Amigas para sempre, 1988

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Existem certas histórias que permanecem no nosso imaginário pela beleza e delicadeza ao abordar temas tão complexos e que fazem parte do nosso cotidiano. Amigas para Sempre é um deles, é um filme bonito e doloroso sobre a vida de duas mulheres comuns e ao mesmo tempo, especiais. A trama conta a história de duas meninas de culturas, realidades e educações diferentes que se conhecem na praia e fazem amizade, daquelas para se levar para o resto da vida.

Bette midler interpreta Cecília, uma cantora de pouco sucesso, mas extremamente batalhadora e alto astral. Bárbara Hershey é Hillary, uma advogada, feminista e de família rica. Mesmo um pouco distante, as duas crescem juntas e presenciam os sucessos e fracassos uma da outra: seja profissional, seja amoroso ou financeiro.

É realmente um filme muito fofinho, que nos lembra que existem SIM amizade entre mulheres e que a relação pode ser muito bonita. Há muita cumplicidade e confiança entre as duas. Me canta muitíssimo o mar como principal ambiente, como uma terceira pessoa que presencia tudo o que acontece com elas.

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Gosto muito da Bette Midler e acho muito engraçado o papel que Hollywood lhe reservou, cujo esteriótipo corresponde àquele tipo de mulher louca, histérica e ao mesmo tempo, adorável e engraçado. Foram tantos filmes que assisti da Bette Midler fazendo o mesmo “tipo” que perdi a conta. Por mais que em “Amigas para Sempre” a personagem dela ainda tenha essa pegada (bem de levinho), há um quê dramático que nos dá o privilégio de enxergá-la de outra forma, e encará-la como a artista séria e completa que é. Aliás, ela cantando Under the boardwalk… woooo. É sensacional!

Bárbara Hershey é belíssima e encantadora, dos poucos filmes que vi dela, muito me recordo de achá-la linda. Engraçado é que li que ela tinha quarenta anos na época em que gravou o filme e ficou meio pilhada com a sua imagem porque teria que interpretar a personagem desde à sua juventude a velhice, então fez umas aplicações nos lábios para parecer mais jovem.  Ela está incrível nesse filme, tem uns momentos bem dramáticos onde ela se sai muito bem.

A AIDS em “Mujer, casos de la vida real”

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Hoje de manhã revi a participação da Helena Rojo no programa “Mujer, casos de la vida real” e mergulhei numa lembrança gostosa sobre a época em que eu era bem novinha, vi este episódio no SBT e fiquei impressionada com a trama. O programa fez um enorme sucesso no México e foi comercializado para vários países, trata-se de rápidos episódios com histórias dramatizadas que abordavam assuntos da vida feminina, alguns bem complexos por sinal (como violência doméstica, aborto…).

A Silvia Pinal era a apresentadora, e o programa ficou no ar entre 1988 e 2007 (contava com a participação de atores e diretores renomados). Lembro que o assistia diariamente, era apresentado pela filha do Sílvio Santos, a Sílvia Abravanel e passava no finalzinho da tarde. De tantos episódios que assisti, o da Helena Rojo foi o único que ficou grudado na memória e vê-lo novamente me surpreendeu muitíssimo, porque certas cenas são extremamente familiares.

Helena interpreta uma estilista cujo casamento caiu na mesmice. O marido vive preocupado com suas ocupações e ela não tem seus desejos correspondidos. Em um diálogo muito interessante, a personagem confronta o marido sobre a vida sexual dos dois e afirma que está há mais de três meses sem fazer sexo. Ainda nesta cena, ela questiona o marido se ele não tem medo da possibilidade de ela transar com seus funcionários (que são modelos e por sinal, mais bonitos e mais jovens).

Quer dizer, ainda que a série tivesse uma pegada mais leve e bem dramatizada, também tinha um tom corajoso e contestador. Falar tão abertamente sobre a sexualidade feminina, ainda mais na década de 1990 e na TV Mexicana, que sempre foi muito conservadora, é um passo e tanto. Realmente acho admirável.

O fato é que depois de ser ignorada pelo marido, ela decide transar com seu funcionário. Logo no início do capítulo nos é confidenciado que o garoto é hemofílico, apontando uma deixa para o que depois, se tornaria o clímax do episódio. Ao longo da trama, a personagem cria uma relação forte com o funcionário a ponto de decidir se separar do marido, é quando o marido adoece e ela acredita que ele está fazendo “cena”, tentando prendê-la no casamento. A verdade vem à tona quando o funcionário confessa que está infectado pelo vírus HIV.

O episódio desmitifica muitos estereótipos da doença e que foram fortemente reproduzidos na década de 1980. Primeiro porque o agente transmissor não é um homem e sim uma mulher, hétero e casada. Lembrando sobre a importância do sexo com preservativo, inclusive no casamento, o episódio também vai contra um estereótipo antigo e ultrapassado: de que a doença está relacionada estritamente aos homossexuais. Quer dizer, se nos foi indicado que o funcionário era hemofílico e heterossexual, nos resta algumas possibilidades que nada estão relacionadas aos gays: ou ele pegou o vírus em uma transfusão, ou usava drogas (seringas contaminadas) ou fez sexo sem camisinha.

No mais, só acho que a série peca ao mostrar o marido moribundo, agonizando antes da morte. Eu realmente não sei como se dava o tratamento à época, mas hoje se sabe que é possível conviver com a doença e levar uma vida normal.

* Muito obrigada ao clube de fãs da Helena Rojo, que sempre compartilham materiais e nos deixam atualizados sobre o que ela anda fazendo. Obrigada mesmo, vocês são demais!

Dolóres Jimenez y Muro, a criadora do Plan de Ayala

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Em um trabalho para a faculdade, precisei estudar a biografia de uma figura que participou de algum movimento social. Logo escolhi a Revolução Mexicana, que me agrada muitíssimo e queria falar de uma figura feminina. Muitas mulheres poderiam nomear o trabalho…talvez Juana Belén ou Elisa Acuña que também foram jornalistas e prisioneiras políticas. A escolha por Dolóres Jimenez y Muro tem uma justificativa, sua rebeldia a permitiu entrar na história como a mulher que reuniu ideias e deu forma ao plano político e social de Tacubaya e, mais tarde, ao prólogo do Plan de Ayala.

O documento denunciava Francisco Madero por sua traição aos ideais revolucionários, consagrados pelo Plan de San Luis, foi anunciado pela primeira vez em 25 de novembro de 1911 em Ayala, Morelos. Além de exigir a renúncia de Madero, o Plan de Ayala convocava eleições livres, a devolução de terras e municípios ao povo, incitava a luta armada e defendia a liberdade de imprensa.

Na concepção do Instituto Nacional de Estudios Históricos de la Revolucion Mexicana, o jornalismo e a literatura foram os primeiros meios de expressão utilizados pelas mulheres para manifestar suas necessidades e demandas. Elas passaram a desenvolver atividades publicitárias e se incorporavam aos clubes liberais dirigidos por homens e posteriormente criavam seus próprios clubes onde discutiam e produziam ideias contra o governo. Elas não só atuavam como jornalistas como também fundavam e dirigiam seus próprios jornais.

Desde 1902, Dolores militava pelo Partido Liberal Mexicano. No mesmo ano dirigia a Revista Potosina e escrevia para El Diario del Hogar. Dois anos depois dirigiu um movimento contra a reeleição de Porfírio Díaz, passou a editar o jornal “La mujer mexicana” e a presidir o “Club Femenil Hijas de Cuauhtémoc” que defendia os direitos femininos e denunciava fraudes nas eleições. Em 1925, aos 77 anos, se apagou a “tocha revolucionária” (apelido que recebeu das companheiras).

Como explica Celeste Murillo, Dolores foi um dos destaques da atuação feminina na Revolução Mexicana:

“Dolores se destacó entre las mujeres que, distintas a la imagen popularizada de las adelitas (una retaguardia indispensable de los ejércitos revolucionarios) y las mujeres campesinas que acompañaron, fundaban grupos políticos, organizaban sindicatos, ponían en pie diarios y revistas, discutían con pares y superiores, incluso en un momento donde las mujeres tenían un estatus legal inferior. Más tarde, en 1917, formó parte de la Secretaría de Educación, desde donde se impulsó la primera campaña de alfabetización, y participó también de las Misiones Culturales. ”

Para saber mais sobre essa incrível mulher, indico o artigo da Celeste
Clique – aqui

 

um questionamento bobo, sem conclusão…

Como ler vinte livros por mês? Me parece loucura, mas vi uma matéria há poucos dias que indicava nomes de blogueiras brasileiras que batem essa meta e as vezes, leem até mais. Eu me pergunto se as leituras são superficiais, ou se a pessoa lê realmente aquilo tudo tão rapidamente (livros de 300, 400 páginas). O lance é que independente da qualidade das obras (se são clássicos ou não), me questiono mesmo sobre a absorção dessas histórias, do processo sensorial, da interpretação. De qualquer forma, é muito interessante pensar no boom de livros e na acessibilidade que temos hoje em dia, na digitalização dos livros, nos sites que os distribuem gratuitamente. Lembro tanto da minha época de ida às bibliotecas e do quanto era caro compra-los, tanto que só ganhava de natal ou aniversário.

Gary Cooper que estás en los cielos

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Desde as primeiras cenas, este filme tem um toque extremamente feminino (e feminista). Além de falar sobre tabus que atingem especialmente as mulheres, como o aborto e as diferenças de oportunidades no mercado de trabalho, tem como protagonista uma mulher forte, séria e inteligente. Pouco li sobre a história da diretora Pilar Miró, mas fica muito claro que o filme também tem um tom metalinguístico e autobiográfico.

Mercedes Sampietro está linda, mais linda do que nunca (especialmente porque transmite muita calma e parece dominar o personagem). Na trama ela é Andreia, uma diretora televisa que sonha em produzir um filme, mas que enfrenta muitas dificuldades para tal. Apesar de ser uma mulher com sucesso profissional, sua vida pessoal é cheia de fracassos: possui uma mãe extremamente vaidosa e que a sufoca e está grávida de um homem que exige que ela faça um aborto.

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Gosto especialmente das cenas iniciais, quando Andreia caminha pelos corredores da emissora e é cercada por auxiliares que precisam de sua opinião ou autorização para fazer algo. Mesmo assumindo um cargo de chefe, Andreia é visivelmente engolida por um ambiente dominado pelos homens. Também há uma cena sensacional, onde ela olha diretamente para a câmera, como se conversasse com o espectador, e conta as dificuldades de se realizar um filme (só para observar, “Gary Cooper que está en los cielos” foi lançado em 1981, um ano depois, Pilar Miró se tornou Diretora Geral de Cinematografia na Espanha).

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O filme possui muitos momentos reflexivos, quando a personagem (que descobre que está doente e prestes a morrer) começa a pensar em sua vida e nas coisas que construiu. Ela passa horas observando fotos antigas (algumas delas do ator americano Gary Cooper). Imagino que aquelas fotos antigas e em preto e branco representem o seu carinho pelo passado e medo pelo futuro.

Carmen Maura: uma aparição pequena, mas importante

Carmen aparece muito pouco, apenas em duas cenas. Na primeira delas, fica claro que ela não gosta de Andreia, na segunda (já no final do filme), há um confronto entre elas, dentro do banheiro. Andreia relembra que as duas estudaram juntas e questiona se a colega tinha algum desejo sexual (reprimido) por ela. No livro, “Discurso Femenino Actual”, Kathleen M. Vernon começa o seu texto analisando exatamente essa cena e diz:

[…] A protagonista Andrea enfrenta uma única colega feminina nos estúdios televisivos, a realizadora Begoña (Carmen Maura). Em seus comentários sobre as cenas, vários críticos afirmaram que o acontecimento tinha base na vida real de Pilar e até identificaram Begoña como Josefina Molina. O fato é que o conteúdo dessa tempestuosa discussão está repleta de referências e experiências paralelas, primeiro como estudantes e segundo como empregadas de uma rede de televisão governamental, o que corresponde à biografia das duas mulheres. Molina foi a primeira diretora mulher que se graduou pela Escuela Oficial de Cine, a mesma em que Miró se formou como roteirista.

A autora ainda explica que mesmo não sendo a intenção da diretora e mesmo com a disputa entre as duas personagens, existia ali um clima de “sororidade” entre as duas mulheres, reprimidas por um ambiente completamente dominado por homens.

só pra constar, eu fui apaixonada por Smallville

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Eu realmente me sinto culpada por não ter assistido todas as temporadas de Smallville, ao mesmo tempo, quando eu penso na possibilidade me dá uma preguiça sem tamanho. Foi uma série que fez parte da minha adolescência, eu assisti a primeira vez no SBT (e nem achava ridículo aquele subtítulo de “as aventuras do superboy”). Eu era bem novinha vai… pra você ter uma ideia, gravava os episódios em VHS todos os domingos. Pois é, nem tínhamos o aparelho de DVD em casa e quando compramos, ganhei o primeiro episódio da série – foi uma loucura, assisti umas mil vezes.

Pelo caminho mais óbvio eu deveria ser apaixonada pelo Clark, mas não. Eu até o achava bonitão, mas sem graça pra caramba. Gostava mesmo era do pai e da mãe dele, era fissurada nos dois, Jonathan e Martha Kent. Isso é normal¿ Eu adorava o carinho e o respeito do casal, e tenho vivos em minha memória muitos momentos marcantes. Também gostava da doçura da Lana, mas me identificava principalmente com a Chloe, que era inteligentíssima, tinha um humor ácido e era jornalista (profissão que sempre me encantou e que escolhi seguir).

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Por mais que a série se apoiasse em naqueles efeitos e nos superpoderes de um jovem menino do interior, ela tinha todo um cenário escolar e familiar, com questionamentos bem juvenis e problemáticas adolescentes. Obedecer os pais ou não, as primeiras paixões, em qual grupo se encaixar na escola, a rotina dos estudos e todas aquelas coisas que quem tem mais de quinze anos já viveu. Fora, que a trilha sonora era sensacional.

Eu parei de assistir na quarta temporada, acompanhava diretamente os lançamentos (e sabia todos os nomes dos episódios) até que a história deixou de me encantar. Pelo pouco que assisti da trama subsequente, a história foi ficando cada vez mais sombria (como Harry Potter) e o Clark cada vez mais consciente de seus poderes, mais forte e destemido. Espero realmente um dia poder criar ânimo e descobrir como a série acabou, em suma, quando assisto os antigos episódios, tenho lembranças muito boas.

  • A série sempre contava com a participação de personagens que apareciam em apenas um episódio e que eram chamados de “freaks”ou “monstros” e tinham alguns poderes. Essas pessoas foram afetadas pela chuva de meteoros que atingiu a cidade (que era na verdade, marcou chegada de Clark ainda bebê à Smallville) e sempre apareciam para amargar a vida do super boy. Era muito legal o lado vilão desses freaks e ao mesmo tempo, o lado humano, sempre tinham uma história triste por trás e a gente não sabia se ficava com raiva ou com dó.
  • Para saber algumas curiosidades, clique aqui

Painted Lady

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Eu adoro assistir tudo o que a Helen Mirren faz, me sinto quase na obrigação. Acho ela linda, sedutora e uma atriz talentosíssima. Esses dias eu vi “Painted Lady”, uma série britânica protagonizada por ela, com quatro horas de duração e lançada em 1997. A trama conta a história de mulher cujo amigo é assassinado por causa de algumas obras de artes. Em busca de vingança, ela praticamente muda de rotina e de personalidade para encontrar os responsáveis pelo crime. Achei muito interessante o fato de o personagem ter sido feito especialmente para Mirren, que na época ficou marcada no inconsciente do público como a “Inspector Jane Tennison”, da série Prime Suspect.

Em Painted Lady, Helen Mirren dá vida a Maggie, uma cantora de blues aposentada, cuja situação financeira é tranquila. Ela vive em Dublin e tem muito contato com um vizinho, chamado Charles, a quem considera como um pai. Charles é assassinado em sua casa e ao encontra-lo, Maggie percebe que um de seus quadros (datado no século XVII e extremamente valioso), havia desaparecido. Em busca de respostas para o crime, Maggie conta com a ajuda de dois amigos (que trabalham em museus e entendem de arte) para se transformar na Condessa Magdalena Kreschinskaá e se aproximar do assassino.

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A série, além dos momentos deliciosos de suspense, é também uma aula de arte. São muitos os momentos em que os personagens analisam quadros famosos, contam a história de seus criadores e de seu contexto. A menção e reconstituição da morte de Marat (quadro de Jacques Louis David) é realmente muito legal, mas mais bacana ainda é a presença e as metáforas construídas através do quadro “Judith decapitando Holofernes”, de Artemisia Gentileschi, 1620.

Pouco sei sobre a história de Judith e Holofernes, mas o que mais impressiona (e se fala muito na série) é a história da autora do quadro, Artemisia. Um artigo sensacional, publicado no site da UFRGS, de autoria de Elvio Antônio Rossi, nos ajuda a esclarecer o que aconteceu com a pintora:

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“Aos 19 anos, Artemisia foi estuprada por Agostino Tassi (Agostino Buonamici; c. 1580–1644), pintor amigo de seu pai e contratado por este para ser tutor da jovem artista e lhe ensinar desenho e perspectiva, entre outras técnicas de pintura. Ao falhar em manter sua promessa de casamento, Agostino foi denunciado pelo pai da pintora, o caso foi levado à corte e num julgamento que se arrastou durante sete meses, Artemisia foi humilhada e severamente torturada, enquanto o agressor, apesar de ter sido condenado ao exílio por cinco anos, nunca cumpriu a pena, tendo retornado a Roma quatro meses depois. Como principal protagonista deste talvez primeiro caso de estupro público, ao ser acusada de promiscuidade, Artemisia acabou adquirindo uma reputação dúbia. Por isso, conforme Ian Chilvers (2001), a ferocidade de suas representações da decapitação de um homem por uma mulher na série de quadros sobre Judite e Holofernes, tem sido vista por muitos autores como uma “vingança” pictórica por seus sofrimentos.”

Clique aqui para ler o artigo completo

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Portanto, a história de Maggie se mistura um pouco com a personagem da pintura e com a história da própria pintora: é uma mulher que busca por vingança. Seu objetivo rende bons momentos ao espectador, seja o êxtase quando fica cara a cara com o assassino, ou nos momentos divertidos e engraçados, como quando ela toma um banho de loja para se fazer parecer milionária.

Cinderella, 2006

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Que filme sensacional, acabei de assisti-lo e corri para comentar aqui no blog. Quem assistiu e gostou de “A pele em que habito” de Pedro Almodóvar, provavelmente vai relacioná-lo a este filme. É complexo, é confuso, não é linear, cheio de mistérios… mas muito bem construído e realmente, emocionante. Aliás, é quase um quebra-cabeça e tem tantos plots twist que é difícil de contar.

“Cinderella” conta a história Hyun-Soo, uma jovem que vive uma vida praticamente perfeita: filha de uma cirurgiã plástica, cercada de amigas que a adoram e admiram por sua beleza. Porém, sua vida fica completamente abalada quando suas amigas, que foram operadas por sua mãe, começam a enlouquecer, a cortar seus próprios rostos e depois, comentem suicídio. Hyun Soo desconfia que sua mãe está envolvida com as mortes e passa a investiga-la.

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Lançado em 2006 e dirigido por Man-dae-Bong, o filme tem uma forte pegada de terror psicológico, ainda que em seu desenvolvimento apareçam alguns fantasmas (que são mais simbólicos do que tudo, sério!). Eu só consegui entender a metáfora da Cinderela na metade do filme, realmente faz todo sentido (e é triste pra caramba!). É preciso um pouco de persistência para chegar até o final, a verdade é que no início da trama muitas lacunas vão sendo abertas e elas demoram a se fechar.

A mãe do filme (Do Ji‑won), além de ser linda, carrega a maior parte do suspense nas costas. É uma atriz com uma atuação muito intensa e ao mesmo tempo, extremamente misteriosa. No início da trama ela é a mãe perfeita e eu ficava me perguntando o que a relacionaria com a Madrasta da Cinderela. Outra coisa é que ela tem uma aparência muito jovial, por horas eu não acreditava que ela tinha idade para ter uma filha tão grande (na época do filme tinha 40 anos).

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Mesmo lendo tantas críticas negativas, eu confesso que realmente gostei desse filme. Não consigo encontrar mais adjetivos ou características sem soltar um spoiler, a minha mão está coçando aqui para fazê-lo. Enfim, é um filme valioso, intenso, emocionante. Basta se permitir mergulhar na história, vale a pena!

Sombras en una batalla

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Mais um filme da Carmen Maura que entrou para a lista dos assistidos, este eu tinha muita curiosidade de ver e achava que se tratava de um suspense com pinceladas de ação. Nada disso, é um drama bem arrastado, Carmen interpreta uma mulher seríssima e o filme tem um forte tom político, social e contestador. Eu gostei muito, é uma Carmen séria… diferente da qual estou acostumada assistir, bom para relembrar que ela é uma atriz de muitas facetas e que pode surpreender em outros campos, gêneros, fugir do clichê.

Dirigido por Mario Camus e lançado em setembro de 1993, “Sombras en una batalla” conta a história de Ana, uma veterinária que vive em uma pequenina cidade em Zamora, fronteira com Portugal. Lá ela cria sua pequena filha (Blanca, de 12 anos) e convive pacificamente com Dário, seu ex-companheiro. Um dia, em uma viagem de ônibus conhece José, um homem encantador por quem se apaixona e abre as portas de sua casa.

Ao longo da trama vamos descobrindo os possíveis motivos que fizeram de Ana esta mulher tão dura. Ela foi ex-militante do ETA (e eu tive que recorrer eu Google para entender do que se trata), é uma ação nacionalista e armada, considerada como um grupo terrorista. Por ironia do destino, José pertencia ao GAL, e participou de um atentado contra os refugiados vascos que iam em direção ao território francês, Ana era uma delas. Ana passa a ser perseguida por alguns ex-companheiros que a questionam o fato de receber José em sua casa, e ao mesmo tempo em que está apaixonada por ele, não se permite perdoá-lo pelos erros do passado.

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Em entrevista ao El País, Mário Camus chamou atenção para alguns detalhes dos quais reproduzo: “Sem salto alto, sem maquiagem e sem mini-saia, Carmen Maura enfrentou as sombras em uma batalha no último filme de Mário Camus […] Carmen demonstra facilidade para fazer qualquer coisa ser crível, é muito trabalhadora. Ela está acostumada com diálogos curtos e quase improvisados, os diálogos desse filme são muito longos. Ditos por outra pessoa poderiam parecer chatíssimos, mas o poder dessa mulher está na credibilidade que transmite”.

“O personagem de Carmen é muito duro, mas não poderia ser de outra maneira. A alegria está em sua filha, necessitamos da dureza da mãe para entender a evolução da menina. Eu queria que em algum momento a filha fosse a mãe da mãe, hoje as crianças crescem muito depressa”.