[Harlots] A segunda temporada está sensacional!

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Harlots é uma das melhores séries que assisti nos últimos tempos e, ainda que já tenha feito um post sobre o tema por aqui, acho importante reforçar a ideia: a segunda temporada foi lançada há algum tempo (e está ainda melhor). A rivalidade entre as duas cafetinas, Margaret Wells e Lydia Quigley tornou-se mais forte e sangrenta, e novos personagens chegaram para apimentar a situação. A produção tem um quê bem especial, com figurinos e cenários impecáveis. Além disso, a feminilidade é retratada com uma complexidade justa ao tema, com pautas bem atuais sobre gênero, maternidade e sexualidade basta uma simples analogia.

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Harlots

Existe todo um toque de rivalidade (e empatia), que ficam ainda mais interessantes com o humor negro existente nos episódios. E o mais legal de tudo (gente, eu tô fazendo uma propaganda para a série mesmo!) são as nuances de cada personagem, que carregam inúmeros segredos consigo. Ao mesmo tempo em que essas mulheres possuem uma sensualidade latente, há um controle social bem obscuro, que as marginaliza e as força a “dar um jeitinho para tudo”.

A segunda temporada conta com a participação da Liv Tyler, que está absurdamente encantadora! A atriz dá vida à Lady Izabela, um personagem que trilha um caminho bem interessante pela série. Em princípio não sabemos muito bem o motivo da sua relação de dependência com o irmão mais velho e, logo vamos presenciando a sua “revolta”. Além disso, ela desenvolve algumas interesses homossexuais (digamos, tsc tsc), que a deixam menos insegura.

Cabe, ainda, evidenciar a magnitude da Samantha Morton, que impõe uma densidade dramática à série, fazendo com que pequenas cenas se tornem grandes. Confesso que derramei algumas lágrimas quando ela apareceu em tela…

Recomendo a série fortemente! 🙂

Para Niobe: o meu amor infinito

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A ficha ainda não caiu e pode ser que demore bastante. A notícia de que você se foi não me pegou de surpresa, pois já estávamos acompanhando o seu desgaste físico e mental há algum tempo. O que mais me preocupa (no momento) é a sua ausência: eu sei que vou sentir muita saudade e que ninguém nesse mundo tão enorme, vasto e complexo, poderá te substituir.

Quando eu era pequena tinha muito medo da sua morte, vivia apreensiva ou ansiosa. Você passou por tanta coisa, TANTA COISA, que é difícil explicar para os outros o quão forte você foi. Anos atrás escrevi esse texto para você, relembrando um pouco da sua trajetória e da influência que teve e terá sobre a minha vida. Se uma pessoa “me conhece” e nunca me ouviu falar de você, é porque não me conhece de verdade. Porque de você, eu tinha (e tenho) um orgulho tão grande, que se deixarem, passo horas falando…

Eu, que sempre fui de escrever muito, não consigo pensar em nada além de: “eu te amo, eu te amo, eu te amo”. E, sinto que você está bem, onde quer que esteja. Você só deixou coisas boas aqui, divertiu muita gente, ajudou muita gente também.. e me ensinou a ser uma pessoa melhor. Vou sentir tanta saudade, Vó!

[Madame Bovary] Um dos meus livros favoritos

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Ao longo da existência desse blog, já fiz incontáveis postagens sobre “Madame Bovary”, obra francesa, escrita por Gustave Flaubert e publicada em 1856. No entanto, nunca falei do encantamento que tive pela história, aos quinze anos, e de como essa narrativa, à época, me inspirou em muitos sentidos. 

Emma Bovary é uma mulher repleta de sonhos, mas presa à um casamento infeliz, ela é casada com Charles, um médico com uma vida financeira razoavelmente tranquila,  sem muitos luxos. Mas a monotonia da vida conjugal e a ausência da magia (que ela lia tanto nos livros), a faz querer ir em busca de uma vida mais livre. Nem mesmo a maternidade a faz sentir completa — a filha de Emma, Berthe (ou Berta), é apenas uma menina comum, sem encantamentos. Emma,  mergulhada em sua melancolia, acaba se aventurando no mundo do adultério, em busca de um amor verdadeiro, que a satisfaça e que permita que ela “seja ela mesma”. Além disso, acaba contraindo inúmeras dívidas, com um desejo latente de se manter ativa na sociedade burguesa e mais próxima da aristocracia (levando a família à falência).

Madame Bovary

Na época em que li o livro, não sabia tanto o que o feminismo significava. O meu interesse e identificação pela personagem, em primeiro lugar, foi por sua insubordinação ao patriarcado e sua luta por uma vida mais livre, mesmo diante de tantas limitações.  Naturalmente, o livro quando concebido, era muito mais uma crítica à sociedade pós industrial e (assim vejo) como um certo deboche à mediocridade doméstica.

Mas, com as inúmeras evoluções sociais e reinvenções constates dos movimentos, a obra acabou tomando um viés feminista, abordando a tão famosa “histeria feminina” de uma forma ampla, a ponto de permitir inúmeras interpretações. Aqui, não falamos da perspectiva literária que é igualmente rica (por sua inovação quanto ao estilo de narrativa, trazendo um tom realista até então desconhecido), mas das condições desviantes da protagonista, consciente do seu papel social e da sua busca pela ressignificação sobre seu corpo e suas vontades.

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A obra, ainda me parece extremamente próxima da atualidade, mesmo que a realidade das mulheres tenha se modificado e atualizado, em diversas formas. Emma e sua insubordinação é uma inspiração interessante, em diversos sentidos, à aqueles que buscam pela melhoria das suas condições pessoais. É uma anti-heroína com condições humanas bem universais, com sentimentos que incitam a busca constante de autoconhecimento, redescoberta e felicidade.