sobre o amor e o que eu não sei…

Deveria existir um manual que nos explicasse como agir diante do amor. Mas não igual aqueles dos filmes românticos melosos, que tratam das relações como se fossem um quebra-cabeça simples. A gente sabe que a vida real não é assim.  Ultimamente tenho me questionado muito sobre isso, sempre tive um discurso libertador, de amor livre e todas as vezes que tentei praticá-lo, bati de cara com a porta. O problema era eu, claro. Esperava dos outros algo que não podia ter e oferecia algo que eles não queriam. Não sei se isso acontece com todo mundo, mesmo com 25 anos, digo abertamente e claramente que não estou preparada para amar. E isso é tão, tão, tão triste! Não acredito na concepção de amor romântico, mas acredito em amor. E acho que o amor está na aceitação, no fato de você querer a pessoa do jeitinho que ela é. Não tentar impor uma mudança de hábitos, não questionar a história, não virar as costas para a sua família. É claro, isso não significa se sujeitar a tudo… Não significa falta de interesse, falta de entendimento e conhecimento. É querer saber a origem do outro, saber como ele se sente diante de um problema. É estar lá, sem nada pedir em troca.

 

Aracy Balabanian: Nunca fui anjo

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Surpreendente. Se tivesse que fazê-lo,  assim classificaria a pequena biografia da Aracy Balabanian, escrita por Tania Carvalho para a Coleção Aplauso. Sempre fui fã de Aracy; desde muito pequena a assistia em Sai de Baixo… eterna Cassandra Matias Salão. Cheguei a ver algumas novelas também, como a Próxima Vítima, quase vibrava quando ela aparecia. Acho ela linda, diferente, bem-humorada e super elegante. Fui lendo a biografia durante a viagem que fiz para Minas Gerais, fiquei surpresa com algumas revelações e com a coragem dela de falar tão abertamente sobre assuntos polêmicos. A própria autora chama atenção para o fato de as celebridades da atualidade viverem imersas no mundo das revistas e da exposição, enquanto Aracy, por outro lado, sempre foi meio “anacrônica”, daquelas que nunca gostou de falar muito de sua vida pessoal.

O livro se chama “Nunca fui anjo”, e o título, mais do que uma referência à uma lembrança da infância de Aracy (que queria se vestir de anjo na igreja e não a deixavam porque tinha os olhos caídos) é também alusão a sua própria personalidade artística, encarada como uma mulher séria e certinha demais. Imagine, ela fala com clareza sobre os dois abortos que fez, sobre como perdeu a virgindade e sobre o fato de questionarem a sua sexualidade.

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Sua experiência na TV e no Teatro são boa parte de tema para o livro. Incrível, incrível mesmo, poder ter conhecimento  de suas histórias, de suas dificuldades no palco, das censuras, dos assédios, das lutas políticas e dos relacionamentos com os colegas. A gente sabe que o meio artístico é muito disputado, mas ouvindo essas histórias é possível ter uma dimensão da coisa. Aracy não possui uma beleza clássica, e mesmo assim, com sua grandiosidade, foi protagonista e interpretou mocinhas e vilãs , tornando-se um sucesso no Brasil inteiro.

Interessante é a sua relação com os irmãos, ora problemática, ora de afeto extremo. E ela fala claramente sobre as brigas familiares. Demonstra muito carinho pela mãe e pelo pai, e deixa claro o quanto eles foram importantes para a sua personalidade: “Muita gente acha que sou armênia, mas nasci no Brasil e meus pais, Raphael e Esther, ambos armênios, sempre tiveram uma enorme preocupação: que seus filhos fossem bons brasileiros. A Armênia permanece viva em mim, nas histórias que ouvi, a minha vida inteira, e que o meu pai e a minha mãe contavam com muita emoção”.

“Eterna Fênix” foi um dos títulos cogitados para o livro. A ideia da autora e da atriz era criar uma relação metafórica à carreira de Aracy, que mesmo com altos e baixos, nunca caiu no esquecimento… “Ela sempre ressurge”. Também relacioná-lo ao drástico acidente que Aracy sofreu e que, segundo ela, mudaria seu modo de ver a vida. “Eu nasci em 1940 e posso dizer que renasci em 1994. Neste ano, um incêndio acabou com o meu apartamento. O fogo lambeu os móveis, as janelas, dinheiro, roupas, capas de revista, fotos, a minha história. Fiquei uma pessoa sem lembranças, e isso foi o que mais doeu. Dizem os espiritualistas que o fogo limpa. E como uma fênix renasci, porque descobri que sempre se pode começar de novo”.

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Citações:

Posso dizer, também, que fui cobrada por não ser mãe. Não me deixam em paz. Uma vez, estava no corredor, indo para a maquiagem e ouvi uma atriz jovem, bonitinha, reclamando com a maquiadora (atenção, eu sou a rainha da equipe): “Para de falar Aracy, Aracy, Aracy Balabanian já era!” Entrei e rebati: Tomara que, quando você for, chegue a ser como eu. Ela me jogou na cara a sua maternidade: “Me respeite, porque sou mãe”. “Sem problema minha filha, a puta também pariu”.

CarvalhoTania_aracybalabanianPor fim, além de virgem, sem filhos e solteirona, às vezes as pessoas dizem que sou homossexual. Foram falar para a Guta, a diretora de elenco da Globo, e ela me chamou para perguntar. A primeira pessoa que saberia seria você, para quem não escondo nada. Parênteses, Guta foi uma pessoa muito importante na minha vida, alguém que tinha um amor incondicional por mim e por isso mesmo eu a chamava de mãe. Se chegasse para ela e dissesse que tinha virado sapata, ela aceitaria na hora. Mas a verdade é que jamais me interessei por mulheres. Sou freudianamente ligada ao meu pai, à virilidade. O que me atrai é a diferença, não a semelhança. Já até pensei no assunto, arrisquei bater umas pestanas para algumas mulheres que me assediaram, mas não passou disto, não mesmo.

(Sobre Sai de Baixo): O Miguel fazia loucuras em cena. Soprava no meu ouvido o texto, beliscava a minha bunda. Um dia, estavam sentadas na primeira fila minhas duas irmãs mais velhas. Ele me levou para a frente do palco e perguntou para a platéia se eles sabia como eu era chamada na escola. E arrematou: “Pizza gigante, dava para oito ao mesmo tempo.” As minhas irmãs abaixaram a cabeça. Não satisfeito ele continuou: “Produção, tira estas velhas chatas aqui da frente porque elas não querem rir  de nada”.

Não sei se sou muito boba, acho que sou, porque era a única que queria continuar. Sentia-me no melhor dos mundos. […] Sai de Baixo me permitiu uma tranquilidade financeira, além do salário, recebíamos muitas coisas a mais. Como o elenco brigava o tempo todo por vantagens, eu acabava usufruindo.  Foi com o dinheiro que ganhei em Sai de Baixo que pude comprar este apartamento em que vivo agora e consegui fazê-lo exatamente da maneira que queria.

A condessa sangrenta

A Condessa Sangrenta

Acho que é a primeira vez que eu leio um livro e fico com medo. Talvez isso tenha acontecido porque o li de madrugada, quando a casa estava escura e num silêncio absurdo. De qualquer forma, confesso…. fiquei com medo. O livro me chamou atenção pelo erotismo da capa e pelo tema, uma abordagem meio romantizada da famosíssima Condessa Bathory, considerada “uma das mulheres mais perversas e sanguinárias que a humanidade já conheceu”.

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O livro é bem pequenino, apenas 54 páginas e repleto de ilustrações assustadoras. A autora, Alejandra Pizarnik, relata as histórias das torturas de maneira lírica e poetizada, ao mesmo tempo em que traz uma série de histórias bizarras e obscuras (repletas de erotismo). Difícil não mergulhar nesse universo melancólico e assombroso da Condessa, que vivia solitária em seu enorme castelo se deliciando com os gritos de dor das jovens que torturava e com aversão a velhice.

Não se discute no livro se  história sobre a Condessa é ou não ponto de partida para a criação de um mito, o que se explora é o encantamento e a curiosidade que ela desperta. Afinal, foram mais de 600 jovens assassinadas.  A autora explica, por exemplo, que a Condessa tem origem de uma família problemática, muito rica e influente. Além de comentar sobre a indiferença do marido, ela também levanta a possibilidade da Condessa ter sido lésbica, relata como eram os banhos de sangue que ela tomava e conta como foi o seu fim (presa no castelo, abandonada por todos, sem demonstrar arrependimento).


Citações

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“Nunca puderam ser esclarecidos os rumores acerca da homossexualidade da condessa, ignorando-se tratar-se de uma tendência inconsciente ou se, ao contrário, aceitou-a com naturalidade, como um direito a mais que lhe correspondia. No essencial, viveu submersa de um âmbito exclusivamente feminino.”

“Escolhiam-se várias moças altas, belas e resistentes –  sua idade oscilava entre os 12 e os 18 anos – e arrastavam-nas à sala d torturas onde esperava, vestida de branco em trono, a condessa. Uma vez maniatadas, as criadas as flagelavam até que a pele do corpo se dilacerasse e as moças se transformassem em chagas tumefatas; aplicavam-lhe os atiçadores em brasa, cortavam-lhe os dedos com tesouras ou guilhotinas, espetavam suas chagas, praticavam-lhes incisões com navalhas (se a condessa se cansava de ouvir gritos, costuravam suas bocas, se alguma jovem se desvanecia rápido demais, ajudavam-na fazendo queimar entre suas pernas papel embebido de óleo). O sangue emanava como um gêiser e o vestido branco da dama noturna trotava-se vermelho. E tanto, que tinha que ir ao seu aposento e trocá-lo por outro”.

A história do sobrenatural e do espiritismo

“O importante ao receber uma mensagem vinda do outro lado não é tanto a exatidão da informação, mas seu papel de terapia social ou individual. O que importa não é que a previsão se realize, mas alivie, cure ou convide a agir. Astrólogos, cartomantes, médiuns e videntes agem como médicos da alma.”

lA aMORA

Adoro os livros da Mary del Priori, admiro muito o seu conhecimento histórico e sua veia jornalística. Recentemente comprei “Do outro lado”, livro em que ela faz um mapeamento da história do espiritismo no Brasil (com uma grande ênfase no Rio de Janeiro). Mesmo com um tema tão denso, foi possível fazer uma leitura bem agradável… é como se a narrativa te levasse em uma viagem histórica, como se você estivesse atravessando a época das trevas, descendo as ladeiras, passando por ruas tenebrosas e observando toda aquela gente curiosa e assustada, querendo conversar com os mortos.

Ao longo do livro, você entende que o espiritismo é muito (muito mais) do que apenas a possibilidade de conversar com os que já se foram. É muito interessante como em seu surgimento, foi encarada não como religião, mas como ciência. Mais legal ainda, são os relatos da autora sobre a origem da doutrina na Europa (com o magnetismo, Allan Kardec) até o momento em que ela chegou nas terras tupiniquins e seus efeitos sociais.

O fato é que a relação do homem com a morte e com sua concepção sempre foi marcada por uma curiosidade mórbida, pelo medo do incerto, pela utilização de símbolos e criação de mitos. Os nossos antepassados, no entanto, pareciam interpretá-la de uma maneira mais melancólica, mais intensa.  Depois de ler e reler o livro, me pareceu ainda mais evidente que o espiritismo no Brasil sofreu interferências (tanto do catolicismo, quanto das religiões africanas e de outros tipos de cultos).

É muito curiosa a reação  dos antigos  com o trabalho das cartomantes, dos exorcistas e curandeiros. Uma mistura de medo e de fé, uma estranheza que entrelaça o real e o sobrenatural de uma maneira encantadora. No livro há uma série de fotografias e recortes (de anúncios e matérias de jornais) que mostram como era conflituosa a relação da imprensa com a doutrina. Alguns veículos tentavam desmascarar e desautorizar a religião através de reportagens e sátiras.

Citalções

“Outrora,  o morto continuava vivo no seu túmulo. Recebia as homenagens dos descendentes, imóvel, mas consciente. A sepultura seria apenas outra residência, cela de dormitório, onde aguardaria o despertar no Dia do Juízo e que, por vezes, deixaria para proteger ou informar os vivos, comunicando-se com eles em sonho ou por algum sinal exterior”

“O culto dos santos, que se propagou entre séculos III e IV, firmou outra ideia: a de que era importante substituir o culto dos mortos, vindo da Antiguidade, pelo dos santos. Antes, a intimidade entre mortos e vivos era total: colocava-se comida e bebida sobre as tumbas, festejava-se a passagem para o além com danças, uma pedra na laje impedia o defunto de voltar e estar perto dos parentes.”

“As práticas rituais serviram, a pretos africanos e nacionais, para combater as violências de seus senhores e de seu cotidiano. A religião foi, sim, um instrumento de resistência escrava. Até mesmo porque não faltou clientela branca nos grandes terreiros de candomblé, macumba, e umbanda, onde a relação de submissão do preto passava a ser de dominação, de escravo passava a senhor. Ele mandava, conjurava espíritos e resolvia a vida dos outros. Apenas o pai de santo se conectava com o mundo invisível, habitado por entidades espirituais responsáveis pela vida. Seus rituais viabilizavam essa interação, ali os brancos obedeciam e se curvavam.”

Escolinha do Golias

– Quando eu vou à praia, só posso ficar na areia. É que meu pai não é sócio!

– Ô menina burra! Coitada professor, ela pensar que pra ir pra praia precisa ser sócio…. Ô menina, mulher acompanhada não paga!

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Há muito tempo eu não ria tanto de um programa humorístico como esse tem me feito rir. Outro dia eu estava navegando pelo Youtube quando me veio a sugestão de assistir os novos episódios da Escolinha do Professor Raimundo, recente aposta da Rede Globo. Fiquei por alguns minutos assistindo, e achei muito forçado, sem graça… Nos vídeos relacionados me apareceu um link para assistir A Escolinha do Golias, e lá fui eu.

GENTE, EU NUNCA RI TANTOOO! Sério! Me lembro de assistir alguns episódios quando era criança (passava umas reprises a tarde no SBT), mas só agora me dei conta do quão engraçado é. Saudade de quando a televisão conseguia lançar programas com um humor natural e leve (mesmo carregado de tantos duplos sentidos). Me parece que existia um tom de respeito, algo bem característico do humor da época, bem mais leve.

Cara, o Golias era uma piada, difícil não rir com tantas caras e bocas. Melhor ainda é a química que existe entre ele, a Nair Belo e o Carlos Alberto de Nóbrega. A Nair Bello, que ficou apenas na primeira temporada interpretando a Pazza, simplesmente não consegue segurar o riso, ela faz o tipo que a Cassandra fazia em Sai de Baixo… realmente, muito gostoso de assistir esses episódios (que aliás são bem pequenos, de 20 e poucos minutos). Acho que é disso que o humor televiso brasileiro precisa, de humoristas que saibam fazer piadas e que acima de tudo, saibam rir de si mesmos…

*A Escolinha do Golias teve 3 temporadas, foi transmitida no SBT entre 1990 e 1997.  Reprisada em 2007.

Cinco mulheres marcadas

2Patrícia queria que eu assistisse um filme com a Jeanne Moreau, escolhemos um aleatório que dentre muitos com a atriz, ela ainda não tinha assistido. Acho que acertamos na mosca, porque sem querer encontramos um filme cuja narrativa é tão cativante que não conseguimos desgrudar os olhos da tela.

A trama é ambientada na Iugoslávia, 1943 (e em plena 2ª Guerra Mundial). Um certo soldado alemão namora com cinco mulheres ao mesmo tempo. Para ele, as mulheres são como pequenos troféus, um deboche. Para elas, a esperança de um amor romântico, de casamento.

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Quando os combatentes da Iugoslávia descobrem que essas cinco mulheres perderam a virgindade com o soldado alemão, vão à casa de cada uma delas, raspam seus cabelos (para marca-las), as expõem em praça pública e as expulsam. {O fato das personagens terem seus cabelos raspados me lembrou esses fait-divers que escutamos e lemos de moças que moram em favelas e que tem o cabelo raspado porque foram descobertas namorando policiais e são marcadas como X-9}.

O fato é que essa humilhação sofrida por elas, não só causa um trauma como também as impulsiona a pegar nas armas e a se unir aos combatentes. Antes, sofrem diversas tentativas de abusos, passam fome e sofrem por questionamentos morais.  Impossível não identificar um tom feminista, com o retrato de mulheres fortes e destemidas, que lutam bravamente ao lado dos homens, horando seus ideais. É realmente primorosa a forma em que o universo feminino foi tratado, com respeito e delicadeza (especialmente o retrato que fazem sobre a gravidez em tempo de guerra).

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Jeanne Moreau é realmente espetacular, linda, sensualíssima e muito intensa. Outro destaque é Silvana Mangano, em toda a sua expressividade e seriedade.

Clue: mistério e humor em seu melhor formato

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Ô delícia de filme, daqueles com gostinho nostálgico que nos remete à infância e ao melhor tipo de humor que existe, leve e descompromissado. Lembram do jogo “Detetive”, aquele de tabuleiro cheio de mistério que fazia a gente quebrar a cabeça tentando descobrir quem era o assassino? Pois é, “Os setes suspeitos” (filme de 1985) foi baseado nele. A trama conta a história de um grupo de estranhos, convidados para jantar numa mansão isolada. Chegando lá eles são recebidos por um enigmático mordomo chamado Wadswoth (interpretado por Tim Curry) e passam a ser chantageados, isso porque todos escondem um segredo (e, claro, os segredos estão correlacionados)..

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É impossível não rir com a série de piadas de duplo sentido e de humor negro. Impossível também não se apaixonar pelos personagens e pela construção da narrativa, que vai dando pistas ao mesmo tempo em que vai te confundindo. Afinal a história é linear, mas é sempre interrompida ao apresentar várias versões de um mesmo acontecimento. A narrativa cria uma série de questionamentos e, propositalmente, confunde o espectador. Por fim, você percebe que não se pode confiar em uma palavrinha que os personagens dizem.

De longe a minha personagem preferida é a Sra. White, a viúva negra que viu tantos maridos morrer que perdeu a conta. Também adoro o afeminado Sr. Green, que sem dúvidas é responsável pela melhor reviravolta da história.