Como muitas pessoas, não sou fã de filmes românticos, mas gosto bastante de filmes inteligentes. Assisti “A forma da água” no cinema, num momento em que estava bem sensível emocionalmente. Confesso que este não é um filme que assistiria de novo, ainda que tenha me causando um impacto pelo detalhamento técnico e cenas bem elaboradas.
Num brevíssimo resumo, o filme conta a história de Elisa (interpretada pela incrível Sally Hawkins), uma mulher muda, que trabalha como zeladora num laboratório experimental secreto do governo. Ela acaba se envolvendo/apaixonando por uma criatura fantástica, que encontra-se presa no laboratório e sofre diversas torturas.
A criatura é uma espécie de peixe, digamos… Elisa embarca, então, num projeto de resgatá-lo e devolvê-lo para o seu habitat.

P.S. A primeira cena do filme é tão foda (eu não consegui achar outro termo), que é difícil não ficar de queixo caído com essa produção. Imagino o trabalhão que deve ter dado, colocar a atriz deitada no sofá, submergindo aos poucos e junto dela, todo o cenário.
[Enfim… ainda que o filme me cause certo estranhamento, existem dois pontos que me agradam muito na história e me fazem notá-lo com bastante admiração.]
- A reinterpretação do amor romântico
O filme possui tantas alegorias, que provavelmente seria um bom tema para um artigo científico. Mas não é preciso ir muito longe para identificar o que mais me agrada na trama: a referência aos estranhos, que se reconhecem e que não se encaixam socialmente. A beleza do amor das duas figuras é que elas sabem das imperfeições um do outro e, mesmo assim, se aceitam e se amam.
Elisa é uma mulher pouco atraente, de classe baixa e muda. A criatura… bom, não é preciso dizer muito. E mesmo diante das diferenças, estão juntos por um amor extremamente puro. As duas figuras são metáforas claras às pessoas que não estão dentro do padrão social, tão conhecido por aí. E, o mais importante: ainda que não sejam perfeitas, possuem um encantamento único: Elisa é extremamente inteligente e sensível e a criatura possui o poder de cura.
Há ainda a naturalização desse sentimento, a perspectiva de que o amor, quando realmente correspondido, não precisa ser sofrido. Existe uma confiança entre eles que resiste à inúmeras barreiras: aos militares, às condições físicas, etc…
- A comunicação não verbal
A comunicação não verbal é talvez um dos pontos altos do filme, que quebra a narrativa fílmica convencional. Mas, além da questão técnica, existe a subjetiva. Nós estamos tão acostumados a viver em um bolha repleta de informações rápidas e cada vez mais sem profundidade, que acabamos nos esquecendo do básico.
O filme fala bastante sobre solidão, que acomete a contemporaneidade sem nenhuma dó. Estamos cercados de redes sociais, de jornais digitalizados, de imagens. Mas, o quanto estamos realmente nos comunicando e nos conectando com as outras pessoas? Nesse sentido, a ausência da voz dos personagens é exatamente o clímax da sintonia que existe entre eles. Algo bem bonito e poético de se observar…
Bom, espero que tenha gostado desse texto rápido.
E, se não assistiu ao filme, não deixe de vê-lo.