VOCÊ SABE O QUE É O TESTE BECHDEL?

Refletir sobre a representação das mulheres no cinema (e na mídia, em geral) é uma forma importante de promover a igualdade de gênero e atuar em estratégias de melhoria social. Um dado importante do Instituto de Pesquisa da Geena Davis, indica que as mulheres representam menos de um terço dos personagens com falas nos filmes. Além disso, quando possuem alguma profissão nessas tramas, normalmente não ocupam lugares de poder.

Já está mais do que constatado,que a mídia é sexista. Mas, existe toda uma atuação de mulheres e homens que atuam para mudar essa perspectiva. E, nesse contexto, está o Teste de Bechdel. O teste surgiu em 1985, quando Alison Bechdel, cartunista, realizou uma tirinha ironizando os filmes hollywoodianos que, em sua maioria, representam as mulheres de uma forma estereotipada.

Nele é feito questionamentos simples, mas extremamente relevantes na análise cinematográfica ou mesmo nas pesquisas de sexualidade e gênero. As questões podem parecer triviais, mas tenha em mente que muitos filmes (inclusive, famosos blockbusters) não passam pelos testes.

Para “passar” no teste, o filme deve cumprir três pequenas regras:

  • ter duas personagens com nome
  • ao menos uma cena em que duas mulheres conversam entre sí
  • o tema não pode ser sobre homem

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NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO: A SOLIDÃO FEMININA

A professora de artes Sheba (Cate Blanchett) acaba de se mudar para uma nova escola e, sem conhecer muito bem o local, aproxima-se de Bárbara Covett (Judi Dench) também professora do colégio. Ela o faz, sem saber que esta dominadora mulher, possui atitudes extremamente bizarras e obsessivas. Em princípio, as duas se tornam grandes amigas: saem para beber, visitam a casa uma da outra e trocam inúmeras confidências.

Mas, um fato quebra a relação idílica das duas: Bárbara descobre que Sheba está se relacionando com um de seus alunos, de 15 anos.

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Notas Sobre um escândalo é uma história bastante curiosa (o livro, inclusive, é tão ou mais envolvente). Mais do que uma narrativa sobre a obsessão de uma mulher com a outra, a história retrata (de forma bem sutil) a solidão feminina. Ao longo da narrativa, é possível observar como os detalhes fazem toda a diferença: a gata de Bárbara como o único elo emocional da professora, o marido mais velho e o filho de Sheba, que fazem com que ela se sinta cada vez mais esgotada e sem saída.

Os dois personagens são muito complexos, com nuances bem particulares. Bárbara é uma mulher na casa dos 60 anos, extremamente carente e com um histórico duvidoso. Suas atitudes indicam uma sexualidade reprimida e toques de “desejos homossexuais latentes”. Da parte de Sheba, um imediatismo em vivenciar experiências novas e aproveitar a juventude que se esvai, além da necessidade por sexo (que, provavelmente, está em falta com o marido).

Difícil não ficar um pouco incomodado com certos acontecimentos, a gente quase fica “envergonhado” com certas atitudes dos personagens, o que transforma o espectador em um voyeur absoluto.

[Pycho-Bidd] Mulheres mais velhas e cinema

Psycho-biddy (também conhecido com hag horror ou hagsploitation) é um subgênero do terror que, normalmente, apresenta filmes que contam histórias de mulheres na casa dos 50/60 anos, mentalmente abaladas por algum acontecimento que as aterroriza, por um alto nível de estresse (ou, apenas desestruturadas psicologicamente).

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O estilo surgiu em 1962, com o assombroso sucesso de “O que terá acontecido à Baby Jane” (um clássico protagonizado por Bette Davis e Joan Crawford), e foi, também, inspirado em “Crepúsculo dos Deuses” (famoso noir estrelado por Gloria Swanson).
O subgênero “Mulheres Psicóticas” (numa tradução à brasileira) apresenta tramas repletas de vingança, assassinato ou melodrama e o mais importante: “mulheres maduras em situações de perigo/violência/loucura”.
[ Particularmente, acho que esses personagens são sensacionais, especialmente quando abordados de uma forma caricata ou sarcástica, ainda que apresentem inúmeras possibilidades. Há muito humor em “Nazaré Tedesco”, por exemplo, mas há também muito drama em Bárbara Covett (personagem de Judi Dench em Notas sobre um Escândalo).]

Jessica Lange em AHS: podemos considerar como Hag Horror?

O subgênero andava esquecido, até que (re) surge Jessica Lange, com a sua cabeleira loira e estilo inconfundível, em American Horror Story. Murphy, o diretor da trama, fã do tema e extremamente atualizado com o que chamamos de “escola de cinema”, não poderia ter feito um trabalho mais incrível e bem elaborado (tsc, tsc…ainda que eu ache que tenha perdido a mão à partir da terceira temporada).
Como Constance, em Murder House, Jéssica dá a vida à uma mulher enigmática e vingativa, repleta de mistérios sobre os filhos e com uma relação estranha com a casa. A maior característica desse hag horror é a sua posição em relação à Moira, a empregada da casa (e “ex” amante do seu marido, digamos…).
Mas, o ápice acontece em Sister Jude, a freira e ex-prostituta que dirige um manicômio.

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Jude, assim como todas as personagens que se enquadram no gênero, luta contra a decadência física da idade, nutre uma paixão não correspondida (por um padre) e está em uma situação de extremo estresse: encara a possibilidade de perder o posto no manicômio, a aproximação de uma jornalista muito curiosa e acontecimentos “sobrenaturais” e inexplicáveis.

Vivemos, então, a reinvenção do subgênero?

Desde a sua invenção, o subgênero conta com diversos filmes (diferentes nuances e histórias). Há, inclusive, uma ótima lista no Filmow para quem se interessa pelo assunto e que entender um pouco mais sobre o tema.

O fato mais interessante é que na época da sua criação, existia uma espécie de deboche, as atrizes maduras (então consideradas veneno de bilheteria), eram vistas com certa piedade por parte da crítica, que não perdoava a idade.

Não cabe hipocrisia: as atrizes, na medida que vão ficando mais velhas, continuam perdendo espaço em Hollywood. Mas, hoje há toda uma interpretação diferenciada sobre a idade, sobre sexualidade e beleza. Entende-se, cada vez mais, que é possível envelhecer de uma forma diferenciada, manter a vivacidade e explorar a pluralidade feminina, em diversos personagens.

[Nota] Same time, next year

same21Outro dia estava navegando pela Netflix e acabei esbarrando nessa pequena pérola: uma comédia romântica bem levinha, mas com uma história que foge à curva. 

Same time, next year (ou “Tudo bem no ano que vem), é um longa de 1978, protagonizado por Alan Alda e Ellen Burstyn). A narrativa acompanha a vida de Doris e George, dois desconhecidos que se encontram por acaso, transam (e acabam descobrindo uma química enorme). Porém, os dois são casados, possuem filhos e uma suposta vida perfeita. Mas, a paixão entre eles é tão avassaladora, que concordam em se encontrar uma vez no ano, no mesmo local em que se conheceram pela primeira vez.

O filme tem aquele tom romântico clichê, mas ao mesmo tempo, é inusitado pela narrativa e pelo carisma dos personagens. Diferente daquele tipo de casal “água com açucar”, os dois possuem um desencanto (bem engraçado, diga-se de passagem) emsametime1 relação ao amor e, ao mesmo tempo, estão unidos por um sentimento bem fofo de companheirismo.

Eu tenho que confessar que tenho uma queda enorme por filmes assim, muito fincados no diálogo e com um tom teatral bem forte. Nesse tipo de produção, você só tem conhecimento de certos acontecimentos  por causa da fala dos personagens, pois a maioria dos fatos não é mostrada em tela.

E é exatamente o que acontece aqui, a gente só tem noção do avanço do tempo e da mudança dos personagens, pelo que eles vão contanto (e, também, por causa do figurino). A Doris, por exemplo, vai mudando radicalmente e, em alguns momentos, de uma forma bem engraçada.

Enfim, ta aí uma ótima pedida para quem deseja se distrair e se divertir um pouco, com um filme bem levinho…

10 filmes para conhecer Patricia Clarkson

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Listas dão um trabalho da porra e é por isso que eu quase não as faço por aqui. Mas, fiz uma pesquisa pelo meu blog e vi que nunca escrevi nada consistente sobre a Patrícia Clarkson, que é uma atriz que eu adoro!

Outro dia quase tive um AVC quando entrei no meu Twitter e vi várias pessoas dizendo que só conheceram a Clarkson por causa de “Sharp Objects”, da HBO. É que ela é uma atriz de peso, com uns trabalhos incríveis e fiquei boba com a quantidade de gente que não a conhecia.

Bom… se você se encontra na situação que mencionei acima e se interessou pelo trabalho da Patrícia Clarkson, este é o post perfeito! Fiz uma lista com alguns filmes em que ela participa, que podem te ajudar bastante a conhecê-la um pouco mais. Veja só:

1 – Os intocáveis (1987)

“Vamos começar pelo começo”… tsc, tsc

Particularmente acho que a Patrícia possui filmes muito mais importantes e impactantes na carreira, mas me pareceu interessante mencionar este aqui como o número 1, pois foi o seu “primeiro passo” no mundo profissional da atuação, depois que ela se formou na famosa universidade Yale School of Drama.

**Ela, inclusive, fala bastante sobre isso em várias entrevistas. Pois conta que foi um choque quando recebeu o convite para participar da trama de um diretor tão conhecido.

O filme foi dirigido por Brian de Palma e possui a participação de atores de peso, como Kevin Costner e Andy Garcia. A história se passa em Chicago, nos anos 30, quando a Lei Seca ainda vigora e Al Capone e seus parceiros comandam o tráfico de bebidas na região. Para detê-lo, o agente Eliot Ness organiza uma ação policial com membros que considera incorruptíveis e o grupo acaba ganhando o nome de Os Intocáveis.

2 – Do jeito que ela é (2003)

Eu conheci a Patrícia Clarkson com esse filme e depois disso, nunca mais parei de seguí-la. Filmão! Sério  mesmo. Inclusive, ela recebeu uma indicação ao Oscar por este trabalho.

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Na trama, ela interpreta Joy, a mãe problemática de April (Katie Holmes), uma jovem que decidiu sair de casa por não se encaixar às regras. Joy, está extremamente fragilizada pelo tratamento de um câncer e bem desencantada com a vida.

A família, então, decide se reunir no Dia de Ação de Graças e April convida todos para passarem a data em seu apartamento.  Naturalmente, April imagina que eles não irão aceitar o convite… Mas, a mãe diz sim. E toda a família parte em uma viagem para visitar April. No caminho, redescobrem o sentido do perdão e da aceitação.

3 – Carrie, a estranha (2002)

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Sim! A Patrícia Clarkson já viveu a mãe da Carrie, a estranha nos cinemas. (E, vou confessar que essa é uma das minhas versões preferidas, depois da original). A história é bem conhecida, né? E, talvez não seja preciso dizer muito. Mas, o que eu acho mais legal dessa versão é que a atriz que interpreta a Carrie (Angela Bettis) é sensacional, e dá todo um tom de estranheza ao personagem de uma forma bem realística, digamos…

A trama conta a história de Carrie White, uma adolescente introvertida que sofre perseguições na escola e é reprimida pela mãe (uma religiosa extremista). Durante o colegial, Carrie passa por inúmeras situações constrangedoras e sofre  com o deboche dos colegas que não compreendem seu comportamento. Não bastasse a desconfortante situação, Carrie descobre que possui poderes telecinéticos.

4 – Dogville (2003)

Dogville

Esse filme é sensacional e espero, um dia, fazer uma publicação só pra ele.  Posso estar enganada, mas acho que Dogville, dirigido por Lars Von Trier, é um clássico contemporâneo que usa e abusa do experimentalismo. 

Protagonizado por Nicole Kidman e divido em dez partes, “Dogville” conta a história de Grace, uma mulher desconhecida que chega a uma pequena cidade e pede por abrigo. Grace, que foge de gângsters, aceita trabalhar para os moradores por duas semanas, até que eles decidam se ela pode ficar definitivamente ou não. O tempo vai passando e Grace, ao invés de ser bem tratada, passa a ser explorada pelos moradores. O que eles não sabem é que ela guarda um segredo que pode colocar todos em risco.

Na trama, Patrícia interpreta Vera, uma mulher com dois filhos… totalmente descompensada, com baixa-autoestima e imersa naquela comunidade cruel e conservadora.

5 – Longe do Paraíso (2003)

Longe do Paraíso

Outro dia estava pensando nesse filme, no quanto eu gosto dele e no quanto ele é lindo. Não bastasse ter uma bela fotografia, atuações maravilhosas, “Longe do Paraíso” (dirigido por Todd Haynes) apresenta uma história emocionante e complexa.

A trama se passa em 1957. Cathy Whitaker (Julianne Moore) é uma dona de casa que aparentemente leva uma vida perfeita. No entanto, seu marido, Frank (Dennis Quaid) esconde sua homossexualidade. Um dia, Cathy vai visitá-lo em seu escritório e o vê beijando outro homem. Abalada, Cathy se permite a entrar em outro realcionamento e se apaixona por Raymond (Dennis Haysbert), um jardineiro negro.

Sua proximidade com um homem negro levanta suspeitas da comunidade conservadora e ortodoxa em que vive, especialmente representada pela imagem de Eleanor (intrepretada pela Patrícia,  vizinha de Cathy).

*Moore (que, aliás, estava grávida), levou o Oscar e o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz.

6 – A mentira (2010)

A mentira

O filme é uma releitura de “A Letra Escarlate” e, com  dinamicidade, conta a história de Olive Penderghast, uma menina que criou uma grande mentira e acabou perdendo o controle sobre ela. Olive, uma estudante do ensino médio, disse para a melhor amiga – Rhi (Alyson Michalka) que saiu com um rapaz durante o fim de semana, quando na verdade ficou em casa. Marianne (Amanda Bynes), a garota mais carola e caxias da escola, escuta a conversa e deduz que Olive não é mais virgem, espalhando a historia por todo o colégio.

O pequeno boato transforma-se em um gigante problema e coloca a reputação de Olive em jogo. Pouco tempo depois, seu amigo gay (que já não aguenta mais ser zuado pelos amigos) pede que Olive o ajude a perder a fama de afeminado. Olive topa ajudá-lo e finge transar com ele, fazendo com que todos pensem que ele é heterossexual. Outros garotos (também desajeitados) descobrem a farsa e pedem o mesmo favor a Olive, que assume a personalidade de “vadia” e aceita falar que dormiu com os garotos em troca de pequenos favores. 

Delícia de filme, muito diferente daquelas comédias adolescentes e bobas que a gente costuma assistir. É difícil imaginar outra atriz tão perfeita para o papel quanto Emma Stone, que dá um show de carisma. Patricia Clarkson e  Nick Penderghast estão hilários como os pais “moderninhos” da Olive.

7 – A Floresta (2006)

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Em “A Floresta”, Patrícia dá vida à uma vilã bem enigmática. O filme possui aquele toque de magia, fantasia e suspense, bem gostosinho de assistir (mas, sem muita grandiosidade).  Falburn é um colégio renomado só para meninas, localizado em uma floresta ( e, todas as noites, essa floresta ganha vida).

A trama conta a historia Heather, uma menina com a alma marcada que descobre um horrível segredo quando é enviada pra lá pela sua autoritária mãe e seu pai. Patrícia interpreta a diretora do colégio…

8 – Assumindo a direção (2014)

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Confesso que não achei esse filme “grandes coisas”, mas tá na Netflix, é de fácil acesso e tem a Patrícia Clarkson como protagonista. Além disso, tem uma história bem levinha de superação e de autoestima. O filme acompanha a história de Wendy (Clarkson), uma escritora solitária, que acaba de ser deixada pelo marido e que não vê a filha com frequência, já que ela estuda em Vermont.

Em um acaso de destino, ela aconhece Darwan (Ben Kingsley) um taxista (que também atua como instrutor de trânsito). Os dois começam a nutrir uma amizade inusitada, e Darwan ajuda a Wendy enfrentar um dos seus maiores medos: a dificuldade de dirigir.

9 – October Gale (2014)

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October Gale é um suspense interessante… mas, que não impressiona muito.  O filme conta a história de Helen, uma médica com cerca de cinquenta anos que acaba de perder o marido.

De luto, ela decide passar uma temporada em sua casa no lago, mas é surpreendida com a chegada de um homem baleado. Misterioso e envolvente, Will acaba conquistando Helen e ela, sem perceber, se envolve em uma teia de assassinato. O filme tem seus pontos positivos, principalmente as paisagens e a trilha sonora (que é linda!) …

10 – A espera de um Milagre (2000)

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Pois é! A Patricia chegou a participar desse grandioso filme, que foi um estrondo quando lançado. Na trama, ela interpreta Melinda, a esposa doente do capitão Warden (interpretado por James Cromwell), lembram?

A produção, lançada em 1999, foi dirigida e roteirizada por Frank Darabont e baseada no livro de Stephen King.  Tom Hanks dá a vida à Paul, um agente penitenciário que atua no corredor da morte, durante a Grande Depressão. Ele acaba presenciando acontecimentos sobrenaturais e de cura, o que faz com que ele se envolva diretamente na vida de um dos prisioneiros.

[Menção Honrosa]: Six Feet Under (ou A sete palmos)

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Para quem não sabe, Patrícia chegou a participar de Six Feet Under (serie premiadíssima da HBO) interpretando Sarah, a irmã da Ruth Fisher (Frances Conroy). Ela tem uma energia completamente diferente da irmã, gosta de  Tai-chi, feng-shui, poesia, é super viajada e descolada. A série tem uma pegada muito interessante, que une drama e humor negro, num cenário bem inusitado: a casa da família Fisher funciona como uma funerária. Trata-se de uma série fantástica, que vale a pena ser assistida.

E aí, gostou das minhas dicas? Tem algum filme que assistiu com a Patrícia Clarkson que você assistiu e eu não citei? Então, deixa um comentário.

[Magia e Terror]: o Natal em “O estranho mundo de Jack”

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Quando penso em filmes natalinos, “O estranho mundo de Jack” (animação de 1993, dirigida por Henry Selick e com a forte contribuição de Tim Burton) é um dos primeiros que me vem à mente. E, assim como muitos da minha geração, lembro do encantamento (e do estranhamento) que me causava. Sempre que passava na TV, eu parava tudo o que estava fazendo para assistí-lo, independente de quantas vezes já o havia feito.

O filme, um clássico contemporâneo em stop-motion, apresenta os questionamentos existenciais de Jack, um esqueleto que vive na cidade do Halloween, mas que está cansado de fazer sempre as mesmas coisas.

Em busca um novo sentido para a vida, Jack acaba visitando a cidade do Natal e se encanta com tantas cores e magia, um cenário bem diferente do seu. Decidido a mostrar a novidade para seus amigos, Jack resolve, então, sequestrar o Papai Noel.

Li diversas resenhas sobre o filme, no intuito de entender um pouco mais sobre o seu poder sobre o imaginário das crianças/adultos e me chamou a atenção para um fato: praticamente todos os textos se encontram em um argumento: o de que o filme retrata as angústias e desilusões humanas, uma questão universal.

Só que de uma forma mágica e encantadora.

Em suma, Jack, uma espécie de anti-herói depressivo e sentimental, provoca uma empatia absurda nos espectadores ao apresentar um realidade alegórica sobre a complexa realidade do ser humano e o desafio de conhecer a sí mesmo e se encaixar na sociedade em que vive.

Independente da época do ano “ideal” para assistir o filme, é impossível não reconhecê-lo como uma obra marcante. E, se você ainda não o viu ( o que é um pouco difícil…) não perca a oportunidade!

A forma da água: o amor e a comunicação não verbal

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Como muitas pessoas, não sou fã de filmes românticos, mas gosto bastante de filmes inteligentes. Assisti “A forma da água” no cinema, num momento em que estava bem sensível emocionalmente. Confesso que este não é um filme que assistiria de novo, ainda que tenha me causando um impacto pelo detalhamento técnico e cenas bem elaboradas.

Num brevíssimo resumo, o filme conta a história de Elisa (interpretada pela incrível Sally Hawkins), uma mulher muda, que trabalha como zeladora num laboratório experimental secreto do governo. Ela acaba se envolvendo/apaixonando por uma criatura fantástica, que encontra-se presa no laboratório e sofre diversas torturas.

A criatura é uma espécie de peixe, digamos… Elisa embarca, então, num projeto de resgatá-lo e devolvê-lo para o seu habitat.

A forma da água
Com 14 indicações ao Oscar, o filme foi dirigido por Guilherme del Toro e liderou o Oscar de 2018.

P.S. A primeira cena do filme é tão foda (eu não consegui achar outro termo), que é difícil não ficar de queixo caído com essa produção. Imagino o trabalhão que deve ter dado, colocar a atriz deitada no sofá, submergindo aos poucos e junto dela, todo o cenário.

[Enfim… ainda que o filme me cause certo estranhamento, existem dois pontos que me agradam muito na história e me fazem notá-lo com bastante admiração.]

  • A reinterpretação do amor romântico

O filme possui tantas alegorias, que provavelmente seria um bom tema para um artigo científico. Mas não é preciso ir muito longe para identificar o que mais me agrada na trama: a referência aos estranhos, que se reconhecem e que não se encaixam socialmente. A beleza do amor das duas figuras é que elas sabem das imperfeições um do outro e, mesmo assim, se aceitam e se amam. 

Elisa é uma mulher pouco atraente, de classe baixa e muda. A criatura… bom, não é preciso dizer muito. E mesmo diante das diferenças, estão juntos por um amor extremamente puro. As duas figuras são metáforas claras às pessoas que não estão dentro do padrão social, tão conhecido por aí. E, o mais importante: ainda que não sejam perfeitas, possuem um encantamento único: Elisa é extremamente inteligente e sensível e a criatura possui o poder de cura.

Há ainda a naturalização desse sentimento, a perspectiva de que o amor, quando realmente correspondido, não precisa ser sofrido. Existe uma confiança entre eles que resiste à inúmeras barreiras: aos militares, às condições físicas, etc…

  • A comunicação não verbal

A comunicação não verbal é talvez um dos pontos altos do filme, que quebra a narrativa fílmica convencional. Mas, além da questão técnica, existe a subjetiva. Nós estamos tão acostumados a viver em um bolha repleta de informações rápidas e cada vez mais sem profundidade, que acabamos nos esquecendo do básico.

O filme fala bastante sobre solidão, que acomete a contemporaneidade sem nenhuma dó. Estamos cercados de redes sociais, de jornais digitalizados, de imagens. Mas, o quanto estamos realmente nos comunicando e nos conectando com as outras pessoas? Nesse sentido, a ausência da voz dos personagens é exatamente o clímax da sintonia que existe entre eles. Algo bem bonito e poético de se observar…

Bom, espero que tenha gostado desse texto rápido.

E, se não assistiu ao filme, não deixe de vê-lo.

O documentário mais fofo do ano

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A HBO lançou “Bright Lights” para o grande público na noite de 7 de Janeiro, na manhã seguinte já estava com o filme no meu computador. Como contei por aqui, fiquei impressionada e tocada com a história da Carrie Fisher e da Debbie Reynolds e já não me aguentava de vontade de assistir o documentário (que foi exibido pela primeira vez em Cannes, no ano passado). Foi difícil não segurar a emoção quando mencionavam a relação das duas e com a história de cada uma delas, com a personalidade de cada uma delas. O documentário acompanha o cotidiano das atrizes, que eram vizinhas e se encontravam diariamente. Há também uma retrospectiva de suas carreiras, uma série de vídeos, fotos e menções sobre o conturbado caso de Eddie Fisher (pai de Carrie) com Elizabeth Taylor.

Debbie é de uma candura ímpar, parece ter sido uma mulher muito especial. A paixão que tinha pelos filhos era genuína, forte demais. Nunca parei para assistir seus filmes, não vi nada além de  “Cantando na chuva” (e agora tô fazendo um lista, reunindo uns filmes dela para assistir). Me impressionou o seu gosto pelo trabalho, a idade não parecia empecilho e Debbie simplesmente não queria parar de se apresentar nos palcos (mesmo com a dificuldade de se locomover). Debbie  já apresentava uma fragilidade. Em determinado momento do documentário ela aparece com a bochecha roxa por causa de um tombo que sofreu no banheiro. Em outro momento, ela liga para os filhos e pede ajuda, porque não conseguia se lembrar das falas e sentia-se insegura para se apresentar.

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Carrie fala muito da relação com os pais e irmãos. Ela conta como, desde muito pequena, se acostumou com a presença dos paparazzis e como aqueles fotógrafos “pareciam querer roubar a mãe deles”. Muita exposição, pouca privacidade. O sucesso veio de repente, de um momento para o outro ela deixou de ser Carrie e passou a ter a imagem para sempre relacionada à princesa Leia. E que voz linda ela tinha! Debbie tinha razão quando se emocionava ao ouvi-la cantar (carreira que Carrie nunca quis seguir). Carrie era bipolar e a doença afetou absurdamente a relação com seus familiares (fora o envolvimento com as drogas).

Além de menções ao filme “Lembranças de Hollywood”, roteirizado por Carrie e protagonizado por Meryl Streep e Shirley Maclaine, comenta-se muito da relação de Eddie Fisher com Elizabeth Taylor. Eddie era casado com Debbie e a largou por sua melhor amiga, Elizabeth. O encontro entre Carrie e o pai me deixou impactada, ela chega a dizer algo do tipo: “Eu sempre fazia graça quando estava  perto de você.” E ele diz: “Sempre”. Daí, Carrie responde:”Eu fazia graça para chamar atenção. Era uma forma de mostrar que eu podia ser tão interessante quando Elizabeth Taylor”. (Owww Turn down for what!).

O documentário é demais! (Estamos em janeiro e eu já me arriscaria a dizer que é o mais fofo do ano. HAHA).

Coragem e Inteligência: Protagonismo Feminino em #CopyCat

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Passeando pela Neflix, encontrei um filme com a Sigourney Weaver que até então, nunca tinha assistido. “Copycat – A vida imita a morte” (1995) é uma trama de suspense sobre um assassino em série que persegue uma mulher, especialista em crimes. Weaver interpreta a Drª Helen Hudson, a personagem que sofre a perseguição. Por causa de um ataque que sofreu, Helen desenvolveu síndrome do pânico e passou a não sair de casa [ela largou todo o trabalho que fazia, deixou de fazer as palestras e se isolou]. As coisas mudam quando vários assassinatos começam a acontecer na cidade, o assassino reproduz crimes que ficaram mundialmente famosos. Daí, a polícia aparece, mas não consegue desvendar as pistas e por isso, recorre à Helen, que entende do assunto e que está interligada a cada um dos crimes [As pistas deixadas pelo assassino são endereçadas a ela.] A narrativa cumpre com seu dever: é um suspense cheio de mistérios e de momentos de tirar o fôlego. Na verdade, o que mais curti no filme foi o protagonismo feminino. Apesar do trauma, Helen é uma mulher forte, corajosa e acima de tudo: muito inteligente. Para ajudá-la, uma policial linha dura chamada M.J (interpretada por Holly Hunter), que enfrenta os criminosos cara-a-cara e que maneja a arma como ninguém.

Disseminar e Reter: reinterpretando a ação do homem na paisagem

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Caos: uma cidade cinza, repleta de prédios, carros e pessoas em constante movimento. São Paulo: uma megalópole com onze milhões de habitantes, retratada através de um filme (chamado “Disseminar e Reter”) que tem a construção do Minhocão como tema principal. Este é o cenário escolhido por Rosa Barba, artista italiana, que se propõe a analisar a relação do homem com o ambiente em que vive. Sobre o Minhocão, ela afirma: “Fico impressionada que, segundos depois que o trânsito é fechado, as pessoas imediatamente tomam conta do lugar”.

Criado durante a ditadura militar, em 1970, o Minhocão foi alvo de muitas críticas; tanto que ficou conhecido como “cenário da arquitetura cruel”. Sua origem vem da São João (no centro da cidade), considerada a Quinta Avenida paulista. Na década de 30 e 40 o local era um dos redutos boêmios da cidade, com cinemas e lojas requintadas, cercado por bairros escolhidos pelos barões de café como: Santa Cecília e Higienópolis. A cena veio a ruir com a construção do Minhocão, que provocou uma drástica desvalorização imobiliária e aumentou a degradação do local.

No filme, a autora cria a junção de imagens com um texto escrito por Cildo Meireles (artista plástico), cuja narrativa aborda a cultura de oposição à grande mídia e analisa a importância do papel do espectador perante a arte. Em entrevista ao jornal “The Guardian”, Barba conta que escolheu Meireles por reconhecer nele a força da voz que vem da rua e por se impressionar com sua proposta: analisar a realidade, fugindo das metáforas.

Enquanto o vídeo mostra imagens da cidade de São Paulo, fotos antigas, documentos e pessoas caminhando no Minhocão, escutamos a voz de Meireles, que fala sobre comunicação. Ele defende a criação de uma nova linguagem de expressão que vai contra a ideia do culto do objeto, um projeto cultural de cunho social que possa encarar o espectador não como consumidor (que é uma pequena fatia do público com poder aquisitivo) mas como participante. A ideia é criar um circuito, pensar em mecanismos de circulações que buscam a troca de informações e que tenha uma essência oposta à da grande mídia (como a TV e o Rádio). O projeto enfrentaria uma elite, que possui sofisticação tecnológica, alta soma de dinheiro e poder.

O Minhocão pode ser encarado como um dos sintomas da pós-modernidade: é um dos efeitos da industrialização da cidade e traz consigo uma proposta progressista, é um símbolo da transição e ruptura do velho para o novo. Em “Reflexões sobre Pós-Modernidade”, Renato Ortiz ajuda-nos a entender melhor essa questão ao relacionar os dois temas: arquitetura e pós-modernidade.

De acordo com o autor, a Pós-Modernidade é um rearranjo dos processos sociais e societários, é o momento em que a relação entre o homem e o mundo e do homem consigo mesmo estão em processo de mutação. A arte e a arquitetura refletem este processo e merecem atenção porque a cidade faz parte da memória coletiva, é a história sendo percebida na materialização dos monumentos, ruas e edifícios que pertencem à uma comunidade.

Ortiz explica que no Modernismo existiu um esforço para impor uma única verdade, a ideia de progresso e desenvolvimento passou a ser ligada à de felicidade humana. O Pós-Moderno,em contrapartida, reflete a ideia de uma imaginação democrática, a estética atende a emergência de um novo contexto social onde há uma descentralização da produção de consumo, do poder e das relações sociais.

 Na arquitetura, isso não é diferente. A arquitetura moderna é univalente, utiliza poucos recursos materiais e abusa da geometria do ângulo reto: estilos racionais e universais, adequação de formas arquitetônicas ao industrialismo das sociedades de massa. Já o Pós-Modernismo rejeita o compromisso dos modernistas com o desenvolvimento social, recusa a universalização das formas. A casa não é uma máquina de morar,o homem passa a ser integrado nesta ideia.

 * Disseminar e Reter  é uma das obras expostas na 32ª Bienal de Arte de São Paulo.