Quando Joanne Milne ouviu pela primeira vez

Como disse em outra publicação, estou um pouco afastada do La Amora. Ando muito ocupada com um projeto que está tomando todo o meu tempo, mas não resisti… precisava publicar sobre o assunto.

Nesse mundo de informações, de vídeos e de imagens que é a internet, a gente se vê bombardeado com coisas inúteis. Parece uma tendência, mas diariamente nossas páginas nas redes sociais ou nossos emails recebem matérias e fotos que dão medo, que dão nojo, que divertem… Poucos, como o caso desse vídeo, emocionam.

* A britânica Joanne Milne (40 anos) nasceu surda, em consequência de uma doença chamada Usher, ficou cega aos vinte anos por causa da mesma enfermidade.

 

Milne, com sua simplicidade e com sua emoção sincera, nos faz lembrar da importância dos detalhes, da beleza da vida, das cores, do som… Difícil não se emocionar. Difícil não se colocar no lugar dela, difícil não se perguntar: ‘E se fosse comigo?

Confissões

A imagem dos personagens interpretados por Jack Nicholson há muito tempo me remota a um homem engraçado mas grosseiro, daqueles que se desliga dos valores morais facilmente e que sempre se mete em encrencas. Sabe aqueles personagens que querem fazer justiça com as próprias mãos e tirar vantagens dos outros? Pois é, sempre liguei Nicholson a eles.

 Bom, tudo isso caiu por terra hoje, quando vi o filme “ As confissões de Schmidt” de 2002, dirigido por Alexander Payne. Depois que o filme acabou fiquei me perguntando inclusive porque não o tinha visto antes. Acontece que me emocionei e muito, porque as reflexões sugeridas pelas vivências dos personagens não estão nem um pouco longe da realidade.

 A história é muito simples: Warren Schmidt é um homem de 66 anos que recentemente se aposentou. Sua rotina ainda possui resquícios da vida de administrador. Com tamanha dificuldade em entender que não está mais trabalhando, volta algumas vezes ao serviço para ver se está tudo dando certo e se estão seguindo as dicas que deixou. Um dia, visita sua antiga sala e percebe que já foi ocupada. Quando sai do edifício vê suas caixas jogadas no lixo. Como um choque de realidade entende que as coisas a partir daquele momento precisam mudar.

 Em casa, zapeando pela TV sua atenção é presa por uma propaganda. Imagens de crianças famintas da África pedindo por auxílio. “Adote uma criança por vinte e dois dólares ao mês, setenta e três centavos por dia”.  O senhor então, decide  adotá-lo. a Instituição envia fotos da criança e pede que envie uma carta, contando sobre a sua vida. É nesse momento que começa as confissões de Schmidt. Em princípio ele começa contanto da sua carreira e depois vai detalhando a sua vida pessoal: o carinho que sente pela filha única, a relação desgastada com a mulher (de quem não aguenta mais o cheiro e as manias de interrompê-lo enquanto fala).

 Quando vai aos correios enviar a carta, sua mulher está limpando o chão. Quando retorna, ela está morta. Triste, Schmidt se dá conta que agora está sozinho. Ele começa a perceber que as reclamações que fizera sobre a mulher na carta não chegavam nem perto do amor que sentia por ela. Sua morte provocou a visita da sua filha (que quase não ia aquela casa). Descobrimos então uma distância entre os dois, apesar do carinho enorme (e das tentativas de aproximação do pai para com a filha), seus questionamentos são por exemplo: “Porque você comprou o caixão mais barato para ela?”

 A filha: Jeannie (Hope Davis) se vai e Schmidt se vê novamente sozinho, junto com os questionamentos sobre o seu passado e sobre o seu futuro. Diante dos acontecimentos repentinos, decide realizar uma jornada rumo a Nebraska (no trailer que ele e a mulher compraram) para ajudar no casamento da filha com Randall (Dermot Mulroney), um vendedor de camas d’água. No caminho ele se depara com pessoas e situações que o faz refletir sobre a vida, sobre o casamento, sobre os seus desejos. – Esqueci de comentar que o filme é um roadmovie.

 Não queria que o post fosse tão descritivo, mas ainda não consigo fugir muito disso. De todos os questionamentos feitos por Schmidt, um deles me pareceu familiar (inclusive há um texto de Martha Medeiros sobre isso). O personagem fala com o garoto africano através das cartas que não sabe até quando estará vivo: “pode ser daqui há vinte anos, ou daqui a um dia”. O fato é que seremos vivos até que se lembrem de nós. Pode ser através dos nossos filhos, dos nossos netos ou amigos. Enquanto somos lembrados estaremos vivos, depois desaparecemos do mundo. Quem irá comentar dos nossos feitos, das nossas manias? Só quem nos conhece ou, quem se lembra de nós.

 Revendo fotos antigas, se lembra dos seus desejos, dos seus sonhos: quando estava na faculdade, queria mudar o mundo ou pelo menos ser alguém importante. Mas quando se casou e teve uma filha percebeu que a realidade é muito mais consistente: “não consegui mudar o mundo, nem a minha vida”. A viagem que ele realiza é um “fazer as pazes” com seu passado. Ele entende que atrás daquele bom homem, que aceita e que diz sim para tudo, há muito mais. Há raiva, há tristezas, arrependimentos. Sentimentos comuns a qualquer ser humano. O filme simplesmente é lindo, é válido e deve ser visto mais de uma vez.

Soy Frida


Quando penso em Frida Kahlo faço logo uma associação entre beleza e dor. Em uma das diversas conversas que tive com um professor da faculdade, me remeti logo as sensações das tragédias que foram vividas pela artista. Hoje de manhã ele me disse: “tristeza menina, é viver sentindo dor”. E do pouco que conheço sobre a vida de Frida, sobre o relacionamento conturbado com Diego Rivera, do acidente que a deixou imobilizada e da saúde frágil que tinha, tudo o que me parece sobressair dessa figura é uma força incontestável, um atrevimento, uma disputa com a morte, uma ausência de vergonha ou culpa.


Sabe, e a vida dela foi marcada por tantos acontecimentos trágicos:

*quando tinha seis anos contraiu poliomielite que ocasionou uma lesão no pé direito, assim usava calças e meias longas para esconder a perna raquítica.

*Aos 18 anos, em 1925, sofreu um acidente de ônibus. Teve fraturas múltiplas na espinha (uma barra de ferro atravessou suas costas e a artista teve a pélvis perfurada).

* Durante um longo processo de recuperação, começou a pintar. Depois de um conturbado relacionamento com Diego Rivera, sofreu dois abortos (era o que mais lhe doía).

É claro que a vida de Frida não foi só de tristeza. A pintora viajou meio mundo, amou loucamente! Frida não deixava as traições de Diego por menos, namorava também com homens e mulheres (entre eles Josephine Baker e Leon Trotsky). Mas a melancolia das suas pinturas, a tristeza que escorre em seus olhos e que muitas vezes choca são muito tocantes. E sabe o que eu penso? Bom, eu acho que todos nós temos um pouco de Frida Kahlo, todos nos sabemos qual é a dor que nos dói mais (seja ela física ou não). E essa dor é tão vasta, e tão universal que nos une…