O fotógrafo Sandro Miller se uniu a John Malkivich para recriar imagens famosas e lendárias. O resultado é sensacional e no mínimo, curioso. O projeto, que recebeu o nome de: “Malkovich, Malkovich, Malkovich: Homage to photographic masters.” mostra não só um cuidado de composição, mas também de estética, afinal, foram feitas sem Photoshop. Confira!
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A comunidade
Hoje de manhã, quando voltava de um exame encontrei uma senhora no ônibus que me pegou de papo. Larissa me disse que é de Madri, mas que está passando uns dias em Belo Horizonte ao lado das duas filhas que se mudaram pra cá há dois anos. Estava encantada com o “bus” daqui, “que tem um lugar reservado para viejitos”.
– “Mi marido se fué”, ela disse.
E eu, perguntei na cara dura: se foi pra onde?
-“Se murió” (ele morreu, explicou).
Uma pena ter descido correndo, não deu tempo de passar meu email e telefone. Disse que estudava jornalismo, que gostava de cinema, que morava em Nova Lima e que todos os dias tinha que pegar o ‘bus’. Larissa me indicou um nutricionista, um dermatologista e um dentista em BH, parece que conhece a cidade muito mais do que eu. Me perguntou se eu conhecia Carmen Maura, Almodóvar e Marisa Paredes. Achei um máximo! Eu sou apaixonada pelos três, justamente pelos três.
Quando ia descendo, Larissa me desejou “¡Feliz Navidad!” (adoro o jeito que eles escrevem a exclamação de cabeça para baixo) e me indicou um filme: “La Comunidad”, com a Carmen Maura. Conscidência ou não, é um dos meus preferidos com a atriz. Assisti há algum tempo atrás pelo Youtube, e indico para qualquer um que queira conhecer um pouco do cinema espanhol.
O filme é de 2000, dirigido pelo brilhante Alex de La Iglesia e conta com o melhor do humor negro. Não há nada de convencional na trama, nem mesmo os moradores do pequeno condomínio: que aos poucos, vão revelando atitudes assombrosas. As referências do diretor são clássicas, entre elas: Alfred Hitchcock e Roman Polanski.
Na resenha de Mariane Morisawa publicada na Istoé, há uma reflexão impecável: “Alex de la Iglesia imprime um tom surreal e divertido ao filme desde os créditos, que lembram as aberturas dos trabalhos de Alfred Hitchcock e Roger Corman. A comunidade do título, na verdade a reunião dos condôminos do tal prédio, é uma mistura de gente que parece de outro mundo, mas que infelizmente está aqui mesmo”
O que move a ação dos personagens é avareza extrema (e engraçada), que faz com que percam a noção do exagero de suas atitudes. Júlia (personagem de Maura) é uma corretora de imóveis infeliz, casada com um homem desempregado e sem chances de sair daquela vida. Um dia visita um apartamento (que deveria vender) e resolve passar uma noite nele. Curiosa, entra na casa do vizinho de cima.
Ela então descobre que ele está morto (e provavelmente há muito tempo, já que seu corpo continua naquele lugar, apodrecendo). Depois que chama a polícia, para recolher o corpo, volta ao local e descobre uma quantia absurda de dinheiro, escondida embaixo do piso. O que era um sonho se torna um pesadelo. Aquela quantia não era segredo para os outros vizinhos, que passam a tentar impedi-la de sair do local.
As gravações ocorrem de verdade em um edifício abandonado, no centro de Madri. A idéia era gravar apenas em um dos apartamentos, mas os diretores viram que precisariam filmar em todo o prédio. O mais interessante é que o diretor consegue unir no mesmo filme, referências Pop’s e surrealistas. E por isso, prende do início ao fim, quem gosta dessa temática. Quanto a Maura, a atuação é tão boa, que a atriz venceu (merecidamente, é claro) o prêmio Goya do ano.
Então, fica a dica: minha e da Larissa: “ A comunidade” que também traz Sancho Gracia, Teréle Pávez, Kity Manver, Paca Gabaldón, Manuel Tejada, Enrique Villen, María Asquerino e Marta Fernández Muro no elenco.
Curiosidades:
-Filmado totalmente em um cenário interno, com exceção das cenas de rua e do terraço.
-Na cena da banheira é usado um colchonete para amortecer a queda
-Carmen Maura teve realmente participação nas brigas e cenas com ratos e baratas
-Alex de Iglesias comentou que descobriu que neste filme a atriz mais talentosa que já trabalhou: Carmem Maura
– A maioria dos atores faziam trabalhos no teatro, o que auxiliou na rostidade construida por cada personagem