O ESPETÁCULO MAIS TRISTE DA TERRA

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Gosto muito de livros com reportagens e reconstituições, especialmente se feitos com a mesma primazia e atenção que se encontra em “O espetáculo mais triste da terra”, livro escrito por Mauro Ventura.  Por meio de diversas entrevistas, Ventura reconstitui a tragédia do Grande Circo Americano, ocorrida no Rio de Janeiro em 1961 e vai, delicadamente, traçando o perfil dos personagens e os efeitos dos acontecimentos na vida de cada um deles.

O Grande Circo Americano anunciava sua chegada com a chamada: “O maior espetáculo da Terra”, frase de impacto de atraiu um enorme público. Mas: ele não tinha lona, era coberto por um plástico (de última tecnologia) que, durante o acidente, impediu a saída das pessoas (muitas crianças) que, ao notarem o fogo e ficarem apavorados, criaram um efeito manada, pisoteando uns aos outros.  

E o pior: a tragédia ocorreu na véspera de Natal.

A história, de tão trágica (e bem escrita) provoca muito incômodo: pessoas desfiguradas, crianças perdendo a família ou pais reconhecendo os corpos dos filhos. É praticamente impossível não se deixar impactar pelos relatos de dor e tristeza daqueles que presenciaram o ocorrido. Mas, apesar de todo o drama, há aspectos importantes/interessantes da época, que nos ajudam a visualizar um pouco do Brasil de antigamente.

Um deles, por exemplo, é a análise que o autor faz sobre a inexistência da tecnologia como conhecemos hoje. A presença de celulares, redes sociais ou mesmo internet, poderia ter facilitado o socorro à vítimas, a comunicação com os bombeiros ou médicos (pasmem! o principal hospital da cidade encontrava-se fechado, pois os funcionários estavam em greve). Portanto, houve um enorme desencontro: pessoas chegavam ao ambulatório e não eram recebidas. João Goulart, presidente do Brasil à época, precisou se mobilizar e fez um pedido de desculpa público às vítimas

Duas figuras, no entanto, merecem bastante atenção. A primeira delas é o Profeta Gentileza, que fez a sua “primeira aparição”. Ele pegou um de seus caminhões e foi para o local do incêndio ajudar as vítimas (500 pessoas morreram). Ele viveu no RJ por 4 anos e depois, percorreu o Brasil divulgando mensagens de paz e solidariedade. O segundo é o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, que até então, defendia os procedimentos de reconstituição e era desacreditado pelos colegas. A plástica naquela época, muito distante do que conhecemos hoje, ainda dava os primeiros passos.

Em geral, trata-se de um livro muito interessante, que nos mantém presos à leitura do início ao fim. Recomendo, muitíssimo.

[Leitura] Hilda Furacão, de Roberto Drummond

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Tenho algumas lembranças da série Hilda Furacão, quando passava tarde da noite na Globo. A minha vaga recordação era de que se tratava de uma história bem obscura e de que o amor dos protagonistas era algo “errado”. A série foi transmitida em 98 e eu tinha 7 anos, portanto, tinha uma noçãozinha básica do que se falava ali.

Lembro da minha mãe vidrada na tela, torcendo para o casal e me sentia envergonhada/incomodada com algumas cenas. Acho engraçado esse senso moralista que eu tinha quando pequena e quando paro para pensar, acredito que ele teve origem da educação super católica que recebi em casa e na escola. [Ao mesmo tempo, minha mãe nunca censurou nada que eu quisesse ler ou assistir… Vai entender!]

No fim do ano passado terminei de ler o livro Hilda Furação, escrito por Roberto Drummond. Ao ler a trama, acabei fazendo as pazes com a Thaís do passado, que censurava as cenas entre o padre e a prostituta e não gostava da Hilda. O livro é, sem dúvidas, muito mais suave e tem uma narrativa cativante, bem nostálgica ao retratar a Minas Gerais dos anos 50 com sensualidade e humor.

Hilda Furacão foi um das leituras mais agradáveis que fiz no ano passado, especialmente, porque estou trabalhando em Belo Horizonte e ao ler as descrições das ruas centrais (onde passo quase todos os dias) e dos bairros, praticamente me “teletransportei”. E, o mais gostoso de tudo, é que durante a leitura, criei um pequeno fascínio/identificação pela figura da Hilda, que com certeza, foi uma mulher à frente do seu tempo [mesmo com a romantização do livro].

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Em resumo, Hilda é retratada como uma jovem muito rica e bonita, que abandona a alta sociedade belo-horizontina e se torna prostituta.

Mesmo com inúmeros pretendentes e com boas chances de ter um casamento tranquilo, com um marido que a bancasse plenamente, Hilda escolhe pela liberdade (também sexual) e se aventura vida afora. Seu comportamento, no entanto, incomoda os conservadores, que passam a se manifestar para que ela pare as atividades.

Muitas mulheres se sentiam ofendidas, pois tinham medo de que seus maridos fossem atraídos pelos encantos de Hilda e chegavam, até, a fazer passeatas, levando junto um padre para ajudá-las.

[Madame Bovary] Um dos meus livros favoritos

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Ao longo da existência desse blog, já fiz incontáveis postagens sobre “Madame Bovary”, obra francesa, escrita por Gustave Flaubert e publicada em 1856. No entanto, nunca falei do encantamento que tive pela história, aos quinze anos, e de como essa narrativa, à época, me inspirou em muitos sentidos. 

Emma Bovary é uma mulher repleta de sonhos, mas presa à um casamento infeliz, ela é casada com Charles, um médico com uma vida financeira razoavelmente tranquila,  sem muitos luxos. Mas a monotonia da vida conjugal e a ausência da magia (que ela lia tanto nos livros), a faz querer ir em busca de uma vida mais livre. Nem mesmo a maternidade a faz sentir completa — a filha de Emma, Berthe (ou Berta), é apenas uma menina comum, sem encantamentos. Emma,  mergulhada em sua melancolia, acaba se aventurando no mundo do adultério, em busca de um amor verdadeiro, que a satisfaça e que permita que ela “seja ela mesma”. Além disso, acaba contraindo inúmeras dívidas, com um desejo latente de se manter ativa na sociedade burguesa e mais próxima da aristocracia (levando a família à falência).

Madame Bovary

Na época em que li o livro, não sabia tanto o que o feminismo significava. O meu interesse e identificação pela personagem, em primeiro lugar, foi por sua insubordinação ao patriarcado e sua luta por uma vida mais livre, mesmo diante de tantas limitações.  Naturalmente, o livro quando concebido, era muito mais uma crítica à sociedade pós industrial e (assim vejo) como um certo deboche à mediocridade doméstica.

Mas, com as inúmeras evoluções sociais e reinvenções constates dos movimentos, a obra acabou tomando um viés feminista, abordando a tão famosa “histeria feminina” de uma forma ampla, a ponto de permitir inúmeras interpretações. Aqui, não falamos da perspectiva literária que é igualmente rica (por sua inovação quanto ao estilo de narrativa, trazendo um tom realista até então desconhecido), mas das condições desviantes da protagonista, consciente do seu papel social e da sua busca pela ressignificação sobre seu corpo e suas vontades.

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A obra, ainda me parece extremamente próxima da atualidade, mesmo que a realidade das mulheres tenha se modificado e atualizado, em diversas formas. Emma e sua insubordinação é uma inspiração interessante, em diversos sentidos, à aqueles que buscam pela melhoria das suas condições pessoais. É uma anti-heroína com condições humanas bem universais, com sentimentos que incitam a busca constante de autoconhecimento, redescoberta e felicidade.

[Leitura] Presos que menstruam

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Saber a hora de parar determinada leitura é um atitude de ouro. Se a obra não lhe é agradável ou não acrescenta grandes coisas, é importante que você saiba canalizar a sua atenção. Bom, é assim que tenho feito esses dias (e, confesso, tem funcionado). “Presos que menstruam” é um livro com uma proposta muito interessante e com um título maravilhoso, diga-se de passagem.  

Comecei a leitura muito entusiasmada, mas fui me desinteressando pela narrativa aos poucos, por não me apresentar nada muito destoante do que Drauzio Varella fez em Prisioneiras (de uma forma brilhante). Não quero aqui, parecer arrogante. É apenas uma questão pessoal mesmo.

Afinal, o livro é muito bem escrito e faz com que a gente “caia em si”, entende? Mesclando uma narrativa jornalística com um tom romantizado, Nana Queiroz apresenta uma contextualização do universo subumano à que essas mulheres se submetem (ou são submetidas). Não só dentro da cadeia, mas fora dela também.

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Talvez o auge do livro, muito comentado em diversos sites e reportagens, é o fato de algumas dessas mulheres precisarem usar miolo de pão como absorvente (o.b), por não terem o material disponibilizado pelo sistema prisional.

É claro que essa é, praticamente, a ponta do iceberg e as situações degradantes são tantas, que é difícil citar uma a uma. Mas a questão da sexualidade e da maternidade são latentes e igualmente desconcertantes. É complicado imaginar, por exemplo, o contexto das mulheres grávidas na cadeia e a incerteza diante do futuro dos filhos.

Sem dúvidas, é uma boa pedida para quem deseja entender mais desse universo, sobre a vida dessas mulheres antes de serem presas, do motivo da prisão e as condições às que são submetidas na cadeia.

[NOTA] Um gay suicida em Shangri-la

UmgaysuicidaOs temas são complexos: homossexualidade, depressão, suicídio. Mas, a narrativa é leve, repleta de referências à ícones do mundo pop e rápidos fluxos de consciência.

Um gay suicida em Shangri-la conta a história de Eduardo, um jovem que decide abandonar a vida parada e sem emoções, cheia de relacionamentos tóxicos e vazios, para ir em busca de uma nova realidade na cidade das Estrelas, interior de Rio de Janeiro.

Ainda que eu não tenha conseguido ter muita empatia pelo personagem, a narrativa sobre a redescoberta do “eu” e sobre a reinterpretação sobre o conceito de família me pareceu muito pontual. Durante a sua viagem, ele vai repensando suas relações e o impacto que cada uma delas traz em sua vida.  A história apresenta diversas facetas de alguns questionamentos humanos, como o medo de se posicionar “fora da curva”, e a necessidade de aprovação social.

Este é o terceiro livro de Enrique Coimbra, o jovem autor também escreveu “Sobre garotos que beija garotos” e “Os hereges de Santa Cruz” e possui um canal no Youtybe chamado Enrique sem H.

[Leitura] Um conto sombrio dos Grimm

Grimm

O Lê Livros é talvez um dos melhores sites para download de livros que existe na web. São muitas opções, gratuitas e em diversos formatos. Eu, que gosto muito de ler, fico quase atordoada, querendo baixar tudo que surge de novidade por lá. Recentemente, terminei o livro “Um conto sombrio dos Grimm”, uma versão um pouco mais sombria e sangrenta da história clássica João e Maria.

Estou descobrindo que histórias de fantasia (para adultos) podem ser bem divertidas. No caso dessa história, há todo um contexto de fábulas das quais desconhecia e gosto, especialmente, da interlocução com o leitor.

A narrativa começa com os pais de João e Maria, um casal amaldiçoado por viverem uma relação proibida. Diante de um desafio, são obrigados a matarem os próprios filhos para comprovarem a lealdade ao reino. Mas, “por mágica”, os meninos voltam à vida e quando se dão conta do ato dos pais, decidem fugir de casa. É aí que começa a aventura, que envolve muitos outros personagens: como uma velha canibalista, três corvos misteriosos, dragões e o próprio diabo.

O livro é bem divertido e oferece diversas surpresas ao longo da narrativa. Mesmo sendo sombrio, há um delicioso toque de humor, que deixa a história também divertida.

[Leitura] – Wicked

“É uma mulher que prefere a companhia de outras mulheres – disse o Espantalho enquanto se sentava. Ela é a amante desprezada de um homem casado. Ela é um homem casado.”

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Wicked foi uma das leituras mais arrastadas que realizei nos últimos tempos. O livro, que deu origem ao popular musical, conta a história de Elfaba (a Bruxa Má do Oeste de O Mágico de Oz). Contextualizado em um ambiente fantástico, com fadas e animais falantes, a narrativa conta desde o nascimento à morte da criatura verde incompreendida.

Eu gosto muito de histórias que mostram as diferentes perspectivas dos personagens, como tem sido bastante feito nos últimos tempos (a exemplo da famosa produção sobre a Malévola). Quando se retrata o outro lado das figuras taxadas como vilões, se tem a oportunidade de fazer uma história menos maniqueísta. Porém, o livro se centra na época em que Elfaba estava na universidade (a história me pareceu muito YA e, para ser sincera, deu um pouco de preguiça).

Neste sentido, o livro pesa bastante na formação da bruxa, provavelmente para justificar a sua maldade. Considerada uma criatura estranha e desajeitada, Elfaba (filha de um ditador e pertencente à uma família nobre) sofria uma espécie de bullying, provocada por ninguém mais ninguém menos que Glinda, a Bruxa Boa do Norte. Daí começa uma amizade-inimizade interessante, que rende bons frutos!

Na narrativa, são abordados diversos temas “adultos”, digamos, como: fanatismo religioso e prisões políticas (e sim, há sexo também). Outro ponto: o Mágico de Oz é um super vilão manipulador, que sequestra meninas e as faz de escravas. Doido, né?

Outro ponto interessante é que o livro também conta um pouco sobre a irmã da Bruxa Má (aquela que morre amassada pela casa que traz Dorothy a Oz). Aliás, sem dúvida alguma, o melhor momento da narrativa é quando a pequena Dorothy aparece na cidade e recebe os sapatinhos mágicos da Bruxa Boa. Eu, pelo menos, compreendi totalmente a busca de Elfaba pelos sapatos (e lá no fundo, torcia para que ela pudesse recuperá-los!).

Em suma, não é um livro que eu leria de novo. Mas, de qualquer forma, também não consegui abandoná-lo. Já leu o livro ou gosta da história? Deixe um comentário nesse post e me conte o que achou!

[Hobsbawm] Tempos Fraturados – Introdução

Um dos meus propósitos para 2018 era estudar Hobsbawm, mas a minha rotina tem me impedido de realizá-la. Leio, diariamente, cerca de 40 artigos corporativos (alguns de 500 palavras, outros de 3000), e isso tem deixado a minha mente bem cansada. Ainda que não vá ler todos os livros (que era o meu objetivo), escolhi um deles para estudar quando possível. A ideia é fazer uma série de publicações|resenhas, como fiz de dois livros da Susan Sontag (Diante da dor dos outros e Doença como Metáfora).  

Tempos Fraturados

Assim, quando possível, vou publicar algumas anotações e percepções sobre alguns capítulos de Tempos Fraturados. O livro reúne 22 artigos escritos por Eric Hobsbawm, falecido em 2012 (pouco antes da entrega dos textos). Trata-se de uma profunda reflexão sobre arte, política e contemporaneidade. Entre os ensaios e resenhas, ele reflete sobre festivais literários, sobre o florescimento da Belle Époque e sobre as vertentes do capitalismo moderno na Europa e Estados Unidos. Além disso, faz uma análise sobre o rumo das artes e da política na atualidade.

De uma perspectiva mais complexa, Hobsbawm analisa o que aconteceu com a arte e cultura da sociedade burguesa depois do seu desaparecimento pós-1914. Como explica o autor, não é possível compreender as artes do novo milênio sem realizar um “profundo  mergulho no mundo perdido de ontem”. O livro enfoca especialmente a Europa do século XIX, que criou não só o cânone de clássicos da música, ópera, teatro e balé, como também popularizou a linguagem básica da literatura moderna.

Eric HobsbawmComo se sabe, a civilização burguesa européia jamais se recuperou após a Primeira Guerra Mundial. Nesse cenário, as artes e as ciências eram fundamentais para uma visão de mundo voltada para si, uma estratégia importante para fortalecer a crença no progresso e na educação como substitutas da religião tradicional. A pergunta feita no prefácio do livro é: “Como pôde o século XX enfrentar o colapso da sociedade burguesa tradicional e dos valores que a mantinham em pé”?

Ainda que essa sociedade fosse dedicada ao progresso (ciência), ela mostrava-se incapaz de compreendê-la: “Trata-se de uma civilização que era (e continua sendo) meritocrática, ou seja, nem igualitária, nem democrática”.

Tanto a lógica do desenvolvimento capitalista como da própria civilização burguesa estava destinada a destruir seus alicerces. A estabilidade desse sistema comandado pelas elites hegemônicas foi totalmente destruída por um golpe triplo:

  • revolução da ciência
  • tecnología do século XX
  • sociedade de consumo da massa, gerada pela explosão do potencial das economias ocidentais.

Os três acontecimentos citados acima refletem diretamente na contemporaneidade (para o autor, de uma forma positiva,  mesmo que o público da cultura erudita e clássica burguesa “tenha sido diminuído a um nicho para idosos, esnobes ou ricos em busca de prestígio”). Na perspectiva de Hobsbawm, a combinação de tecnologias novas e o consumo de massa não só criou o cenário cultural em que vivemos como também gerou a mais original realização artística: o cinema –  e é dele que vem a hegemonia dos Estados Unidos (importante por sua originalidade e pelo seu poder de corromper).

O surgimento de uma economia tecnoindustrializada possibilitou que nossas vidas fossem imersas em experiências universais constantes, e isso é inédito. A globalização transformou totalmente a nossa maneira de aprender a realidade e especialmente o “status” da arte.

O que sabemos é que a dimensão da nossa experiência em relação à arte é bem diferente da sociedade burguesa. Por isso, o autor conclui o prefácio de uma forma bem crítica e sarcástica:

Mesmo a pergunta “Isto é arte?” provavelmente só é feita por aqueles que não aceitam que o conceito clássico burguês de “artes”, embora cuidadosamente preservado em seus mausoléus, já não está mais vivo. Atingiu o fim da linha já na Primeira Guerra Mundial, com dadá, o urinol de Marcel Duchamp e o quadrado negro de Malevich. É claro que a arte não acabou, como se chegou a supor,. Nem a sociedade da qual as artes eram parte integrante. Porém, já não compreendemos o atual dilúvio criativo que inunda o globo de imagens, sons e palavras, nem sabemos lidar com ele, dilúvio que quase certamente se tornará incontrolável tanto no espaço como no ciberespaço.

Gostou do texto?

Na próxima publicação, falaremos sobre os manifestos e os possíveis caminhos da arte.

[Leitura] Um homem morto a pontapés

Um homem morto a pontapésEsta foi provavelmente uma das leituras mais difíceis que realizei no ano passado. O livro me chamou muita atenção por causa do título e do autor – que até então, desconhecia. “Um homem morto a pontapés” traz uma novela e uma coletânea de contos com temas bem inusitados (homofobia, bruxaria, canibalismo…). Na verdade, a minha maior dificuldade foi com a linguagem, que por vezes era bem maçante (especialmente “Débora”, que é um pequeno romance).

O conto que dá título ao livro é, sem dúvidas, o melhor. A história é também muito interessante, mas a narrativa tem um “quê” a mais (já que é cheia de interjeições de diferentes personagens). Na história, o personagem principal lê uma matéria de jornal sobre um homem que morreu a pontapés. Ele meio que “pira”, fica obcecado com a história e começa a investigar o ocorrido. Até que é divertido, porque tudo o que ele faz é através de indução.

O conto sobre as bruxas é quase uma historinha de terror para adultos. Tem também a história de uma mulher que possuía dois corpos – é um texto muito louco, escrito em primeira pessoa. [Essa é a minha citação favorita]: “Mi espalda, mi atrás, es, si nadie se opone, mi pecho de ella. Mi vientre está contrapuesto a mi vientre de ella. Ten­go dos cabezas, cuatro brazos, cuatro senos, cuatro piernas, y me han dicho que mis columnas vertebrales, dos hasta la altura de los omóplatos, se unen allí para seguir –robuste­cida– hasta la región coxígea. Yo-primera soy menor que yo-segunda.”

Para além dos contos, o que chama atenção é a história do autor. Pablo Palácios, equatoriano, publicou o livro em 1927 (ele tinha apenas 21 anos!). Os contos marcaram a literatura hispano-americana ao apresentar um novo estilo narrativo e de linguagem. Ele faleceu em 1947 e viveu seus últimos anos num hospital psiquiátrico. Por muitos anos sua obra foi interpretada como “louca demais”. Isso porque, como mencionei anteriormente, ele escrevia sobre temas ainda intocados, a ficção (narrada daquela forma) era uma novidade [ é o que hoje conhecemos como literatura do absurdo].

Em suma, o livro é pequeno e de rápida leitura.

Como disse, não me agradou muito… mas acredito que é sempre bom conhecer novos autores.  

Por que voltei a escrever no La Amora?

Saudade

Estou de volta ao La Amora e pretendo sempre postar por aqui. Primeiro, é claro, porque tenho muito prazer em escrever e essa é uma das formas das quais mais gosto de me expressar. Mas voltei, também, porque comecei a estudar Marketing de Conteúdo e acabei descobrindo uma série de técnicas importantes, que por teimosia, adorava ignorar.

Só uma observação: eu sei que este texto está meio técnico, mas eu descobri que quando se trata de Marketing, não é possível fugir de alguns termos.

Sempre tive uma imagem romanceada da escrita e por isso, fugia do Marketing como o diabo foge da cruz. Enquanto morei em São Paulo já trabalhava na  área de comunicação, mas me dedicava demais a CRM (Customer Relationship Management) – que, como se sabe, também é Marketing. Traduzindo: eu fazia o relacionamento da empresa com o cliente. Não teria problema se não fosse de uma maneira meio engessada e em grande escala (o que dificulta a personalização) – mas, era uma exigência da própria empresa.

Estou estudando Content Marketing (e Inbound/Outbound) há dois meses e mudei completamente a minha visão. Até mesmo sobre CRM ( já que hoje vejo que é possível fazer de uma forma muito completa, prazerosa e que existem inúmeras estratégias que ajudam na performance). Não se trata apenas de “apagar incêndios”, como acreditava anteriormente.

Mas eu ainda não expliquei porque voltei, né?

Escrevendo no computador

É que os meus estudos me mostraram que eu já atuava com técnicas do Marketing de Conteúdo (digital) sem mesmo saber. E fazia isso através do meu blog! Por exemplo: desde que comecei a escrever aqui, “faço” SEO (e o ranqueamento do La Amora é até muito bom – é o primeiro a aparecer na SERP, que é a página de resultados de um buscador).

Ou seja, o blog me permite não só expressar minhas ideias, como também é um instrumento de estudo (e um plus: em alguns casos, uso como portfolio).

Se você nunca atuou com WordPress, vou te dar uma visão rápida de como funciona o CMS e como ele é bem completo, mesmo sendo gratuita:

  • Esses são os dados do La Amora (números de visualizações desde o início)

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Através das estatísticas, consigo ver e administrar todos os posts, visualizações e visitantes. Ele me informa o dia e o horário com o maior número de visitas, me mostra os comentários, os assinantes e através de quais palavras-chave meu blog foi encontrato. Tem também a divisão de categorias (eu consigo ver qual é a mais lida ou compartilhada) e ainda um indicador das publicações nas redes sociais. Muito louco, né?

Eu fiquei um ano sem publicar e os números caíram drasticamente. Ou seja, os leitores pararam de visitar já que não tinha novidades. Mas  sabe o que segurou esse blog? Os conteúdos evergreen (que escrevi há mil anos). *Evergreen são conteúdos que permanecem com valor, mesmo após muito tempo, são informações que ainda são relevantes, entende?

Em suma, eu já pensei em deletar esse blog inúmeras vezes – inclusive cheguei a deixá-lo privado por alguns meses. Mas dessa vez voltei pra valer e tenho certeza de que tenho muito a aprender – o La Amora irá me ajudar a praticar!  Outra coisa: Prometo que você não encontrará textos tão técnicos como esse por aqui, ok?

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