[Leitura] – Wicked

“É uma mulher que prefere a companhia de outras mulheres – disse o Espantalho enquanto se sentava. Ela é a amante desprezada de um homem casado. Ela é um homem casado.”

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Wicked foi uma das leituras mais arrastadas que realizei nos últimos tempos. O livro, que deu origem ao popular musical, conta a história de Elfaba (a Bruxa Má do Oeste de O Mágico de Oz). Contextualizado em um ambiente fantástico, com fadas e animais falantes, a narrativa conta desde o nascimento à morte da criatura verde incompreendida.

Eu gosto muito de histórias que mostram as diferentes perspectivas dos personagens, como tem sido bastante feito nos últimos tempos (a exemplo da famosa produção sobre a Malévola). Quando se retrata o outro lado das figuras taxadas como vilões, se tem a oportunidade de fazer uma história menos maniqueísta. Porém, o livro se centra na época em que Elfaba estava na universidade (a história me pareceu muito YA e, para ser sincera, deu um pouco de preguiça).

Neste sentido, o livro pesa bastante na formação da bruxa, provavelmente para justificar a sua maldade. Considerada uma criatura estranha e desajeitada, Elfaba (filha de um ditador e pertencente à uma família nobre) sofria uma espécie de bullying, provocada por ninguém mais ninguém menos que Glinda, a Bruxa Boa do Norte. Daí começa uma amizade-inimizade interessante, que rende bons frutos!

Na narrativa, são abordados diversos temas “adultos”, digamos, como: fanatismo religioso e prisões políticas (e sim, há sexo também). Outro ponto: o Mágico de Oz é um super vilão manipulador, que sequestra meninas e as faz de escravas. Doido, né?

Outro ponto interessante é que o livro também conta um pouco sobre a irmã da Bruxa Má (aquela que morre amassada pela casa que traz Dorothy a Oz). Aliás, sem dúvida alguma, o melhor momento da narrativa é quando a pequena Dorothy aparece na cidade e recebe os sapatinhos mágicos da Bruxa Boa. Eu, pelo menos, compreendi totalmente a busca de Elfaba pelos sapatos (e lá no fundo, torcia para que ela pudesse recuperá-los!).

Em suma, não é um livro que eu leria de novo. Mas, de qualquer forma, também não consegui abandoná-lo. Já leu o livro ou gosta da história? Deixe um comentário nesse post e me conte o que achou!

Doctor Foster

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Eu perdi o costume de assistir séries. Às vezes eu passo o dia inteiro lendo e chego em casa com a cabeça tão pesada, que não consigo prestar atenção em muita coisa. Mas com Doctor Foster foi diferente, é uma série que conheci no ano passado e que me prendeu de uma forma absurda. Quando descobri que a segunda temporada já estava disponível, passei o fim de semana assistindo.  

A trama se concentra em Gemma e Simon, um casal cujo relacionamento entra em crise quando ela começa a suspeitar que está sendo traída. Depois de anos juntos, do convívio diário e das dificuldades em criar o filho, ela começa a se questionar sobre a índole do marido e busca indícios de que ele está mentindo.

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O mais interessante de todo esse processo não é a caçada pela amante, e sim os pequenos sintomas de paranoia que tomam conta da personagem. Um fio de cabelo no paletó, as ausências injustificadas e o distanciamento silencioso, a insegurança e o mais importante: a quebra de confiança.

Todo contexto é também muito importante, pois tanto a família quanto os amigos dos dois estão envolvidos. E é surpreendente quando Gemma passa a descobrir as coisas, como tudo estava tão evidente e por algum motivo, ela não viu.

Também gosto especialmente da abordagem feita de diferentes perspectivas. A segunda temporada traz alguns aspectos da vida da amante de Simon e a trama fica ainda mais complexa. Ainda que o marido seja retratado negativamente, prevalece a ideia de que todo mundo, em algum momento, está sujeito a cometer falhas.

Isso me lembra bastante de uma entrevista da Fanny Ardant (uma das minhas atrizes francesas favoritas) em que ela diz que “a traição não pode ser medíocre e quando se torna medíocre, é hora de acabar”). Ela se referia à um filme “Os belos dias” e que, de certa forma, se  casa muito bem com a série, porque existe uma crítica àqueles filmes em que o amante é representado por um ator maravilhoso e atraente, quando o marido é representado negativamente. Nesse filme não, o marido é bom, atraente e ama a esposa (é o homem perfeito) e mesmo assim, ela sente a necessidade de se envolver com outra pessoa. É algo como: “Não existe vilão, sacou? Mas se não está bom, tem que acabar”.

As duas temporadas estão disponíveis na Netflix! Se tiver a oportunidade, não deixe de ver. E realmente muito boa!!

[Hobsbawm] Tempos Fraturados – Introdução

Um dos meus propósitos para 2018 era estudar Hobsbawm, mas a minha rotina tem me impedido de realizá-la. Leio, diariamente, cerca de 40 artigos corporativos (alguns de 500 palavras, outros de 3000), e isso tem deixado a minha mente bem cansada. Ainda que não vá ler todos os livros (que era o meu objetivo), escolhi um deles para estudar quando possível. A ideia é fazer uma série de publicações|resenhas, como fiz de dois livros da Susan Sontag (Diante da dor dos outros e Doença como Metáfora).  

Tempos Fraturados

Assim, quando possível, vou publicar algumas anotações e percepções sobre alguns capítulos de Tempos Fraturados. O livro reúne 22 artigos escritos por Eric Hobsbawm, falecido em 2012 (pouco antes da entrega dos textos). Trata-se de uma profunda reflexão sobre arte, política e contemporaneidade. Entre os ensaios e resenhas, ele reflete sobre festivais literários, sobre o florescimento da Belle Époque e sobre as vertentes do capitalismo moderno na Europa e Estados Unidos. Além disso, faz uma análise sobre o rumo das artes e da política na atualidade.

De uma perspectiva mais complexa, Hobsbawm analisa o que aconteceu com a arte e cultura da sociedade burguesa depois do seu desaparecimento pós-1914. Como explica o autor, não é possível compreender as artes do novo milênio sem realizar um “profundo  mergulho no mundo perdido de ontem”. O livro enfoca especialmente a Europa do século XIX, que criou não só o cânone de clássicos da música, ópera, teatro e balé, como também popularizou a linguagem básica da literatura moderna.

Eric HobsbawmComo se sabe, a civilização burguesa européia jamais se recuperou após a Primeira Guerra Mundial. Nesse cenário, as artes e as ciências eram fundamentais para uma visão de mundo voltada para si, uma estratégia importante para fortalecer a crença no progresso e na educação como substitutas da religião tradicional. A pergunta feita no prefácio do livro é: “Como pôde o século XX enfrentar o colapso da sociedade burguesa tradicional e dos valores que a mantinham em pé”?

Ainda que essa sociedade fosse dedicada ao progresso (ciência), ela mostrava-se incapaz de compreendê-la: “Trata-se de uma civilização que era (e continua sendo) meritocrática, ou seja, nem igualitária, nem democrática”.

Tanto a lógica do desenvolvimento capitalista como da própria civilização burguesa estava destinada a destruir seus alicerces. A estabilidade desse sistema comandado pelas elites hegemônicas foi totalmente destruída por um golpe triplo:

  • revolução da ciência
  • tecnología do século XX
  • sociedade de consumo da massa, gerada pela explosão do potencial das economias ocidentais.

Os três acontecimentos citados acima refletem diretamente na contemporaneidade (para o autor, de uma forma positiva,  mesmo que o público da cultura erudita e clássica burguesa “tenha sido diminuído a um nicho para idosos, esnobes ou ricos em busca de prestígio”). Na perspectiva de Hobsbawm, a combinação de tecnologias novas e o consumo de massa não só criou o cenário cultural em que vivemos como também gerou a mais original realização artística: o cinema –  e é dele que vem a hegemonia dos Estados Unidos (importante por sua originalidade e pelo seu poder de corromper).

O surgimento de uma economia tecnoindustrializada possibilitou que nossas vidas fossem imersas em experiências universais constantes, e isso é inédito. A globalização transformou totalmente a nossa maneira de aprender a realidade e especialmente o “status” da arte.

O que sabemos é que a dimensão da nossa experiência em relação à arte é bem diferente da sociedade burguesa. Por isso, o autor conclui o prefácio de uma forma bem crítica e sarcástica:

Mesmo a pergunta “Isto é arte?” provavelmente só é feita por aqueles que não aceitam que o conceito clássico burguês de “artes”, embora cuidadosamente preservado em seus mausoléus, já não está mais vivo. Atingiu o fim da linha já na Primeira Guerra Mundial, com dadá, o urinol de Marcel Duchamp e o quadrado negro de Malevich. É claro que a arte não acabou, como se chegou a supor,. Nem a sociedade da qual as artes eram parte integrante. Porém, já não compreendemos o atual dilúvio criativo que inunda o globo de imagens, sons e palavras, nem sabemos lidar com ele, dilúvio que quase certamente se tornará incontrolável tanto no espaço como no ciberespaço.

Gostou do texto?

Na próxima publicação, falaremos sobre os manifestos e os possíveis caminhos da arte.

[NOTA] 5 músicas da Alice Caymmi

Alice CaymmiTenho escutado bastante às músicas da Alice Caymmi, é uma das cantoras nacionais da atualidade que mais me agrada. Além de ter uma voz incrível e boas composições, ela tá sempre fazendo releituras alternativas de músicas e cantores marcantes (tipo: Bjork e Maysa).

Fiz uma pequena lista com 5 das músicas que mais gosto, dá uma olhada:

1 – Como vês

2 – Meu Recado

3 – Louca

4 – Meu Mundo Caiu

5 – Tudo que for leve

[Leitura] Um homem morto a pontapés

Um homem morto a pontapésEsta foi provavelmente uma das leituras mais difíceis que realizei no ano passado. O livro me chamou muita atenção por causa do título e do autor – que até então, desconhecia. “Um homem morto a pontapés” traz uma novela e uma coletânea de contos com temas bem inusitados (homofobia, bruxaria, canibalismo…). Na verdade, a minha maior dificuldade foi com a linguagem, que por vezes era bem maçante (especialmente “Débora”, que é um pequeno romance).

O conto que dá título ao livro é, sem dúvidas, o melhor. A história é também muito interessante, mas a narrativa tem um “quê” a mais (já que é cheia de interjeições de diferentes personagens). Na história, o personagem principal lê uma matéria de jornal sobre um homem que morreu a pontapés. Ele meio que “pira”, fica obcecado com a história e começa a investigar o ocorrido. Até que é divertido, porque tudo o que ele faz é através de indução.

O conto sobre as bruxas é quase uma historinha de terror para adultos. Tem também a história de uma mulher que possuía dois corpos – é um texto muito louco, escrito em primeira pessoa. [Essa é a minha citação favorita]: “Mi espalda, mi atrás, es, si nadie se opone, mi pecho de ella. Mi vientre está contrapuesto a mi vientre de ella. Ten­go dos cabezas, cuatro brazos, cuatro senos, cuatro piernas, y me han dicho que mis columnas vertebrales, dos hasta la altura de los omóplatos, se unen allí para seguir –robuste­cida– hasta la región coxígea. Yo-primera soy menor que yo-segunda.”

Para além dos contos, o que chama atenção é a história do autor. Pablo Palácios, equatoriano, publicou o livro em 1927 (ele tinha apenas 21 anos!). Os contos marcaram a literatura hispano-americana ao apresentar um novo estilo narrativo e de linguagem. Ele faleceu em 1947 e viveu seus últimos anos num hospital psiquiátrico. Por muitos anos sua obra foi interpretada como “louca demais”. Isso porque, como mencionei anteriormente, ele escrevia sobre temas ainda intocados, a ficção (narrada daquela forma) era uma novidade [ é o que hoje conhecemos como literatura do absurdo].

Em suma, o livro é pequeno e de rápida leitura.

Como disse, não me agradou muito… mas acredito que é sempre bom conhecer novos autores.  

Por que voltei a escrever no La Amora?

Saudade

Estou de volta ao La Amora e pretendo sempre postar por aqui. Primeiro, é claro, porque tenho muito prazer em escrever e essa é uma das formas das quais mais gosto de me expressar. Mas voltei, também, porque comecei a estudar Marketing de Conteúdo e acabei descobrindo uma série de técnicas importantes, que por teimosia, adorava ignorar.

Só uma observação: eu sei que este texto está meio técnico, mas eu descobri que quando se trata de Marketing, não é possível fugir de alguns termos.

Sempre tive uma imagem romanceada da escrita e por isso, fugia do Marketing como o diabo foge da cruz. Enquanto morei em São Paulo já trabalhava na  área de comunicação, mas me dedicava demais a CRM (Customer Relationship Management) – que, como se sabe, também é Marketing. Traduzindo: eu fazia o relacionamento da empresa com o cliente. Não teria problema se não fosse de uma maneira meio engessada e em grande escala (o que dificulta a personalização) – mas, era uma exigência da própria empresa.

Estou estudando Content Marketing (e Inbound/Outbound) há dois meses e mudei completamente a minha visão. Até mesmo sobre CRM ( já que hoje vejo que é possível fazer de uma forma muito completa, prazerosa e que existem inúmeras estratégias que ajudam na performance). Não se trata apenas de “apagar incêndios”, como acreditava anteriormente.

Mas eu ainda não expliquei porque voltei, né?

Escrevendo no computador

É que os meus estudos me mostraram que eu já atuava com técnicas do Marketing de Conteúdo (digital) sem mesmo saber. E fazia isso através do meu blog! Por exemplo: desde que comecei a escrever aqui, “faço” SEO (e o ranqueamento do La Amora é até muito bom – é o primeiro a aparecer na SERP, que é a página de resultados de um buscador).

Ou seja, o blog me permite não só expressar minhas ideias, como também é um instrumento de estudo (e um plus: em alguns casos, uso como portfolio).

Se você nunca atuou com WordPress, vou te dar uma visão rápida de como funciona o CMS e como ele é bem completo, mesmo sendo gratuita:

  • Esses são os dados do La Amora (números de visualizações desde o início)

estatisticas

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Através das estatísticas, consigo ver e administrar todos os posts, visualizações e visitantes. Ele me informa o dia e o horário com o maior número de visitas, me mostra os comentários, os assinantes e através de quais palavras-chave meu blog foi encontrato. Tem também a divisão de categorias (eu consigo ver qual é a mais lida ou compartilhada) e ainda um indicador das publicações nas redes sociais. Muito louco, né?

Eu fiquei um ano sem publicar e os números caíram drasticamente. Ou seja, os leitores pararam de visitar já que não tinha novidades. Mas  sabe o que segurou esse blog? Os conteúdos evergreen (que escrevi há mil anos). *Evergreen são conteúdos que permanecem com valor, mesmo após muito tempo, são informações que ainda são relevantes, entende?

Em suma, eu já pensei em deletar esse blog inúmeras vezes – inclusive cheguei a deixá-lo privado por alguns meses. Mas dessa vez voltei pra valer e tenho certeza de que tenho muito a aprender – o La Amora irá me ajudar a praticar!  Outra coisa: Prometo que você não encontrará textos tão técnicos como esse por aqui, ok?

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Obrigada, São Paulo!

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Meu blog é também uma espécie de diário, eu sempre tive mais facilidade em me expressar dessa forma: escrevendo. Se você me conhece – pessoalmente – e está lendo isso, sinta-se privilegiado (pois não é para todo mundo que conto que escrevo por aqui). Para quem não me conhece, um esclarecimento: eu morei em São Paulo por 3 anos e há 3 meses voltei pra casa. E é sobre isso que quero escrever hoje:

Cheguei em São Paulo com 24 anos, recém formada, desempregada e sem ideia do que realmente queria fazer da vida (eu ainda não tenho certeza de muitas coisas, mas hoje já tenho em mente qual rumo seguir). Quando paro para pensar em quem eu era naquela época, me vem em mente uma única palavra: inconsequente. Deixei muitas coisas pra trás, sem preocupação nenhuma. E não me arrependo, porque valeu a pena. Morar em São Paulo me ensinou inúmeras coisas e por isso, serei eternamente grata.

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Eu sempre achei que era uma menina super independente, até o momento em que tive que pagar o primeiro mês de aluguel. Sempre achei que me virava muito bem sozinha, até precisar fazer a compra do mês e lavar minhas roupas. Aos poucos eu fui me adaptando às tarefas, mas fazendo tudo de um jeito meio largado, que é como eu sou mesmo. Essas pequenas (grandes) coisas me ensinaram a dar valor àquilo que eu sempre recebi, sem ter que fazer esforço. Depois que voltei, já perdi as contas de quantas vezes perguntei para minha mãe: “Como você conseguia fazer isso tudo sozinha?”

Mas a grande questão é que São Paulo me ensinou a valorizar (ainda mais) a minha família e amigos. Não é fácil ficar “sozinha” numa cidade desconhecida, com uma cultura bem diferente da qual você está acostumado. Eu tive alguns momentos de solidão, que pra ser sincera, eu não imaginava que teria.

Essa distância me fazia ficar preocupada com a saúde da minha avó ou da minha mãe e ainda tinha o fato de que minhas melhores amigas estavam fazendo inúmeras coisas das quais eu só podia participar através de vídeos chamadas. Não que as experiências que tive em São Paulo não tenham sido válidas, entende? Eu conheci lugares bem diferentes, vivi uma vida cultural bem intensa (principalmente no início), estudei na USP e o mais importante de tudo  – conheci  pessoas incríveis (que quero levar pra toda a vida).ap23

E quando passava rapidamente por MG, meus amigos faziam questão de ir me ver (mesmo morando bem longe), e sempre (sempre) diziam: Sua mãe tá sentindo sua falta e nós também. Resumindo: eu nunca me senti tão sozinha e querida ao mesmo tempo.

Reiterando: EU AMO SÃO PAULO, que me permitiu muitas coisas ( que talvez não viveria se não tivesse me mudado). No começo, até pegar o metrô era aventura – cheguei a ter uma espécie de “crise” quando andei pela linha amarela pela primeira vez. Eu tive muito (muito) medo, mas fui… e depois, aquilo foi se tornando um hábito. No começo eu me sentia bem insegura de sair sozinha e e nos últimos dias, eu já tinha me acostumado.

De todas as coisas, a mais importantes que levo são:

  • entendi que certas coisas não estão em acordo com meus valores (e que não sou obrigada a aceitá-la.
  • Se você quer uma coisa, lute por ela. 
  • Toda escolha tem sua consequência.
  • Saudade dói pra caramba! 

 

Harlots (que série incrível!)

Cartaz da série Harlos, produzida pela Hulu

Harlots foi uma das minhas melhores descobertas em 2017, me agradou tanto que indiquei para Deus e o mundo. A série, produzida pela Hulu, se passa na Londres do século 18 e retrata a rivalidade entre duas cafetinas. Uma delas, Margaret Wells (interpretada por Samatha Morton) luta para garantir a sobrevivência dos três filhos, enquanto se vira para manter o bordel em funcionamento. A outra, Lydia Quiqley (Lesley Manville) é dona da casa mais luxuosa da cidade e faz de tudo para manter o posto (e os clientes).

As histórias das duas se cruzam, não só pela rivalidade, mas por algo que aconteceu no passado (e nos é revelado ao longo dos capítulos). O que se sabe, desde o início, é que entre elas existiu uma relação de abuso e violência.

 

Tirando o fato de ser uma produção impecável (ênfase nos figurinos!), Harlots tem uma forte perspectiva feminina – sem pecar pelo excesso. A sexualidade dos personagens (principalmente das prostitutas) é retratada de uma maneira bem densa, especialmente pelo fato de que o sexo para as mulheres daquela época ainda não era diretamente ligado ao prazer (feminino). Portanto, em determinados momentos, as experiências daquelas mulheres eram bem traumáticas.  Mas não só, pois ao longo da série vão surgindo uns romances inesperados ( e com um delicioso toque de humor).

Outra coisa bem interessante é o suspense que se sustenta durante toda a temporada, não se sabe muito bem o que cada uma delas é capaz de fazer em troca de poder (ou sobrevivência). O que se sabe é que todas ali possuem poucas oportunidades de fuga da realidade massacrante e das desigualdades em relação aos homens.

  • Logo vou fazer um post mais detalhado sobre um fato que me chamou atenção na série. Assim que der, publico aqui! Se você já assistiu (ou tem vontade de assistir), não deixe de comentar esse post. (Quero saber o que acharam!).

 

 

Simulacro e Simulação – Qual a diferença?

Jean Baudrillard foi um dos principais teóricos da pós-modernidade; através de suas obras, o sociólogo e filósofo francês realizou um diagnóstico da sociedade contemporânea e profundas reflexões sobre a tecnologia e suas implicações.

Logo no primeiro capítulo do livro, “A processão dos simulacros”, Baudrillard afirma que: “Dissimular é fingir não ter o que se tem. Simular é fingir ter o que não se tem”. Para compreender essa afirmação, precisamos primeiro definir o que é simulacro e o que é simulação (e como se relacionam). Se fôssemos resumir, diríamos que a Simulação é a ação produtora de simulacros, isso porque na pós-modernidade os símbolos possuem tão ou mais eficácia que a própria realidade. A simulação é a ação e é dela que nascem os simulacros, eles são a cópia da cópia.


Parece complicado, né? Então, vamos detalhar mais um pouco:

Caricatura de Jean Braudillard

Para o autor, a era da simulação não temp passagem pelo real nem pela verdade: todos os referenciais são liquidados como na Alegoria da Caverna, de Platão [Na história do filósofo grego, o ser humano toma como verdade algo que não é real.] Para Baudrillard não existe mais a simulação de um território ou de uma substância, o que acontece é a geração pelos modelos de um real sem origem: é o que chamamos de hiper-real.

Um exemplo que nos ajuda a compreender a hiper-realidade é a Disneylândia, um lugar repleto de jogos de ilusões! (O autor chama a Disney de “mundo infantil congelado”). Este mundo de fantasia já não se trata de uma representação falsa da realidade, mas da ausência da realidade:

O imaginário da Disneylândia não é verdadeiro nem falso, é uma máquina de dissuasão encenada para regenerar no plano oposto a ficção do real. Daí a debilidade deste imaginário, a sua degenerescência infantil. O mundo quer-se infantil para fazer crer que os adultos estão em outra parte, no mundo real, e para esconder que a verdadeira infantilidade está em toda parte, é a dos próprios adultos que vêm aqui fingir que são crianças para iludir a sua infantilidade real. ” (BAUDRILLARD, P.21, 1981)

Outro exemplo interessante, que vai de encontro aos conceitos trabalhados por Baudrillard é o analisado por Beatriz Jaguaribe em “O choque do real” (2007)

No último capítulo do livro, intitulado “Bonecas hiper-reais: o fetiche do desejo” a autora afirma que as bonecas (inclusive as cibernéticas, ex: Lara Croft) colocam em xeque a vivência do real, substituem o contato om o outro e ainda reforçam a noção de beleza inatingível. São objetos que acentuam o efeito sedutor da imagem e inibem a irrealidade pois despertam uma certa ilusão passional:

O charme de sua irrealidade é o que nos cativa, porque representam algo mágico, a matéria inexistente que ganha vida e pulsação, o olhar insondável da esfinge que, entretanto, carece de mistério. Já outras bonecas são minunciosamente programadas para gerar ao máximo o efeito realista. São bonecas hiper-reais que demonstram tal nitidez no contorno e tal precisão de detalhes, que elas nos oferecem o assombro de um realismo que ultrapassa nosso realismo entrevisto a olho nu. Trata-se, sobretudo, de uma potencialização do olhar por meio da imagem cibernética. Entretanto, diversamente da imagem captada pela câmera fotográfica, essas figuras femininas não existem fora da tela, não possuem nenhum lastro com a vida real. São simulacros despidos do vestígio que tornam a imagem fotográfica um índice do mundo”. (JAGUARIBE. P. 211, 2007)

O fato é que cotidianamente sofremos com os efeitos da hiper-realidade. Vivemos em um momento em que existe cada vez mais informações e cada vez menos sentido.

Para Baudrillard três hipóteses poderiam justificar esse acontecimento e para ele, a última delas é a mais interessante. Ou a informação produz sentido, mas não consegue compensar a perda brutal de significado, ou a informação não tem nada a ver com o significado ou existe uma correlação rigorosa e necessária entre os dois na medida em que a informação é destruidora do sentido e significado – ou seja, a informação devora seus conteúdos quando em vez de produzir sentidos, esgota-se na encenação do sentido. Este é um dos efeitos dos mass media e de seu poder de manipulação das massas.

Quando falamos sobre informação, não podemos esquecer da potencialidade da internet, de sua importância midiática e do novo papel dos sujeitos. Pierre Levy, autor de “O que é virtual” (1996) evidencia a importância da digitalização da informação. Ele afirma que “o virtual é real, ele existe sem estar presente. Ele não substitui o real, mas multiplica as oportunidades”, e está diretamente ligado à cibercultura.

É ela que permite um tipo de tratamento de informação eficaz e complexo, impossível de ser executado por outras vias. Aliás, é um tipo de informação de processamento automático, rápido, preciso e feito em grande escala.

No mundo virtual, a interação artificial entre usuários ganha naturalidade, outras formas e sentidos. Este novo mundo é composto por personas midiáticas; avatares que lotam as redes sociais e chats e que representam seres humanos que simulam certas situações.

Referências
BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio D’água Editores, 1981.
LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.
JAGUARIBE, Beatriz. O choque do real: estética, mídia e cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 2007

[LEITURA] Por onde andam as pessoas interessantes?

“A gente acaba se prendendo tanto ao que poderia ter acontecido, que arrasta uma culpa imaginária à toa. E se culpar pelo que não pode ser desfeito é um daqueles errinhos bobos que fazem da gente um pouco mais infeliz num mundo onde a vida já não está fácil”.

Capa do livro: Por onde andam as pessoas interessantes de Daniel BovolentoPor onde andam as pessoas interessantes foi o primeiro livro que li em 2018. Daniel Bovolento possui uma linguagem bem jovem e uma narrativa fluída, que facilita bastante a leitura.

O livro é uma reunião de crônicas relacionadas à vida amorosa e traz reflexões bem instigantes sobre a contemporaneidade – dentre elas, sobre a influência das redes sociais na vida cotidiana. Além da leveza (e do humor), o que me agrada neste livro é a utilização de várias vozes narrativas em diferentes contextos (às vezes, por exemplo, ele escreve como mulher ou escreve sobre homoafetividade ou friendzone ).

Este enorme leque de temas são ótimos para retratar a pluralidade dos nossos dias e o quanto, de alguma forma, estamos todos em busca de alguém (ou algo) que possa deixar a vida menos vazia, a velha conhecida crise existencial. Mas cabe lembrar que o livro não é pesado, de forma alguma. A gente até ri de algumas situações e se identifica por outras tantas (e é uma ótima dica de leitura).

Para se informar um pouco mais sobre o autor e outros de seu trabalhos, clique aqui