Montserrat Caballé (não consigo parar de ouvir!)

85062345

A minha cabeça entrou em parafuso desde que a ouvi essa mulher cantar. De ontem para hoje, de repente, não consigo para de assistir os vídeos dela no Youtube ou de procurar por sua biografia. Eu já a conhecia há muito tempo, por causa da música “How can I go on”, cantada por ela e pelo Freddie Mercury, mas nunca parei para repará-la. Lembro que eu amava dirigir pelas estradas de Nova Lima com essa música no volume mais alto, enquanto eu fingia ser a Montserrat e o seu amigo, Leo, fingia ser o Freddie Mercury.

Enfim… ontem fiquei alucinada pela capacidade vocal dessa mulher, pelos seus movimentos no palco e fiquei reparando até na forma em que ela mexia a língua em determinado momento da canção, resumindo: pirei. Fiquei encanta por sua força, por sua beleza e por sua segurança. Infelizmente encontrei poucos textos sobre ela, mas li algumas coisas que valem ser compartilhadas. 

montserratcaballe_0

Montserrat nasceu em abril de 1933, é considerada uma das mais famosas cantoras líricas de todos os tempos.  Originou-se de uma humilde família espanhola. Aos onze anos entrou para o “Conservatori Superior de Música del Liceu”, em Barcelona;  lá iniciou seus estudos em canto. Formou-se em 1954 sendo eleita uma das melhores alunas. O início de sua carreira foi modesto, mas ela já chamava atenção por escolher repertórios pouco frequentes para cantoras espanholas, como Mozart e Strauss. Em 1965 sua vida deu uma guinada, parece até coisa de filme, mas ela estava no Carnegie Hall quando teve que substituir Marilyn Horne na ópera Lucrezia Borgia, de Donizetti. Horne sentia-se mal, então… Montserrat assumiu o seu lugar naquele dia. Sua atuação lhe rendeu 25 minutos de aplausos ao término de uma representação e um dos mais importantes críticos nova-iorquinos titulou lhe deu o apelido “Caballé” (Callas  + Tebaldi).

“A partir desse momento, Caballé ficou conhecida como uma das grandes divas da ópera mundial e a fama lhe gerou vários anos de teatros lotados para assistir às suas apresentações. Hoje tem em discos uma variedade enorme em estilo e repertório que estão em mais de 130 gravações”

*Além de suas línguas maternas (catalão e castelhano), ela também fala alemão, francês, inglês, português e italiano perfeitamente.

*Durante o século XX, somente um pequeno número de cantoras foi capaz de desempenhar o papel de Norma (de  Vincenzo Bellini) com sucesso: Rosa Ponselle, no início da década dos anos 1920, depois Joan Sutherland, a partir da década de 1960, Montserrat Caballé e Maria Callas.

*Recentemente (no ano passado) ela foi condenada a meio ano de prisão por fraude fiscal. De acordo com a matéria publicada em O Globo: “Segundo a acusação da promotoria de Barcelona, Montserrat “solicitou que diversos shows realizados no exterior, em 2010, fossem pagos a uma empresa em Andorra, como se tivesse residência nesta país, quando, na verdade, vivia em Barcelona”. No último mês de maio, a soprano já tinha devolvido, na íntegra, o valor reclamado pelo fisco. Segundo o portal espanhol “El País”, fontes próximas a cantora relatam que, por conta da idade avantajada, o estado de saúde de Montserrat não é bom. Ela praticamente não sai de casa e o problema judicial teria abalado ainda mais sua condição. Em 2012, ela sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) durante uma visita a Rússia”

A história de uma vaca rebelde

Livro-–-Holy-Cow-Uma-Fabula-Animal-David-Duchovny-6995203

Confesso que há muito não lia algo tão criativo e divertido. O livro é narrado em primeira pessoa e não tem compromisso nenhum com a realidade. A personagem principal, Elsie Bovary, é uma jovem vaca acostumada com a vida calma no pasto  e cheia de inquietações. Dentre inúmeros pensamentos, ela sempre se pergunta sobre o desaparecimento de sua mãe. Um dia, ela resolve se aproximar da casa dos humanos, donos da fazenda, e percebe que todos eles ficam horas vidrados em suposto deus que vive numa caixa. A caixa é uma TV e ao observá-la descobre que há uma série de possibilidades, culturas e crenças que vão além daquele pequeno mundinho em que vive. Mesmo com toda inverossimilhança, a narrativa construída por David Duchovny é tão encantadora que você se deixa levar e a tradução é tão perfeita que as pequenas piadas escondidas no texto não perdem o sentido. Duchovny é um ator hollywoodiano e sua experiência provavelmente o ajudou a escrever um livro quase como um pequeno roteiro, cheio de diálogos e passagens divertidíssimas.

Amor a toda prova

filmes_9186_Amor a Toda Prova03

Kathy Bates é uma das atrizes americanas que mais me inspira, eu sempre fico me perguntando sobre como ela conseguiu se sobressair num ambiente que valoriza tanto a magreza. Acho que não só o conseguiu por seu talento, identifico uma coragem e uma autenticidade na personalidade dela. Então eu sempre assisto seus filmes cheia de admiração e respeito e de certa forma, me emociono com os trabalhos mais singelos.  Amo mais ainda quando ela interpreta papéis de mulheres comuns, donas de casas desiludidas que sofrem uma reviravolta na vida, como nesse filme,  uma delícia de comédia! Acho que quando esses personagens são interpretados por um atriz como Bates, que foge dos esteriótipos, eles se tornam mais verossímeis.

Amor a toda prova é um filme descompromissado, engraçadinho e açucarado. Uma ótima opção quando não se tem nada para fazer ou quando se quer melhorar o astral. O filme conta a história de Grace, a fã número um do cantor Victor Fox. Ela vê seu mundo desmoronar quando ele é assassinado misteriosamente.  Grace não tem um casamento feliz e convive com sua nora, uma mulher extremamente inteligente e independente  que sofre inúmeros preconceitos pofilmes_9186_Amor a Toda Prova04r ser anã. As aventuras dessa mulher se iniciam quando ela resolve prestar suas condolências à família de Victor e sem querer descobre que o cantor assassinado era gay e que se esposo (mal humorado e depressivo) vive em sua casa.

Os dois se estranham de início, mas se comprometem a encontrar o responsável pelo assassinato de Victor. Daí começa uma jornada cheia de momentos engraçados e emocionantes, principalmente porque Grace tinha a imagem do artista, enquanto Dirk (o esposo de Victor) o conheceu como ser humano normal, cheio de defeitos como qualquer outra pessoa.  O jeitão do Victor Fox, interpretado por Jonathan Pryce me lembrou muito o Liberace, sabe? Eu achei sensacional.

346dae997871fefa3e3f3702d85def5b

Estou há meia hora na frente do computador, deitada de bruços, debaixo das cobertas e num quarto parcialmente bagunçado, tentado iniciar um artigo sobre simulacro e simulação, exigido pelo professor da faculdade. O fio de partida é um livro de Jean Baudrillard que me fez sentir mais burra do que o normal e que li mais de três vezes, insistindo numa coisa que eu não sei se ainda entendi. Em suma, segundo o livro, a realidade não existe e vivemos a cópia da cópia, o simulacro são signos sem vínculos com o real e a simulação recupera o conceito de mimese de Platão. No meio dessas informações frias e complexas, eu me sinto frustrada porque ao invés de esquentar meus poucos neurônios numa coisa que simplesmente não entra na minha cabeça, eu poderia estar agora terminando de ver a quarta temporada de Orange is the new black ou os inúmeros episódios de Master Chef que perdi. Esperei esse sábado loucamente durante a semana e fiz vários planos como arrumar o cabelo, passear pela Sé e ir ao Centro Cultural do Banco do Brasil assistir uma peça de teatro. Esse frio deprimente e um sono acumulado não me permitiram sair da cama e só tive coragem de levantar à 17h30, com os olhos inchados e com o cabelo sem escova, todo para o alto. Sem chance de preparar um almoço, foi miojo mesmo e um hambúrguer congelado da Sadia, que já vem com pãozinho e um queijo meio estranho… ou seja, um sábado deprimente. Daí ao invés de escrever o artigo, que precisa ficar pronto hoje, eu começo a escrever esse texto sem pé nem cabeça e que provavelmente não vai me levar a lugar algum e que ninguém vai ler, um alívio. Eu gostaria de estar no cinema agora, assistindo a um filme bem engraçado, junto com minhas amigas. Depois iríamos para casa, compraríamos um refrigerante, um chips e um doce e ficaríamos lembrando os tempos da escola, falando de alguns professores e colegas, comparando a vida deles e a nossa… tipo, João se casou e Ana já tem dois filhos. Tô me sentindo estranha hoje, mais depressiva e reflexiva do que o normal. Estou fazendo um exercício, que é muito difícil e que me ajuda a levar os dias. Eu tento não pensar muito naquilo que me incomoda ou que me deixa triste, parece bem idiota, mas até que funciona. Eu começo a pensar e logo penso que não posso pensar e aí penso em outra coisa. Eu li uma frase em algum lugar por aí e que faz todo sentindo: “depressão é um excesso de passado e ansiedade é um excesso de futuro”. O presente também estava nessa frase, mas eu esqueci o que o excesso de presente significa. Estava pensando que se eu pudesse escrever um livro ele se chamaria “Flores Colombianas para Brasília”, eu vi essa frase em algum lugar há muitos anos e ela não saiu da minha cabeça. Eu tenho o título, mas não tenho uma história. Quer dizer,tenho uma ideia do que aconteceria no final, com certeza algum tipo de canibalismo… como em Titus de Shakespeare ou em O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante. Esse título é genial é? Eu acho o Peter Greenaway muito foda. Meu primo me pediu a indicação de um livro essa semana, não sei porque, mas o primeiro que me veio em mente foi Ensaio sobre a Cegueira. Ele disse que começou a ler, que gostou e que não dá vontade de parar. Daí falei para ele repara na ausência de pontuação e no fato de que os personagens não tem nome, nenhum deles… como se o autor, Saramago, quisesse fazer com que o leitor também ficasse um pouco cego. Estou com saudade da minha família, sinto isso todos os dias. É, não sei… hoje eu tô estranha cara.

Amor, sexo, culpa e traição… que livro bom!

820966

Fernando Sabino é um dos autores brasileiros que, no momento, mais desperta o meu interesse. A verdade é que eu gostaria de ter lido mais de seus livros. Há algumas semanas terminei de ler A Faca de dois gumes e enquanto lia, mergulhei em cada um dos contos, cheios de sensualidade, humor e suspense. Sabino é um escritor belo-horizontino, nascido em 1923; fez parte do Grupo Mineiro, liderado por Carlos Drummond de Andrade e Martins de Almeida. Seu conto de estréia foi Os grilos não cantam mais, de 1941.  Dentre as suas obras mais famosas estão O homem nu (de 1960) e o Grande Mentecapto ( de 1979).

O livro reúne uma trilogia, histórias independentes (e escritas em momentos diferentes da vida do autor) que narram três crimes. Em suma, todas as histórias possuem uma forte relação com o  amor e com os sentimentos de culpa e dúvida. De todos, gostei mais do segundo… uma espécie de quebra cabeça que me encantou pela genialidade da narrativa e pelos encontros e desencontros dos personagens.  Nessa história, chamada “Martini Seco”, um casal entra num bar e começa a discutir. Ele vai ao banheiro e ela ao telefone. Os dois voltam à mesa, ela toma um gole da bebida e cai fulminada. A polícia acredita que ele a matou, enquanto ele jura que enquanto estavam discutindo, ela tinha ameaçado se matar. Ou seja, o que aconteceu naquela cena, um assassinato ou um suicídio?

O primeiro dos contos possui inspiração na obra machadiana Dom Casmurro, “O bom ladrão” conta a história de um cara que se apaixona por uma mulher de comportamento duvidável, ela é uma ladra que não não mostra arrependimentos de seus crimes (na verdade, pequenos furtos, digamos…crimes sutis). O problema é que o amor que ele sente por ela  é tão grande que o faz cúmplice e às vezes, até mesmo responsável por alguns delitos.  A terceira história é sensacional, é ela que dá nome ao livro e que posteriormente inspirou o filme  de Murilo Salles, de 1989. Um advogado leva uma vida perfeita junto ao filho e a esposa. Um dia, descobre que ela o trai e enfurecido, decide assassiná-la. O plano é brilhante, o crime é perfeito… mas uma reviravolta inesperada acontece e sua vida se torna um inferno.

Mergulhei nessas histórias, alucinada para descobrir a resolução de cada um dos crimes. Histórias inteligentes, diálogos dinâmicos e muito humor negro. Uma delícia de livro!

A melancolia de Pandora

A_melancolia_de_pandora__Jennifer_Glass_1-768x609

Nessa semana fui na pré-estreia de “A melancolia de Pandora”e saí de lá numa bad inexplicável. A peça conta a história de uma mulher depressiva que mergulha em suas memórias e alucinações. Ela quase nunca sai da cama e é observada de perto por três figuras: um anjo, por Doutor Rudolph Ahrisman, que se diz um libertador da mente humana e por Max (mordomo de Ahrisman). A todo momento, os pensamentos, as lembranças e as ações dessa mulher são contestadas e analisadas pelos outros personagens, que aos poucos vão influenciando-a em seu comportamento.

Como disse em outros textos publicados por aqui, poder ir a uma peça dessas me emociona muito; por diversos motivos. O principal deles é uma sensação que não pode ser materializada, é o efeito de uma mudança que tem impactado a minha vida em muitos sentidos e que me distancia das pessoas que mais amo, ao mesmo tempo em que me aproxima das coisas que mais admiro. É uma alegria que me cura a dor da distância,  um   momento que me faz acreditar que essa saudade enorme que sinto, tem um sentido… quero dizer, “um dia essa dor será útil”.

A_melancolia_de_pandora__Jennifer_Glass_3-768x512

Saí da peça muito confusa, com mais perguntas do que respostas. Cheguei em casa e precisei ler bastante para me localizar e entender o que se passou. Depois tudo fez sentido. Eu fiquei mesmo foi maravilhada com as músicas  e com o cenário que  se misturava com os atores como numa dança e ganhavam vida. A cama com rodinhas levada de um lado para o outro, o quarto que se movia e a luz que entrava pela janela criando sombras incríveis. E a roupa da mulher melancólica, um vestido que se parecia com uma camisa de força.  Eu fiquei pensando na genialidade de quem criou tudo isso e no trabalho que deve ter dado.

Como eu disse, eu fiquei bem confusa… mas saí da peça com uma sensação terrível. De tudo o que consegui entender na hora, o que mais me marcou foi o lance da “Esperança, esperança, esperança”, isso me fudeu. [Eu explico melhor no próximo subtítulo]. Outra coisa, toda hora que eu olhava para a mulher apática e a via com aqueles ombros caídos, e com os olhos meio perdidos, desanimados… eu ficava “o que isso quer dizer meu Jesus?”, daí fui ler sobre a melancolia e achei a representação tão, tão, tão perfeita! [Li um texto que relacionava a melancolia à Madame Bovary, de Flaubert].


Pandora, a caixa e a esperança (um resumo do resumo)

pandora

Depois da peça, a primeira coisa que fui ler foi sobre  Pandora (eu precisava comprovar se o lance da esperança era o que eu tinha entendido… e era). O mito é desencadeado com o roubo do fogo por Prometeus. Antes, o mundo era povoado apenas por homens que não envelheciam, não se cansavam e não sofriam. Depois que Prometeus rouba o fogo dos deuses e o dá para os homens, Zeus se enfurece e promete castigá-lo.  Com a ajuda de Atena e Hefesto, cria uma mulher chamada Pandora (dotada de beleza e sedução, porém com a capacidade de mentir e enganar) e a oferece para Epimeteu (irmão de Prometeus). Ele se apaixona por ela e se casa. Pandora trazia consigo um jarro presenteado por Zeus e estava proibida de abrí-lo. Ela não resiste a curiosidade e o abre, liberando uma série de males que os homens até então desconheciam:  a doença, a guerra, a velhice, a mentira, os roubos, o ódio, o ciúme… Assustada, ela fechou a jarra tão rápido quando pode e lá só restou uma coisa: a esperança.

  • A esperança pode ser encarada como uma coisa boa ou ruim, pelo que entendi… Nietzsche (1844-1900) em Humano, Demasiado Humano, escreveu que “Zeus quis que os homens, por mais torturados que fossem pelos outros males, não rejeitassem a vida, mas continuassem a se deixar torturar. Para isso lhes deu a esperança: ela é na verdade o pior dos males, pois prolonga o suplício dos homens”.

Freud explica: O luto e a melancolia

Baixar-Livro-Luto-e-Melancolia-Sigmund-Freud-em-PDF-ePub-e-Mobi-ou-ler-online

Então eu pulei para a segunda parte, já tinha entendido um pouco o lance da esperança, mas não tanto o da melancolia.  Eu acompanho o site do Lê livros semanalmente, achei coincidência que há poucos dias compartilharam o livro “Luto e Melancolia” de Freud. Pensei, “Caralho, é disso que preciso!” Comecei a leitura com muito medo, imaginando que não iria entender nada, mas até que compreendi algumas coisas. Antes, eu tenho que reconhecer o meu apreço por quem o editou, pela introdução, pelas análises e pelo posfácio, que foram fundamentais para que eu conseguisse entender: A introdução foi feita por Marilene Carone e há outros três textos, feitos por Maria Rita Kehl, Modesto Carone e Urania Tourinho Peres.

Enquanto lia esse livro, flashes da peça voltavam a minha memória e tudo ia se encaixando. Especialmente a representação da mulher. Eu li este livro pelo celular mesmo e para vocês terem uma ideia, fiz 86 marcações.

O luto e a melancolia se assemelham em algumas situações, porém a melancolia vai um pouco além. Nos dois há a dor de perder um objeto, mas o melancólico não sabe muito bem o que perdeu.  O luto é a reação de perder uma pessoa querida ou de uma abstração que possa ser colocada no lugar dela (como um ideal, a liberdade, a pátria).Na melancolia há uma predisposição patológica, veja só: “A melancolia se caracteriza por um desânimo profundamente doloroso, uma suspensão do interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar, inibição de toda atividade e um rebaixamento do sentimento de autoestima, que se expressa em autorecriminações e autoinsultos, chegando até a expectativa delirante de punição”.  “No luto é o mundo que se tornou pobre e vazio, na melancolia é o próprio ego”.

-No  luto, a pessoa consegue pensar que está menos triste, consegue ir se desapegando do objeto perdido. Na melancolia, a batalha é mais acirrada em função da ambivalência, que pertence em si mesma ao reprimido.

a-melancolia-de-pandora-bete-coelho-djin-sganzerla-andrc3a9-guerreiro-lopes-e-ricardo-bittencourt-foto-jennifer-glassNa peça, a mulher sofre por perder alguém e sempre fala de um amor que viveu… mas fala desse amor de uma forma meio confusa, como se não soubesse muito bem como o perdeu. Ela também menciona os pais, representados  por dois bonecos, meio fantasmagóricos, que vivem em seu quarto (nossa, muito massa). O livro explica que a melancolia está muito relacionada aos sentimentos que o melancólico alimenta por outra pessoa, a quem o doente ama, amou ou deveria amar:

“Dessa forma, tem-se a chave do quadro clínico, na medida em que se reconhecem as autorecriminações como recriminações contra um objeto de amor, a partir do qual se voltaram sobre o próprio ego. A mulher que ruidosamente se apieda do marido por estar ele tão ligado a uma mulher tão incapaz, na verdade quer se queixar da incapacidade do marido, em qualquer sentido que esta possa ser entendida.” Para o melancólico, queixar-se é dar queixa: “Eles não se envergonham nem se escondem, porque tudo de depreciativo que dizem de si mesmos no fundo dizem de outrem.”

Daí surge uma reflexão muito interessante: o narcisismo dessa patologia. Freud trabalha muito com essa questão do ego e da libido.  Numa espécie de sadismo, o melancólico (numa tendência  ao ódio), tenta vingar-se do objeto amado através da autopunição,  “ele atormenta os seus seres amados através da condição de doente, depois de ter cedido à doença para não ter de mostrar diretamente a eles sua hostilidade”. “Freud estranha que falte ao melancólico o sentimento de vergonha comum aos arrependidos, aos que de fato se consideram indignos e sem valor. Se estes se escondem e tentam fazer calar sua culpa e seu crime, os melancólicos parecem sentir necessidade de alardear suas baixezas”.


Onde nos encaixamos nisso?

Stuart Hall explica: a identidade  cultural na pós modernidade

4

Ainda sobre Freud: ” Vem daí a importância do papel representado pelo melancólico, como um sujeito que teria perdido seu lugar no laço social e sente necessidade de reinventar-se, no campo da linguagem. Essa perda de lugar pode ocorrer quando o sujeito não se sente capaz de adaptar-se ás exigências do outro”

Acho que Stuart Hall pode entrar nesse tema quando trata da crise de identidade (tão normal em nossos dias, dessa nossa crise de não saber onde ir, da rapidez do dia-a-dia e da solidão que sentimos, nesse lance do sujeito perder os laços sociais: Ela caracteriza-se dessa forma: “perder o sentido de sí”. Deslocamento das estruturas e processos centrais da sociedade moderna. Abalo das referências que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social. As identidades modernas estão sendo descentradas, isto é: deslocadas e fragmentadas. “A identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando algo que se supõe como fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza” – Kobena Mercer

O caráter da mudança na modernidade tardia: A questão da identidade também está relacionada ao caráter da mudança na modernidade tardia, em particular, ao processo de mudança conhecido como globalização e seu impacto sobre a identidade cultural:  para Marx, a modernidade – [é o] permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de todas as condições sociais, a incerteza e o movimento eterno. Todas as relações fixas e congeladas são dissolvidas, todas as relações recém formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. “À medida em que áreas diferentes do globo são postas em interconexão umas com as outras, ondas de transformação social atingem virtualmente toda a superfície da Terra”

Os experientes e a bissexualidade na velhice

folhasdeoutono_site-crop

Quando “Os experientes” estreou na Rede Globo, eu estava em processo de mudança para São Paulo. Estava louca para acompanhar os episódios, mas cheguei aqui e não tinha nem TV e nem internet em casa. Na verdade, não tinha nem cama. Observação boba, mas primeiro dia nesta casa, exatamente no dia em que esse episódio foi transmitido, dormimos no chão (e sentimos muito frio!). Enfim… tempos depois encontrei todos os capítulos disponíveis na internet, e assisti um por um, matando uma vontade antiga.

Não poderia eleger um episódio especial, porque são todos lindos, bem feitos e cheios de poesia. A série tem muitos diálogos impactantes, umas imagens incrivelmente belas, atores sensacionais e uma direção impecável. Não sei se estou exagerando, sou só amores por essa produção.

4353209_x240

Escolhi comentar sobre Folhas de Outono, o último episódio da série. Na narrativa, Francisca (interpretada por Selma Egrei) acaba de perder o marido e descobre que foi traída por ele durante anos. Um dia, se encontra com uma vizinha, a Maria Helena (Joana Fomm) que acaba de perder a mãe. As duas se aproximam e começam uma amizade que termina em namoro. O que me encanta é a naturalidade em que esse namoro é tratado e me chama a atenção a falta de estardalhaço (como aquele que foi feito em relação ao beijo da Fernanda Montenegro e da Nathália Timerg).  Não acho que mudamos de lá pra cá, o que me leva a pensar que a série não teve a audiência devida e que o horário pode ter influenciado nesta questão.

O negócio é que a bissexualidade e a sexualidade feminina na terceira idade são vistas com certo incomodo, já reparam? Como se duas senhoras não pudessem mais fazer sexo ou qualquer outra coisa do tipo. E  tem todo aquele lance de culpa, de vergonha, de moral. A mulher é ensinada, desde sempre, a não demonstrar seus desejos, a não sentir prazer… Sabe, há algum tempo vi uma reportagem que dizia que a sexualidade na velhice está sendo repensada e que não é tão incomum encontrar por aí mulheres (de 60, 70, 80, 90…) que foram casadas durante anos e que depois de viúvas, começaram a se relacionar com outras mulheres. 

Na série, Francisca e Helena são mulheres com experiências muito diferentes, mas com sentimentos muito parecidos. Francisca teve filhos, vivia um casamento rotineiro e infeliz. Maria Helena não se casou, não teve filhos e passou a vida cuidando da mãe. Porém, as duas são solitárias, idosas e cheias de vida. Elas também possuem desilusões com homens (o que não encaro, de forma alguma,como um pretexto para a bissexualidade).

Captura-de-tela-inteira-16042015-200359.bmp

A mensagem que este episódio me passa é: a importância da redescoberta do corpo, a interação com o outro, a motivação de estar vivo e seguir em frente. A coragem de ser e viver o que se deseja, a percepção de que já não há mais tempo para se perder.

7804334e0ecb0750181e85106b44e006

Imagem salva de: drawingbalmy.tumblr.com

Oi, passei para saber se estão todos bem! Eu sinto uma falta danada de escrever por aqui e se pudesse o faria todos os dias. Nem sei se teria assunto. A vida por aqui está uma correria, e é só no fim de semana que tenho tempo (isso quando tenho) para sentar e escrever um pouco. Vocês não imaginam o quanto isso me faz bem.

A fenda do tempo

downloadPensei que este livro fosse uma narrativa de comédias para adultos, até começar a ler e ver que se tratava de um livro infanto juvenil. Poderia tê-lo abandonado, mas não consegui. Comecei a lê-lo hoje pela manhã e acabei de acabar a última das 202 páginas. Uma história muito gostosa, contata de um jeitinho que encanta. O livro foi escrito por Dinísio Jacob, escritor paulista, nascido em 1951. Ele trabalhou como roteirista para “O Castelo Rá-Tim-Bum”, “Glub-Glub”, “Cocoricó” e a “TV Cruj” (assisti todos quando criança). Terminei este livro pensando que daria um ótimo filme e que espero lembrar dessa história pra contar para os meus filhos.

O livro conta com dois personagens principais, a chinezinha Yeng-Cheng (uma espécie de secretária/doméstica que adorava varrer) e o Bildamaster, um linguista  (que falava com fluência dezenas de línguas). Os dois vivem em um casarão em São Paulo, um antigo instituto de pesquisas que está ameaçado por empreendedores que querem fazer do local um grande estacionamento (olha! me lembrei do castelo agora!!).  Antigamente o casarão era de propriedade de Dona Leocádia Laura, uma das únicas mulheres baronesas de café da época (poderosa!), um quadro com seu rosto fica exposto na parede principal da casa.

Bom, acontece que um dia um enorme buraco surge no quintal. O buraco é tão grande que seria possível passar um elefante, um rinoceronte (e ainda sobrar espaço). Do buraco surgem barulhos estranhos parecidas com vozes bem distantes e cavalos… Bildamaster, curioso que só, entra no buraco e vai parar na Inglaterra da Idade Média. Por outro lado, Dona Leocádia volta do passado e se depara com um mundo completamente novo.

Delícia de livro gente, eu amei a Dona Leocádia (que saiu de 1925) passeando pela Avenida Paulista e se surpreendendo com os carros, com a ausência dos casarões de seus amigos e com o metrô. Um livro inteligente e ao mesmo tempo, simples e cheio de aventuras para  encantar crianças inteligentes.