Quando “Mulher” passou pela primeira vez na TV eu tinha sete anos, o seriado foi transmitido entre abril de 1998 e dezembro de 1999. Na época minha mãe dava plantões noturnos e eu dormia na casa da minha avó. Aparentemente, ninguém vigiava os meus horários de assistir televisão, porque lembro perfeitamente que o programa era transmitido tarde da noite, nas quarta-feiras. Ambientado em uma clínica especializada em atendimento a mulheres, o seriado abordava diversos assuntos relacionados à saúde feminina como: aborto, abuso sexual, anticoncepcionais, casamento, doenças sexualmente transmissíveis, partos (e por aí vai…).Era pesado (pra minha idade), mas tinha uma linguagem muito interessante, diferente de tudo o que tinha assistido até então.
Eva Wilma interpretava Martha, uma médica ao estilo heroína que dividia os plantões com a Doutora Cristina, interpretada por Patrícia Pillar. Além de acompanhar o envolvimento das médicas com as pacientes, quase sempre com casos complexos e dramáticos, o espectador ainda tinha uma dose extra sobre a vida pessoal das personagens principais… as duas em vibes diferentes. Cristina, em sua juventude, enfrentava questionamentos éticos sobre a escolha da profissão e ainda tinha que se virar com um relacionamento super conturbado, uma espécie de namoro enrolado com Carlos, interpretado por Maurício Mattar. Martha, por outro lado, tinha uma voz mais forte e decisiva dentro do hospital, por causa de seus anos de experiência, Na vida íntima, convivia com o mesmo marido há anos, numa cumplicidade invejável. (O marido era interpretado por Carlos Zara e na época, eu não fazia ideia de que eles foram casados na vida real HAHA).
Não me lembro com exatidão dos episódios, nunca parei para assistir a série novamente (nem quando repetiu no Canal Viva), mas foi por falta de tempo mesmo. Recordo com exatidão que em determinada fase da série, a personagem da Eva Wilma descobre um câncer no seio e aquele sofrimento dela, diante da necessidade de fazer a retirada da mama, me matava. Lembro que tive uma conversa com a minha mãe na época (meu Deus, eu lembro muito disso!), porque eu não conseguia entender como seria essa “tal” retirada da mama. Não entrava na minha cabeça como aquilo funcionava.
Então, Martha foi um dos primeiros crushs que tive na vida, ainda que esse amor meio estranho, tenha sido um personagem fictício. Eu amava a força e a inteligência dela, que não dava o braço a torcer para o administrador do hospital (que por sinal, era um babaca corrupto), e sempre com muita clareza, falava sobre questionamentos femininos e tratava os pacientes com transparência. Era uma mulher inteligente, moderna e bem feminista. Recomendo muito a série, quem tiver a oportunidade assista pelo menos um episódio (depois vem me contar o que achou!), acho difícil não gostar…