Tenho algumas lembranças da série Hilda Furacão, quando passava tarde da noite na Globo. A minha vaga recordação era de que se tratava de uma história bem obscura e de que o amor dos protagonistas era algo “errado”. A série foi transmitida em 98 e eu tinha 7 anos, portanto, tinha uma noçãozinha básica do que se falava ali.
Lembro da minha mãe vidrada na tela, torcendo para o casal e me sentia envergonhada/incomodada com algumas cenas. Acho engraçado esse senso moralista que eu tinha quando pequena e quando paro para pensar, acredito que ele teve origem da educação super católica que recebi em casa e na escola. [Ao mesmo tempo, minha mãe nunca censurou nada que eu quisesse ler ou assistir… Vai entender!]
No fim do ano passado terminei de ler o livro Hilda Furação, escrito por Roberto Drummond. Ao ler a trama, acabei fazendo as pazes com a Thaís do passado, que censurava as cenas entre o padre e a prostituta e não gostava da Hilda. O livro é, sem dúvidas, muito mais suave e tem uma narrativa cativante, bem nostálgica ao retratar a Minas Gerais dos anos 50 com sensualidade e humor.
Hilda Furacão foi um das leituras mais agradáveis que fiz no ano passado, especialmente, porque estou trabalhando em Belo Horizonte e ao ler as descrições das ruas centrais (onde passo quase todos os dias) e dos bairros, praticamente me “teletransportei”. E, o mais gostoso de tudo, é que durante a leitura, criei um pequeno fascínio/identificação pela figura da Hilda, que com certeza, foi uma mulher à frente do seu tempo [mesmo com a romantização do livro].
Em resumo, Hilda é retratada como uma jovem muito rica e bonita, que abandona a alta sociedade belo-horizontina e se torna prostituta.
Mesmo com inúmeros pretendentes e com boas chances de ter um casamento tranquilo, com um marido que a bancasse plenamente, Hilda escolhe pela liberdade (também sexual) e se aventura vida afora. Seu comportamento, no entanto, incomoda os conservadores, que passam a se manifestar para que ela pare as atividades.
Muitas mulheres se sentiam ofendidas, pois tinham medo de que seus maridos fossem atraídos pelos encantos de Hilda e chegavam, até, a fazer passeatas, levando junto um padre para ajudá-las.