A AIDS em “Mujer, casos de la vida real”

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Hoje de manhã revi a participação da Helena Rojo no programa “Mujer, casos de la vida real” e mergulhei numa lembrança gostosa sobre a época em que eu era bem novinha, vi este episódio no SBT e fiquei impressionada com a trama. O programa fez um enorme sucesso no México e foi comercializado para vários países, trata-se de rápidos episódios com histórias dramatizadas que abordavam assuntos da vida feminina, alguns bem complexos por sinal (como violência doméstica, aborto…).

A Silvia Pinal era a apresentadora, e o programa ficou no ar entre 1988 e 2007 (contava com a participação de atores e diretores renomados). Lembro que o assistia diariamente, era apresentado pela filha do Sílvio Santos, a Sílvia Abravanel e passava no finalzinho da tarde. De tantos episódios que assisti, o da Helena Rojo foi o único que ficou grudado na memória e vê-lo novamente me surpreendeu muitíssimo, porque certas cenas são extremamente familiares.

Helena interpreta uma estilista cujo casamento caiu na mesmice. O marido vive preocupado com suas ocupações e ela não tem seus desejos correspondidos. Em um diálogo muito interessante, a personagem confronta o marido sobre a vida sexual dos dois e afirma que está há mais de três meses sem fazer sexo. Ainda nesta cena, ela questiona o marido se ele não tem medo da possibilidade de ela transar com seus funcionários (que são modelos e por sinal, mais bonitos e mais jovens).

Quer dizer, ainda que a série tivesse uma pegada mais leve e bem dramatizada, também tinha um tom corajoso e contestador. Falar tão abertamente sobre a sexualidade feminina, ainda mais na década de 1990 e na TV Mexicana, que sempre foi muito conservadora, é um passo e tanto. Realmente acho admirável.

O fato é que depois de ser ignorada pelo marido, ela decide transar com seu funcionário. Logo no início do capítulo nos é confidenciado que o garoto é hemofílico, apontando uma deixa para o que depois, se tornaria o clímax do episódio. Ao longo da trama, a personagem cria uma relação forte com o funcionário a ponto de decidir se separar do marido, é quando o marido adoece e ela acredita que ele está fazendo “cena”, tentando prendê-la no casamento. A verdade vem à tona quando o funcionário confessa que está infectado pelo vírus HIV.

O episódio desmitifica muitos estereótipos da doença e que foram fortemente reproduzidos na década de 1980. Primeiro porque o agente transmissor não é um homem e sim uma mulher, hétero e casada. Lembrando sobre a importância do sexo com preservativo, inclusive no casamento, o episódio também vai contra um estereótipo antigo e ultrapassado: de que a doença está relacionada estritamente aos homossexuais. Quer dizer, se nos foi indicado que o funcionário era hemofílico e heterossexual, nos resta algumas possibilidades que nada estão relacionadas aos gays: ou ele pegou o vírus em uma transfusão, ou usava drogas (seringas contaminadas) ou fez sexo sem camisinha.

No mais, só acho que a série peca ao mostrar o marido moribundo, agonizando antes da morte. Eu realmente não sei como se dava o tratamento à época, mas hoje se sabe que é possível conviver com a doença e levar uma vida normal.

* Muito obrigada ao clube de fãs da Helena Rojo, que sempre compartilham materiais e nos deixam atualizados sobre o que ela anda fazendo. Obrigada mesmo, vocês são demais!

Dolóres Jimenez y Muro, a criadora do Plan de Ayala

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Em um trabalho para a faculdade, precisei estudar a biografia de uma figura que participou de algum movimento social. Logo escolhi a Revolução Mexicana, que me agrada muitíssimo e queria falar de uma figura feminina. Muitas mulheres poderiam nomear o trabalho…talvez Juana Belén ou Elisa Acuña que também foram jornalistas e prisioneiras políticas. A escolha por Dolóres Jimenez y Muro tem uma justificativa, sua rebeldia a permitiu entrar na história como a mulher que reuniu ideias e deu forma ao plano político e social de Tacubaya e, mais tarde, ao prólogo do Plan de Ayala.

O documento denunciava Francisco Madero por sua traição aos ideais revolucionários, consagrados pelo Plan de San Luis, foi anunciado pela primeira vez em 25 de novembro de 1911 em Ayala, Morelos. Além de exigir a renúncia de Madero, o Plan de Ayala convocava eleições livres, a devolução de terras e municípios ao povo, incitava a luta armada e defendia a liberdade de imprensa.

Na concepção do Instituto Nacional de Estudios Históricos de la Revolucion Mexicana, o jornalismo e a literatura foram os primeiros meios de expressão utilizados pelas mulheres para manifestar suas necessidades e demandas. Elas passaram a desenvolver atividades publicitárias e se incorporavam aos clubes liberais dirigidos por homens e posteriormente criavam seus próprios clubes onde discutiam e produziam ideias contra o governo. Elas não só atuavam como jornalistas como também fundavam e dirigiam seus próprios jornais.

Desde 1902, Dolores militava pelo Partido Liberal Mexicano. No mesmo ano dirigia a Revista Potosina e escrevia para El Diario del Hogar. Dois anos depois dirigiu um movimento contra a reeleição de Porfírio Díaz, passou a editar o jornal “La mujer mexicana” e a presidir o “Club Femenil Hijas de Cuauhtémoc” que defendia os direitos femininos e denunciava fraudes nas eleições. Em 1925, aos 77 anos, se apagou a “tocha revolucionária” (apelido que recebeu das companheiras).

Como explica Celeste Murillo, Dolores foi um dos destaques da atuação feminina na Revolução Mexicana:

“Dolores se destacó entre las mujeres que, distintas a la imagen popularizada de las adelitas (una retaguardia indispensable de los ejércitos revolucionarios) y las mujeres campesinas que acompañaron, fundaban grupos políticos, organizaban sindicatos, ponían en pie diarios y revistas, discutían con pares y superiores, incluso en un momento donde las mujeres tenían un estatus legal inferior. Más tarde, en 1917, formó parte de la Secretaría de Educación, desde donde se impulsó la primera campaña de alfabetización, y participó también de las Misiones Culturales. ”

Para saber mais sobre essa incrível mulher, indico o artigo da Celeste
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