Dom Quixote e os moinhos de vento na América Latina

    4843702376_74b2522eaa_b

Em “Dom Quixote e os moinhos de vento na América Latina”, o sociólogo peruano Aníbal Quijano realiza uma análise sobre o impacto da colonialidade e da globalidade na América Latina. O leitor é contextualizado sobre como foi construída a ideia da Europa Ocidental como centro do mundo, o eurocentrismo. Através do texto, o leitor também entende o porquê do autor afirma que a América Latina se define e se reproduz como colonial- moderno e como a América Latina (e sua história) auxiliaram na criação do eurocentrismo como um modelo de produção e controle, especialmente do conhecimento.

    Dom Quixote simboliza o (des)encontro entre o mundo velho e o mundo novo, de um lado a ideologia senhorial e cavalheiresca e de outro, novas práticas e tecnologias simbolizadas pelo moinho de vento. Como diria o autor, “o novo não acabou de nascer e o velho não terminou de morrer”. Quijano defende muito a necessidade de encarar a história como uma sequência unilinear e unidimensional. Diferente do que o eurocentrismo nos faz crer, a evolução histórica é repleta de contradições, associações, fragmentações, mutações, sentidos e significados.

“[…] a maior lição epistêmica e teórica que podemos aprender de Dom Quixote: a heterogeneidade histórico-estrutural, a co-presença de tempos históricos e de fragmentos estruturais de formas de existência social, de vária procedência histórica e geocultural, são o principal modo de existência e de movimento de toda sociedade, de toda história. Não, como na visão eurocêntrica, o radical dualismo associado, paradoxalmente, à homogeneidade, à continuidade, à unilinear e unidirecional evolução, ao “progresso”. (QUIJANO, 2005: p.7)

    Para a dominação da Nova Espanha, a coroa não se preocupou em criar uma identidade comum com todas as demais populações, pelo contrário, se impôs sobre as identidades e nacionalidades, de muitas formas. Uma delas foi através da apropriação de bens materiais e da exploração do trabalho gratuito de índios, escravos e servos. O resultado foi a destruição da produção interna e do mercado interno, fora o secular retrocesso e estancamento dos processos de democratização, como esclarece o autor: “O que empobreceu a Nova Espanha, foi o que enriqueceu a Europa Ocidental”.

    O que sabemos é que a América Latina continuará dependente enquanto o eurocentrismo dominar o conhecimento já que a visão eurocêntrica distorce e bloqueia a experiência histórico cultural latina.  Para o autor, é preciso convocar os fantasmas que a história produziu e que habitam nossa existência social e inquietam nossos projetos históricos.

  A produção histórica da América Latina começa com a destruição de toda uma história que já existia, na opinião do autor “provavelmente a maior destruição sociocultural e demográfica que chegou ao nosso conhecimento”.  Ela foi realizada de várias formas, mas as principais são indicadas abaixo:

–  Desintegração dos padrões de poder e de civilização.

– Extermínio Físico.

– Eliminação deliberada de importantes produtores (cientistas, artistas)

– Repressão material e subjetiva. (Uma herança cultural e artística que se tornou inacessível já que não se podia produzir signos e símbolos próprios senão nas distorções da clandestinidade).

Raça: primeiro sistema de classificação social básica e universal dos indivíduos da espécie. A ideia de raça (a primeira categoria social da modernidade) fomentou um novo tipo de dominação social e de exploração e com eles, um novo tipo de conflito e de poder.

O colonialismo é uma experiência muito antiga. No entanto, somente com a conquista e a colonização ibero-cristã das sociedades e populações da América, na transposição do século XV ao XVI, foi produzido o construto mental de “raça”. Isso dá conta de que não se tratava de qualquer colonialismo, mas de um muito particular e específico: ocorria no contexto da vitória militar, política e religioso-cultural dos cristãos da contra-reforma sobre os muçulmanos e judeus do sul da Ibéria e da Europa. E foi esse contexto que produziu a ideia de “raça”. (QUIJANO, 2005: p.12)

 Os dominados deixaram de ser vistos como vítimas de um conflito e passaram a ser encarados como inferiores por natureza material e histórico cultural. Uma noção que não está relacionada apenas à materialidade, mas também às próprias pessoas.

Conclusão

A América Latina continua reproduzindo a ideia de que os europeus são uma raça superior. O eurocentrismo oculta e distorce nossa história, é um padrão de poder que foi imposto através da violência física e subjetiva e permitiu a rápida expansão capitalista da Europa inclusive, permitiu que se aproveitasse das inovações tecnológicas produzidas por seus escravos.

Advertisement

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s