Dia: 15 de Maio, 2016
Lótus
Eu esperei muitíssimo para ver Lótus (de Cristiano Trein), um curta metragem brasileiro, produzido em 2006. O lance é que o Porta Curtas é um site com um acervo sensacional, mas que nem sempre funciona (o que é muito irritante!). Foram anos procurando pelo vídeo até que, depois de uma longa pesquisa, o encontrei no Vimeo.
O filme é protagonizado por Bete Coelho (que por sinal, ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado) e Marcello Antony, os dois dão vida à Letícia e Fábio… um casal em crise. Fábio morre de ciúmes de Letícia e possui devaneios com a possibilidade de ser traído. Letícia, por outra lado, possui uma frieza em relação ao marido e tenta, de todas as formas, alimentar seu desejo sadomasoquista. Acredito que daí venha o nome do curta, todo mundo sabe que a flor de Lótus é considerada sagrada em algumas culturas, que significa pureza. O que nem todo mundo sabe é que a água que acolhe a planta normalmente é associada ao apego e aos desejos carnais.
Li muitas resenhas relacionando o filme a uma história picante e sexy. Não sei se é viagem, mas consegui perceber um tom romântico, meio de amor não correspondido. Claro, há uma sensualidade evidente, mas há uma trama muito mais cruel e profunda por trás disso tudo. – Antes de qualquer coisa, eu achei que a Bete ficou perfeita para o papel, e é por causa dela que queria tanto assistir o filme. Ela me parece ser consciente de sua imagem e segura do que quer, tranquila para conversar sobre sexualidade sem julgamentos, sem tabus. Vejo uma força nela, algo que não me soa forçado…um pouco parecido com o que a Marisa Paredes tem.
Em Lótus, Fábio persegue Letícia quando ela sai do trabalho e a encontra transando com outro homem. Antes disso, no dia anterior, sonhara que a matava no estacionamento do prédio. A perseguição vai ficando mais densa quando ele descobre que ela frequenta uma casa de sadomasoquismo, daí decide transar com outra mulher (talvez por vingança, por vontade ou para provocar ciúmes na esposa). Todo o filme e o jogo de gato e rato entre os dois me pareceu muito cruel, deve ser um inferno viver um relacionamento em que não se tem confiança no outro e que ainda, se disputa algo que não deve ser disputado. Há solidão demais entre os dois, um distanciamento absurdo. O masoquismo está ali, em um fazendo o outro sofrer emocionalmente.
Uma das minhas maiores referências cinematográficas sobre sadomasoquismo é A professora de piano, com a Huppert. Acredito que, mesmo não sendo tão profundamente abordado, Lótus se assemelha com o filme quando quebra alguns estereótipos por apresentar uma mulher comum, sadomasoquista. Nenhuma das duas personagens faz o tipo daquelas gostosonas, peitudas e com saltos altíssimos que ficou tão colado a nosso imaginário através da Bettie Page…
O evangelho segundo o Filho
Este é um dos livros que mais gostei de ler nos últimos tempos, fiz um mergulho em cada uma das páginas e me emocionei muitas vezes. Li uma crítica sobre ele na Folha de São Paulo que, resumidamente, dizia que a obra foi escrita de maneira superficial demais. Talvez tenha sido exatamente isso que me conquistou, a leveza do texto, a dinamicidade da história, o fato de ser uma literatura descomplicada e a abordagem sobre o lado humano do personagem principal: Jesus Cristo.
O livro possui passagens conhecidas, mas é escrito em primeira pessoa e apresenta um Jesus muito mais palpável, verdadeiro, com dúvidas, dores e tristeza…e muita bondade. Nos capítulos inciais Jesus ainda é um adolescente, mas percebe que há algo errado (ou melhor, diferente) em sua família: que seu pai e sua mãe escondem algum fato. Sua educação é rígida e ele passa os dias com seu pai, José, um homem honesto e muito sério, que o ensina a ser carpinteiro. Maria é um personagem importante, mas que aparece pouco e em momentos fundamentais, gosto da visão dele sobre as mulheres e o respeito que elas lhes transmitem.
O livro me remeteu à muitas histórias que ouvi quando criança, especialmente na minha escola (muito católica). Mas, foi como ver o outro lado da moeda e perceber em Jesus um ser muito mais caridoso e amoroso do que há anos e forçosamente me foi ensinado.
O batismo, os milagres, as escolhas dos discípulos, o encontro com Maria Madalena….As duas passagens que mais gosto mostram que Jesus, ainda que tenha tido medo, nunca duvidou de Deus ou deu um passo em falso. Por exemplo: sua insegurança em falar para aquela multidão o fez rezar muitas noites, até que pudesse ter coragem de fazê-lo e quando o fez, o fez muito bem. Ou… sua certeza de que um de seus discípulos o trairia e ainda assim, os amou e lhes passou seus conhecimentos.
É um livro lindo, que me encheu de esperança e me fez relembrar a importância do amor, da compaixão. Recomendo muitíssimo!
Sobre Norman Mailer, o autor:
Nascido em 1923 em Long Branch, Mailer foi um dos nomes do Novo Jornalismo (uma vertente da literatura de não-ficção, enraizada na grande reportagem.) Vencedor de dois prêmios Pulitzer e autor de obras polêmicas (como “Os nus e os mortos”, 1948 e “A canção do carrasco”, 1979). Quando jovem, iniciou seus estudos em engenharia aeronáutica em Havard e enveredou-se pelo mundo da comunicação ao ser convidado a participar de um jornal universitário. Um de seus livros mais vendidos foi “Marilyn: uma biografia”, onde o jornalista dizia que a atriz fora assassinada pela CIA e pelo FBI e que teve um caso com o senador Robert Kennedy. Mailer morreu em 2007, aos 84 anos por problemas pulmonares.