Eu esperei muitíssimo para ver Lótus (de Cristiano Trein), um curta metragem brasileiro, produzido em 2006. O lance é que o Porta Curtas é um site com um acervo sensacional, mas que nem sempre funciona (o que é muito irritante!). Foram anos procurando pelo vídeo até que, depois de uma longa pesquisa, o encontrei no Vimeo.
O filme é protagonizado por Bete Coelho (que por sinal, ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado) e Marcello Antony, os dois dão vida à Letícia e Fábio… um casal em crise. Fábio morre de ciúmes de Letícia e possui devaneios com a possibilidade de ser traído. Letícia, por outra lado, possui uma frieza em relação ao marido e tenta, de todas as formas, alimentar seu desejo sadomasoquista. Acredito que daí venha o nome do curta, todo mundo sabe que a flor de Lótus é considerada sagrada em algumas culturas, que significa pureza. O que nem todo mundo sabe é que a água que acolhe a planta normalmente é associada ao apego e aos desejos carnais.
Li muitas resenhas relacionando o filme a uma história picante e sexy. Não sei se é viagem, mas consegui perceber um tom romântico, meio de amor não correspondido. Claro, há uma sensualidade evidente, mas há uma trama muito mais cruel e profunda por trás disso tudo. – Antes de qualquer coisa, eu achei que a Bete ficou perfeita para o papel, e é por causa dela que queria tanto assistir o filme. Ela me parece ser consciente de sua imagem e segura do que quer, tranquila para conversar sobre sexualidade sem julgamentos, sem tabus. Vejo uma força nela, algo que não me soa forçado…um pouco parecido com o que a Marisa Paredes tem.
Em Lótus, Fábio persegue Letícia quando ela sai do trabalho e a encontra transando com outro homem. Antes disso, no dia anterior, sonhara que a matava no estacionamento do prédio. A perseguição vai ficando mais densa quando ele descobre que ela frequenta uma casa de sadomasoquismo, daí decide transar com outra mulher (talvez por vingança, por vontade ou para provocar ciúmes na esposa). Todo o filme e o jogo de gato e rato entre os dois me pareceu muito cruel, deve ser um inferno viver um relacionamento em que não se tem confiança no outro e que ainda, se disputa algo que não deve ser disputado. Há solidão demais entre os dois, um distanciamento absurdo. O masoquismo está ali, em um fazendo o outro sofrer emocionalmente.
Uma das minhas maiores referências cinematográficas sobre sadomasoquismo é A professora de piano, com a Huppert. Acredito que, mesmo não sendo tão profundamente abordado, Lótus se assemelha com o filme quando quebra alguns estereótipos por apresentar uma mulher comum, sadomasoquista. Nenhuma das duas personagens faz o tipo daquelas gostosonas, peitudas e com saltos altíssimos que ficou tão colado a nosso imaginário através da Bettie Page…