A publicação de hoje é especial, porque é a primeira vez em que faço um podcast para o La Amora. Estou me aventurando no campo da edição e vocês vão reparar que o áudio está meio picotado… De qualquer forma, vou continuar treinando e espero “chegar lá” um dia. O Podcast está linkado aí embaixo e é só clicar no play para ouvir a minha voz.
“Segundo os anciãos, Deus criara primeiro o homem a partir do barro. Eu não tinha nenhuma objeção a essa humilde matéria-prima. Mas por que o homem primeiro, e não a mulher? E por que tinha a mulher sido criada de maneira diferente? A história da costela me parecia tola, para dizer no mínimo, ou talvez, até uma afronta, considerando a modéstia dessa peça anatômica. Decidi corrigir tais equívocos mobilizando para isso as minhas próprias fantasias. Criados, o primeiro homem e a primeira mulher enamoram-se loucamente um do outro, e aí transformam o Éden num cenário de arrebatadora paixão. Fodem por toda a parte, na grama, na areia, à sombra das árvores, junto aos rios. Fodem sem parar, como se a eternidade precedendo a criação nada mais contivesse que a paixão deles sob forma de energia tremendamente concentrada. O encontro dos dois era, portanto, uma espécie de Big Bang do sexo, muito Bing e muito Bang.”
Ela era feia, mas escreveu o livro mais famoso do mundo.
Ela escreveu a Bíblia.
A mulher que escreveu a Bíblia, livro escrito por Moacyr Scliar e lançado em 1999, é um daquelas narrativas imperdíveis, que a gente lê rapidinho e pede por mais. Scliar tem um desempenho invejável, consegue balancear humor e o drama sem complicação.
Além de apresentar um texto simples, Scliar mistura a linguagem coloquial e a linguagem erudita sem nenhum medo. Ele também brinca com o sagrado e o profano de maneira corajosa, sem rodeios. A personagem principal, que aliás, não tem nome, é uma mulher encantadora, inteligente e sagaz. Infelizmente, em seu contexto, ela é feia, feia que dói e essa característica física causa grandes transformações em sua vida. O engraçado é que ela tem um instinto sexual muito grande, mas não consegue satisfazê-lo por que não encontra um companheiro que corresponda seus desejos, que “apague o seu fogo”.
A história se passa no século X (a.C.) e relata o caso de uma mulher, filha do chefe de uma vila, que descobre acidentalmente que é muito feia. Por uma boa ação de um senhor que vivia no local, ela aprende a escrever. Sem nenhum pretendente, ela passa a frequentar uma montanha onde conhece um pastorzinho e se apaixona por ele. Infelizmente esse pastor tem um caso com a sua irmã, o que abala ainda mais a sua autoconfiança. Um dia, surpreendentemente, o Rei Salomão a pede em casamento. Ela não nega e encantada com a ideia, muda-se para o harém do palácio onde convive com outras setecentas mulheres. Ela tenta se aproximar do rei, mas ele não sente nenhum desejo por ela, o fato de tê-la como esposa era por puro interesse: queria que ela escrevesse um livro, uma obra tão impressionante, que marcasse a humanidade.