[Madame Bovary] Um dos meus livros favoritos

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Ao longo da existência desse blog, já fiz incontáveis postagens sobre “Madame Bovary”, obra francesa, escrita por Gustave Flaubert e publicada em 1856. No entanto, nunca falei do encantamento que tive pela história, aos quinze anos, e de como essa narrativa, à época, me inspirou em muitos sentidos. 

Emma Bovary é uma mulher repleta de sonhos, mas presa à um casamento infeliz, ela é casada com Charles, um médico com uma vida financeira razoavelmente tranquila,  sem muitos luxos. Mas a monotonia da vida conjugal e a ausência da magia (que ela lia tanto nos livros), a faz querer ir em busca de uma vida mais livre. Nem mesmo a maternidade a faz sentir completa — a filha de Emma, Berthe (ou Berta), é apenas uma menina comum, sem encantamentos. Emma,  mergulhada em sua melancolia, acaba se aventurando no mundo do adultério, em busca de um amor verdadeiro, que a satisfaça e que permita que ela “seja ela mesma”. Além disso, acaba contraindo inúmeras dívidas, com um desejo latente de se manter ativa na sociedade burguesa e mais próxima da aristocracia (levando a família à falência).

Madame Bovary

Na época em que li o livro, não sabia tanto o que o feminismo significava. O meu interesse e identificação pela personagem, em primeiro lugar, foi por sua insubordinação ao patriarcado e sua luta por uma vida mais livre, mesmo diante de tantas limitações.  Naturalmente, o livro quando concebido, era muito mais uma crítica à sociedade pós industrial e (assim vejo) como um certo deboche à mediocridade doméstica.

Mas, com as inúmeras evoluções sociais e reinvenções constates dos movimentos, a obra acabou tomando um viés feminista, abordando a tão famosa “histeria feminina” de uma forma ampla, a ponto de permitir inúmeras interpretações. Aqui, não falamos da perspectiva literária que é igualmente rica (por sua inovação quanto ao estilo de narrativa, trazendo um tom realista até então desconhecido), mas das condições desviantes da protagonista, consciente do seu papel social e da sua busca pela ressignificação sobre seu corpo e suas vontades.

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A obra, ainda me parece extremamente próxima da atualidade, mesmo que a realidade das mulheres tenha se modificado e atualizado, em diversas formas. Emma e sua insubordinação é uma inspiração interessante, em diversos sentidos, à aqueles que buscam pela melhoria das suas condições pessoais. É uma anti-heroína com condições humanas bem universais, com sentimentos que incitam a busca constante de autoconhecimento, redescoberta e felicidade.