sobre Bete Coelho, os nuncas e um adeus!

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Ver a Bette Coelho nos teatros foi uma das coisas mais emocionantes que me aconteceu nestes 368 dias em que me encontro morando em São Paulo. Ainda bem que a sala estava bem escura, assim ninguém me viu derramar umas lágrimas quando ela entrou em cena. Eu estava sentada na segunda fileira, bem pertinho dela e vê-la me levou a tantos lugares da memória que é difícil recontar. Como nos dias em que eu saía da Faculdade de Direito da UFMG e passava em frente ao Palácio das Artes a caminho do ponto de ônibus, pensando: “Poxa, ela também deve ter caminhado por aqui”. Eu passava naquele lugar, sonhando com a possibilidade de um dia ela voltar para apresentar uma de suas peças. Isso não aconteceu (ou se aconteceu, se ela voltou, eu não fiquei sabendo.).

Então, eu acompanhava tudo a distância. Atualizada com todas as peças, lendo e vendo os vídeos. Cara, a ideia de ver a peça dela era tão distante. Quando eu iria para São Paulo¿ Onde eu dormiria¿ Ficaria lá, assistiria uma peça e voltaria pra MG¿ Eu não tinha nem 18 anos meu Deus, minha mãe não permitiria. Ainda mais em São Paulo, tão violenta! Chegaria aqui e levaria um tiro na testa. Eu morava numa roça, interior de Nova Lima… dá um desconto.

O fato é que, das ironias do destino, me mudei para São Paulo para estudar na USP e só assim tive o prazer de vê-la. E a vi num momento muito especial, dois dias depois de completar um ano morando aqui… longe da família, dos amigos. Foi um presente, de verdade, algo que melhorou meu astral em 100%. Então eu chorei mesmo, chorei antes de ela pronunciar uma palavra. Chorei ao vê-la atrás das cortinas enquanto observava seu terno e sua gravata.

Eu acabei de chegar em casa, moro quase do lado do teatro. Fiquei com muitas impressões desse dia, tantas que a cabeça chega a doer. Talvez seja de frio, de fome, de cansaço, de felicidade (ou tudo junto). A peça começou pontualmente às 20h, mas quando cheguei lá (e pasmem) às 17h30, já havia uma fila. Então eu fiquei com medo de sair para comer e perder o lugar e fui ficando, até que a noite chegou, com um clima absurdamente frio (estamos em maio).

Agora que eu reli tudo o que acabei de escrever me sinto mais idiota que o normal, e olha que eu não falei nem metade do que queria. Eu não quero que vocês pensem que sou uma daquelas lunáticas piradas, obcecadas com atores. Não, pelo amor de Deus! (Quer dizer, sou mais ou menos, HAHA). Mas é que a emoção foi a mesma quando vi a Gal Costa pela primeira vez, ou a Jessica Lange. Já contei essas experiências por aqui e é exatamente assim, com cada uma delas há uma história (minha, muito particular), que vou carregando ao longo dos anos.

Na minha memória Bette surge em Éramos Seis. Eu era bem, bem, bem pequena quando assisti a novela, mas lembro de muitas coisas, especialmente do cabelo dela. Que era o mais lindo de todos (cara! Eu cheguei a fazer um corte igual, muitos anos depois. Mas a no meu rosto, extremamente redondo… aff! Ficou horrível!). Depois eu revi a novela e ela era feminista!! Cara, é muito louco como eu me identificava com o que ela dizia, sem saber muito bem do viés acadêmico e político do movimento como sei hoje.

Mas, fugindo do bla bla bla, voltamos ao teatro. Só posso dizer que eu fiquei a observando, encantada com o domínio do palco, do texto! Encantada com a sua voz, com seus olhos (que estavam meio avermelhados), com a pele e com a coragem de enfrentar aquela plateia, fria, crítica Uma vez a Gal Costa deu uma entrevista para a Marília Gabriela dizendo que o público brasileiro aplaudia pouco. Olha, eu não sei se é verdade, mas se for pra comparar (pelo menos, com as experiências básicas e nada técnicas que eu tive), o povo mineiro bate mais palma do que o povo paulista. Que trem doido, sério. O povo aqui parece que tem pressa pra tudo, é metrô, é ônibus, é serviço… eles correm muito (e não percebem que correm). E batem poucas palmas.  Eu queria ficar lá, continuar batendo palmas, mas o povo saiu e eu fiquei com vergonha, então fui embora também. Mas fui embora pensando: “covarde, covarde! Você devia ter ficado e aplaudido mais”.

Tenho um diário antigo; eu escrevi ele com 18 anos. Passaram-se 7 anos,  guardo até hoje (e quando voltar pra MG, vou tirar uma foto e colocar aqui, de prova). As duas primeiras páginas possuem duas fotos ENORMES da Bete, desta peça e que eu provavelmente tirei de alguma revista (revista que provavelmente roubei em algum consultório, porque a gente, lá em casa, quase não compra nem assina. Leia-se: “Nunca, nunca mesmo”). Numa ela esta feminina, com uma roupa preta (como de costume). Na outra ela está de terno… e eu escrevo embaixo algo como: “Gostaria de assisí-la, mas isso nunca vai acontecer”. Minha mãe está certa, “Nunca diga nunca”.

ACHEEEEEEEEEEEEEEEEI kkkkk

olha

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Hoje foi um dia incrível.

Obrigada São Paulo, Obrigada Bete.