Para assistir: 3 filmes do François Ozon

FrançoisOzon

François Ozon é um dos nomes da “new wave” do cinema francês, um jovem diretor que conquistou seu espaço no mundo cinematográfico com produções lindas e inquietantes. Gosto muito dele, algo em seu estilo me lembra Pedro Almodóvar. É um diretor extremamente sensível, que aborda temas complexos e assuntos polêmicos com certo humor negro e plasticidade. Ele é o diretor de Oito Mulheres (filme com que tenho um sério relacionamento amoroso) e Swimming Pool (estrelado por Charlotte Rampling e por Ludivine Sagnier).  Assisti esses três filmes dele e adorei (sim, todos os três) e gostaria de indica-los para quem procura por histórias divertidas, emocionantes e por narrativas bem elaboradas:

1 – Potiche, a Esposa Troféu

Há muito tempo eu não via a Catherine Deneuve interpretando uma personagem tão humana, tão comum. Em Potiche ela dá vida à Suzanne Pujol, a rica herdeira de uma fábrica de sombrinhas, completamente submissa a seu marido Robert (Fabrice Luchini) – um homem extremamente mal humorado. A história se passa na década de 1970, deliciosamente ambientada. Além de abordar a luta de classes, tem como pano de fundo a emancipação feminina. Suzanne vai contra todas as expectativas e surpreende a cada segredo revelado.  É uma comédia descomprometida, que aborda com deboche assuntos tão sérios. Já vale pelo reencontro de Deneuve e Gerard Depardieu, a dupla inesquecível de  O último metrô.

2 – Uma nova amiga

Sexualidade e gênero são temas complexos, que a cada dia, ganham as pautas sociais. Uma mulher que gosta de se vestir de homem é necessariamente lésbica? Bom… Uma nova amiga está aí para tocar na ferida e discutir o assunto, o filme conta a história de Claire (Anaïs Demoustier), uma mulher que acaba de perder a melhor amiga, Laura. Ela se aproxima  de David (Romain Duris), o viúvo, para lhe auxiliar nos cuidados com o bebê que Laura teve há pouco tempo. A proximidade faz com que ela descubra um segredo íntimo de David, o que coloca em prova toda a relação que tinha com sua falecida amiga. Um tema incrível, uma perspectiva extremamente sensível e alto astral…

3- Dentro da Casa

Esse filme é extremamente intrigante e agradável, impossível assistí-lo sem se envolver nessa teia metalinguística.  O filme conta a história de Germain (olha o Fabrice Luchini aí de novo), um professor cansado da rotina e do desinteresse dos alunos. Germain é tão frustrado que chega a incomodar a esposa, Jeanne (interpretada pela belíssima Kristen Scott Thomas). Um dia Germain conhece Claude (Ernst Umhauer) um aluno que se sobressai aos outros: suas redações são incríveis.  O menino começa a inventar uma história sobre o colega de sala e deixa o professor intrigado, fazendo com que o mestre se torne seu leitor assíduo. A proximidade vai aumentando de maneira doentia, a ponto de Claude começar a invadir a casa e o cotidiano do professor…

Morangos Mofados

Download-Morangos-Mofados-Caio-Fernando-Abreu-em-ePUB-mobi-e-PDF1Este é talvez o livro mais difícil que já li do Caio Fernando Abreu, talvez por isso tenha demorado tanto para termina-lo. Todas as outras leituras que fiz do autor foram leves, escorregavam pelos olhos. Essa não, foi pesada, demorada. Demorei por causa dos detalhes, pela narrativa e por ser um livro mais sombrio, mais triste. A verdade é que o Caio Fernando Abreu me passa essa sensação, das inúmeras cartas que ele escreveu e que li, foi essa a impressão que ficou: a de um homem triste, muito inteligente, atormentado e extremamente sozinho. Gosto muito dos seus diálogos e da forma em que ele os insere dentro do texto, fazendo a narrativa mais ágil, como se estivesse falando com o leitor. Também adoro sua espiritualidade, seu interesse pelos horóscopos, planetas e energia.

De todos os contos, o meu preferido é o “Terça-feira Gorda”. Li, reli e senti uma emoção inexplicável. A história se passa numa terça feira de carnaval, dois homens se encontram na praia e naquela mistura de suor, cansaço e tesão, fazem sexo na areia, perto de outras pessoas. Entre gritos, deboche e denúncia, os dois se beijam e transam, mas são atacados: “ De repente ele começou a sambar bonito e veio vindo para mim. Me olhava nos olhos quase sorrindo, uma ruga tensa nas sobrancelhas, pedindo confirmação. Confirmei. […] Eu estava todo suado, todos estavam suados, mas eu não via ninguém além dele. Eu já o tinha visto antes, não ali. […] Mas vieram vindo, então, e eram muitos. Foge, gritei, estendendo o braço. Minha mão agarrou um espaço vazio. O pontapé nas costas fez com que me levantasse. Ele ficou no chão […].

Morangos Mofados, o último dos contos, é também uma história linda. Trata-se de um homem que sente na boca o gosto de morango mofado, um gosto que não sai de jeito nenhum. É a iminência da morte, a tristeza e a chegada do fim. Interessante como Caio queria dar um final feliz para a história mesmo que seu personagem tivesse tendência à tragédia.  Por fim, o homem se nega a morrer, decide tentar mais uma vez. Na carta que Caio F. escreveu para um amigo ele explica que quando escreveu, foi como se o personagem tivesse vida própria e se negasse a desistir.