesso que até comecei a ter uma quedinha por ele, mas descobri que ele sacaneou a Anna Magnani nas gravações, falando um inglês rápido e meio embolado para a confundir. Aliás, achei muito engraçado o fato da Anna ter dado em cima dele e ele se negado a ficar com ela, dizendo que a achava feia, pode?! O fato é que Anna, quando está em um filme, desbanca qualquer um… essa mulher tem uma capacidade dramática que me tira do sério! É impossível ficar indiferente ao sofrimento de Lady e não torcer para que ela se dê bem no final… Também é difícil não ficar ligado na tensão sexual entre os dois, hora um seduzindo o outro, hora ela se esquivando, hora ele fingindo que não quer nada. AH MEU DEUS! Até chegar no momento da transa dos dois eu tive uns mil enfartos!

A tara maldita

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FINALMENTE eu consegui matar a minha curiosidade e assistir “A Tara maldita”, terror/suspense da década de 50, que traz uma menininha linda no papel de uma psicopata absurdamente malvada e louca. É impressionante como Patty McCormack, a atriz que interpreta a garota, é convincente. O título que deram ao filme no Brasil foi muito infeliz, não condiz com a história (e, convenhamos, dá um puta duplo sentido). O título original do filme é “The bad seed”, algo como “Semente do mal” e não poderia ser mais adequado, afinal, uma das problemáticas levantadas na trama é a angustiante relação entre mãe e filha (há uma enorme desconfiança entre elas, especialmente por parte da mãe, que se questiona o tempo todo sobre o comportamento do seu “anjo de tranças” e sobre o fato da maldade da menina ser algum tipo de herança genética).

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A garotinha se chama Rhoda e desde o inicio sabemos que há algo errado com ela, afinal, é perfeita demais: obediente, educada, inteligentíssima e… manipuladora. Seu pai está a viagem e sua mãe, Christine (interpretada pela linda da Nancy Kelly) é uma boa esposa, dona de casa dedicada, que faz de tudo para ganhar a confiança da menina. Um acidente na escola de Rhonda deixa toda a comunidade escolar abalada, um garotinho morre afogado durante um piquenique… Mesmo com a comoção geral, Christine percebe que Rhonda não ficou nem um pouco chateada pela morte do coleguinha e descobre que a menina tem uma ligação a ele muito maior e obscura do que imaginava.

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O filme perpassa por caminhos profundos e chega em um clímax bem pesado, o grande problema é que deram uma continuidade desnecessária e colocaram diálogos demais, deixando a trama meio arrastada. Impressionante a atuação Eileen Heckart, que interpreta a Sra. Daigle, mãe do garoto que morreu afogado. Em determinado momento ela aparece na casa de Christine, completamente depressiva e bêbada, impossível não sentir compaixão pelador de uma mãe que acaba de perder o filho. P.S. A todo momento eu achava que o caseiro iria fazer alguma maldade com a Christine e com a Rhonda e fiquei impressionada com o final que ele teve!

October Gale

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Há muito eu não assistia um filme com a Patrícia Clarkson, uma atriz que eu AMO! Mas sei lá, fui com expectativas demais e acabei decepcionada. October Gale, lançado esse ano, é um suspense interessante, mas meia boca. Bonito, mas nem um pouco impactante. Talvez por ter um desenvolvimento lento e por apresentar personagens cujo drama psicológico se abordou superficialmente. O filme conta a história de Helen, uma médica com cerca de cinquenta anos que acaba de perder o marido. De luto, ela decide passar uma temporada em sua casa no lago, mas é surpreendida com a chegada de um homem baleado. Misterioso e envolvente, Will acaba conquistando Helen e ela, sem perceber, se envolve em uma teia de assassinato. O filme tem seus pontos positivos, principalmente as paisagens e a trilha sonora (que é linda!) …

P.S. Tim Roth no elenco!

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eu queria morar na Casa das Sete Mulheres…

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A casa das sete mulheres foi transmitida na Rede Globo em 2003, ou seja, eu tinha doze anos. Lembro que passava muito tarde e que minha mãe ficava emburrada comigo porque eu não perdia um capítulo e não conseguia acordar sem atraso para ir à aula no dia seguinte. O fato é que eu era apaixonada pela série e mais ainda pela história de cada uma das personagens. Eu desligava a televisão, tarde da noite, e ia me preparar para dormir, pensando como seria se eu tivesse nascido naquela época e vivido naquela casa.

untitled-5Cheguei até a começar a ler o livro, mas não dei continuidade porque era uma leitura pesada e não conseguia assimilar muito bem as informações e os termos. Assistir a história daquelas mulheres e entender a condição feminina da época me deixava inquieta, mas extremamente admirada porque todas elas eram muito fortes.

Lembro que foi o estouro da Camila Morgado, ela ganhou o coração do Brasil na pele da Manoela… mas eu amava a Dona Caetana, a Maria e a Rosa. Pra falar a verdade da Maria só gostava mesmo porque era a Nívea Maria que interpretava… E a Rosa, era a maravilhosa da Ana Beatriz Nogueira, por quem eu morria de amores (e ainda morro, claro e evidente).

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Revendo as cenas me dou conta de algumas descaracterizações cometidas pela Rede Globo  quanto aos personagens, como a relação romanceada entre Manoela e Garibaldi, por exemplo. Mas ok, acho que isso não tira o mérito da série, que é linda e emocionante a cada episódio. E olha que eu nunca fui uma pessoa romântica, mas vivia torcendo para a Rosário e a Mariana viverem livres com seus amores, até então proibidos.

Duas cenas me marcaram muito nessa série, uma foi quando a mãe da Manoela a castiga ao descobrir que ela não é mais virgem. Eu ficava morrendo de dó da menina e me colocava no lugar dela, naquela situação humilhante e assustadora em que a mãe a leva para o quarto e pede queeliane_giardini02 abram suas pernas e vejam se ela é “moça ou não é”. Outra foi quando atacam a fazenda e as mulheres, desprotegidas e sem seus maridos (que estavam em viagem), são obrigadas a pegarem nas armas….Aliás, o que era aquela trilha sonora maravilhosa que até hoje não sai da minha cabeça?

Engraçado é que eu sempre me simpatizei pela Giovanna Antonelli, mas a odiava como Anita Garibaldi com todas as minhas forças, talvez porque na época encarava ela como a responsável por estragar a tão idílica vida amorosa de Manoela. Ah… e cara! Como eu adorava a Caetana e achava ela linda, e maravilhosa e aqueles cachos e aqueles olhos, e AH MEU DEUS, ela e o Bento eram o casal mais perfeito do mundo! (perfeitos mais ou menos né, porque o Bento era meio ausente e dava espaço pra concorrência…) Falando nos dois, cês lembram da participação da Irene Ravache como ex-esposa do Bento? Eu até tremia quando ela aparecia!

Ô série boa, que eu não canso de rever…

P.S. Eu queria colocar uma foto da Ana Beatriz Nogueira como Dona Rosa, mas não achei nenhuma que prestasse, cês acreditam?

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Amok Fanny ArdantAmok não me encantou muito, fiquei ligada na tela por causa da Fanny Ardant. Mesmo com a proposta super interessante, algo impediu que eu criasse empatia com o personagem principal. O filme foi produzido em 1993, dirigido por Joel Farges e baseado numa história criada de Stefan Zweig. A trama, que se passa em 1939, gira em torno de um médico alemão chamado Steiner que conta suas memórias à um grupo de viajantes enquanto prepara-se para sair de Goa para Conchin, no sul da índia.

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Steiner, um médico alcoólatra e depressivo, conta para os companheiros como se deu sua queda, como deixou de ser um médico respeitoso para se transformar em um “zé ninguém”. Através de um flashback descobrimos que enquanto ele trabalhava em uma remota clínica em colônias portuguesas, connheceu uma encantadora mulher francesa (Elle, Fanny Ardant), por quem se apaixonou perdidamente, era uma mulher de traços “brancos e finos” que não via há muitos anos… No entanto, Elle era casada com um influente diplomatada português e para piorar, estava grávida de três meses. Steiner se surpreende quando Elle a procura e oferece uma fortuna para que ele realize um aborto. Apaixonado e atordoado, Steiner se nega a fazê-lo e oferece uma contra-proposta, tentando forçar Elle a transar com ele. (É… meio pesado né?)

Acho que esse é um dos grandes problemas do filme, tratar com indiferença uma situação tão obscura. O fato é que depois de se negar a se envolver com o médico e sentir-se completamente perdida, Elle não desiste de fazer um aborto e, depois de sofrer muito para tomar a decisão, vai fazê-lo em uma situação precária, com mulheres sem nenhum preparo médico. É claro, Dr. Steiner enlouquece com a ideia de não ter oferecido ajuda à amada, mas quando se dá conta… é tarde demais.

sobre Lima Barreto….

Lima Barreto

Nunca pesquisei mais a fundo sobre a história do Lima Barreto, e às vezes, com essa minha cabeça fraca, o confundia com outros autores. O pouco que sei sobre ele é que foi neto de escravos, que não foi um escritor reconhecido quando vivo, que era alcoólatra, que foi internado em uma instituição psiquiátrica e que morreu jovem, com apenas 41 anos.

Há alguns meses estou lendo uma pequena coleção de crônicas do autor, realizada pela Folha de São Paulo. Fiquei muito (positivamente) surpresa com os textos e impressionada com o fato de Lima Barreto denunciar certas situações sociais que se repetem nos nossos tempos. Quero dizer, é estranho pensar que os textos críticos dele, publicados em 1918, continuam tão atuais.

Ao mesmo tempo lê-lo é ser transportado para um Rio de Janeiro de cem anos atrás, onde as crianças brincavam nos jardins, onde os jovens andavam de bondinhos e as moças estudavam para serem normalistas… É realmente engrandecedor ler suas denúncias contra o racismo, contra a corrupção, suas críticas atentas aos serviços públicos, sobre o seu carinho em relação ao carnaval…

PolicarpoP.S – Para falar a verdade, sempre me simpatizei com Lima Barreto, mesmo tendo lido tão pouco suas obras. Adoro Triste fim de Policarpo Quaresma, foi uma das minhas leituras do ensino médio quando estudávamos o pré-modernismo na escola. Depois comprei o livro e reli em outros momentos… 

– Lima Barreto e as mulheres –

Como eu não sabia desse lado jornalista do Lima Barreto e não fazia ideia de seus posicionamentos sociais, fiquei realmente impressionada com a sua concepção em relação às mulheres… São várias as crônicas em que ele critica a condição feminina, ora a favor das mulheres assumirem cargos públicos, ora ironizando um livro que diz que elas nasceram para ser boas esposas, ora defendendo as donas de casa e o divórcio…Em uma de suas crônicas, por exemplo, ele denuncia a violência doméstica:

“Nós já tínhamos os maridos que matavam as esposas adúlteras, agora temos os noivos que matam as ex-noivas. De resto, semelhantes cidadãos são idiotas. É de supor que quem quer casar deseje que a sua futura mulher venha para o tálamo conjugal com a máxima liberdade, com a melhor boa-vontade, sem coação de espécia alguma, com ardor, com ânsia e grandes desejos: Como é que castigam as moças que confessam não sentir mais pelos namorados amor ou coisa equivalente? […] O esquecimento de que elas são, como todos nós, sujeitas a influências várias que fazem flutuar as suas inclinações, as suas amizades, os seus gostos, os seus amores, é coisa tão estúpida que só entre selvagens deve ter existido.”