Jean Baudrillard foi um dos principais teóricos da pós-modernidade; através de suas obras, o sociólogo e filósofo francês realizou um diagnóstico da sociedade contemporânea e profundas reflexões sobre a tecnologia e suas implicações.
Logo no primeiro capítulo do livro, “A processão dos simulacros”, Baudrillard afirma que: “Dissimular é fingir não ter o que se tem. Simular é fingir ter o que não se tem”. Para compreender essa afirmação, precisamos primeiro definir o que é simulacro e o que é simulação (e como se relacionam). Se fôssemos resumir, diríamos que a Simulação é a ação produtora de simulacros, isso porque na pós-modernidade os símbolos possuem tão ou mais eficácia que a própria realidade. A simulação é a ação e é dela que nascem os simulacros, eles são a cópia da cópia.
Parece complicado, né? Então, vamos detalhar mais um pouco:
Para o autor, a era da simulação não temp passagem pelo real nem pela verdade: todos os referenciais são liquidados como na Alegoria da Caverna, de Platão [Na história do filósofo grego, o ser humano toma como verdade algo que não é real.] Para Baudrillard não existe mais a simulação de um território ou de uma substância, o que acontece é a geração pelos modelos de um real sem origem: é o que chamamos de hiper-real.
Um exemplo que nos ajuda a compreender a hiper-realidade é a Disneylândia, um lugar repleto de jogos de ilusões! (O autor chama a Disney de “mundo infantil congelado”). Este mundo de fantasia já não se trata de uma representação falsa da realidade, mas da ausência da realidade:
“O imaginário da Disneylândia não é verdadeiro nem falso, é uma máquina de dissuasão encenada para regenerar no plano oposto a ficção do real. Daí a debilidade deste imaginário, a sua degenerescência infantil. O mundo quer-se infantil para fazer crer que os adultos estão em outra parte, no mundo real, e para esconder que a verdadeira infantilidade está em toda parte, é a dos próprios adultos que vêm aqui fingir que são crianças para iludir a sua infantilidade real. ” (BAUDRILLARD, P.21, 1981)
Outro exemplo interessante, que vai de encontro aos conceitos trabalhados por Baudrillard é o analisado por Beatriz Jaguaribe em “O choque do real” (2007).
No último capítulo do livro, intitulado “Bonecas hiper-reais: o fetiche do desejo” a autora afirma que as bonecas (inclusive as cibernéticas, ex: Lara Croft) colocam em xeque a vivência do real, substituem o contato om o outro e ainda reforçam a noção de beleza inatingível. São objetos que acentuam o efeito sedutor da imagem e inibem a irrealidade pois despertam uma certa ilusão passional:
“ O charme de sua irrealidade é o que nos cativa, porque representam algo mágico, a matéria inexistente que ganha vida e pulsação, o olhar insondável da esfinge que, entretanto, carece de mistério. Já outras bonecas são minunciosamente programadas para gerar ao máximo o efeito realista. São bonecas hiper-reais que demonstram tal nitidez no contorno e tal precisão de detalhes, que elas nos oferecem o assombro de um realismo que ultrapassa nosso realismo entrevisto a olho nu. Trata-se, sobretudo, de uma potencialização do olhar por meio da imagem cibernética. Entretanto, diversamente da imagem captada pela câmera fotográfica, essas figuras femininas não existem fora da tela, não possuem nenhum lastro com a vida real. São simulacros despidos do vestígio que tornam a imagem fotográfica um índice do mundo”. (JAGUARIBE. P. 211, 2007)
O fato é que cotidianamente sofremos com os efeitos da hiper-realidade. Vivemos em um momento em que existe cada vez mais informações e cada vez menos sentido.
Para Baudrillard três hipóteses poderiam justificar esse acontecimento e para ele, a última delas é a mais interessante. Ou a informação produz sentido, mas não consegue compensar a perda brutal de significado, ou a informação não tem nada a ver com o significado ou existe uma correlação rigorosa e necessária entre os dois na medida em que a informação é destruidora do sentido e significado – ou seja, a informação devora seus conteúdos quando em vez de produzir sentidos, esgota-se na encenação do sentido. Este é um dos efeitos dos mass media e de seu poder de manipulação das massas.
Quando falamos sobre informação, não podemos esquecer da potencialidade da internet, de sua importância midiática e do novo papel dos sujeitos. Pierre Levy, autor de “O que é virtual” (1996) evidencia a importância da digitalização da informação. Ele afirma que “o virtual é real, ele existe sem estar presente. Ele não substitui o real, mas multiplica as oportunidades”, e está diretamente ligado à cibercultura.
É ela que permite um tipo de tratamento de informação eficaz e complexo, impossível de ser executado por outras vias. Aliás, é um tipo de informação de processamento automático, rápido, preciso e feito em grande escala.
No mundo virtual, a interação artificial entre usuários ganha naturalidade, outras formas e sentidos. Este novo mundo é composto por personas midiáticas; avatares que lotam as redes sociais e chats e que representam seres humanos que simulam certas situações.